ANTES
2010

Eles já tinham ido juntos ao cinema algumas vezes, mas havia certa estranheza em ir a um encontro. Amália tentava acalmar seu coração dizendo a si mesma que era apenas Oscar, seu velho amigo, mas o momento parecia deixar seus sentidos mais atentos às novidades.
Até então, ela não reparara que, em algum momento, ele havia se tornado mais alto, mais largo, mais confiante.
Agora, andavam de mãos dadas, o calor dele a aquecia na brisa fria de fim de tarde. Eles escolheram um filme de terror, Atividade Paranormal 2 — sugestão de Amália, que amava o gênero — e Oscar concordou com facilidade, o que a surpreendeu.
— Nossa, foi realmente assustador, não foi? — perguntou Amália ao final do filme, quando as luzes acenderam.
Oscar assentiu, sem dizer nada. Estava branco como uma folha de papel, mas, no caminho para casa, aos poucos a cor foi voltando às suas faces.
— Oscar, você devia ter me dito que ainda tinha medo de fantasmas.
Ele deu de ombros, constrangido.
— Eu não queria que você pensasse que eu sou um covarde.
Amalia parou de andar e ele parou também.
— Não seja tonto. Você é uma das pessoas mais corajosas que eu conheço, Spooky.
— Spooky?
— Sim, você tem medo de fantasmas, mas fica tão assustador quando fica bravo assim. Para quem não te conhece, claro— ela riu, e o beijou, cenho franzido e tudo.
Uma hora mais tarde, ao deixá-la em casa, ele sentia-se tão leve como há muito não sentia. Estar com Amália era uma alegria tão grande, que ele se esquecia de quem era: um garoto pobre, sem perspectivas, o pai preso e a mãe imprestável, com um irmão pequeno para cuidar. Amália era luz no seu caminho sombrio.

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