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C A P I T U L O 10

É tarde da noite e ainda não consegui pregar os olhos. Não tenho conseguido dormir bem nos últimos dias devido a incrível quantidade de pensamentos que permeiam minha cabeça.

Para ajudar amanhã é o último dia de Glenn na Coreia, segundo os stories que ele postou no Instagram. E não conseguirei estar com ele antes que ele se vá. Com turnê cancelada e sem previsão de viagem para os Estados Unidos, não tenho ideia de quando poderei vê-lo novamente e isso só me desanima ainda mais.

Reviro na cama até o sol nascer, quando finalmente canso de rolar de um lado para o outro decido ir até a academia, visando ocupar o corpo e a mente. Não sei quanto tempo passo treinando, só sei que paro apenas quando meus músculos começam a reclamar até mesmo para realizar os movimentos mais básicos.

Subo até o quarto novamente e pego o celular, já é quase meio-dia. Frustração invade meu ser, preciso fazer alguma coisa, preciso dar um jeito, mesmo que isso desagrade algumas pessoas. 

Decido o que fazer sem pensar muito sobre isso. Em poucas horas já organizei tudo, fiz as ligações necessárias, falei com Jung, com Hana, conversei com o piloto e arrumei uma mala simples. O último passo é o mais difícil: ligar para o senhor Kim.

— O que foi dessa vez Childe? — Ele atende, já com o tom de voz ríspido.

— Estou indo para Busan. Volto amanhã. — Simplesmente solto as informações.

— Busan? Está ficando louco Childe? Você não vai para Busan! — Ouço o grito da sua voz.

— Jung precisa de mim. Faremos um pequeno evento. Prometi a ele que iria. — Respondo com nervosismo.

— Evento Childe? Do que você está falando? Você e o Jung devem ter ficado malucos se acham que vou permitir que vocês façam um evento em Busan, ainda mais depois do que aconteceu.

— É justamente pelo que aconteceu, precisamos passar uma imagem positiva para o público, e planejo fazer isso com um concerto, para poucas pessoas. Hana também vai, não se preocupe. 

— Não me preocupar? Childe essas coisas não se organizam assim. Demanda tempo, demanda muito esforço. — O senhor Kim começa, mas o interrompo.

— Já está tudo certo senhor. Avião, segurança, equipe, lugar. Os ingressos já estão a venda. Tudo já foi resolvido.

— Childe…

— Olha, senhor Kim. Respeito muito você. Mas, não posso voltar atrás com minha palavra. Me desculpe, sei que não devia fazer algo assim sem avisá-lo, mas já está feito. — Digo firme. Espero por alguns segundos que ele responda e grite comigo, mas isso não acontece, então apenas desligo a ligação. 

Eu disse que tudo está certo, mas isso não é exatamente verdade, ainda falta o mais importante. Garantir que Glenn estará lá. 

Embarco no meu jato particular rumo a Busan. Nesse meio tempo, criei um perfil novo no Instagram, com meu nome verdadeiro.

Coloquei algumas informações e algumas fotos em que não é possível me reconhecer. Segui pessoas conhecidas e desconhecidas, fiz todo o possível para não parecer bizarro, não sei se consegui.

O último passo foi seguir Glenn, quando clico no botão meu coração dispara no peito. Minhas mãos começam a suar e preciso respirar fundo. O medo de ser descoberto me invade, a cada momento, a cada dia, tudo parece piorar. Não tem nenhuma possibilidade de arrastar Glenn para a bagunça que se encontra minha vida, ele não merece isso, mas, ao mesmo tempo, não quero ficar longe dele.

Prendo a respiração quando vejo que ele me seguiu de volta, nem sei o que fazer quando a notificação de uma nova mensagem aparece no canto da minha tela. Fecho meus olhos com força, angústia toma meu ser. Será que estou tomando a decisão certa? Devo estar ficando louco, não é possível. 

Com a respiração ofegante, deslizo o dedo até a notificação e abro a mensagem. 

@oglennmoss: Olha só, você existe de verdade. Cheguei a pensar que estava delirando.

Um sorriso aparece nos meus lábios, claro que ele não percebeu que era eu. Tomei muito cuidado usando poses estratégicas e fotos levemente editadas no photoshop. Respiro aliviado por um segundo, feliz como uma criança que acaba de ganhar um brinquedo.

@choihangyeol: me desculpe pelo outro dia, não queria desaparecer daquela maneira, mas as coisas fugiram do meu controle. 

@oglennmoss: não se preocupe com isso. Esse perfil é novo? Não achei quando procurei pelo seu nome.

@choihangyeol: Sim, é um perfil novo. Eu não tenho costume de usar as redes sociais. Mas queria falar com você. 

@oglennmoss: ficou com saudade? 

@choihangyeol: não tem ideia de quanta, mas, queria te compensar pelo outro dia. Você ainda está em Busan?

@oglennmoss: estou, mas vou embora amanhã a noite. 

@choihangyeol: lembro que você disse ser fã do Childe, certo? Está sabendo do concerto que acontecerá hoje a noite?

@oglennmoss: concerto? Não. Espere, acabei de ver aqui, mas não tem mais ingressos disponíveis.

@choihangyeol: então, eu tenho alguns contatos. Parece que só liberaram informação desse show poucas horas antes do evento, meu chefe conhece um pessoal e bem… Tenho dois ingressos sobrando. Meu chefe disse que eu devia aproveitar que continuo em Busan e ir com alguns amigos, mas prefiro ir com você, se não tiver outro compromisso...

