Happy Birthday, Taylor!
13/12/2021
A luz do sol filtrava-se pelas cortinas entreabertas do quarto de Taylor, anunciando que a manhã já ia adiantada. Ela sentia o peso do mundo em seus ombros, ou talvez fosse apenas o peso do excesso de vinho da noite anterior. A cabeça latejava em protesto contra a fuga momentânea que ela havia permitido a si mesma.
De olhos fechados, Taylor rolou de um lado para o outro na cama, tentando encontrar uma posição que não exigisse tanto esforço do corpo ou da mente. Mas era impossível fugir do turbilhão de pensamentos que a cercava. Era seu aniversário. Ela sabia que era. O dia estava marcado como uma lembrança gritante de quem ela era e do que havia perdido.
Tentou enganar a si mesma, fingir que podia se esconder sob os lençóis, mas a náusea e o cansaço emocional não permitiam. Com um suspiro pesado, virou-se novamente, desta vez encarando o relógio na mesa de cabeceira. 10h13. Uma pontada de culpa e irritação passou por ela. Não havia nada planejado, mas, mesmo assim, o tempo parecia um lembrete cruel de que ela estava desperdiçando sua existência.
Esticou o braço para pegar o celular no criado-mudo, os dedos hesitantes enquanto deslizou pela tela. Mensagens e notificações explodiam na tela iluminada. O número era impressionante, mas não era surpresa. Aniversários sempre traziam esse tipo de atenção que, em outros tempos, ela adorava.
Agora, cada mensagem parecia um lembrete da pessoa que ela já não era. Mensagens de parabéns, vozes animadas, emojis brilhantes – uma tentativa desesperada de conectar-se com ela, de arrancar um sorriso que ela simplesmente não tinha para dar. Taylor leu algumas sem realmente absorvê-las, os olhos passando pelas palavras com uma indiferença dolorosa. Ela não respondeu.
Não porque quisesse ser rude, mas porque não conseguia. Não sabia o que dizer. Como agradecer quando o peso do dia a esmagava? Como fingir que era grata por mais um ano quando, na verdade, tudo o que queria era esquecer?
Ela largou o celular de volta no criado-mudo com um movimento frustrado, fechando os olhos enquanto pressionava os dedos contra as têmporas. Hoje não era um dia para celebrações. Era um dia para sobreviver. E, mesmo isso, parecia um desafio maior do que ela estava disposta a enfrentar.
O som estridente da campainha cortou o silêncio como um golpe de adaga, fazendo Taylor abrir os olhos, irritada. Ela virou para o lado, tentando ignorar, mas o toque insistente voltou.
— Pelo amor de Deus... — murmurou, pressionando as palmas contra os olhos.
Ela estava exausta. Física e emocionalmente. A última coisa que queria naquele dia era interagir com alguém, muito menos sair da cama. Mas a campainha tocou novamente, e o som pareceu reverberar em sua cabeça latejante.
Bufando, ela jogou os lençóis para o lado e se levantou, sem muito cuidado com sua aparência. Estava com um short de pijama curto e uma blusa de alcinhas, o cabelo bagunçado e os olhos pesados de sono. Não que ela se importasse com quem estivesse à porta. Era quase um desafio para quem quer que fosse.
Abrindo a porta com um movimento brusco, ela se deparou com Travis. Ele estava lá, parado com um sorriso que parecia um pouco deslocado diante de sua expressão de poucos amigos.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou, o tom irritado escapando antes que ela pudesse conter.
Ele ergueu uma sobrancelha, visivelmente surpreso, mas não se abalou. — Ué, é seu aniversário.
Taylor cruzou os braços, encostando-se no batente da porta, sem fazer esforço para disfarçar sua irritação. — E isso te dá o direito de aparecer assim, sem avisar?
Travis deu um passo para trás, levantando as mãos em um gesto defensivo, mas seu sorriso continuava firme. — Eu só pensei... sei lá... que você talvez quisesse companhia.
Ela revirou os olhos, sem paciência. — Bem, você pensou errado.
Antes que ela pudesse continuar, Travis apontou para dentro do apartamento com o queixo. — Vai lá, se arruma. A gente vai sair.
Taylor soltou uma risada seca, incrédula. — Sair? Eu não vou a lugar nenhum, Travis.
