Três dias haviam se passado desde o incidente do desmaio de Taylor. Era uma segunda-feira tranquila, o sol brilhava preguiçosamente sobre a cidade, mas dentro de Travis, uma tempestade de preocupações e incertezas o fazia tremer.Eles já tinham saído do acampamento e Travis estava subindo as escadas estreitas que levavam ao apartamento de Taylor em Cornelia Street. Ele parou em frente à porta, respirando fundo, ele tocou a campainha, sentindo uma tensão crescente enquanto aguardava.

Taylor abriu a porta, parecendo uma sombra da mulher vibrante que ele conheceu. Ela estava pálida, com olheiras profundas, mas havia uma determinação em seus olhos que o fez entrar sem hesitar. O apartamento era acolhedor e decorado com o toque pessoal de Taylor; arte nas paredes, móveis confortáveis e uma sensação de familiaridade que o atingiu como uma onda de nostalgia. Em um canto da sala, uma caixa de madeira pintada e decorada chamou a atenção de Travis. As cores vibrantes e os detalhes delicados sugeriam que Taylor a tinha feito, um reflexo de seu lado criativo e artístico.

Sentando-se no sofá, Taylor parecia nervosa, suas mãos entrelaçadas e tremendo levemente. Travis se acomodou ao lado dela, sem saber como começar a conversa. O silêncio se estendeu por um momento, pesado e cheio de expectativa.

-"Eu... Eu nunca pensei que te traria aqui," Taylor finalmente começou, a voz baixa e trêmula. -"Depois de tudo o que aconteceu, pensei que seria impossível para nós dois estarmos no mesmo lugar, ainda mais no meu espaço."

Travis assentiu, observando-a com atenção. Ele sabia que ela estava lutando para encontrar as palavras certas, para explicar o inexplicável. A caixa de madeira continuava a chamar sua atenção, uma distração que ele usava para evitar a intensidade da situação.

-"Esse lugar... está diferente, está mais você," ele comentou, tentando aliviar a tensão. -"A caixa ali, você fez?"

Taylor seguiu o olhar de Travis e sorriu fracamente. -"Sim, fiz. Era um projeto para me distrair. É engraçado como coisas simples como essa podem trazer um pouco de paz, mesmo quando tudo o resto está desmoronando."

O silêncio voltou, mais denso desta vez. Taylor abaixou o olhar para suas mãos, claramente buscando coragem para o que precisava dizer a seguir. -"Travis, eu sei que o que vou contar vai ser difícil de entender," começou ela, sua voz falhando um pouco. -"Mas eu preciso que você saiba... Eu preciso que você entenda o porquê de tudo o que eu fiz."

Travis sentiu um frio na espinha. Ele estava prestes a ouvir a verdade, a revelação que poderia explicar todos os comportamentos confusos e dolorosos de Taylor. Ele sabia que essa conversa era crucial, não apenas para eles como indivíduos, mas para qualquer possibilidade de reconciliação ou fechamento. Ele não disse nada, apenas acenou com a cabeça, incentivando-a a continuar.

Taylor respirou fundo, ainda hesitante. -"Eu tive medo de te contar por tanto tempo, porque... porque eu estava com medo de que você não entendesse, que você me odiasse ainda mais do que já odeia," ela disse, sua voz cheia de dor. -"Mas não posso mais carregar esse peso sozinha. E eu preciso começar a ser honesta, pelo menos com você."

Taylor olhou para o chão, seus dedos entrelaçados, como se procurasse força nas palavras que estavam por vir. Ela respirou fundo e começou, sua voz baixa e cheia de emoção. -"Depois que você saiu para aqueles testes na NFL, as coisas começaram a mudar para mim... para nós. No início, eram apenas náuseas, tonturas... eu pensei que era o estresse de tudo, sabe? A distância, as mudanças, nossas vidas virando de cabeça para baixo."

Ela fez uma pausa, lembrando-se das sensações confusas e dos temores que a dominaram. -"Então, um dia, eu desmaiei. Minha mãe me levou ao médico, e foi aí que descobri... eu estava grávida. A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi te contar, compartilhar isso com você. Mas, Travis, eu sabia o quanto aqueles testes significavam para você. Seu sonho de jogar na NFL, todo o trabalho duro, toda a dedicação... eu sabia que, se te contasse, você deixaria tudo para trás por mim, por... por nós."

Ela levantou o olhar, encontrando os olhos de Travis. Havia lágrimas nos seus, mas também uma determinação intensa. -"Eu não podia ser essa pessoa, Travis. Não podia ser a mulher que te afastaria dos seus sonhos, que te faria desistir de algo pelo qual você lutou tanto. Eu me convenci de que poderia lidar com isso sozinha, pelo menos até você voltar e conseguirmos uma solução juntos. Mas..."

Taylor se virou ligeiramente, apontando para a caixa de madeira que Travis havia notado antes. -"Eu fiz essa caixa para ela, nossa bebê. Guardei todas as pequenas lembranças que consegui, tudo o que me conectava a ela. Porque, no fim, tudo o que restou foram essas lembranças."