@oglennmoss: está falando sério? Não brinca comigo Han-Gyeol!

@choihangyeol: estou falando super sério. Vou te enviar os links, você pode levar um acompanhante. Não poderei ficar por muito tempo, pois preciso voltar para Seul, mas, não queria perder a oportunidade de ao menos te ver uma vez mais. Espero que se divirta Glenn. Estou ansioso para te ver de novo.

Falta pouco para o concerto, as cadeiras que ocupam o grande espaço já começaram a ser preenchidas e eu vejo, logo ali na primeira fila, Glenn com sua amiga. Ele está bonito como sempre, sinto meu coração acelerar no peito só de olhar para ele.

— Não acha que está passando do limite, inventando um show inteiro só para ver o seu rapaz de novo, Childe? — Jung resmunga, aparecendo ao meu lado enquanto espio por trás da cortina.

— Sua querida acompanhante da outra noite também está ali, Jung. — Solto a informação e o vejo perder levemente a linha antes de coçar a garganta e se recompor. 

— Não faz diferença. Ela não sabe quem sou eu, e continuará assim. Não sou como você Childe, não arriscarei minha carreira por isso.

— Você não acha que ela valha a sua carreira? — Questiono e Jung apenas fica em silêncio por alguns momentos antes de mudar completamente de assunto. 

— Como vai fazer para se encontrar com ele? Não pode simplesmente aparecer ao seu lado assim. 

— Vou dar um jeito. Não se preocupe. — Respondo, com tudo já planejado.

— Eu já estaria com os cabelos brancos se me preocupasse cada vez que você faz uma merda. — Reclama Jung, eu apenas rio do seu comentário.

— O senhor Kim deveria aprender com você. — Rebato, em seguida entro para o camarim.

As coisas estão pegando fogo no camarim, integrantes dos grupos de Hana e Jung se arrumando por toda parte, num festival de cores e cheiros. Ignoro a todos e vou até a área da maquiagem. 

— Se eu precisasse de uma maquiagem que me deixasse diferente do que eu sou. Para ninguém conseguir me reconhecer, você conseguiria realizar algo do tipo? — Pergunto a uma das moças.

Ela me encara com os olhos semicerrados, analisa meu cabelo e rosto por um tempo antes de negar com a cabeça. 

— Ainda vão saber quem você é. Seu rosto é muito conhecido. Até dá para disfarçar um pouco, mas não completamente. — A mulher diz com um estalar de língua. 

— Eu só quero, por alguns minutos, poder sentar ao lado de uma pessoa legal e fingir que sou tão normal quanto ele. — Faço beicinho emquanto digo as palavras.

— Vou ver o que posso fazer. — A mulher responde em seguida com uma expressão obstinada no rosto.

Depois de quase uma hora sentado na cadeira, me olho no espelho e realmente pareço alguém diferente. Estou usando lentes de contato um pouco mais escuras que a cor original dos meus olhos. A maquiagem deixou meu rosto com um formato levemente distinto e meu cabelo está arrumado de um jeito que eu nunca usaria e parece muito mais claro. A mulher conseguiu de alguma forma arrumá-lo de modo que parece até mesmo ter uns centímetros a mais. 

— Fiz o melhor que pude, mas se a pessoa te olhar por muito tempo, ainda vai te reconhecer.

— Ficou ainda melhor do que o esperado. Obrigado. — Agradeço e me retiro. 

Hana já está no palco quando saio do camarim usando um moletom folgado e calça jeans. A luz está baixa e isso me ajuda muito. Sigo até Glenn com o coração na mão, medo e ansiedade me dominando completamente. Minha respiração se torna superficial e entrecortada quando me sento ao seu lado e seus olhos azuis me encaram profundamente.

— Oi, Glenn. — Forço um sorriso ainda preocupado conforme as palavras deixam minha boca. 

— Han-Gyeol, você veio mesmo. — Ele sorri e seu rosto parece se iluminar. — Essa é Diana, minha melhor amiga. 

Apenas aceno com um sorriso para sua amiga que responde igualmente. Sinto que quanto mais tempo passar por aqui, maior é o risco de ser descoberto e isso só aumenta minha adrenalina. O que eu faria se ele descobrisse quem eu sou?

— Você está nervoso. — Glenn diz, suavemente e segura minha mão junto da sua.

— Desculpe por isso. — Respondo sem jeito.

— Ah, Han-Gyeol. Não precise desculpar. — Glenn diz e me puxa para ele.

Sua mão livre segura meu rosto com força enquanto sua boca esmaga a minha num gesto possessivo. Seu beijo é rápido e urgente, a paixão avassaladora desse momento tomando conta de nossos corpos.

Me afasto dele depois de alguns segundos. Minha boca se aproxima de sua orelha quando o chamo para ir em outro lugar. Glenn aceita na mesma hora.

Nos levantamos e saímos do grande teatro, mas sinto algo de errado. Um par de olhos nas minhas costas. Levo meus olhos até a amiga de Glenn, mas ela parece concentrada no show.

É quando olho para o palco que tudo desaba pelas minhas mãos, os olhos de Hana estão cravados em mim e não importa quanta maquiagem estou usando. O reconhecimento brilha nos olhos dela.

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