I look after you
Nova York, 20 de dezembro
O inverno em Nova York tinha um jeito peculiar de se infiltrar na pele, mas naquela noite, o frio parecia ter encontrado um caminho direto para a alma de Taylor. Ela destrancou a porta do apartamento com a mesma falta de energia com que vinha encarando seus dias, empurrando-a suavemente até que se fechasse atrás de si. O eco suave da madeira contra a moldura foi o único som que a acompanhou na entrada do espaço vasto e silencioso que ela chamava de lar. Um lar que, ultimamente, mais parecia uma cápsula de vidro, onde ela observava a própria vida passar do lado de fora.
O relógio digital na cozinha piscava 20:03. A cidade abaixo continuava viva, pulsante, indiferente à tempestade silenciosa que se formava dentro dela. Taylor largou a bolsa no sofá com um suspiro pesado, o tipo de suspiro que carregava mais do que cansaço físico—era o peso de semanas, meses, talvez anos, comprimidos em um único fôlego.
As notificações no celular não paravam de piscar desde cedo. Mensagens de sua mãe confirmando a chegada em Nova York na manhã seguinte, convites de amigos insistindo para que ela saísse no Natal, até mesmo Travis tinha enviado algo breve, mas carregado de significado, como tudo que ele fazia ultimamente. Mas Taylor havia sido clara: não queria sair de casa no Natal. Não queria enfrentar o brilho falso das luzes natalinas, os sorrisos forçados, as conversas que inevitavelmente acabariam girando em torno de como ela estava se sentindo.
Ela atravessou o apartamento em passos lentos, os olhos deslizando por cada canto familiar. O piano no canto da sala estava coberto com uma fina camada de poeira, as partituras abandonadas sobre ele, lembrando-a das músicas que não tinha conseguido terminar. O Natal estava a cinco dias de distância, mas para Taylor, parecia um conceito distante, irrelevante.
No quarto, ela deixou o corpo cair na cama por um momento, olhando para o teto, o vestido apertado ainda colando-se à pele. Era vermelho, um tom vibrante que contrastava cruelmente com a apatia que ela sentia. O tecido que uma vez modelou suas curvas agora parecia sufocá-la. Ela se sentou devagar, puxando o zíper com dedos trêmulos, e deixou o vestido deslizar pelo corpo até o chão. A pele, exposta ao ar frio, arrepiou-se, mas o frio de dentro era imune a qualquer temperatura externa.
O banheiro foi o próximo refúgio. A água quente caiu sobre sua pele, mas não trouxe o alívio esperado. O vapor preencheu o espaço, embaçando o espelho, escondendo seu reflexo—algo pelo qual ela estava grata. Ela não queria se ver. Não queria encarar o vazio nos próprios olhos. As gotas de água escorriam pelo rosto, misturando-se com as lágrimas que ela já não conseguia mais conter.
Taylor desligou o chuveiro, o silêncio que seguiu o som da água parecia ainda mais pesado, quase ensurdecedor. Enrolou-se em uma toalha macia e caminhou até o closet, escolhendo mecanicamente um pijama de algodão cinza, confortável e sem qualquer intenção estética. Estava exausta, mas não daquele cansaço que se resolve com uma boa noite de sono. Era um esgotamento que parecia entranhado em seus ossos, como se cada célula do seu corpo estivesse sobrecarregada com o peso de algo invisível.
Enquanto vestia o pijama, pensou vagamente em preparar algo para comer. Talvez uma torrada, ou um chá quente. Mas a ideia evaporou tão rápido quanto surgiu. Não havia apetite, nem energia para levantar da cama novamente depois que se sentasse. De qualquer forma, o vazio no estômago parecia ser o menor dos vazios que carregava naquela noite.
Entrando no quarto, foi recebida por seus três gatos, que já haviam reivindicado boa parte da enorme cama king-size. Meredith, Olivia e Benjamin estavam esparramados entre os cobertores como se soubessem que ela precisaria da presença silenciosa deles mais do que nunca. Taylor sorriu de canto, um gesto fraco e breve, e acomodou-se no pequeno espaço que restava, entre Olivia e a cabeceira.
O celular estava ali, onde ela havia largado ao chegar, a tela escura refletindo um vislumbre da luz suave do abajur ao lado da cama. Por um momento, considerou simplesmente ignorá-lo, mas a mente inquieta precisava de alguma distração, qualquer coisa que a tirasse daquele buraco onde os pensamentos pareciam se aprofundar.
