Let It once be me
15/12/2021
Taylor despertou com o som dos pássaros na janela, uma trilha quase inaudível contra o ruído distante de carros passando pelas ruas de Nova York. Sentada na cama, ela passou os dedos pelos cabelos soltos, olhando para o relógio no criado-mudo. Eram 7h45, e, diferente dos últimos dias, ela sentiu uma leve urgência em começar o dia.
A ideia de voltar ao estúdio pairava em sua mente desde que acordara. Fazia semanas desde a última vez que ela estivera lá, e a ausência do processo criativo começava a pesar. Não era que ela se sentisse mal, mas havia uma necessidade pulsante de se reconectar com algo que sempre fora um alicerce.
Pegando o celular, Taylor enviou uma mensagem para Jack Antonoff.
"Oi, estou pensando em ir ao estúdio hoje. Pode me encontrar lá?"
A resposta veio quase instantaneamente.
"Claro, que horas?"
"Por volta das 10."
Com isso resolvido, ela levantou da cama, atravessando o quarto em direção ao closet.
Taylor selecionou uma calça jeans clara e uma camiseta preta básica, combinando com um casaco cinza longo e botas pretas de couro. Ela gostava de roupas confortáveis para o estúdio, algo que não fosse uma distração enquanto trabalhava.
No banheiro, lavou o rosto, prendeu o cabelo em um coque despretensioso e aplicou um toque de blush. Enquanto se olhava no espelho, notou a leveza em seus olhos. Ainda não era a versão completa de si mesma, mas já era algo.
Ela se sentiu diferente naquela manhã, uma espécie de inquietação que não era ruim, mas também não era completamente boa. Talvez fosse apenas a antecipação de voltar ao trabalho depois de tanto tempo, mas ela decidiu não pensar muito sobre isso.
Com a bolsa no ombro, Taylor desceu as escadas do prédio, o som dos saltos ecoando pelo corredor vazio. Na entrada, esperou pelo seu motorista, olhando para o movimento da rua. Nova York estava viva como sempre, e ela, de alguma forma, sentia-se parte disso novamente.
O trajeto até o estúdio foi silencioso. Ela olhava pela janela, as ruas movimentadas passando como um borrão. As lojas com decorações natalinas eram um lembrete de que o fim do ano se aproximava, mas Taylor não queria se perder em reflexões. Hoje seria sobre música, sobre reencontrar sua voz.
Quando o carro estacionou, ela desceu e caminhou até a porta do estúdio. Jack ainda não havia chegado, mas isso era comum. Ela pegou a chave sobressalente que sempre deixava na bolsa e entrou, sentindo o familiar cheiro de madeira e equipamentos.
Era bom estar de volta.
Taylor sentou-se diante do piano com um suspiro suave, os dedos deslizando sobre as teclas sem muita intenção. A familiaridade daquele espaço era reconfortante, mesmo que as memórias de suas últimas sessões ali carregassem uma certa melancolia. Ela começou a tocar, notas delicadas preenchendo o vazio da sala.
A melodia era uma que ela havia escrito há meses, antes de tudo desmoronar, antes de Travis retornar para sua vida e trazer com ele memórias enterradas e dores não resolvidas. Enquanto seus dedos se moviam pelas teclas, sua voz saiu quase sem esforço, suave e carregada de emoção.
Stop, you're losing me
Stop, stop, stop, you're losing me
I can't find a pulse, my heart won't start anymore...
As palavras pairaram no ar, tão cruas e honestas que era quase desconfortável ouvi-las ecoando na sala. Ela cantava de olhos fechados, deixando-se levar pela música, pelas emoções que borbulhavam em seu peito. O som era um reflexo de tudo o que havia sentido, mas que nunca conseguiu colocar em palavras para ninguém além de si mesma.
Enquanto continuava, Taylor sentiu uma mudança no ambiente. Uma presença, sutil, mas inconfundível. Parou de cantar, abrindo os olhos lentamente, e lá estava Jack Antonoff, encostado no batente da porta, os braços cruzados e uma expressão que oscilava entre preocupação e empatia.
