C A P I T U L O 04
Ao retornarmos ao hotel, imediatamente me apressei em escolher uma das poucas roupas que havia se dado ao trabalho de pendurar. Uma calça preta adornada com correntes, um cinto de couro igualmente preto e, na parte superior, uma camiseta branca impecável sob um colete preto fechado, criando uma sobreposição moderna.
Diana, por sua vez, corre até o banheiro com a desculpa de que ela precisa tomar banho primeiro porque demora mais para se arrumar. A demora é tanta que consigo separar tudo o que preciso na quase meia hora que Diana leva para tomar banho.
— Meu Deus, Diana, achei que você tinha morrido lá dentro. — Digo quando ela finalmente sai.
— Que exagero Glenn, eu nem demorei tanto tempo assim. — Ela retruca com um biquinho.
— Imagina se tivesse demorado. — Resmungo antes de finalmente entrar no chuveiro para o meu próprio banho longo.
Tomo um banho realmente demorado para os meus padrões, levo o tempo de mais ou menos umas seis músicas para lavar todo meu corpo e cabelo. Só então saio debaixo da água quente, enxugo meu corpo, seco o cabelo e passo pomada para dar um volume mais estiloso, me visto e finalmente saio.
Diana esta terminando de se maquiar quando a vejo, vestida com uma saia preta justa e curta e uma camiseta larga, que chega até a altura do seu umbigo, e possui o rosto do Childe estampado. Nos seus pés, botas que subiam até suas coxas, e pulseiras adornando seus braços.
— Uau, você vai realmente conquistar ele assim. — Digo para ela, admirado com sua beleza.
— Não acha que eu exagerei? — Ela responde, insegura.
— De jeito nenhum, garota, você está deliciosa. — Digo e ela dá risada.
— Você também não está nada mau. — Ela diz enquanto passa rímel nos olhos. — Quer fazer maquiagem?
Acabo aceitando um corretivo embaixo dos olhos apenas, em seguida capricho no perfume coloco um tênis preto e algumas correntes no pescoço. Olho no espelho e realmente gosto do que vejo. A roupa é bem moderna, meu cabelo está perfeitamente arrumado e meus olhos parecem brilhar. Tiro uma foto e posto nos stories do Instagram, marcando o Childe e a Diana — que aparece no fundo.
Cerca de meia hora se passa até que tenhamos saído, Diana levando uma sacola cheia de pôsteres e CDs do Childe, enquanto levo apenas minha presença e os ingressos. Quando chegamos de táxi ao local do evento, ainda faltava mais de uma hora para o início, mas a fila já estava se estendendo, incrivelmente organizada.
Diversos tipos de pessoa compõem a fila quilométrica, homens, mulheres e crianças de todas as idades. Música envolve muito mais que um perfil ou uma faixa etária. Alguém na fila puxa um dos últimos sucessos de Childe, e é a coisa mais linda quando todas as mais de 150 pessoas cantam em coro.
Desse momento em diante é pura diversão, ainda que cada pessoa ali seja de um lugar diferente conseguimos nos comunicar bem. Tiro fotos com fãs que nunca vi na vida, ganho alguns pôsteres e até uma pulseira de uma brasileira muito animada.
Quando ouço alguém gritar “AH MEU DEUS É O CHILDE” é que meu coração dispara e minhas mãos começam a suar. Ali, a poucos metros de distância de mim, o maior astro da música passa, de óculos escuros, acena com a mão e faz um coração com os dedos, antes de entrar no lugar.
— Era realmente o Childe. — Diana diz com uma voz chorosa. Olho para ela e seu rosto está banhado de lágrimas.
Passo meu braço em volta dela e seco suas lágrimas com a outra mão com delicadeza. Diana sorri e olha nos meus olhos, seu olhar dizendo muito mais do que seus lábios.
— Vocês são namorados? — Ouço alguém perguntar em inglês.
— Somos amigos. — Respondo me virando em direção à voz.
— Sério? Poderia jurar que havia uma química forte entre vocês… — Ela começa, mas logo interrompo.
— Sou gay.
— Ah, desculpa. Sou Madelyn, Texas. — Ela diz e estende a mão.
