Gray November
Era 28 de novembro.
Taylor acordou no apartamento na Cornelia Street com a luz pálida do amanhecer filtrando pelas cortinas semiabertas. O silêncio parecia mais pesado naquele dia, quase tangível, como se o próprio mundo estivesse ciente da data que marcava o calendário. A primeira coisa que ela sentiu foi o vazio. Não era apenas o espaço ao seu redor, mas um vazio que pesava dentro dela, pressionando seu peito como uma âncora. Ela sabia que esse dia chegaria, e por mais que tentasse se preparar, a dor ainda parecia uma onda que a engolia.
Seu olhar vagou pelo teto, mas logo ela virou a cabeça para o lado, onde uma pequena moldura descansava na mesa de cabeceira. Era a única foto que ela tinha de sua pequena, tirada logo após o parto. A imagem era dolorosamente agridoce. Amber parecia tão frágil, tão pequena, mas perfeita. Taylor não conseguia desviar os olhos da moldura. Passou os dedos sobre o vidro, como se ao tocá-la pudesse alcançar algo além da memória.
Era estranho como a mente funcionava em dias como esse. Ela se lembrava com clareza de cada detalhe daquela manhã. O medo, a ansiedade, a esperança de segurar sua filha nos braços. E depois, a escuridão. O silêncio ensurdecedor na sala de parto, as expressões tristes nos rostos dos médicos, as palavras que quebraram seu mundo: "Ela não resistiu".
Taylor fechou os olhos e sentiu as lágrimas queimarem. Não era apenas saudade. Era culpa, era a sensação de que havia falhado de alguma forma, que não tinha feito o suficiente. Sua mente insistia em revisitar aquele dia, buscando respostas que nunca teria.
Ela se sentou na cama, abraçando os joelhos enquanto a luz do sol se tornava mais intensa. Não havia como fugir da realidade de que Amber deveria estar ali. Talvez acordando cedo, talvez pulando em sua cama para acordá-la, talvez fazendo bagunça pela casa. Mas ela não estava. E isso a destruía de maneiras que palavras não poderiam explicar.
Taylor respirou fundo, tentando controlar o nó na garganta. Por mais que odiasse admitir, hoje era um daqueles dias em que a vontade de seguir em frente parecia um peso impossível de carregar. Ela se sentia presa entre o passado e o presente, incapaz de enxergar um futuro onde essa dor deixasse de existir.
Olhou para o relógio. 7h47. A essa hora, há alguns anos, ela ainda carregava sua filha dentro de si. E às 8h23, ela nasceu. E partiu.
Taylor sabia que precisava sair daquela cama, mas parecia que as paredes do quarto a sufocavam, cada canto repleto de lembranças que a assombravam. Tudo o que ela queria era parar de sentir, mesmo que por um momento. Ela passou as mãos pelo rosto, tentando limpar as lágrimas que já molhavam seu pijama, mas a tristeza não era algo que pudesse ser simplesmente apagado.
Ela se levantou lentamente, caminhando até a janela. Lá fora, a cidade parecia viva, indiferente à sua dor. Pessoas indo e vindo, carros apressados, crianças atravessando as ruas com mochilas nas costas. Como o mundo podia continuar girando enquanto o dela permanecia parado? Taylor nunca entenderia.
Era o dia de sua pequena, mas também era o dia em que Taylor sentia que mais um pedaço de si mesma se despedaçava.
Taylor deu mais um longo suspiro, tentando se afastar do abismo em que sua mente parecia estar. Ela sabia que não podia ficar ali, naquela inércia, naquele estado. Hoje era um dia difícil, e ela já sabia disso. Ela sabia que o peso da perda, da saudade, sempre seria insuportável nesses dias, mas ela não podia se render a ele. Não agora. Ela precisava tentar. Precisava encontrar algo para agarrar, qualquer coisa que a mantivesse viva, em movimento.