-Jack,- ela murmurou, um tanto envergonhada, fechando o piano com um movimento suave. -Há quanto tempo você está aí?
-Tempo suficiente- ele respondeu, entrando na sala e puxando uma cadeira para sentar ao lado dela. -Essa música... você ainda está trabalhando nela?-
Taylor desviou o olhar, mordendo o lábio. -Eu não sei. Escrevi antes de tudo... antes de ir embora. Não tenho certeza se quero terminá-la.
Jack assentiu, as mãos apoiadas nos joelhos. Havia um peso no ar que nenhum dos dois sabia exatamente como lidar. Ele conhecia o suficiente do que Taylor havia passado para saber que essa música era uma janela para algo mais profundo, mas também sabia que não era sua posição pressioná-la a falar.
-É uma melodia poderosa,- ele disse finalmente. -Mas pesada.
Taylor soltou uma risada seca. -Bem, não sou exatamente a rainha do otimismo ultimamente.
-Eu não disse isso. - Ele a encarou, seus olhos procurando os dela. -Só... me preocupo com você, Tay. Faz tempo que a gente não se vê. Como você está?
Ela hesitou, os dedos brincando com a borda de sua blusa. -Eu estou... tentando. Não é fácil, mas... é o que é.
Jack assentiu novamente, um silêncio confortável se instalando entre eles. Ele queria dizer mais, talvez algo sobre a música ou sobre como era bom vê-la de volta ao estúdio, mas decidiu guardar essas palavras. Taylor estava ali, e isso já era um progresso.
-Você quer começar com algo hoje?- ele perguntou, quebrando o silêncio.
Taylor olhou para ele e deu um leve sorriso. -Talvez. Acho que só precisava voltar aqui, sabe? Sentir que ainda posso fazer isso.
-Você pode. Sempre pôde.
Ela sorriu, desta vez com um pouco mais de sinceridade, e Jack levantou-se, indo até os equipamentos para preparar o que fosse necessário. Taylor observou-o por um momento, sentindo-se grata pela presença dele. Apesar de tudo, ele sempre estava lá quando ela precisava.
Enquanto Jack ajustava os cabos, Taylor voltou ao piano, tocando algumas notas aleatórias. Era bom estar de volta, mesmo que o peso ainda estivesse lá. Aos poucos, ela sabia, encontraria sua voz novamente.
O relógio marcava 18h quando Taylor e Jack começaram a arrumar suas coisas no estúdio. O dia havia sido produtivo, mas não exaustivo, exatamente como Taylor precisava. Jack desligava os equipamentos enquanto ela recolhia suas anotações, organizando as folhas espalhadas ao redor do piano.
Ela observou Jack por um momento antes de falar, com um leve sorriso no rosto:
- Jack, preciso te contar uma coisa.
Ele levantou os olhos, curioso.
- O que foi?
Taylor hesitou por um instante, como se estivesse saboreando o momento. Então, soltou:
- Eu decidi lançar meu próximo álbum. Vou chamá-lo de Midnights.
Jack parou o que estava fazendo, os olhos se arregalando ligeiramente.
- Midnights?
- Sim. É um projeto que tem estado comigo há algum tempo. Quero que ele seja sobre as noites em claro, sobre os pensamentos que surgem quando ninguém está olhando.
Jack assentiu lentamente, absorvendo as palavras.
- Isso é... profundo, Tay. E também tão você.
Ela riu de leve, jogando o cabelo para trás.
- Eu sei. Acho que é hora de contar essas histórias. Quero lançá-lo no próximo ano.
Jack cruzou os braços, uma expressão de admiração tomando conta de seu rosto.
- Estou dentro. Seja o que for, vou fazer com que seja exatamente como você imagina.
- Obrigada, Jack. - Taylor sorriu, sentindo-se um pouco mais leve.
Enquanto eles saíam do estúdio, o motorista de Taylor já esperava do lado de fora. Ela e Jack se despediram com um abraço apertado, a promessa de continuar o trabalho pairando no ar.
- Se cuida, Tay. E, por favor, não se cobre tanto.
- Vou tentar - ela respondeu, acenando enquanto entrava no carro.