— Vai, sim.
Ela o encarou como se ele tivesse acabado de sugerir algo absurdo. — Não, eu não vou.
— Taylor... — Ele deu um passo à frente, a voz mais suave, mas ainda firme. — Você não pode passar o dia inteiro aqui, se afundando. Hoje é sobre você. Você merece ao menos tentar aproveitar.
— Eu não quero aproveitar nada, Travis! — Ela gesticulou, exasperada. — Eu quero esquecer que hoje existe.
— E eu quero te lembrar que você existe. — Ele a encarou com uma determinação que a desarmou momentaneamente.
Antes que ela pudesse argumentar, ele cruzou os braços, um gesto que mostrava que não aceitaria um "não". — Então, vai lá e coloca uma roupa.
Ela o encarou, incrédula. — Você não manda em mim.
— Eu sei. — Ele deu de ombros, sorrindo de lado. — Mas vou fingir que mando, só hoje.
Taylor balançou a cabeça, bufando, mas virou-se para o quarto, vencida. Antes de sair completamente da sala, sentiu os olhos de Travis percorrendo-a, e isso a fez parar de repente.
— Você tá me secando? — perguntou, virando-se para ele com um olhar afiado.
Travis arregalou os olhos, erguendo as mãos novamente como se tivesse sido pego no flagra. — Não tô! Só... Só tava pensando no quanto você tá... confortável.
— Confortável? — Ela estreitou os olhos, cruzando os braços.
— É, tipo, relaxada. — Ele tentou disfarçar, mas o sorriso travesso denunciava o contrário.
— Relaxada. Sei. — Taylor revirou os olhos e voltou a andar, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso que escapou no canto dos lábios.
Taylor foi direto para o closet, seus passos ecoando no chão de madeira. Ficou alguns minutos parada, encarando as opções de roupas, sem realmente saber o que escolher. Por fim, pegou uma saia preta de cintura alta que caía suavemente até o meio das coxas, um suéter vermelho de tricô com gola alta, e um par de botas de cano alto também vermelhas. Era um conjunto simples, mas harmonioso, como se cada peça dissesse algo sobre ela sem precisar de palavras.
Depois de vestir-se, foi até o banheiro. Prendeu os cabelos em um coque desleixado e lavou o rosto, deixando a água fria despertar sua pele cansada. Escovou os dentes, aplicou um pouco de corretivo para disfarçar as olheiras e um brilho labial discreto, mas não foi além disso. Olhou-se no espelho por um instante, sem realmente se reconhecer. Era como se uma parte dela tivesse ficado presa em outro tempo, um tempo onde sorrir era fácil e o vermelho das botas simbolizava confiança, não esforço.
Colocou um par de brincos pequenos, apenas o suficiente para não se sentir completamente vazia, e saiu do quarto. Quando voltou para a sala, encontrou Travis de pé, ainda com a jaqueta pendurada nos ombros, distraído mexendo no celular.
— Estou pronta — anunciou, de maneira prática, ajustando a alça da bolsa no ombro.
Ao ouvir sua voz, ele ergueu os olhos, e algo em sua expressão mudou imediatamente. Ele a olhou por inteiro, uma vez, depois outra, como se estivesse vendo-a pela primeira vez.
— Você tá... incrível — disse, com a voz mais baixa, mas firme.
Taylor levantou uma sobrancelha, cruzando os braços em um misto de ceticismo e desconforto. — Por favor, Travis, não precisa exagerar.
— Não é exagero. — Ele deu um passo à frente, os olhos ainda fixos nela. — É sério, Tay. Você tá linda.
Ela sentiu o rosto esquentar levemente, desviando o olhar enquanto ajustava a manga do suéter. — Bom... obrigada, eu acho.
Travis sorriu, aquele sorriso que era ao mesmo tempo leve e seguro, e estendeu a mão em direção à porta. — Pronta para o melhor aniversário de todos os tempos?
Taylor revirou os olhos, mas não conseguiu conter um pequeno sorriso. — Você tá colocando uma pressão desnecessária nisso, sabia?
— Só quero que seja um dia bom pra você. — Ele abriu a porta, aguardando enquanto ela passava. — E, honestamente, com você vestida assim, já começou bem.
