Dois dias antes...

Sozinho em meu apartamento, penso em tudo o que aconteceu, eu mudei desde que sai de casa, mudei muito.

Ri, chorei, sofri, me diverti, discuti... amadureci e é graças a esse pensamento que tomo uma decisão, talvez precipitada, talvez arriscada, mas que eu preciso tentar. Me arrumo sem muitas cerimônias e saio de casa, vou andando já que o tempo está razoável, ando pra cacete me arrependendo de não ter vindo de ônibus, e por fim paro em frente ao portão enorme daquela mansão

-Você é...? - pergunta o segurança

-Lee Minhyuk. - vejo a surpresa em sua expressão e libera minha passagem. É sem dúvidas, uma puta mansão, ando por uns dez minutos até a porta e antes mesmo que eu bata, ela se abre.
Uma moça com roupas de limpeza impecavelmente limpa me cumprimenta com um sorriso que eu prontamente retribuo

Pessoas simpáticas são outro nível.

Reparo na casa por dentro quase tendo uma vertigem de tão grande que essa porra é

-O que você quer? - ouço sua voz rude perguntar de algum lugar, varro meus olhos pelo local e o encontro descendo as escadas

-Conversar

-Não tenho nada pra conversar com você. Se era só isso, pode se retirar - para a minha frente

-Não vim aqui para discutir, cobrar ou ofender, vim aqui como seu filho, mesmo que você me desconsidere, preciso conversar com você. De pai pra filho, por favor - o homem à minha frente pensa no meu pedido me analisando e assente me dando as costas e indo pra outro cômodo, o sigo.
Entramos em uma sala escura mas iluminada pelo aquário enorme que rodeia a sala em azul, sorrio ao ver vários peixinhos espalhados, me sento ao seu lado em poltrona diferente. Respiro fundo me preparando mas antes que esteja preparado as palavras escapolem

-Me perdoa - começo - me perdoa por ter feito a burrada que fiz, eu não tinha ciência do que poderia acontecer e só fiquei sabendo depois... - suspiro e olho minhas mãos, agora geladas e soadas de nervoso - sabe pai, passei muito tempo te odiando, te evitando e te culpando por tudo o que aconteceu, até mesmo depois que largou a Lin Xien. Quando me obrigou a trabalhar com você por ameaça de deixar minha mãe e Takuya na rua, prometi a mim mesmo que só faria isso pelos dois... - faço uma pausa - mas eu estava errado, querendo ou não, eu sou seu filho, independente das traições que minha mãe teve que aguentar, das humilhações e todas as noites em que acolhiamos ela pra que não chorasse. - minha voz falha - E pai, se eu dissesse que nós te odiamos... seria mentira, mesmo depois de tanto tempo, minha mãe continua com a aliança no dedo e todas as implicâncias. Takuya sente falta de um pai... que foi embora quando éramos pequenos e que nunca voltou pra nos dar um beijo de boa noite... - me emociono com minhas próprias palavras e deixo que as lágrimas caiam sem olhá-lo, sei que me escuta e sei que uma hora irá comovê-lo - ...pra nos aconselhar sobre os perigos de ir e voltar da escola, pra sentar na mesa com a gente e ensinar aquela lição difícil de matemática... ou pra falar sobre as garotas da escola, para dar aquele puxão de orelha quando entramos sujos de lama dentro de casa e sujamos tudo, ou até mesmo pra nos reunirmos na sala de estar como uma família apenas pra ver o tempo passar... E apesar de tudo isso, mesmo sem tê-lo ao nosso lado, nós te amamos. Eu vou sentir muito se não quiser mais olhar na minha cara, me desculpe se eu sou uma decepção pra você pai, desculpa se eu não dei orgulho a você por não ser o que você esperava de mim, me desculpe não ser o filho que você sempre sonhou. Eu sou um humano falho, cometo erros mas eu tenho um coração - enxugo minhas lágrimas - que sempre aquece quando me lembro da família que nós poderíamos ter sido. Mas tudo bem, afinal temos que seguir o que o nosso coração manda, assim como você seguiu o seu... eu segui o meu. Eu amo outro homem que me fez mais feliz do que qualquer mulher poderia ter feito por mim. Mas mesmo que você não consiga aceitar minha escolha, eu te peço que corra atrás do tempo perdido e procure Takuya, ele é o filho que pode te dar mais orgulho do que jamais imaginou ter e quanto a mamãe... - sorrio e levanto meus olhos pro aquário - nunca é tarde demais pra amar. - respiro fundo e olho pro senhor sentado ao meu lado, vejo lágrimas escorrendo por seu rosto congelado, levanto-me e deixo um beijo em sua testa - eu te amo, meu pai.

Saio da mansão e ao voltar encontro com Suga e Taehyung, esses dois não se desgrudam nunca? Rio com meu pensamento, tomamos um sorvete e vamos pra quadra jogar.

Passamos a noite jogando até à madrugada e me despeço dos meus bichinhos indo pro apartamento, estou com a consciência mais leve, sem pendências, sem pesos.