Jackson

Finalmente era sábado e eu estava exausto, a semana havia sido corrida e eu tinha muitos trabalhos da faculdade para entregar ao mesmo tempo, além disso, meu pai estava me enchendo para que eu praticasse esgrima...

Já faziam três anos que eu havia voltado para a China e voltar para meu país foi muito bom, mas perder os meus amigos foi horrível. Não era como se nós não fossemos mais amigos, mas era visível que a distância havia de fato nos afastado.

O motivo de sair da Coréia foi porque meu pai estava trabalhando demais, e eu como um bom filho, voltei para cuidar da minha mãe. No começo foi toda aquela alegria de estar reunindo a família, mas não muito tempo depois eles começaram a falar sobre o meu futuro e foi aí que tudo começou.

Há alguns meses eu e meu pai nos desentendemos em quase todos os jantares de família, não só os que são entre nós três, mas aqueles que reúnem toda a parentela.

Sempre no meio da noite ele começa com provocações, falando de assuntos como ginástica, atletismo ou sobre como ele gostaria que isso continuasse na nossa família, e até mesmo dando conselhos para os meus primos, mas na verdade tudo o que ele diz é para me atingir.

Ao conversar com Bambam durante esses anos ele me contou sobre todos estarem cursando música e eu confesso que senti inveja e até fiquei um pouco triste.

Eu queria fazer parte daquele grupo de pessoas ótimas e ter eles como amigos, eu queria fazer o mesmo curso que os meus amigos e ir na casa deles para fazer trabalhos, eu queria que o meu pai não ficasse impondo a vontade dele sobre mim e me deixasse escolher o que eu iria fazer, mas ao invés disso eu havia sido praticamente arrastado para o curso de Educação Física, e pelo menos três vezes na semana eu tinha que praticar Esgrima com meu pai e meus primos.

Claro que eu poderia treinar mais minhas habilidades na esgrima mas bati o pé e dei ao meu pai a minha condição: Três dia na semana, nada a mais.

Eu nunca vi nenhum problema em me exercitar ou praticar esportes, mas me dedicar somente à esgrima era uma coisa que não estava nos meus planos. Sobre os meus amigos, os únicos que eu ainda mantinha contato eram Bambam e Jaebeom.

A verdade mesmo é que eu gostaria de conversar com Mark, mas eu não tinha coragem pois tudo o que eu escrevia para ele me fazia parecer um idiota.

SADSJ.
Era eu, e Bambam sabia.
Jinyoung sempre pareceu desconfiado sobre mim, mas Bambam jurava não ter contado nada então talvez fosse apenas dedução.

Usando um codinome patético que eu criei era o modo que me parecia melhor para falar com Mark naquela época, mas não era algo de que eu me orgulhasse. Toda vez que eu lembrava dessa sigla eu pensava: Eu era tão infantil assim?

Se tem uma coisa da qual me arrependo até hoje é não ter dito a Mark o que eu sentia por ele, mas agora eu voltaria e diria tudo a todo mundo. Diria a Mark que eu era o SADSJ e tudo o que eles quisessem saber, havia decidido isso.

— Jackson! Ei  Jackson! - Sinto alguém me balançar e olho assustado — Está dormindo?

— Oh, desculpe tia, o que você disse? - pergunto confuso. Todo esse tempo pensando em como seria na Coréia fez com que me esquecesse onde eu realmente estava.

Já fazia um bom tempo que eu e minha tia Huang havíamos vindo até o supermercado para comprar algumas coisas para o jantar em família de hoje. Eu não quis entrar no mercado então fiquei no carro e nem percebi que ela já estava de volta.

— Vai menino, pega essa caixa aqui e coloca no porta-malas - ela disse apontando e entrando no carro.

— Claro... - falo saindo e colocando a caixa — Por que colocou as compras em caixas? - pergunto voltando para o banco do carona.

— Plásticos são ruins para a natureza, temos que ir logo antes que sua mãe vire o bicho, demoramos demais não é?

— Ãn... eu não sei.

— Ah é você estava sonhando acordado, aposto que era com uma medalha - ela diz sorrindo.

— Lógico que não! - faço careta e ela ri.

Minha família ainda não sabia que eu gostava de Mark, o máximo que eles sabiam era que eu tinha um amigo com esse nome e o nome dos outros meninos, nada além disso.