Ela parou novamente, tentando controlar a emoção em sua voz. Travis, atônito, olhou para a caixa, sentindo o peso das palavras dela. O silêncio na sala era ensurdecedor, cheio de uma tensão quase palpável.

-"Foi a época mais difícil da minha vida," continuou Taylor, sua voz agora tremendo. -"Eu não sabia o que fazer, estava com medo, sozinha. Eu queria tanto te contar, mas cada vez que pensava em como isso mudaria tudo para você, eu recuava. Você estava tão feliz, tão animado com os testes, e eu não queria ser o motivo pelo qual seus sonhos se despedaçariam."

Taylor tentou manter a compostura, mas as palavras de Travis cortaram como uma faca. Ele interrompeu, sua voz quebrando de dor e incredulidade. -"Você não ia me atrapalhar, Taylor. Como você pôde pensar isso? Não se esconde algo assim... Caramba, Taylor, nós poderíamos ter enfrentado isso juntos."

Ele estava visivelmente abalado, as emoções transbordando. O sonho de Travis sempre foi construir uma família, especialmente com Taylor. A revelação de que ele quase teve isso, mas perdeu, o atingiu com força. Ele esfregou o rosto, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair.

Taylor respirou fundo, suas mãos tremendo levemente enquanto ela se inclinava para abrir a caixa de madeira. Dentro, havia pequenos objetos e algumas fotos cuidadosamente guardadas. Ela puxou uma foto e mostrou a Travis, que se aproximou para ver melhor. Era uma imagem dela de perfil, com uma pequena barriga começando a aparecer.

-"Essa foi a primeira vez que tirei uma foto dela", disse Taylor, sua voz carregada de emoção. -"Eu estava de três meses. Foi um choque perceber que havia uma vida crescendo dentro de mim. Cada dia que passava, eu sentia ela se desenvolvendo, e ao mesmo tempo, o medo aumentava. Eu queria tanto te contar, mas... eu estava com tanto medo."

Ela pegou outra foto, dessa vez mostrando-se de cinco meses, com a barriga já bem visível. -"Aqui, eu já estava de cinco meses. Lembro que eu tinha medo de sair na rua, com medo que alguém te contasse antes de mim. Foi difícil esconder isso de todo mundo, mas mais difícil ainda foi esconder de você."

Taylor passou os dedos por uma terceira foto. -"Eu já estava de sete meses aqui. Minha mãe tirou essa foto na clínica onde eu fazia os meus  ultrassons . Era o único lugar onde eu frequentava. Eu sempre pensava em como seria quando você visse, como você reagiria. Queria que você fizesse parte disso, mas eu achava que estava te protegendo."

Ela olhou para Travis, que estava em silêncio, as lágrimas agora rolando livremente por seu rosto. Ele pegou uma das fotos, quase com reverência, e olhou para ela com uma mistura de dor e tristeza. Taylor percebeu o quanto aquilo o estava afetando.

Taylor continuou, sua voz mais suave e dolorida. +
,-"Nos meus últimos meses, as coisas ficaram difíceis. Eu não queria que você visse o quanto eu estava sofrendo. Eu ia às consultas médicas sozinha, ou com minha mãe. Cada ultrassom era uma mistura de alegria e tristeza, porque eu via nossa filha, mas sabia que estava vivendo uma mentira, escondendo de você."

Ela pegou uma pequena roupinha de bebê da caixa, uma das poucas coisas que tinha comprado. -"Eu comprei isso quando estava de oito meses. Tinha decidido que contaria para você assim que você voltasse. Mas... nunca tive a chance."

Travis segurava as fotos, a raiva crescendo dentro dele. Ele não conseguia acreditar que Taylor o excluíra de algo tão monumental. -"Você me tirou o direito de estar lá, de viver isso com você," ele disse, sua voz tremendo de emoção. -"Eu tinha o direito de saber, de estar ao seu lado, de conhecer minha filha."

Taylor sentiu o peso das palavras de Travis, mas sabia que precisava continuar. Ela respirou fundo, tentando manter a calma enquanto mergulhava nas memórias mais dolorosas de sua vida. -"Foi em uma terça-feira, da 28 de novembro." começou, sua voz baixa e hesitante. -"Eu estava de oito meses. As únicas pessoas que sabiam eram Tree , Selena e Blake, porque elas apareceram de surpresa no meu apartamento numa quinta-feira qualquer. E claro, minha mãe."

Ela fez uma pausa, olhando para a caixa com as lembranças. -"Eu estava em casa, em uma reunião com Tree e minha mãe. Nós estávamos discutindo como esconder a gravidez da mídia e preparar uma volta à vida pública depois que nossa filha nascesse. Eu tinha planos de te contar assim que você voltasse, mas nunca cheguei a ter coragem."