Ela balançou a cabeça, tentando não ceder ao charme fácil dele, mas não pôde evitar sentir uma pequena fagulha de calor acender no peito. Talvez, só talvez, o dia não estivesse completamente perdido.
Travis segurou a porta do carro para ela com naturalidade, um gesto tão simples e cortês que Taylor não pôde evitar um leve arquejo de sobrancelha. Apesar de estar acostumada a grandes gestos e atenções, a simplicidade dele às vezes a desarmava. Ela entrou no carro, ajeitando a saia cuidadosamente antes de colocar o cinto. O som abafado da porta se fechando a trouxe de volta ao momento, e ela olhou para Travis, que contornava o carro para entrar pelo lado do motorista.
— Ok, para onde estamos indo? — perguntou, enquanto ele se acomodava no banco e girava a chave na ignição.
O motor ronronou suavemente, mas ele não respondeu de imediato. Apenas lançou a ela um olhar cheio de segredos e um pequeno sorriso que parecia dizer mais do que palavras.
— Surpresa.
Taylor soltou um suspiro, recostando-se no banco enquanto cruzava os braços. — Você sabe que eu odeio surpresas, certo?
— E você sabe que eu adoro ver você tentando adivinhar, certo?
Ela revirou os olhos, mas não insistiu. Havia algo na energia tranquila e confiante dele que tornava difícil resistir. A cidade passou a deslizar pelas janelas, o som do motor e do leve farfalhar da rua enchendo o silêncio entre eles.
Porém, enquanto o carro serpenteava pelas ruas de Nova York, Taylor sentiu sua mente vagar. Não conseguia evitar. Não naquele dia.
Ela olhou para as mãos repousando em seu colo, os dedos entrelaçados de maneira quase instintiva. Pensou em como aquele gesto era algo tão humano: agarrar-se a si mesma, como se fosse uma âncora contra a maré das próprias emoções. Mas e quando nem isso era suficiente?
“Engraçado”, pensou. “A gente passa a vida inteira tentando encontrar sentido nas coisas. Procurando motivos, justificativas, e respostas. Mas quando finalmente as encontramos, percebe-se que nada muda realmente. O que aconteceu ainda aconteceu. E o vazio ainda está lá.”
Ela suspirou, permitindo-se encarar a paisagem urbana que passava rapidamente pela janela. O sol de dezembro brilhava com uma intensidade pálida, quase tímida, como se também estivesse cansado. Era estranho como os dias pareciam continuar iguais, mesmo quando tudo dentro dela gritava o contrário.
“Por que ainda estou aqui?”, sua mente sussurrou, a pergunta ecoando como um trovão silencioso. “Por que eu continuo tentando? Por que não desisti quando tudo parecia perdido?”
Havia uma resposta, ela sabia disso, mas era difícil encará-la. A resposta tinha nome, rosto e um par de olhos tão familiares que doíam. Talvez fosse egoísmo, ou talvez fosse amor, mas ela continuava. Continuava porque sabia que, se parasse, se rendesse ao vazio, não haveria como voltar.
As pessoas sempre falavam sobre superação como se fosse uma linha de chegada, um lugar onde você finalmente chegava e podia respirar em paz. Mas Taylor sabia que isso era uma mentira. Superação não era um lugar; era uma decisão diária. Era acordar todas as manhãs e escolher não desistir, mesmo quando tudo dentro de você implorava pelo contrário.
“Talvez isso seja coragem”, pensou. “Não o tipo heroico, que ganha medalhas ou salva vidas. Mas o tipo silencioso, que ninguém vê. O tipo que só você sabe que existe.”
Quando seus olhos se voltaram para Travis, que estava concentrado na estrada, ela sentiu algo diferente. Ele era parte daquela escolha, ela percebeu. Não porque ele a salvava, mas porque ele estava lá. Silencioso, insistente, constante.
“Talvez eu não precise de respostas agora. Talvez só precise continuar escolhendo.”
E naquele momento, enquanto o carro avançava em direção ao desconhecido, Taylor sentiu que, por menor que fosse, um fio invisível a mantinha conectada à possibilidade de algo mais. Mesmo que fosse apenas uma esperança silenciosa, era o suficiente para hoje.