Uma coisa engraçada era que, fora meu pai, minha mãe e meus avós, ninguém mais da minha família se importava com o que a minha geração iria fazer. Mas como meus primos eram dois idiotas que faziam tudo o que meu avô pedia, eles não viam problema, resumindo: eu sou a ovelhinha negra da família.

Não demorou muito para eu perceber que já estávamos entrando na garagem da minha casa.
Desci rapidamente e ajudei a levar algumas coisas para dentro, só para me jogar no sofá o quanto antes e poder checar minhas mensagens.

•Direct•
~ @2Bam_pink

Oi Jack. Cadê você?

Eu estou na casa do Mark Hyung. É dia de filme.

Era bem a cara deles se encontrarem para assistir ou sair. Sem dúvida essa era uma coisa da qual eu sentia falta nas "amizades" que eu tinha agora.

Oi Bam... Estou aqui.

Que bom que estão se encontrando hoje, é uma ótima idéia.

Só faltou você aqui.

Está fazendo o que?

Nada. Mas hoje minha família vem jantar aqui.

Que azar.

Se mais tarde você estiver afim de madrugar é só falar.

Claro. Vamos fazer uma chamada de vídeo? Para mim ver todos vocês haha

Você quis dizer ver o Mark hyung, né?

Eu também quero te ver seu bocó. E o JayB... e o Youngjae...

Tudo bem. Espere um pouco.

Esperei alguns segundos e logo recebi a chamada. Respirei fundo por um momento, esperei o segundo toque, e atendi.

— Olaaa! - Youngjae pulou na frente da câmera do que parecia ser um notebook.

— Hyung! - Bambam disse aparecendo.

— Bam e Jae! Cadê os outros?

— Oi Jackson - Jinyoung disse sentando no sofá do fundo enquanto Bambam e Youngjae ficaram sentados no chão, o que dava a entender que o notebook estava em uma mesinha de centro. Apenas acenei para a câmera.

— Jack! Tudo bem? Como você está? Está tudo bem aí na China? - Jayb disse sentando ao lado de Jinyoung.

— Jayb não seja tonto, você perguntou a mesma coisa três vezes. - Bambam revirou os olhos e todos riram.

— Estou bem - falo sorrindo — Vejo que vocês não mudaram nada... O que estão fazendo? - pergunto tentando saber onde estaria Mark.

Por que ele era o único que não estava ali quando era o mais importante para mim?

Eu realmente queria vê-lo, e justamente quando consigo uma deixa ele some...

— Estavamos assistindo um programa de confeitaria enquanto o Jinyoung decidia o que vamos comer mais tarde - Youngjae diz.

— Como eu disse, hoje é dia do film-- Hyung! Venha cá, dê um olá para o Jack - Bambam diz olhando para o lado onde a câmera não alcançava.

Logo ele se sentou ao lado de Bambam, me dando uma visão ótima de seu rosto, perto o suficiente para eu notar quão bonito ele ainda era e como tinha crescido, estava ainda mais encantador. Seus cabelos castanhos, repartidos ao meio caindo dos dois lados de seu rosto, impecávelmente lisos. Seus olhos ficando menores enquanto demonstrava seu sorriso sempre meigo e estonteante. Era o mesmo Mark, com o mesmo rosto angelical, provocando a mesma sensação em mim mesmo depois de anos.

— Oi Jackson! - ele diz ainda sorridente. Demorei algum tempo para voltar a realidade. Que saudade dessa voz.

Tenho a impressão de que fiquei o encarando pois ele estava visivelmente sem jeito e os garotos sorriam.

— Ãn... Oi Mark - sorrio passando a olhar os outros novamente. Isso rendeu um momento em silêncio até que Bambam começasse a rir dizendo que todos estavam com cara de idiotas.

— E você Jack, o que está fazendo? - Jayb perguntou.

— Nada demais, agora são 7:20 aqui na China então estou esperando meus avós chegarem e a hora do jantar.

— Legal! - Youngjae diz.

— Só que não né... Deve ser um saco - Bambam disse quase que automaticamente.

— Realmente, é horrível.

— Como vai a vida aí? Treinando muito? - Jayb pergunta tentando puxar assunto novamente.