Foi quando seu celular tocou, quebrando o silêncio denso do apartamento. Ela olhou para a tela: era Andrea. O coração de Taylor deu um solavanco. Era difícil ver o nome de sua mãe ali, sabia que era uma ligação que não poderia evitar, mas, ao mesmo tempo, temia o que sua mãe diria. Não que fosse algo cruel. Andrea nunca fora cruel. Mas era a maneira como ela tinha de lidar com a dor — distante, controlada, mas sempre carregada de uma tensão que Taylor sentia profundamente.
Ela hesitou por um momento antes de atender. Sabia que não estava pronta, mas não podia deixá-la esperando
— Oi, mãe. — A voz de Taylor estava rouca, carregada de emoções que ela não queria admitir.
— Oi, querida. Como você está? — A voz de Andrea soou suave, mas Taylor percebeu a preocupação ali, à flor da pele, como uma camada invisível que cobria a conversa.
Era claro que Andrea sabia exatamente que dia era hoje, mas preferiu começar com a pergunta comum. Como se fosse possível disfarçar a dor, como se fosse possível fingir que tudo estava bem. Taylor sabia que sua mãe sabia. Ela sempre sabia.
— Eu… estou tentando, mãe. — Taylor respondeu, esforçando-se para não soar como se estivesse à beira do abismo.
Andrea ficou em silêncio por um momento, e Taylor soube que ela estava pensando nas palavras certas, ou talvez tentando encontrar coragem para falar aquilo que temia. Então, finalmente, a voz dela se fez ouvir novamente, um pouco trêmula.
— Taylor… Eu… Sei que não é fácil. E eu sei que hoje é um dia especialmente difícil para você. Eu não vou estar aí com você, mas quero que saiba que estou pensando em você. Que estou… aqui, caso precise. — As palavras de Andrea pareciam gentis, mas ao mesmo tempo vazias, como se ela estivesse dizendo aquilo mais por obrigação do que por amor. Havia uma camada de medo por trás delas, o medo de que algo acontecesse. Algo que Taylor não queria admitir que pudesse ser real.
— Mãe, eu sei… — Taylor respirou fundo, sentindo as lágrimas queimando novamente. Ela não queria mostrar fraqueza para Andrea, não queria que sua mãe visse a dor que a consumia por dentro. — Eu só… não sei o que fazer hoje.
Andrea suspirou, e Taylor ouviu o som de uma cadeira rangendo. Ela estava sentada, provavelmente, tentando se confortar, tentando não ser pega pela angústia que ela sabia que sua filha estava sentindo. Era um ciclo sem fim, essa sensação de preocupação mútua. O medo que ambas carregavam.
— Eu sei, querida. Sei como é. E eu só… preciso que você me prometa uma coisa, tá? — A voz de Andrea tornou-se mais baixa, mais suave, como se estivesse se preparando para algo mais importante. — Prometa que vai procurar ajuda, se sentir que a tristeza está muito forte. Que você não vai deixar o peso dessa dor te consumir, como… como já aconteceu antes. Eu não posso… não posso perder você, Taylor.
Aquelas palavras cortaram o coração de Taylor. Era claro o medo de sua mãe, um medo irracional de que ela não fosse conseguir suportar a dor e tomasse decisões drásticas, como havia feito antes. Mas, ao ouvir aquelas palavras, o peso sobre seus ombros parecia aumentar ainda mais.
Taylor fechou os olhos, sentindo a pressão em seu peito se intensificar. Ela sabia que sua mãe a amava, mas também sabia que, ao longo dos anos, sua mãe não soubera lidar com a dor da filha de forma eficaz. Era mais fácil se distanciar, mais fácil sugerir soluções que não envolviam encarar o luto diretamente.
— Mãe, eu… — Taylor começou, tentando responder, mas a palavra “promessa” parecia mais uma cadeia que ela não conseguia quebrar. Ela estava cansada das promessas, cansada de ser forte. E no entanto, sentia que não podia quebrar esse laço. — Eu… não vou fazer nada, mãe. Eu prometo.