Enquanto o carro seguia pela estrada, Taylor observava a paisagem urbana desaparecer lentamente, dando lugar a árvores espaçadas e construções menos densas. Ela franziu a testa, olhando para Travis, que dirigia com uma expressão indecifrável.
— Estamos saindo da cidade? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada.
— Hm, talvez. — Ele respondeu, mantendo os olhos na estrada, um pequeno sorriso surgindo nos lábios.
Ela estreitou os olhos, fingindo desconfiar. — Okay, se você estiver me sequestrando, só vou avisar que sou péssima refém. Falo demais, reclamo de tudo e vou te fazer ouvir minhas músicas repetidamente.
Travis soltou uma risada, um som genuíno que preencheu o espaço do carro. Ele olhou de relance para ela, a diversão brilhando em seus olhos. — Acho que vou arriscar.
— É sério, Travis. — Ela cruzou os braços e inclinou-se ligeiramente em direção a ele. — Espero que você tenha uma playlist preparada, porque o meu Spotify é só Taylor Swift.
Ele gargalhou, balançando a cabeça. — Isso seria uma tortura criativa, confesso.
Ela bufou, mas não conseguiu esconder um pequeno sorriso. Era um momento leve, um daqueles raros em que a sombra de tudo que carregava parecia menos densa.
Enquanto conversavam, Taylor começou a notar um padrão na estrada. Aquele caminho… havia algo familiar nele. Ela inclinou-se para a janela, os olhos estreitando enquanto reconhecia detalhes na paisagem. De repente, seu coração apertou.
— Espera aí… — ela começou, sua voz ganhando um tom de surpresa. — Não…
Travis manteve-se em silêncio, mas o sorriso que se formou em seus lábios a entregava.
— Não pode ser. — Taylor virou-se para ele, boquiaberta. — Você ainda lembra?
Ele finalmente olhou para ela, com um brilho malicioso nos olhos. — Surpresa.
Taylor não conseguiu evitar o impacto emocional que tomou conta de si quando viu a placa indicando a direção: Rockaway Beach.
Era sua praia favorita, o lugar onde eles haviam ido juntos pela primeira vez quando tinham apenas 17 anos. Naquela época, era só um refúgio adolescente, um lugar onde os problemas do mundo pareciam distantes. Desde então, havia se tornado um dos locais mais significativos para ela, um espaço que representava tanto alegria quanto saudade.
Mas fazia muito tempo que ela não ia lá. A vida havia se tornado caótica demais, os dias passando tão rápido que parecia impossível parar e revisitar memórias tão antigas.
— Você… — Taylor engoliu em seco, tentando organizar os pensamentos. — Você se lembrou disso?
Travis encolheu os ombros, como se não fosse grande coisa, mas o calor em sua voz o traía. — Claro que lembrei. Como esquecer o lugar onde vi você correr na areia, tropeçar e cair rindo como se o mundo fosse só seu?
Taylor riu, um som curto, mas genuíno. — Eu caí porque você me empurrou, idiota.
— Eu estava tentando te salvar de uma onda, na verdade. — Ele deu de ombros novamente, sorrindo. — Agradeça por isso.
Ela balançou a cabeça, um sorriso pequeno mas sincero se formando em seus lábios. O gesto de Travis, por mais simples que fosse, tocou algo profundo dentro dela.
— Você é inacreditável, sabia? — ela murmurou, o peso em sua voz suavizado pela leveza no olhar.
— E você é difícil de impressionar, mas acho que estou indo bem. — Ele respondeu, brincando, mas com um tom sincero subjacente.
Enquanto o carro seguia para a praia, Taylor sentiu um misto de emoções crescendo dentro dela: nostalgia, dor e, surpreendentemente, uma centelha de gratidão. Por um momento, ela permitiu-se apenas existir naquele instante, permitindo que as memórias e o presente se fundissem em algo inesperadamente bonito.
O carro parou com suavidade na areia, o som dos pneus rasgando levemente o chão só aumentando o suspense do momento. Travis desligou o motor e, com um sorriso discreto, olhou para Taylor. Ela ainda estava meio atônita com a surpresa, mas não era difícil perceber que algo estava diferente na atmosfera. A praia estava vazia, os ventos suaves e o som das ondas quebrando no horizonte. Um lugar perfeito para um momento a dois, longe de qualquer agitação ou expectativa.