No caminho de volta para casa, Taylor encostou a cabeça na janela, observando as luzes da cidade passarem em um ritmo constante. Estava cansada, mas era um cansaço bom, de quem sentia que tinha dado um passo na direção certa.
Seu celular vibrou na bolsa. Ao atender, a voz de Andrea Swift surgiu do outro lado da linha, levemente preocupada.
- Taylor? Por que você não respondeu minhas mensagens o dia todo?
Taylor suspirou, ajustando-se no banco.
- Desculpa, mãe. Estava no estúdio.
Houve uma pausa antes da resposta de Andrea, o tom levemente repreensivo.
- No estúdio? Taylor, você não deveria estar se forçando a trabalhar tão cedo.
- Eu não estava me forçando. - Taylor tentou manter a voz calma. - Só... precisava voltar. Preciso sentir que ainda posso fazer isso.
Andrea suspirou do outro lado da linha, sua preocupação evidente.
- Só quero que você se cuide. Trabalhar é importante, mas sua saúde vem primeiro.
Taylor fechou os olhos por um momento.
- Eu sei, mãe. Estou cuidando de mim. Prometo.
Andrea pareceu relaxar um pouco com a resposta, embora seu tom ainda carregasse uma nota de hesitação.
- Está bem. Só não exagere, querida.
- Não vou.
Após se despedirem, Taylor guardou o celular e fechou os olhos por alguns segundos. As palavras de Andrea ecoavam em sua mente, mas, ao mesmo tempo, sentia que precisava seguir esse caminho. O trabalho sempre fora sua âncora, e talvez, só talvez, fosse o que ela precisava para começar a reconstruir suas bases.
Enquanto o carro seguia pelo caminho familiar até o prédio, Taylor se perdeu em seus pensamentos. Às vezes, a mente parecia um labirinto sem fim, cheio de perguntas sem respostas e dúvidas que pareciam aumentar com o passar dos dias. Ela se perguntava se realmente estava no caminho certo, se seu trabalho, seus relacionamentos e suas escolhas estavam levando-a a algum lugar que valesse a pena. Será que ela estava simplesmente tentando se encaixar em um molde que não era seu?
Ela pensou nas conversas com a psicóloga, nas palavras que tentava não ignorar, mas que às vezes pareciam se perder no vazio. E ali estava ela, mais uma vez, subindo pelas escadas que levavam ao seu apartamento, tentando não se afogar em seus próprios pensamentos. Quando estava prestes a chegar no andar, o som de seus passos ecoava, mas seu coração parecia mais pesado do que o normal, como se estivesse carregando um peso invisível.
Ao chegar no hall de entrada, ela girou a chave na porta e, quando abriu, tomou um susto tão grande que fez seu corpo inteiro dar um salto para trás. Seu coração pulou no peito, e ela levou a mão ao peito, tentando recuperar o fôlego. No corredor, à luz suave da lâmpada, estava Travis.
Ela não sabia o que fazer com aquela surpresa. Ele estava lá, de pé, com uma expressão preocupada e, no outro braço, segurava uma caixa de pizza e uma garrafa de vinho. O susto foi tão grande que ela se sentiu atordoada por um momento.
- O que... você está fazendo aqui? - A raiva saiu quase automaticamente, uma reação instintiva que ela não conseguiu controlar. A presença de Travis sempre trazia sentimentos conflitantes.
Ele, percebendo o quão assustada ela estava, imediatamente se aproximou, com a expressão de quem não sabia se devia se desculpar ou se dar um tempo para ela processar o choque.
- Ei, calma. Eu não queria te assustar - ele disse, com a voz suave, como se tentasse suavizar o impacto. - Eu... só achei que poderia ser uma boa ideia passar um tempo com você. Não quero te deixar sozinha.
Ela franziu a testa, sem saber se deveria ficar brava ou se entregar à surpresa. Quando ele falou, de forma tão sincera, ela percebeu que ele não estava ali por nada além de querer ajudá-la.