A voz de Andrea ficou mais tensa, como se ela estivesse aliviada por ouvir aquilo, mas ao mesmo tempo, a preocupação ainda estivesse lá. Ela sabia que nada estava realmente resolvido, mas talvez, naquela conversa, ela encontrasse algo para se apegar.
— Eu espero, filha. Eu espero que você esteja dizendo a verdade. Não posso ficar tranquila sabendo que você… que você está sozinha.
Taylor sentiu um nó na garganta, mas não queria continuar a conversa. Não queria falar mais sobre o medo. Não queria que sua mãe visse a sombra que ainda pairava sobre ela. Então, com um esforço imenso, ela respondeu:
— Eu não estou sozinha, mãe. Eu tenho pessoas aqui. E... Eu vou continuar tentando. Tá?
— Eu sei. Eu sei. Eu te amo, Taylor. Sempre vou estar aqui. Mesmo quando você acha que está sozinha, você nunca está.
— Eu também te amo, mãe.
Ela desligou a ligação sem mais palavras, sem mais nada. A conversa havia sido como uma cortina pesada, deixando-a ainda mais cansada, ainda mais sobrecarregada, mas também mais clara sobre o que realmente estava acontecendo: a dor não se dissipa com palavras. E talvez ela nunca realmente fosse desaparecer.
Mas, ao menos, ela ainda tinha o amor de sua mãe. Isso, de alguma forma, a sustentava.
Taylor ficou parada no meio do apartamento, com o peso das palavras de sua mãe ainda ecoando em sua mente. Não sabia como seguir em frente, não sabia como lidar com a dor, com a solidão que a acompanhava todos os dias. Mas, em vez de se afundar, decidiu fazer algo, qualquer coisa. Ela pegou o celular e viu que tinha outras mensagens. Blake e Tree haviam tentado ligar para ela também.
Ela não estava com forças para falar com eles agora, então apenas ignorou as mensagens, seu coração apertando com cada notificação que surgia. A dor parecia sempre mais palpável nesses momentos, e ela sabia que, se atendessem ao telefone, a conversa acabaria indo para onde ela não queria ir — para a perda, para o luto.
O peso da data continuava ali, imutável, como uma sombra que não podia ser afastada. A ideia de ir ao cemitério, de ver o lugar onde sua filha estava enterrada, parecia irresistível, mas, ao mesmo tempo, absolutamente assustadora. Taylor sabia que não conseguiria ir sozinha. Ela não tinha forças para isso. A simples ideia de ficar lá, de enfrentar os próprios pensamentos enquanto olhava para o túmulo, a fazia sentir um aperto no peito.
Ela sabia que não era o momento certo, que talvez nunca fosse, mas, naquele momento, decidiu mudar de rumo. Levantou-se lentamente do sofá, decidida a fazer algo simples, algo que lhe oferecesse um mínimo de conforto — o que fosse. Então, foi até a cozinha, começou a pegar os ingredientes para fazer cinnamon rolls, algo simples, algo que, no fundo, ela sabia que a fazia sentir algum tipo de controle, alguma normalidade, como se estivesse ainda conectada àqueles momentos simples de antes, quando tudo parecia mais leve.
O cheiro da canela começou a preencher o apartamento, e, por alguns minutos, ela se permitiu deixar sua mente vagar para longe da dor, para longe dos pensamentos pesados. De alguma forma, a massa e o cheiro quente do forno traziam um tipo de consolo que nada mais podia naquele momento. Ela estava ali, fazendo algo simples, mas, ainda assim, sentia a presença de Amber em cada movimento. Cada dobra da massa, cada espaço de tempo enquanto as rolls assavam, parecia como uma pequena oração silenciosa pela filha que ela perdera.
Taylor suspirou profundamente, seus pensamentos ainda oscilando entre o desejo de estar com sua filha e o peso da realidade. Ela olhou para o relógio. O tempo estava passando, e ela sabia que, enquanto a tarde se arrastava, a dor só se intensificaria. Ela tentou se manter ocupada, como se esse pequeno esforço fosse mudar alguma coisa.