Travis então começou a pegar coisas do porta-malas. Primeiro, uma bolsa grande, depois uma grande caixa de papelão, seguida de uma enorme cesta. O que ele estava fazendo? Taylor observava em silêncio, seus olhos se estreitando de curiosidade enquanto ele tirava mais e mais coisas de dentro do carro. Ele parecia estar carregando tudo o que pudesse imaginar.
— Travis, o que é isso? Você está tentando abrir um mercado aqui ou algo do tipo? — Taylor riu, suas palavras carregadas de um sarcasmo inesperado, mas não hostil. — Sério, o que você está fazendo com tanta coisa?
Travis deu um sorriso satisfeito enquanto começava a organizar tudo.
— Só estava preparado para qualquer coisa. Não queria que você faltasse nada. — Ele respondeu, já empilhando a caixa no chão, ao lado da cesta.
Taylor se aproximou, rindo ainda mais. — Você é uma pessoa peculiar. Como é que você consegue levar isso tudo para uma praia vazia? Isso é mais que um piquenique. Parece mais uma pequena expedição.
— Eu sou prevenido. — Travis deu de ombros, o sorriso imperturbável. Ele pegou uma toalha de praia que havia tirado da cesta e começou a estender no chão. — E, além disso, não gosto de fazer as coisas pela metade.
Taylor olhou ao redor e, de repente, algo chamou sua atenção. A praia estava deserta. Não havia ninguém além deles, o que era muito estranho para uma tarde de domingo.
— Eu não estou louca, estou? Essa praia... está vazia. Onde estão as pessoas? — Ela olhou de volta para Travis, que estava agora colocando um pequeno rádio no chão, montando um ambiente que parecia ser completamente isolado da realidade.
Ele parou por um instante, sentindo a pressão da pergunta. Mas, ao ver o olhar curioso de Taylor, ele não pôde deixar de sorrir um pouco mais, um sorriso que denotava o segredo que ele havia guardado.
— Eu mandei fechar. — Ele respondeu com naturalidade, como se fosse a coisa mais comum do mundo. — Queria que fosse só nós dois. Só você e eu. Sem mais ninguém.
A surpresa foi visível no rosto de Taylor. Ela olhou para ele, completamente desconcertada com a audácia de Travis. Ele realmente havia mandado fechar a praia?
— Sério? — Taylor perguntou, não acreditando. — Você mandou fechar a praia só para nós?
Travis deu uma risada baixa, agora começando a tirar itens da cesta, colocando-os cuidadosamente sobre o pano que ele havia espalhado. — Não me olhe assim. Eu queria garantir que fosse perfeito para você. Isso é tudo o que você merece.
Taylor, por um momento, ficou sem palavras. Ela olhou em volta, absorvendo tudo o que estava acontecendo, a cena tranquila à sua frente. Ele realmente havia feito aquilo por ela, e aquilo a tocou de uma forma que ela não conseguia expressar com palavras. Só isso já mostrava que, em meio ao caos de sua vida, Travis ainda queria que ela tivesse momentos de paz.
Enquanto Travis se concentrava em arrumar as coisas, Taylor, um pouco atordoada, começou a observar o conteúdo da cesta. Era uma surpresa, mas uma surpresa genuína. Não era qualquer piquenique de fim de tarde. Havia uma variedade de itens, mas o que realmente chamou a atenção de Taylor foram as coisas que ela mais amava, aquelas que ela havia mencionado em conversas informais, sem pensar muito.
Havia croissants quentinhos, o pão de chocolate que ela costumava comer na infância, frutas frescas como morangos e uvas, e uma garrafinha de vinho rosé. Até o queijo brie estava ali, o queijo cremoso que ela sempre adorara. Era como se ele tivesse estudado sua alma e criado a refeição perfeita para ela.
— Uau... você realmente fez isso? — Taylor perguntou, surpresa, olhando para Travis, que agora se sentava ao lado dela, já começando a separar as coisas. — Você se lembra de tudo.
Travis olhou para ela com uma expressão suave, os olhos mais intensos do que ela poderia imaginar. — Claro que sim. Você nunca esquece as coisas que importam. — Ele fez uma pausa, pegando um pedaço de queijo e estendendo para ela. — E eu também não.