— Glenn, Missouri. E essa chorona aqui é a Diana. — Respondo, em seguida sinto a mão de Diana me batendo com um tapa nas costas.
— Você trouxe maquiagem para retocar? — Madelyn pergunta desviando a atenção de mim para Diana, que apenas nega com a cabeça. — Ah, merda. Daremos um jeito nisso.
Madelyn começou a vasculhar sua bolsa. Eu não tinha ideia de como ela poderia ajudar, já que a garota era quase tão branca quanto eu, enquanto Diana era negra. Talvez ela tivesse uma paleta de corretivos com várias tonalidades, pensei enquanto observava as garotas, entretanto, logo minha atenção foi desviada, afinal, a fila começou a se mover.
Assim que adentramos o evento, as meninas somem em direção ao banheiro, enquanto sigo até uma das muitas lojinhas vendendo produtos oficiais do Childe. Ali, compro os três CDs que ele já lançou, apesar de já tê-los em casa. Compro uma camiseta e uma água, então sigo até a próxima fila. A fila que me dá direito a poucos minutos na presença do astro.
— Preciso do meu ingresso. — Ouço a voz de Diana quando já estou perto de entrar.
Olho para ela que está perfeitamente maquiada de novo e estendo o ingresso em sua direção.
— Você está na fila? Posso ir lá com você.
— Estou com a Madelyn Glenn, não precisa. — Ela diz, mas sua voz soa estranha.
— Está chateada que eu não te esperei?
— Não estou chateada com você. Eu só estou com a Madelyn, não preciso de você. — Ela diz e eu arregalo os olhos, chocado com suas palavras.
— Ok.
— Não leve a mal, Glenn, você também não precisa de mim.
— Eu só achei que esse era o NOSSO momento, não o momento seu e da Madelyn.
— Não seja ciumento, você sabe o quanto eu te amo. — Ela diz e bagunça meu cabelo. — Agora vai lá, está quase na sua vez.
Diana tem razão, quando olho para minha frente as pessoas que ainda estavam ali sumiram, tem apenas uma pessoa que entra na sala com o Childe no exato momento em que olho para a frente.
O segurança que está recebendo as pessoas olha para mim e pede meu ingresso, que entrego imediatamente. Meu coração está acelerado enquanto espero minha vez que está tão próxima. Nem consigo ter tempo para me preocupar com o jeito estranho de Diana.
— Pode entrar. — O segurança finalmente diz quando a pessoa que estava lá dentro sai com lágrimas nos olhos.
Sigo por um pequeno corredor de paredes brancas que dão em uma saleta onde Childe espera sentado em frente a uma mesa retangular de vidro, cercado de uma duzia de seguranças. Sinto minhas mãos suarem ainda mais conforme eu me aproximo. Childe está simplesmente maravilhoso, usando um blazer branco, camiseta preta e calça jeans escura.
Chego a sua frente e coloco os CDs em cima da mesa, minhas mãos chacoalham conforme eu faço o movimento e sei que ele percebe.
— Olá! Estou feliz em te conhecer. Qual o seu nome? — Ele pergunta, mas parece algo automático, seus olhos sequer encontram os meus.
— Glenn. Glenn Moss. — Respondo, ao mesmo tempo, nervoso e levemente decepcionado.
Childe pega os CDs que estendi em sua direção e os analisa. Posso ver seu cenho franzindo e ele finalmente levanta os olhos até os meus. Sua expressão repleta de curiosidade.
— É um presente? — Ele pergunta.
— Não, são meus. — Respondo usando meu coreano precário, sem entender onde ele quer chegar.
— Você nem tirou do plástico. — Ele diz simplesmente, seu tom parece levemente frustrado.
— Esses são novos. — Digo e desvio os olhos. — Não queria estragar. Esses deixarei guardados.
— Você comprou outro, especialmente para isso. — Ele finalmente entende, seus olhos brilham. — Legal. A maioria das pessoas nem ouve CD mais, não se importariam com isso.
— Eu me importo. — Respondo e olho em seus olhos de novo.