Quando os cinnamon rolls finalmente estavam prontos, o cheiro se espalhou por toda a casa, mais forte do que qualquer outro cheiro no ar. Era como uma máscara, uma camada doce sobre a amargura que a cercava. Ela pegou um dos pães doces, colocando-o cuidadosamente em um prato, e levou até a sala de estar, sentando-se no sofá. Era o tipo de gesto que, à primeira vista, parecia simples e sem importância, mas para Taylor era tudo o que ela conseguia fazer naquele momento.
Foi quando a campainha tocou, quebrando o silêncio da casa.
Ela congelou por um instante, o prato com o cinemanomrol nas mãos, e, por um momento, pensou em ignorar. Não queria falar com ninguém, não queria abrir a porta para mais uma conversa que provavelmente a faria sentir-se ainda mais vazia. Mas algo em seu peito disse para ela atender.
Com um suspiro cansado, Taylor se levantou e caminhou até a porta. Quando a abriu, encontrou Travis de pé no corredor, com um sorriso tímido e uma expressão cuidadosa.
Ele não parecia surpreso ao vê-la. Ele sabia como estava se sentindo. Talvez mais do que qualquer outra pessoa. Mas a maneira como ele a olhava, como seus olhos estavam cheios de compreensão, fez Taylor se sentir mais frágil do que jamais se sentiu.
— Oi — disse Travis suavemente, dando-lhe um sorriso que não era forçado, mas cheio de uma ternura genuína.
Taylor hesitou por um momento, sem saber se deveria deixar a porta aberta, ou se deveria simplesmente pedir para ele ir embora. Mas ela não queria afastá-lo. Algo dentro dela queria que ele ficasse, queria que ele estivesse lá, mesmo que não soubesse como lidar com tudo o que sentia.
— Oi — ela respondeu, sua voz baixa, quase um sussurro. Seus olhos estavam um pouco marejados, e ela sentia o peso da última hora em sua respiração. — O que você… faz aqui?
Travis deu um passo à frente, ainda com a expressão cuidadosa. Ele sabia que o momento não era fácil. Sabia que ela estava cheia de emoções conflitantes, como ele também estava. Mas ele também sabia que, de alguma forma, ela não precisava estar sozinha.
— Eu… só queria ter certeza de que você estava bem. Eu não queria te pressionar, mas… eu sei que hoje é um dia difícil, e queria apenas… estar aqui, com você. Se você quiser… — ele parou, deixando que as palavras fluíssem naturalmente, sem pressa, como se estivesse deixando Taylor decidir o que ela precisava.
Taylor respirou fundo. O gesto dele era mais simples do que qualquer outra coisa que ela esperava, mas, ao mesmo tempo, havia algo profundamente reconfortante ali. Era como se ele estivesse oferecendo uma âncora, uma maneira de ela não se perder nesse mar de tristeza..
— Você… pode entrar, se quiser. Eu estava… fazendo cinnamon rolls. — Ela disse, um pouco surpresa consigo mesma ao oferecer algo tão mundano, mas, ao mesmo tempo, um pouco aliviada por não ter que lidar com a situação de maneira solitária.
Travis sorriu. Ele sabia o que ela estava passando, mais do que qualquer outra pessoa, mas ainda assim, a leveza do momento parecia ser o que ela precisava.
— Eu adoraria. — Ele disse, entrando na casa sem hesitar.
O calor do forno e o cheiro doce preencheram a sala à medida que ele se sentava ao lado dela. Os dois ficaram em silêncio por um momento, mas o simples fato de estar ali, juntos, parecia ser o suficiente. Talvez não resolvesse tudo, mas, por um breve instante, Taylor teve a sensação de que, por mais tortuoso que fosse o caminho à frente, ela não estava sozinha.