Taylor riu, pegando o queijo da mão dele. Ela sentia um calor estranho crescer dentro de si, algo que não conseguia explicar. Não era só a comida, mas o gesto, o cuidado, a maneira como ele parecia saber exatamente o que ela precisava sem palavras.
Eles comeram juntos, em silêncio por um momento, só o som das ondas e o sussurro do vento acompanhando o ritmo natural da conversa que se desenrolava de forma espontânea entre eles.
— Nunca pensei que um dia voltaria aqui — Taylor disse, quebrando o silêncio. Seus olhos estavam voltados para o mar, mas sua mente estava em algum lugar distante. Ela estava com ele, mas também perdida em memórias. — Nem sabia que queria voltar. Acho que é meio difícil.
Travis olhou para ela, atento ao tom em sua voz. Ele pegou sua mão, sem pressa, com a leveza de quem entendia o que ela queria dizer. — Eu sei. Eu também sei o quanto esse lugar significa para você. E sei que não é fácil. Mas, se alguma coisa, eu queria que você soubesse que você não está sozinha. Não importa o que aconteça, eu estarei aqui. Para tudo. Sempre.
Aquelas palavras, simples, mas profundas, tocaram Taylor de uma maneira que ela não soubera como reagir. Ela apenas olhou para ele, seu coração apertando dentro de si, mas de uma forma suave, como se o que ele estava dizendo fosse a única coisa que realmente fazia sentido.
— Eu não sei como você sempre sabe o que fazer — ela murmurou, sorrindo de leve. — Como você sempre sabe...
Ele a olhou nos olhos, uma leveza em sua expressão, como se soubesse que tudo aquilo, por mais simples que fosse, era tudo o que eles precisavam naquele momento.
Depois de alguns minutos de conversa e risadas, Travis e Taylor se levantaram e caminharam até a água. O mar estava calmo, com ondas pequenas que beijavam a areia. Travis, com seu jeito brincalhão, puxou Taylor para a água, onde eles começaram a brincar, rindo da situação.
— Vai, Tay! Tenta me pegar! — Travis desafiou, correndo pela água, com o sorriso no rosto.
Taylor não era exatamente uma ótima nadadora, e suas tentativas de acompanhar Travis eram desastrosas. Ela tropeçou em uma pedra e quase se afogou, mas ao invés de se aborrecer, soltou uma gargalhada genuína que ecoou pela praia. Seu riso era tão espontâneo, tão livre, que Travis parou por um momento, apenas a observando, estupefato. Ele não ouvia isso havia tanto tempo.
E então, sem pensar, Travis a puxou para um abraço forte, apertado, como se tentasse absorver aquele momento, aquela alegria genuína de volta para a sua memória. Taylor, ofegante de tanto rir, se aninhou em seu abraço, sentindo a força e a segurança dele ao seu redor.
— Eu não te ouvia rir assim há tanto tempo... — Travis murmurou contra seu cabelo, os braços em volta dela, como se quisesse nunca mais deixar aquele momento escapar.
Taylor levantou a cabeça, seus olhos brilhando com o riso e o alívio. Ela olhou para ele com um sorriso tímido, mas sincero. — Eu não sabia que ainda podia rir assim, Travis. Isso foi... bom.
Ele apertou ainda mais seu abraço, tocado pela pureza daquela reação. Algo dentro dele cedeu, como se aquele riso fosse a resposta a todas as suas angústias, a todas as dores que ambos estavam carregando.
Depois de horas aproveitando o dia, brincando no mar e jogando vôlei – onde Taylor, mesmo péssima, se esforçou o suficiente para arrancar gargalhadas de Travis – eles decidiram encerrar a tarde sentados na areia. O sol começava a descer lentamente no horizonte, tingindo o céu de tons dourados, laranja e rosa. Era um espetáculo silencioso e mágico, o tipo de momento que não precisava de palavras para ser especial.
Travis tinha trazido um cobertor, e os dois se acomodaram lado a lado, as pernas estendidas na areia, com o mar sussurrando baixinho à sua frente. Taylor puxou o cobertor sobre seus ombros, agradecendo o calor que ele proporcionava contra o vento gelado do entardecer.
— É lindo, não é? — Travis quebrou o silêncio, sua voz baixa e tranquila.