Desbloqueou o telefone sem pensar e, por hábito, abriu o Twitter. Os primeiros segundos foram inofensivos: um vídeo de um gato tentando, sem sucesso, pular em uma prateleira alta. A gargalhada que escapou de Taylor foi baixa, quase inaudível, mas sincera na sua fragilidade. Aqueles pequenos momentos de humor aleatório eram como minúsculas faíscas em um quarto escuro—não iluminavam muito, mas, por um segundo, a faziam esquecer.
Mas então ela deslizou o dedo para baixo, e o brilho tênue daquela pequena faísca desapareceu.
“EXCLUSIVO: Taylor Swift está grávida? Rumores de gravidez circulam após fotos recentes mostram possível ‘baby bump’. Fontes próximas à cantora sugerem que ela e o ex-namorado, Travis Kelce, podem estar reacendendo o romance. Saiba mais sobre o possível novo capítulo da vida de Swift.”
A legenda estava acompanhada de uma foto mal iluminada de Taylor, saindo do estúdio, usando um casaco largo e as mãos no bolso. O tipo de imagem que, em qualquer outro contexto, seria ignorada. Mas agora, transformada em especulação pública, parecia um lembrete cruel do que ela havia perdido.
Ela sentiu o ar sumir dos pulmões, como se a matéria tivesse arrancado de dentro dela algo que já mal estava inteiro. O celular escorregou de seus dedos e caiu sobre o edredom com um baque surdo. O olhar de Taylor permaneceu fixo em um ponto aleatório no quarto, mas ela não via nada. O mundo ao seu redor se dissolveu, e tudo o que restou foi a dor familiar, a sensação sufocante de algo esmagando o peito.
As lágrimas vieram sem aviso, silenciosas no começo, mas logo transformadas em soluços incontroláveis. Era como se cada palavra daquela matéria tivesse arrancado o pouco de estabilidade que ela pensava ter recuperado. O vazio que ela vinha tentando ignorar se abriu de vez, expondo feridas que nunca cicatrizaram completamente.
Os gatos, sensíveis ao estado dela, se moveram lentamente, se aproximando como se tentassem, de alguma forma, preencher aquele espaço. Mas não havia nada que pudesse aliviar o peso que ela carregava. O que ela perdeu não era apenas uma possibilidade, era uma parte de si que nunca mais voltaria. E ali, naquele quarto luxuoso, cercada por tudo o que o mundo via como sucesso, Taylor Swift se sentiu mais vazia e perdida do que nunca.
Era como se o peso de meses, talvez anos, tivesse caído sobre o peito de Taylor de uma só vez. A matéria não era só uma manchete qualquer—era uma ferida aberta sendo tocada com dedos frios e impiedosos. E, naquele instante, tudo o que ela vinha tentando manter trancado a sete chaves na parte mais profunda da sua mente começou a transbordar.
Ela puxou o edredom contra o rosto, tentando abafar o som dos soluços, como se isso pudesse, de alguma forma, controlar o que estava sentindo. Mas era impossível. Porque, por mais que ela tentasse esconder, a verdade era que a dor estava sempre ali, esperando o menor gatilho para tomar conta.
O rosto dela estava molhado de lágrimas, mas o que realmente a desarmou foi o pensamento que veio logo depois: Ela deveria estar aqui.
Sua filha. O bebê que ela nunca teve a chance de segurar nos braços, que nunca ouviu seu primeiro choro, que nunca sentiu o calor do seu pequeno corpo contra o peito. A criança que existia apenas nos sonhos que Taylor havia cultivado durante aqueles poucos meses em que carregou uma vida dentro de si. Uma vida que parecia tão frágil, tão efêmera agora, como se nunca tivesse sido real. Mas foi. Deus, como foi.
Ela se lembrou do dia em que sentiu o primeiro chute. Estava com seis meses de gravidez e, naquele momento, sentada no sofá da sala, havia sentido algo diferente—um movimento suave, quase como uma borboleta batendo as asas dentro dela. O coração dela tinha disparado, e o sorriso que surgiu foi imediato, instintivo, como se o mundo tivesse parado só para ela e aquele pequeno ser que crescia dentro de si. Aquela sensação tinha sido mágica. Taylor havia colocado as mãos na barriga, esperando sentir de novo, e quando veio outro chute, mais forte, ela riu. Riu até as lágrimas escorrerem pelos olhos, mas eram lágrimas de alegria, de pura e absoluta felicidade.