— Nada de especial na verdade, eu continuo treinando no mesmo ritmo.

— O que você faz? - Mark perguntou de forma curiosa.

— E-eu... Eu apenas estou entrando na Esgrima agora.

— Mesmo? - ele pergunta novamente e eu apenas aceno — Parece legal, mas... mudando de assunto, você vai mesmo voltar para nos visitar? - ele pergunta e os outros também parecem esperar pela resposta.

— Vou... Eu vou estar aí em breve.

— Acho incrível que ainda fale coreano fluentemente - Ele diz e ri pela primeira vez.

Eu já não estava prestando atenção em mais ninguém que me olhava, apenas nele novamente.
E pensando um pouco eu lembrei que ficava sempre colocando em algum noticiário coreano para não perder o costume de ouvir.

— Eu tenho uma boa memória - sorrio.

— Acho que tem mesmo.

— Jackson! O carro da sua vó chegou, venha recebê-los - ouço minha mãe dizer passando atrás do sofá.

— Okay, estou indo. - falo por cima do celular e volto a tela.

— Quem é? - Bambam faz uma careta curiosa.

— Minha mãe, eu vou ter que ir agora, minha avó chegou e vai começar a me encher se eu não for lá. - faço cara de tédio e sorrio em seguida.

— Que pena - Jayb diz.

— Confesso que também estou sem muito assunto... Mas outro dia eu ligo de novo e nos falamos mais - sorrio novamente, acenando para eles — Agora eu tenho mesmo que ir, tchau meninos.

— Tchau Jack hyung - Youngjae diz acenando e sendo acompanhado por Jayb e Jinyoung.

— Até mais - Bambam diz.

— Até gente, amo vocês - rio da careta deles e aceno pela última vez.

— Boa noite Jackson... Até outro dia - Mark diz e antes que eu pudesse responder Bambam desligou a chamada. Claro que foi de propósito. Esse tipo de coisa é do feitio dele desde sempre.

Resolvi deixá-lo para lá por enquanto e ir logo fazer o que minha mãe queria.

[...]

— Sabia, mãe, que o Jackson está com uma ideia de ir para a Coréia? - Minha mãe falava para a minha vó — Ele vai nos abandonar de novo - ela diz e eu apenas ignoro enquanto foco em comer logo para subir até meu quarto.

— O que você vai fazer lá? - minha vó pergunta arqueando a sombrancelha — Não tem nada lá. A faculdade tá aqui, seus pais estão aqui, sua família também, você tem que passar para o concurso de esgrima no final do ano... Onde você deve estar? - ela pergunta, recebendo apenas silêncio de volta. — Quando eu falar você tem que responder seu menino! - olho para ela com a mais possível expressão de "o que você quer?" que eu pude fazer.

— Sua vó tem razão... não tem nada de bom lá na Coréia - meu vô diz concordando.

— Ele vai ver alguns amigos, é apenas um mês - meu pai diz, por incrível que pareça dessa vez ele me defendeu.

— Precisa de um mês inteiro só pra isso? - minha avó pergunta fazendo sinal de negação com a cabeça.

— Deixa ele mãe! - minha tia Huang diz. — O menino é novo, ele precisa ter um tempo para viver a juventude dele também. Quando você vai querido?

— Daqui a uma semana, no próximo mês.

— Espero que quando você voltar todo o tempo de treino perdido seja recolocado - meu vô diz e apenas ignoro terminando de comer.

Ninguém disse mais nenhuma palavra. Só se ouvia o barulho dos talheres até meu vô e meu pai começarem o papo chato de sempre entre eles. Eu realmente estava falando sério quando disse que eles me criticavam em todos os jantares em família.

Tudo o que eu desejava era que essa semana voasse e eu fosse logo ver os meus amigos, eles eram os únicos que não me julgariam, os únicos que me entenderiam e os únicos que não iriam me obrigar a fazer qualquer coisa. Eu queria estar rodeado pelas pessoas que me deixavam confortável, que se importavam comigo.

E é claro... Eu queria ir logo ver ele.

~

Hello, Hello.

Eu sei que é um pouco tarde, mas aqui está mais um capítulo.

Eu estou muito insegura mas vou continuar escrevendo. Espero que gostem.

Até logo... two kisses 😘

Att 2024 capítulo modificado.