Taylor apenas assentiu, abraçando os joelhos. — Faz muito tempo que não vejo um pôr do sol assim. Eu nem lembrava o quanto eu gostava disso.
Travis olhou para ela, mas ela estava fixada no horizonte. O brilho quente do sol refletia em seus olhos, trazendo um contraste perfeito ao ar melancólico que ainda pairava em seu semblante. Ele não conseguia desviar o olhar; parecia que aquele momento tinha sido feito para ela, para lembrá-la de que a vida ainda podia ser bonita, mesmo com tudo que tinham perdido.
— Eu me lembro da primeira vez que viemos aqui — Travis comentou, sua voz cheia de nostalgia. — Você estava tão animada. Chegou a me arrastar até a água mesmo estando frio.
Taylor riu baixinho, mordendo o lábio. — E você reclamou o tempo todo, mas não deixou de me acompanhar.
— Claro que não. Como eu poderia? — Ele virou o rosto para encará-la, os olhos cheios de uma intensidade que fez o coração de Taylor bater mais rápido. — Você sempre foi meu sol, Taylor. Mesmo nos momentos mais escuros, mesmo agora...
Ela desviou o olhar, tentando esconder a onda de emoção que subiu à superfície, mas ele tocou suavemente sua mão, forçando-a a encará-lo novamente.
— Eu sei que não posso mudar o passado — ele continuou, a voz rouca de emoção. — Mas eu quero estar aqui, com você. Sempre que você me deixar.
Taylor sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas não as deixou cair. Não podia. Em vez disso, respirou fundo, permitindo-se sentir a sinceridade naquelas palavras.
Quando o sol tocou o horizonte, lançando um brilho final antes de desaparecer, Travis se inclinou devagar. Taylor não recuou. Seus rostos estavam tão próximos que ela podia sentir a respiração quente dele contra sua pele.
E então aconteceu. Lentamente, de forma quase hesitante, os lábios de Travis encontraram os de Taylor. Foi um beijo cheio de ternura, com um peso emocional tão grande que parecia condensar anos de dor, saudade e sentimentos não ditos. Ele não era apressado nem exigente; era simplesmente uma promessa silenciosa de que, juntos, eles poderiam encontrar um caminho para curar suas almas.
Quando eles se afastaram, o silêncio permaneceu, mas agora era diferente. Taylor sentiu algo dentro dela – algo pequeno, frágil, mas real – começar a se reacender.
Travis limpou uma mecha de cabelo do rosto dela e sorriu suavemente. — Vamos embora?
Ela assentiu, sorrindo de volta, e os dois se levantaram, caminhando juntos até o carro. O ar estava frio, mas Taylor se sentia aquecida de um jeito que não sentia havia muito tempo. Enquanto o carro partia pela estrada escura, ela se permitiu acreditar, nem que fosse por um momento, que talvez houvesse luz no fim daquele túnel.
Quando Travis estacionou o carro em frente ao apartamento de Taylor, o brilho do sol já começava a desaparecer no horizonte, mas algo parecia diferente. O som do motor desligando e a leveza da tarde, que parecia se estender, davam uma sensação de que o momento era mais importante do que qualquer outro. Eles haviam passado a tarde juntos, com risos e uma conversa solta, mas a tensão do que vinha a seguir ainda pairava no ar. Taylor sabia que sua vida não voltaria ao normal com um simples dia, mas algo naquele momento parecia fazer sentido, e ela se sentia… talvez um pouco mais leve.
Travis olhou para ela, o olhar tranquilo, mas cheio de uma expectativa silenciosa. Quando ela saiu do carro, ele foi atrás, caminhando com ela até a porta do seu apartamento. Antes que ela pudesse fazer qualquer comentário, ele a olhou com um sorriso tímido. — Tem mais uma coisa, Taylor. Só uma coisa.
Ela franziu a testa. — O que você fez agora? — sua voz soava cansada, mas também curiosa.
— Confia em mim, só... confia. — Travis respondeu, quase como um sussurro, enquanto pegava a maçaneta da porta. Ele estava nervoso, mas não queria que ela soubesse disso.
