(009) declarações na ponte e seus clichês.
KIM DONGHYUN
point of view.
alguns dias depois...
Quando o sinal tocou anunciando o fim das aulas do dia, senti um alívio instantâneo, mas o nervosismo apareceu logo depois. Hoje eu ia encontrar o Taesan como temos feito de vez em quando depois da escola, mas algo me dizia que o clima seria diferente dessa vez. Nos últimos dias, as conversas, os olhares, e até o jeito que a gente passava o tempo juntos pareciam... mais intensos. E hoje, eu sentia que tudo isso estava prestes a chegar a algum lugar.
Cheguei nos portões da escola, onde o Han mexia distraído no celular, com a alça da mochila pendurada em um dos ombros. Assim que me viu, guardou o telefone no bolso e abriu aquele sorriso grande, deixando suas presinhas caninas ficarem à mostra, algo que fazia meu estômago dar voltas. Parecia até um vampiro estupidamente gato.
─── Ei, Donghyun! ── ele acenou, como se estivesse me esperando há horas.
─── Oi, Taesan! ── respondi, tentando soar mais relaxado do que eu realmente estava.
Começamos a andar pela calçada, sem destino certo. Fomos falando sobre assuntos aleatórios, comentando sobre as aulas, os professores e de como as fofocas sobre nós na escola estavam se dissipando graças ao Myung. Eu estava tentando agir normalmente, mas por dentro meu coração batia acelerado, e eu sabia que o dele provavelmente estava do mesmo jeito também. Tinha algo no ar e senti que hoje seria o dia que ia mudar tudo entre a gente.
─── Ah, falando em aula, você sabia que tá famoso por ser o rei do sono em matemática? ── Dongmin disse do nada, jogando o assunto no ar e dando um leve empurrão em mim com o ombro. Revirei os olhos, mas não pude evitar rir.
─── Olha quem fala, o cara que vive de olho fechado na aula de história. Pensa que eu não te vejo dormindo com a cabeça apoiada na mão e falhando miseravelmente em fingir que tá prestando atenção? ── retruquei, empurrando ele de volta.
─── Ei, mas eu finjo bem, ninguém me nota! ── o mais velho riu, claramente se divertindo em me provocar ─── E você? Vive se olhando no espelho no meio das aulas, não é por nada que a turma te chama de Narciso.
─── Claro. Alguém tem que admirar essa beleza toda, né? ── brinquei, fazendo uma pose
exagerada ─── E pra sua informação, eu sou discreto. Bem diferente de você com esse cabelo aí, que fica arrumando toda hora.
Taesan desviou o olhar o umedeceu os lábios de forma afobada, como se não imaginasse que eu tinha percebido aquele detalhe. Foi impossível segurar o riso.
─── Olha... eu nem preciso de tanto esforço assim. Meu cabelo já nasceu perfeito igualzinho ao dono dele, tá? ── o Han respondeu piscando para mim, o que só fez minhas bochechas esquentarem.
Eu adorava essa troca de provocações entre a gente, fazia tudo parecer mais fácil. Mas por outro lado, eu sabia que o clima ia mudar em algum momento. Talvez fosse só questão de tempo até a brincadeira dar lugar a algo mais sério. E isso me deixava nervoso.
Depois de andar um pouco mais, chegamos na praça principal da cidade e Taesan olhou em direção à sorveteria que ficava ali.
─── O que acha de um sorvete? ── ele perguntou, com aquele sorriso que mostrava que ele não queria que o tempo juntos acabasse tão cedo ─── Tá bem quente hoje, um sorvetinho cairia bem.
─── Boa ideia! ── concordei, me sentindo meio aliviado por ele ter sugerido algo descontraído.
Entramos na sorveteria e Dongmin pediu o de baunilha com cobertura de chocolate, enquanto eu peguei o de chocomenta. Sentamos num banco na praça debaixo de uma árvore e começamos a comer em silêncio por alguns minutos, observando as pessoas passando e as crianças brincando.
─── Você tá comendo tão devagar.... se precisar de ajuda pra terminar isso aí, pode contar comigo, viu? ── Taesan disse, se inclinando na minha direção como se fosse roubar meu sorvete. Afastei meu chocomenta dele, rindo.
─── Nem tenta! ── falei, segurando firme a
casquinha ─── Vai comer o seu.
─── Já acabei. Tá mais perto do sorvete derreter do que de você terminar. ── ele respondeu, rindo enquanto se encostava no banco e me olhava com um sorriso de canto, satisfeito.
Revirei os olhos, mas sentia uma leveza no peito. Esses momentos simples, de provocações bobas e conversas jogadas fora, sempre me faziam esquecer o quanto eu estava nervoso. Depois que terminei o sorvete, ele se levantou e estendeu a mão pra mim, mais uma vez senti meu coração bater mais forte só com aquele simples gesto.