O silêncio era reconfortante enquanto Taylor e Travis estavam sentados no sofá da sala. O prato com cinnamon rolls repousava entre eles, o cheiro doce preenchendo o ar de maneira quase terapêutica. Taylor pegou um pedaço pequeno de um dos pães, distraída. Já fazia muito tempo desde que ela tinha comido algo sem a pressão de um olhar preocupado ou um comentário inconveniente, mas, por alguma razão, a presença de Travis ali era diferente. Ele estava simplesmente… ali, sem cobrar nada.
Travis mordeu o pedaço que tinha em mãos e olhou para Taylor com uma expressão que misturava surpresa e aprovação.
— Isso está incrível, Tay. Você sempre foi boa na cozinha, mas isso aqui… — Ele fez um gesto de exagero, como se estivesse abençoando o cinnamon roll, e abriu um sorriso caloroso. — Acho que acabei de comer o melhor cinnamon roll da minha vida.
Taylor soltou uma risada curta, mas genuína, um som raro nos últimos meses.
— Você está exagerando, Travis. São só cinnamon rolls…
Ele balançou a cabeça, gesticulando com o pedaço que segurava na mão.
— Não, não são. Eles são especiais porque você fez. — Ele deu uma mordida maior, mastigando com um sorriso satisfeito, antes de continuar. — Estou feliz por te ver comendo também.
Taylor parou, olhando para o pedaço que segurava com dedos hesitantes.
— Não é grande coisa.
— É sim. — Travis respondeu imediatamente, o tom mais sério. Ele olhou para ela com a mesma intensidade que sempre usava quando realmente queria que ela ouvisse. — Você está cuidando de si mesma, mesmo que seja de um jeito pequeno. Isso importa.
Ela desviou o olhar, sentindo um nó formar-se na garganta.
— Nem sempre é fácil. — A voz dela saiu baixa, quase um sussurro.
Travis assentiu, sabendo exatamente o que ela queria dizer. Ele passou a mão pelo cabelo, suspirando.
— Sei que não é. Hoje também não é um dia fácil para mim, sabe? — Ele hesitou por um momento, procurando as palavras. — Mas você é importante demais pra eu não estar aqui.
Taylor olhou para ele, surpresa com a honestidade.
— Eu não sei como você consegue, Travis. Ficar tão… estável.
Ele soltou uma risada breve, sem humor.
— Estável? Não acho que seja a palavra certa. Eu apenas… tento manter o foco em uma coisa de cada vez. E hoje, Tay, a única coisa que eu queria era ter certeza de que você não estaria sozinha.
Ela engoliu em seco, sentindo os olhos começarem a marejar.
— Eu estava pensando em ir ao cemitério. — A confissão escapou de seus lábios antes que ela pudesse pensar duas vezes.
O silêncio que se seguiu foi pesado, mas Travis não parecia surpreso. Ele colocou o prato de lado, inclinando-se ligeiramente para mais perto dela.
— Se você quiser, eu te acompanho.
Taylor o encarou, a respiração presa no peito.
— Você não precisa fazer isso, Travis.
— Eu sei que não preciso. Mas quero.
Ela passou os dedos pelo próprio joelho, nervosa, tentando encontrar as palavras certas para expressar como se sentia.
— Eu não sei se consigo. Mesmo com você lá.
Travis assentiu lentamente, respeitando o medo e a vulnerabilidade dela.
— A gente não precisa ir se você não estiver pronta. Mas, se decidir que quer, eu estarei ao seu lado, Tay. Sempre.
A simplicidade da frase e a sinceridade em sua voz fizeram algo dentro dela quebrar, mas não de um jeito ruim. Taylor respirou fundo, tentando se recompor.
— Obrigada. — Foi tudo o que conseguiu dizer, mas, naquele momento, parecia suficiente.
Travis apenas sorriu de leve, pegando outro pedaço de cinnamon roll.