A porta se abriu e, ao invés da quietude que Taylor esperava, uma explosão de risos e vozes invadiu seus ouvidos. Ela congelou por um segundo, sentindo seu peito apertar, mas então as pessoas começaram a aparecer no campo de visão. Sua mãe, Andrea, com uma expressão um pouco nervosa, e logo ao lado, Scott, Austin, Tree, Selena e Blake, todos sorrindo com olhos atentos, esperando sua reação.
Ela ficou ali, parada no corredor, com a porta aberta na frente dela. Era uma festa, uma surpresa, e ela sabia disso. — Vocês... — Taylor não sabia o que dizer, a surpresa, a leveza no ar, fazia seu coração disparar, mas ainda havia algo de incompleto nela. Não era o que ela esperava, mas não era ruim. Pelo menos não ainda.
— Feliz aniversário, querida! — Andrea exclamou, com um sorriso que era um misto de amor e ansiedade. — Sabíamos que você não queria nada grandioso, mas... pensamos que isso poderia fazer você sorrir.
Taylor olhou para os rostos à sua frente, seus amigos e familiares. Era o que ela mais precisava, o que ela temia e ao mesmo tempo desejava. Ela forçou um sorriso. — Obrigada, gente... isso é... muito.
— Não estamos tentando te forçar a nada, Tay — Selena falou com suavidade, levantando uma taça de vinho. — Só queríamos te mostrar que estamos aqui, para o que você precisar.
Taylor olhou para todos, e por um breve momento, as palavras de Travis voltaram à sua mente. Ele havia a ajudado a se abrir, a estar ali, mas ainda havia muito a se fazer. E a dor não desapareceria com uma festa, nem com um sorriso. Mas o gesto, o apoio, eram sinais de que ela não estava sozinha. Pelo menos não naquele momento.
Blake ergueu uma garrafa de champanhe, com um sorriso brincalhão. — Não importa o quanto você tente nos afastar, Taylor, a gente ainda vai aparecer de vez em quando. Então, já sabe, né?
Ela riu baixinho, ainda sem querer deixar as barreiras caírem completamente, mas se sentindo mais conectada do que antes. Ela olhou para Travis, que estava ali, um pouco afastado, observando a cena com uma expressão satisfeita, como se ele soubesse que aquele pequeno gesto faria a diferença.
— Então, o que é esse bolo? — Austin perguntou, tentando aliviar a tensão, com um sorriso provocador. — E quem vai cortar primeiro?
Todos riram, e Taylor deu um passo à frente, percebendo o quanto estava grata por ter aquelas pessoas ali. Não era a cura, não era a resposta que ela estava esperando, mas era algo, e naquele momento, parecia o suficiente.
— Não sei se estou pronta para cortar isso ainda — Taylor disse, olhando para o bolo, mas a ironia no seu tom fez todos rirem novamente.
— Vou cortar. E se você não gostar, eu comerei sozinho — Scott falou, sem deixar a oportunidade passar.
Eles continuaram conversando, e enquanto as risadas preenchiam o ambiente, Travis se aproximou de Taylor, discretamente. — Eu sabia que você ia amar isso.
Ela olhou para ele, sentindo algo diferente. Não era cura, nem um final feliz, mas havia algo leve no ar que fazia ela se sentir menos sozinha. Talvez não fosse hoje, nem amanhã, mas algum dia ela encontraria um caminho.
— Obrigada por me fazer sair da cama hoje, Travis — ela disse em voz baixa, mas com sinceridade. — E por se preocupar.
Ele sorriu, sem palavras, mas a maneira como seus olhos se encontraram dizia tudo. Taylor percebeu, então, que aquele dia, por mais difícil que fosse, se tornaria uma lembrança boa. Não porque tudo estava resolvido, mas porque ela havia permitido ser tocada, ainda que um pouco, por aqueles que a amavam.
E quando ela finalmente se sentou ao redor da mesa, rindo com todos, a tristeza não parecia tão pesada. Ainda estava lá, sim, mas, por um momento, ela se permitiu deixar de lado e apenas viver o momento.
A noite se seguiu tranquila, com mais conversas aleatórias, risos e uma sensação reconfortante de pertencimento. Quando o último pedaço de bolo foi servido, todos começaram a se despedir, mas o sentimento ficou. Algo tinha mudado dentro de Taylor, mesmo que fosse apenas um pequeno passo. Ela não estava sozinha. E, por mais difícil que fosse, isso significava mais do que qualquer coisa.
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