─── Vamos? Quero te levar até a ponte antes que o sol se ponha.
Peguei a mão dele, e um arrepio percorreu meu corpo. Aquela tensão no ar estava ficando cada vez mais evidente. Caminhamos em silêncio por um tempo, e a cada passo, o ambiente ao nosso redor parecia ficar mais íntimo. Não havia mais piadas, nem provocações. Era só o som dos nossos passos e o vento leve passando entre nós.
Chegamos à ponte, e o cenário era perfeito. O sol estava se pondo no horizonte, pintando o céu de laranja e rosa, enquanto as águas do rio refletiam as cores. Eu sabia que de alguma forma, esse momento ia ficar marcado na minha memória pra sempre. Taesan suspirou ao meu lado e eu senti que ele estava prestes a falar algo importante.
─── Sabe, Ihan... ── ele começou, com a voz um pouco mais baixa, como se estivesse escolhendo as palavras ─── Eu venho pensando bastante sobre umas coisas ultimamente.
Franzi a testa, curioso e nervoso ao mesmo tempo.
─── Que coisas? ── perguntei, tentando soar despreocupado, mas o nó no meu estômago só aumentava.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse tentando encontrar coragem para continuar.
─── Tipo... sobre como algumas pessoas entram na nossa vida e mudam tudo, sabe? ── Taesan disse ainda olhando pra o rio, evitando meus olhos ─── E às vezes a gente não sabe como lidar com isso. Não sei se você já passou por algo assim, mas... parece que com você, as coisas sempre são diferentes.
Eu sabia que ele estava tentando chegar a algum lugar, mas ao mesmo tempo, sentia medo do que poderia vir. O que eu deveria dizer? Fingir que não estava entendendo, ou encarar de vez?
─── O que você tá tentando dizer? ── perguntei, minha voz soando mais tensa do que eu queria. Ele riu de leve, sem humor, e finalmente olhou pra mim.
─── Sei que pode parecer estranho, mas... eu não consigo mais fingir que tá tudo igual. ── ele fez uma pausa, respirou fundo, e então continuou, finalmente reunindo a coragem que parecia estar lutando para achar ─── Eu acho que tô começando a sentir algo por você, Donghyun. Algo diferente do que eu sinto pelos outros. E isso tá me deixando maluco.
Meu coração disparou. As palavras dele eram exatamente o que eu esperava, mas ao mesmo tempo, eu me sentia completamente despreparado para ouvir. Parte de mim queria fugir, evitar o que estava acontecendo, mas outra parte queria desesperadamente retribuir.
─── Dongmin... ── comecei, hesitante ─── Eu... eu não sei se é o momento da gente ter essa conversa.
Ele me olhou, claramente nervoso, mas determinado.
─── Olha, eu não tô esperando que você sinta o mesmo. Na verdade, eu nem sei por que tô dizendo isso agora, mas eu precisava tirar de dentro de mim. ── o Han passou a mão pelos cabelos, claramente frustrado com a situação ─── Só não consigo mais fingir que somos apenas amigos. Não dá. E eu não quero forçar nada, mas precisava que você soubesse o que eu sinto.
Por alguns segundos, fiquei em silêncio, tentando processar tudo. Eu também sentia o mesmo, mas dizer isso em voz alta me deixava vulnerável. E admitir meus sentimentos significava me expor de um jeito que eu nunca tinha feito antes.
─── Eu... eu também sinto algo por você. ── admiti, finalmente, sentindo como se uma tonelada de peso tivesse saído dos meus ombros ─── Só não sabia como dizer. Acho que estava com medo de, sei lá, estragar tudo.
Ele sorriu, um sorriso suave e aliviado, e deu um passo mais perto. Seus olhos brilhavam à luz do pôr do sol e por um momento, tudo ao nosso redor desapareceu.
─── Então estamos na mesma. ── Taesan falou baixinho.
E antes que eu pudesse responder, ele se inclinou e nossos lábios finalmente se encontraram. O beijo foi suave no início como se nós estivéssemos testando, mas logo se aprofundou, cheio de tudo que a gente vinha segurando até agora. Era como se o mundo tivesse parado e só restássemos nós dois naquele instante. A sensação era intensa e ao mesmo tempo natural, como se esperássemos por isso há muito tempo. Quando nos afastamos, nossos olhares se encontraram de novo e senti que não precisava dizer mais nada. Ele sorriu, e eu sabia que aquele era o início de algo muito maior.
─── Então... acho que agora você tá preso comigo, né? ── Dongmin brincou, com aquele jeito provocador que eu conhecia tão bem.
Eu ri, finalmente relaxando depois de toda a tensão que havia se acumulado.