Travis limpou os dedos com um guardanapo, deixando o prato de lado. Seu olhar estava fixo em Taylor, que parecia distante, encarando a janela com os olhos nebulosos. Ele sabia que o dia de hoje estava pesando nela de uma forma que poucas pessoas poderiam compreender, mas também sabia que ela precisava de espaço para processar o que estava sentindo.
— Tay — ele começou suavemente, a voz baixa e calma, como se temesse espantar os pensamentos que ela estivesse tentando organizar. — Você quer falar sobre isso?
Ela não respondeu de imediato. Seus olhos ainda estavam voltados para a janela, observando o movimento das árvores que balançavam com o vento. Quando finalmente falou, sua voz era frágil, quase um sussurro.
— Não sei por onde começar.
— Então comece de onde você conseguir.
Ela respirou fundo, as palavras presas na garganta. Depois de um momento, finalmente se virou para ele, seus olhos carregados de tristeza.
— Eu achei que, com o tempo, isso fosse ficar mais fácil. Mas não fica. Perder a Amber… — Sua voz falhou, e ela levou as mãos ao rosto, como se quisesse esconder a dor que transbordava. — Parece que eu perdi um pedaço de mim mesma.
Travis inclinou-se ligeiramente para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto ele a encarava com uma intensidade que apenas ele parecia conseguir transmitir.
— Eu sei, Tay. E não tem como fingir que isso não foi a pior coisa que já aconteceu com a gente.
Ela tirou as mãos do rosto, o olhar fixando-se no chão enquanto tentava organizar seus pensamentos.
— Eu pensei que, depois de tudo, eu conseguiria encontrar uma maneira de seguir em frente, sabe? De viver por ela, de alguma forma. Mas cada vez que eu tento, parece que estou traindo a memória dela.
— Não é traição, Taylor. — A voz de Travis era firme, mas gentil. — Viver não é esquecer. É carregar a memória dela com você. É honrar quem ela era, mesmo que isso signifique aceitar que ainda vai doer.
Ela balançou a cabeça, sentindo as lágrimas voltarem a se acumular nos olhos.
— Eu queria ser mais forte. Queria conseguir ir ao cemitério hoje, mas só de pensar nisso… Eu sinto como se fosse desmoronar.
Travis se aproximou mais, estendendo a mão para cobrir a dela, oferecendo um conforto silencioso.
— Não tem problema se você não conseguir ir. Isso não significa que você ama menos a Amber.
Taylor levantou o olhar para ele, sua expressão cheia de culpa e dúvida.
— Mas parece errado não ir. Como se eu estivesse fugindo.
— Fugir seria ignorar o que você está sentindo. — Travis apertou levemente sua mão, buscando transmitir força. — Você não está fugindo, Tay. Está enfrentando isso do jeito que consegue, no seu próprio ritmo.
Ela fechou os olhos por um momento, deixando que suas palavras a alcançassem. Respirou fundo, como se buscasse coragem nas palavras dele.
— Eu só… eu queria ser melhor para ela.
— Você já foi. — A voz de Travis quebrou um pouco, mas ele não desviou o olhar. — Você foi a melhor mãe que ela poderia ter. E mesmo agora, você está aqui, tentando. Isso já é mais do que suficiente.
O silêncio que seguiu foi pesado, mas reconfortante, como se ambos tivessem chegado a uma compreensão mútua.
Taylor limpou as lágrimas que escorriam por seu rosto, tentando controlar a respiração.
— Eu não vou ao cemitério hoje. — Sua voz estava baixa, mas decidida.
Travis assentiu, sem julgá-la, apenas aceitando a decisão dela.
— Tudo bem.
Ela olhou para ele, um pequeno lampejo de gratidão em seus olhos cansados.
— Obrigada por estar aqui.
Ele sorriu de leve, aquele sorriso que parecia dizer tudo o que as palavras não conseguiam.
— Sempre, Tay. Sempre.
O dia ainda era longo, e a dor continuaria presente, mas naquele momento, eles tinham algo a que se agarrar: a companhia um do outro. Era um passo pequeno, mas um passo na direção certa.
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