- Você realmente acha que a melhor maneira de "ajudar" seria se infiltrar aqui no meu apartamento e me assustar dessa forma? - ela perguntou, tentando manter a expressão séria, mas sentindo o coração bater mais rápido ao ver a cara de cachorro pidão dele.
Travis deu um passo atrás, claramente tentando entender o que estava acontecendo, a expressão de arrependimento misturada com um toque de humor.
- Ok, ok, eu reconheço o erro... - ele riu suavemente. - Mas eu pensei que, sabe, uma noite com pizza e vinho fosse o suficiente para compensar o susto. Eu não queria que você ficasse sozinha com seus... pensamentos, então trouxe algo que sei que vai te fazer sorrir.
A menção à pizza e ao vinho fez Taylor parar por um segundo. O vinho que ele trouxe era exatamente o que ela mais gostava. Não tinha como negar. Era difícil resistir a uma boa pizza, especialmente quando era algo que ela adorava e que sabia que Travis tinha colocado todo o esforço para trazer.
Ela olhou para ele, sua raiva se desfazendo lentamente, como se fosse uma camada de gelo derretendo ao sol. Ele estava ali, com uma expressão genuína, esperando que ela reagisse de alguma forma. E quando ela olhou mais fundo em seus olhos, a carinha de cachorro pidão que ele fazia foi o suficiente para fazê-la relaxar.
Ela suspirou, cruzando os braços, mas sem a força de antes.
- Você não pode simplesmente aparecer assim, Travis... - ela disse, sem muita convicção. A raiva havia se dissipado.
Ele deu um passo em sua direção, sorrindo com aquele sorriso característico que ela reconhecia e que sempre a fazia sentir um arrepio estranho no estômago.
- Eu só... sei que você tem estado sozinha. E pensei que talvez eu pudesse ser a distração que você precisa. Além disso, você não pode dizer que não ama uma boa pizza e vinho, certo?
Taylor o olhou por um segundo, os lábios se curvando de leve. Ele tinha um jeito todo peculiar de ser que sempre a fazia sorrir, mesmo quando queria se manter irritada.
- Ok, você venceu. - Ela finalmente disse, com um sorriso sincero. - Mas eu não posso prometer que não vou te jogar fora daqui depois de uma mordida dessa pizza, hein?
Ele fez uma expressão exagerada de medo, levando as mãos à cabeça como se estivesse se preparando para o pior.
- Não faça isso comigo, Taylor. Eu já sofri o suficiente com esse susto. A pizza é minha última defesa!
Ela riu e ele, satisfeito, colocou a pizza e a garrafa de vinho na mesa de centro, como se fosse um truque de mágica. Eles se sentaram no sofá, começando a comer enquanto conversavam sobre coisas aleatórias.
- Então... - Travis começou, mastigando uma fatia de pizza. - Como foi seu dia?
- Eu estava no estúdio. Tentando organizar minha cabeça. Acho que estou me sentindo mais... bem, mais eu mesma, sabe?
Ele olhou para ela, com um sorriso de aprovação.
- Eu sabia que você conseguiria. Não importa o quanto o mundo tente te empurrar para baixo, você sempre dá um jeito de se levantar.
Taylor deu uma mordida na pizza, tentando não deixar transparecer o quanto aquelas palavras a tocaram.
- E você? - ela perguntou, tentando mudar de assunto, mas ele sabia que ela estava se referindo a ele de maneira mais profunda.
Ele riu, um som caloroso e descontraído.
- Ah, você sabe, sou só o cara que traz pizza e vinho. Não é tão complicado assim.
Eles riram juntos por um momento, o clima no apartamento mais leve do que Taylor imaginava que seria. Era engraçado como, em meio à confusão interna e aos altos e baixos da vida, um gesto tão simples poderia mudar o tom de uma noite inteira.
Eles continuaram a conversar, rindo das piadas bobas de Travis e discutindo trivialidades, mas no fundo, Taylor sabia que aquilo significava algo maior. Talvez, não fosse apenas a pizza ou o vinho. Talvez fosse o fato de, apesar das diferenças, Travis estava ali para ela, de uma forma que ninguém mais estava. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas naquele momento, tudo parecia um pouco mais suportável.
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