─── Preso? Você que vai ter que me aturar. ── respondi, tentando manter o tom leve, mas por dentro me sentindo mais à vontade do que nunca.
─── Pff, como se fosse difícil. ── ele disse, revirando os olhos e me puxando pela mão ─── Na verdade, acho que vai ser bem fácil.
Ficamos em silêncio por mais alguns minutos, observando o sol desaparecer no horizonte. A luz dourada que refletia no rio foi se apagando aos poucos, dando lugar a tons mais suaves de rosa e lilás no céu. O vento que passava pela ponte era frio, mas ao mesmo tempo, a proximidade entre nós dois me aquecia de uma forma que eu não conseguia explicar. Depois de um tempo ele quebrou o silêncio de novo, com a voz mais calma e confiante.
─── Sabe, eu tava meio nervoso com tudo isso. Não sabia como falar com você sobre o que eu tava sentindo. ── ele admitiu, ainda de mãos dadas comigo ─── Mas agora que eu falei, parece que um peso enorme saiu das minhas costas. Meio clichê dizer isso, né?
Eu balancei a cabeça, rindo de leve.
─── Estávamos os dois nervosos. Eu também não sabia como te dizer o que sentia e fiquei tentando fingir que nada tava acontecendo. Mas tá tudo mais claro.
Taesan me olhou de um jeito terno, e foi nesse momento que eu percebi que não importava mais o que viria depois. Estar com ele, naquela hora, era o que fazia tudo valer a pena.
─── E você acha que agora, com tudo isso claro, vai conseguir me aguentar? ── ele provocou, com um sorriso de canto.
Eu dei uma risada e soltei sua mão, cruzando os braços de brincadeira.
─── Se eu consegui até agora, acho que aguento o resto, né?
Ele fez uma careta fingida de indignação e me deu um empurrão de leve com o ombro.
─── Tá, vamos ver se você vai continuar dizendo isso depois!
⏳
A noite já estava começando a cair, e a praça e a ponte estavam mais vazias. O silêncio que antes era carregado de expectativas agora era tranquilo, como se tudo finalmente estivesse no lugar certo. A gente começou a caminhar de volta, dessa vez mais devagar, como se não existisse pressa nenhuma pra chegar em lugar algum. Enquanto andávamos, ele falou de novo, dessa vez com uma voz mais suave.
─── Você sabe que pra mim isso não é uma brincadeira, né? ── ele perguntou, me olhando com um pouco de seriedade nos olhos. Eu parei de andar e o encarei, sentindo meu coração acelerar de novo, mas de uma forma diferente. Não era mais aquele nervosismo que eu tinha antes, mas sim uma mistura de emoção e alívio.
─── Eu sei, Dongmin. E também não quero que isso seja só uma fase ou algo passageiro. Acho que já deu pra perceber que eu gosto muito de você. Mais do que eu mesmo entendia até agora.
Ele sorriu de novo, dessa vez de um jeito quase tímido. Então, sem falar mais nada, entrelaçou nossos dedos de novo, como se aquele gesto fosse a confirmação silenciosa de tudo o que a gente tava sentindo.
Fomos andando juntos pela praça, conversando sobre coisas diversas, mas dessa vez a tensão tinha se dissolvido. O que restava era um conforto tranquilo, como se a gente tivesse finalmente encontrado o destino que queríamos viver juntos.
A noite avançou e o céu ficou completamente escuro, pontilhado de estrelas. A cidade já tava mais silenciosa, e as luzes dos postes iluminavam as ruas com um brilho leve. Ao chegar perto de onde os nossos caminhos se separavam, Taesan parou e se virou pra mim, ainda segurando minha mão.
─── Então, amanhã, às 07h? Venho te buscar pra gente ir pra escola. ── ele perguntou dando um sorriso, mas que tinha aquele brilho no olhar que só ele conseguia ter.
Sorri de volta, sentindo o calor subir pelo meu rosto.
─── Amanhã, e depois de amanhã... e todos os outros dias se você quiser.
Ele riu balançando a cabeça e antes de se afastar, me deu um último beijo. Foi um beijo rápido, mas cheio de significado, como se Dongmin quisesse reafirmar que aquilo não era só o final de um dia, mas de muitos outros que viriam.
Enquanto o vi se afastar pela rua, fiquei ali, parado por alguns segundos e absorvendo tudo o que tinha rolado. O coração ainda batia acelerado, mas dessa vez de um jeito bom, um jeito que me fez sorrir enquanto caminhava para casa. Eu sabia, com certeza, que aquela tinha sido só a primeira de muitas conversas e momentos que viveríamos juntos.
A partir daquele dia, tudo tinha mudado. E pela primeira vez, eu estava feliz com isso.
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