Agora, o contraste daquela lembrança com a realidade atual era insuportável.
Ela queria sua filha. Mais do que qualquer coisa nesse mundo, ela queria sua filha ali com ela. Queria ouvir risadinhas ecoando pelos corredores do apartamento, queria sentir o cheiro doce de shampoo infantil no travesseiro, queria as pequenas mãos agarrando seus dedos. Mas o silêncio da casa era esmagador, um lembrete constante de tudo o que ela perdeu. De tudo o que nunca teve a chance de viver.
O choro de Taylor começou a se intensificar, o peito dela se contraindo de forma dolorosa enquanto o ar parecia escapar por entre os dedos. Ela tentou respirar fundo, mas o oxigênio simplesmente não vinha. O quarto começou a girar, as bordas da visão escurecendo, e o som abafado do próprio choro ecoava em seus ouvidos como se estivesse debaixo d’água.
As mãos dela tremiam incontrolavelmente, os dedos se fechando no lençol em busca de algum tipo de ancoragem, algo que pudesse trazê-la de volta. Mas nada parecia funcionar. O nó na garganta ficou mais apertado, o peito mais pesado, e ela sentia como se estivesse sendo puxada para um buraco do qual não conseguiria sair. O coração batia rápido demais, quase doloroso, como se fosse explodir a qualquer momento.
Eu não consigo. A frase ecoava na mente dela como um mantra, cada repetição mais desesperada do que a anterior. Eu não consigo viver com essa dor.
Ela encolheu o corpo, tentando se proteger de algo invisível, como se pudesse se esconder de si mesma. O som de sua respiração entrecortada preenchia o quarto silencioso, e os gatos, antes adormecidos, agora estavam acordados, olhando para ela com olhos atentos, mas sem entender o caos que consumia sua dona.
Taylor apertou os olhos com força, as lágrimas quentes continuando a escorrer incontrolavelmente. Cada respiração era uma luta, cada batida do coração parecia um lembrete cruel de que ela ainda estava ali, ainda presa naquele ciclo interminável de dor.
Ela queria parar de sentir. Queria parar de lembrar. Queria, mais do que tudo, parar de existir naquele momento. Mas o peso da ausência, da perda, era maior do que qualquer desejo de fuga. E, ali, sozinha no escuro, Taylor Swift enfrentava o tipo de vazio que nem as canções mais tristes poderiam traduzir.
O ar ainda vinha em rajadas curtas e descompassadas, como se seus pulmões tivessem esquecido como funcionar. Taylor apertava os olhos, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse o buraco negro que parecia engolir cada pedaço de sanidade dentro dela. Depois de alguns minutos que pareceram horas, ela conseguiu controlar a respiração o suficiente para parar de tremer, mas o vazio permaneceu, latejante, como uma dor fantasma que não desaparecia.
Ela se levantou da cama com movimentos pesados, quase automáticos, como se seu corpo fosse um fardo que ela arrastava. Os gatos sequer se moveram, alheios ao caos que fervilhava dentro dela. Seus pés descalços tocaram o chão frio do quarto, enviando um arrepio pela espinha, mas ela mal registrou o desconforto. Cada passo a levava para mais perto da gaveta que ela evitava abrir há meses, a mesma gaveta que carregava o peso de promessas feitas entre lágrimas para sua mãe, para Austin, para si mesma.
Mas, agora, as promessas pareciam tão distantes quanto a felicidade que ela acreditou, por um breve momento, ter recuperado. O aniversário dela tinha sido leve, até bonito, e ela pensou que o pior já tinha passado. Mas estava enganada. Porque a dor estava ali, sempre à espreita, esperando o momento certo para destruí-la.
Taylor abriu a gaveta. O som do deslizamento da madeira pareceu ecoar pelo apartamento silencioso. O frasco de remédios estava exatamente onde ela lembrava, a caixa branca com letras que agora pareciam zombar dela. Ela pegou o frasco, sentindo o plástico frio e liso contra a palma da mão. O peso dele era pequeno, insignificante, mas o que ele representava era tudo, era o fim daquela dor insuportável.
Ela olhou para o copo de água da noite anterior, ainda ali, intacto, como se tivesse sido deixado para esse momento. Era tão simples. Bastava colocar os comprimidos na boca, engolir, e tudo isso acabaria. O aperto no peito, o nó na garganta, o vazio gritando dentro da cabeça. Tudo se dissolveria no nada.