Meu coração bate forte no peito, por um segundo é como se estivéssemos em outra dimensão. Os olhos de Childe me encaram profundamente, quase parece que ele está desvendando cada segredo da minha alma, eu mal consigo respirar.
— Glenn… — Ele diz com uma voz suave, como se estivesse sentindo a pronúncia do meu nome em sua língua. Tento evitar o sorriso, mas é impossível, ainda mais quando cada pelo do meu corpo se arrepiou nesse momento. — De onde você é?
— Missouri, nos Estados Unidos. — Respondo, mas minha voz sai apenas como um fiapo.
— Legal, vou fazer um show por lá em breve, quero te ver na plateia. — Ele diz e sorri, ainda com os olhos nos meus.
— Não perderia isso por nada.
Childe abre um sorriso ainda maior em resposta e então, finalmente tira seus olhos dos meus para assinar os discos. Respiro forte quando nossos olhos se desencontram, quase parece que não respirei durante todo esse tempo. Childe termina de autografar o álbum e olha para mim novamente.
— Vamos tirar uma foto. Venha aqui do meu lado. — Ele diz e chama um dos seguranças com a mão, pedindo que ele se aproxime.
Entrego meu celular ao homem que deve ter o dobro do meu tamanho e me encaminho ao lado de Childe. Fico lado a lado com ele, meu corpo superando o seu por alguns centímetros de altura. Não sei o que fazer com as mãos, então apenas fico ali, reto e imóvel, feito uma estátua.
— Pode colocar a mão na minha cintura, se quiser. — Childe diz baixo, ele não usa um tom de voz sensual ou algo do tipo, mas para mim é como se o tivesse feito.
Não tem um único pelo do meu corpo que não se arrepie. Meu interior parece esquentar como se eu tivesse com febre, meu coração está tão disparado que dói.
Passo minha mão pelas costas de Childe e sinto o tecido da sua roupa, enquanto ele passa o próprio braço em torno de mim. Seu toque é forte, apesar do seu porte magro. Ele me segura pela cintura e faz com que eu me aproxime ainda mais dele. Estamos tão próximos que posso sentir seu cheiro. Um cheiro ao mesmo tempo, suave, fresco, limpo e também algo forte e almiscarado.
Apenas poucos segundos se passam enquanto o segurança tira fotos de nós dois, Childe faz um coração com os dedos da mão livre, mas estou nervoso demais para fazer o mesmo. Pouco tempo depois o segurança anuncia que já havia tirado as fotos, e me surpreendo com Childe pedindo que tire fotos com o celular dele também.
— Estou tirando algumas com meu celular para fazer um conteúdo para as redes sociais. Apenas com alguns fãs… Que eu me sinto mais a vontade. — Ele esclarece e eu assinto.
Novamente o momento acaba rápido demais. Demoro um segundo a mais que o necessário para tirar minha mão das costas de Childe. Enquanto ele retira a sua rapidamente. Seus dedos acabam roçando meu braço devido à rapidez com que ele se afasta, mas me sinto sortudo por isso.
— Foi um prazer te conhecer Glenn. Nos vemos em Missouri. — Ele se despede com um sorriso e estende a mão para mim.
Aperto sua mão e finalmente posso sentir a textura suave de sua pele. Olho fixamente para Childe de novo, sem me importar com o que ele pensará, apenas sabendo que são os últimos segundos que estarei frente a frente com ele dessa forma. Faço um carinho suave por sua mão. O momento é tão intenso que sinto meu corpo despertar, o rubor sobe pelo meu rosto conforme meu pau fica ereto, justamente no momento que Childe se afasta de mim e desce os olhos.
Estou tão envergonhado quando me afasto, que nem olho para trás. Apenas recupero meu celular e os discos e me retiro praticamente correndo. Conforme saio, a última coisa que ouço de Childe é um pedido de alguns segundos antes do próximo fã entrar. Parte de mim quer acreditar que ele nada notou, mas outra parte se pergunta se isso teria algo haver comigo. Talvez ele tenha ficado com nojo.
No próximo capítulo teremos o ponto de vista do Childe desse encontro! Me digam, o que estão achando?
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