Taylor fechou os olhos, lembrando claramente do que aconteceu a seguir. -"Comecei a me sentir mal durante a reunião. Sentia contrações leves há alguns dias, mas achava que eram apenas falsas dores. Naquele dia, a dor ficou insuportável. Eu me dobrei de dor e minha mãe percebeu. Tree insistiu para me levarem ao hospital.

Ela olhou para Travis, lágrimas se formando em seus olhos. -"Quando chegamos ao hospital, os médicos confirmaram que eu estava em trabalho de parto. Nossa filha ia nascer prematura. Eu estava apavorada, mas ao mesmo tempo, esperançosa. Eu só queria que tudo corresse bem e que, de alguma forma, a gente pudesse ser uma família."

A voz de Taylor tremeu ao lembrar do que veio a seguir. -"O parto começou normalmente, mas algo deu errado. O cordão umbilical estava enrolado no pescoço da nossa filha. Eles tentaram de tudo para salvá-la, mas... não conseguiram. Ela nasceu, mas não respirava. Os médicos tentaram reanimá-la, mas não houve nada que pudessem fazer."

A dor e a tristeza na voz de Taylor eram palpáveis. -"Ela estava ali, nos meus braços, mas já não estava mais conosco. Eu só queria te ligar, contar tudo, mas ao mesmo tempo, não queria destruir sua vida. Achei que estava fazendo a coisa certa, te poupando de tudo isso, mas agora... vejo o quão errada eu estava."

Travis estava atordoado, as palavras de Taylor ecoando em sua mente. A raiva e o luto se misturavam dentro dele. Ele sentia uma raiva avassaladora por ter sido privado de sua filha, por não ter tido a chance de conhecê-la, de segurá-la, de amá-la.

A tensão no apartamento de Cornelia Street era palpável. Travis, agora em pé, parecia um vulcão prestes a entrar em erupção. Ele segurava as lágrimas, mas a raiva transparecia em cada palavra que proferia. -"Egoísta. É isso que você é, Taylor. Uma pessoa egoísta que só pensa em si mesma. Você tirou de mim a chance de ser pai, de estar lá para nossa filha. Você me deixou no escuro, enquanto você decidia o que era melhor para nós dois, sem nem me dar a oportunidade de escolher!"

Taylor, com o rosto banhado em lágrimas, tentou defender suas ações. -"Tudo o que eu fiz foi por você, Travis. Eu só queria te proteger. Eu sabia que você desistiria dos seus sonhos, que você ficaria comigo, e eu não queria ser essa âncora. Eu queria que você tivesse a vida que sempre sonhou."

Travis balançou a cabeça, incrédulo. -"Proteger? Proteger do quê, Taylor? Você não tinha o direito de decidir por mim! Você não pode justificar suas ações dizendo que foi por mim, quando claramente foi tudo sobre você. Você se escondeu atrás de desculpas, enquanto eu estava lá fora, sem saber de nada, pensando que a vida estava indo bem."

A voz de Taylor se elevou, sua própria raiva emergindo. -"Eu não conseguia olhar para você e ver a mesma pessoa depois do que aconteceu. Cada vez que te via, só conseguia pensar no que nós perdemos. E foi por isso que eu terminei com você, porque era insuportável. Porque eu sabia que cada vez que te olhasse, me lembraria dela. Do que nunca pudemos ter."

Travis deu um passo para trás, a expressão em seu rosto uma mistura de dor e fúria. -"Então você decidiu quebrar meu coração, tirar minha filha e, ainda por cima, me afastar da sua vida? Você me condenou a viver numa mentira, achando que eu poderia voltar e consertar as coisas, sem saber que não havia nada para consertar, porque você já havia destruído tudo."

Taylor estava de pé agora, tremendo de emoção. -"Eu estava sozinha! Eu estava com medo e não sabia o que fazer. Minha vida estava desmoronando, e eu achei que te afastar seria o melhor para você. Eu nunca quis te machucar, mas eu não podia lidar com o que aconteceu."

A voz de Travis ficou mais baixa, mas carregava um tom de desgosto. -"Você não me deu escolha. Você decidiu por mim, e essa é a pior parte. Você não confiou em mim o suficiente para me deixar escolher. E agora, eu estou aqui, descobrindo que tive uma filha que nunca conheci, que nunca vou conhecer. E tudo isso porque você achou que sabia o que era melhor."

Taylor soluçou, as lágrimas rolando pelo seu rosto. -"Eu só queria que você fosse feliz, Travis. Que você tivesse a vida que merecia, sem o peso de um passado sombrio. Eu não queria que você se afundasse junto comigo."

Travis se aproximou dela, a dor evidente em seus olhos. -"Você não entende, não é? A felicidade que eu queria incluía você. Incluía nossa família, nossa filha. Você tirou isso de mim. E agora, como podemos seguir em frente? Como eu posso perdoar alguém que destruiu tudo o que eu sempre quis?"

Taylor ficou em silêncio, incapaz de responder. Ela sabia que qualquer coisa que dissesse não apagaria o que havia feito. Ela se sentia devastada, não apenas pelo luto que carregara sozinha, mas também pelo dano irreparável que causara a Travis.