Taylor sabia que não devia. Prometi para a mamãe. Para o Austin. Mas e daí? Eles não entendiam. Eles não sentiam essa dor que parecia partir cada célula do corpo dela. Não era questão de querer ou não, era uma questão de sobreviver. E, naquele momento, ela não sabia mais como fazer isso.
Com os dedos tremendo, ela abriu o frasco. O som das pílulas batendo umas contra as outras foi a única coisa que quebrou o silêncio. Ela inclinou a mão, pronta para despejar o conteúdo na palma, quando o som da campainha explodiu no ar como um tiro, fazendo-a congelar. O frasco ficou suspenso no ar por um segundo eterno, e então ela o deixou cair no chão, as pílulas se espalhando como pequenos fantasmas brancos contra o piso escuro.
O coração dela disparou, mas não da forma que fazia antes. Agora, era o choque. Quem estaria ali? Quem, nesse momento, teria a audácia de interromper isso?
Ela ficou imóvel, o olhar fixo na porta, enquanto a campainha tocava de novo.
Travis Kelce, 20 de dezembro 20:36
O supermercado estava quase vazio, o som abafado de músicas natalinas tocando nos alto-falantes enquanto Travis empurrava o carrinho pelos corredores. Ele não precisava estar ali. Tinha mercados mais perto do apartamento dele, e com certeza mais convenientes. Mas ele foi atraído para aquele lugar como um imã. Era o supermercado favorito da Taylor. Não que ele esperasse encontrá-la ali, mas havia um conforto silencioso em estar em um espaço que ela gostava, mesmo que eles não se falassem direito há dias.
Ele escaneava os itens no caixa de autoatendimento—algumas coisas básicas, cervejas, snacks—quando uma ideia passageira cruzou sua mente: E se eu passasse na casa dela? Mas ele descartou rapidamente. Ela provavelmente não quer me ver.
Ele guardou as compras no porta-malas do carro, pronto para seguir sua noite. Mas, no momento em que fechou o compartimento, uma sensação estranha tomou conta dele. Era como um nó no estômago, uma inquietação que não fazia sentido. O instinto, aquele mesmo que nunca falhava em campo, agora gritava dentro dele.
Sem pensar duas vezes, ele entrou no carro e dirigiu até o apartamento dela. O caminho era curto, mas cada segundo parecia se arrastar, o pressentimento crescendo a cada quarteirão. Quando chegou, o porteiro o reconheceu e acenou com a cabeça, liberando sua entrada sem perguntas.
As escadas pareciam mais longas do que nunca enquanto ele subia, o peso da ansiedade aumentando. Ele parou em frente à porta, respirou fundo, e tocou a campainha.
Nada.
Ele esperou. As luzes estavam acesas, ele podia ver o brilho fraco por debaixo da porta. Tocou de novo.
Nada.
O desconforto virou alarme. Ela está em casa. Ele podia sentir isso. Estava prestes a bater na porta quando, de repente, ela se abriu.
E ali estava ela.
Taylor, com o pijama cinza amarrotado, o rosto pálido e os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. O cabelo loiro caía em mechas desalinhadas, e havia algo no olhar dela que fez o coração de Travis parar. Não era só tristeza. Era algo mais profundo, mais escuro.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela deu um passo à frente e se agarrou à camisa dele com tanta força que parecia ter medo de que ele desaparecesse. O som do choro dela preencheu o corredor, desesperado e incontrolável, como se cada lágrima fosse arrancada à força.
Travis não hesitou. Ele a envolveu nos braços, puxando-a contra o peito, sentindo o corpo dela tremer de forma quase violenta. Seu coração batia acelerado, mas ele não disse nada. Apenas a segurou, forte, como se pudesse, de alguma forma, protegê-la da dor que a consumia.
Ele não sabia o que tinha acontecido, mas sabia, com cada fibra do seu ser, que não a deixaria passar por aquilo sozinha.
Ele fechou a porta com o pé e a guiou para dentro do apartamento, cada passo dele era cuidadoso, como se ela fosse feita de vidro.
Ele a levou até o sofá, sentando-se e puxando-a para o colo como se fosse apenas uma criança, frágil e vulnerável. O cheiro dela ainda estava ali, familiar e doloroso ao mesmo tempo. Ele a abraçou forte, os lábios encontrando o topo da cabeça dela em um beijo suave.
— Ei… — ele sussurrou, a voz baixa, quase quebrada. — O que aconteceu, Tay?
Ela não respondeu, apenas soluçou mais forte, enterrando o rosto no peito dele. O desespero dela era um peso físico sobre ele, uma dor que se espalhava como veneno.
— Tay… — ele repetiu, a mão acariciando os cabelos dela. — Eu quero te ajudar.
O silêncio respondeu por ela, pesado, sufocante. Ele já estava prestes a desistir, pensando que talvez ela nunca fosse conseguir dizer o que estava passando, quando ouviu a voz dela, fraca, quase um sussurro:
— Eu não quero mais, Travis.
Ele congelou, o coração dele parando por um segundo.
— Não quer mais o quê? — a pergunta saiu antes que ele pudesse se controlar.
Ela se afastou apenas o suficiente para olhar para ele, e os olhos dela estavam cheios de uma dor que ele nunca tinha visto antes.
— Isso. A vida.
As palavras atingiram Travis como um soco no estômago. O ar parecia ter sido arrancado dos pulmões dele, e por um momento ele não conseguiu responder. Tudo o que eles tinham passado, toda a dor, todas as tentativas de seguir em frente—e agora ela estava ali, à beira do abismo.
— Tay… — ele começou, mas ela o interrompeu, as palavras dela jorrando como se tivessem sido presas por tempo demais.
— Eu prometi para todo mundo que tentaria, mas eu não aguento mais. Viver sem ela é como viver sem oxigênio. Eu me sinto horrível sabendo que eu não fui suficiente para concebê-la com vida.
Travis sentiu o coração apertar de um jeito que ele nunca imaginou ser possível. Ele segurou o rosto dela entre as mãos, forçando-a a olhar para ele.
— Não diga isso, Tay. O que aconteceu foi uma tragédia, e você não teve culpa. Eu aposto que se ela estivesse aqui, você seria a melhor mãe do mundo. Isso não foi sua culpa.
Mas as palavras dele pareciam apenas fazer as lágrimas dela caírem ainda mais.
— Eu quero morrer.
O mundo dele parou. As lágrimas começaram a escorrer dos olhos dele também, quentes e desesperadas.
— Não diga isso, Tay. Por favor, não diga isso. — a voz dele tremia, cada palavra um pedido sufocado.
Ela soluçou, o rosto enterrado novamente no peito dele.
— Sabia que eu não escolhi o nome dela porque queria fazer isso com você? Eu queria que ela se chamasse Chloe, mas queria tomar a decisão com você. Mesmo sabendo que você demoraria um mês para voltar pra casa, eu ficaria um mês chamando ela de bebê até a gente decidir seu nome juntos, mas você nem chegou a conhecê-la.
O choro dela se tornou incontrolável, sacudindo o corpo pequeno contra o dele. Travis a abraçou com mais força, sentindo o próprio coração se despedaçar.
— Eu não te odeio pela maneira como você reagiu ao descobrir tudo, Trav. Eu também me odiaria se fosse você, e foi tudo minha culpa. Não adianta dizer que não. Você não precisa ficar aqui fingindo empatia quando eu matei nossa filha porque não fui suficiente pra trazê-la pra esse mundo com vida.
As palavras dela cortaram mais fundo do que qualquer coisa que ele já tivesse sentido. Ele a afastou apenas o suficiente para olhar nos olhos dela, a voz dele saindo mais firme, mas ainda tremendo de emoção.
—Eu não aceito você dizer isso, e eu não te odeio, ok? Eu nunca poderia te odiar. Eu passei anos da minha vida tentando viver sem você, mas eu não consigo. Eu simplesmente não consigo. Você é minha alma gêmea e, independente de tudo, eu preciso de você mais que tudo. Eu preciso de você mais do que do ar que eu respiro. Cada dia longe de você é como um inferno, Taylor. E eu não admito você se culpar por algo que você não pode controlar.
Ela continuou chorando no colo dele, os soluços diminuindo aos poucos, até que o corpo dela começou a relaxar. Travis ficou ali, segurando-a como se o simples ato de soltá-la pudesse fazê-la desaparecer. As lágrimas ainda escorriam pelo rosto dele quando percebeu que ela tinha adormecido, exausta.
Ele não conseguiu soltá-la. Apenas se acomodou melhor no sofá, mantendo-a firme nos braços, e, com o coração ainda apertado, acabou adormecendo também, os dois entrelaçados na dor que compartilhavam.
Notas da autora:
Quem é vivo sempre aparece.. Capítulo não revisado :)
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