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Capitulo 3

"Tão simples como o fogo, eu tão novo não sabia, só queria

E de novo, era um novo início pra mim"
(Poesia. Acústica 2)


ANTES
2008

— Que bom que você chegou, Amalia. Tem frutas na geladeira, e o jantar está no freezer. É só esquentar. Não esqueça de comer você também, e qualquer coisa me ligue. Muito obrigada, querida!

Fran Turner abraçou rapidamente a sobrinha e saiu para a rua, apressada para ajudar o marido em uma noite cheia no Dwayne's BBQ. 

Apesar de ter apenas doze anos, Amália tinha a confiança da tia, mais do que qualquer outra babá. O pequeno Jamal era um bom menino, mas nem sempre compreendido na sua excentricidade, que se manifestava em várias pequenas manias e no medo de muitas coisas. As pessoas às vezes o achavam  estranho demais, mas Amália se dava perfeitamente bem com o primo mais novo.

— Hey, Jamal - disse Amália ao pequeno garoto que estava concentrado em um programa de televisão. – Você está com fome?— para manter o primo calmo, era importante ter sempre pequenos lanches a mão, e também um ambiente de clima ameno. Os grandes olhos negros de Jamal a encararam, pensativo, até que ele confirmou que gostaria de uma maçã, porque sua avó sempre dizia duas maçãs ao dia mantinham  sua boa saúde. E se ele ficasse bem, não teria de ir ao médico. Amália sorriu, acostumada com a preocupação dele em relação a possíveis doenças.

Talvez eles pudessem assistir aos Goonies, depois que Jamal comesse sua maçã, era um filme que os dois amavam. Enquanto Amália pegava a fruta, sentiu o celular vibrar no bolso. Era Oscar, um dos seus amigos mais próximos e antigos, e ela atendeu imediatamente.

– Hey – a nova voz de Oscar disse pelo aparelho. Ela ainda não tinha se acostumada como a voz dele tinha engrossado tão rápido nos últimos meses.

– Olá, Oscar! Tudo bom?

- Sim...Escuta, minha mãe saiu e eu estava pensando se você queria vir aqui em casa.

- Hoje eu não posso, estou cuidando do Jamal essa noite.

– Tudo bem – ele disse, e Amália imediatamente sentiu um aperto no coração. A mãe de Oscar raramente estava presente, e o amigo e seu irmãozinho, Cesar, passavam muito tempo sozinhos naquela casa desde que o pai deles tinha ido para a prisão.

– Por que você não vem pra cá? Traz o César também, assim ele faz companhia para o Jamal, brinca com ele. Meu primo me deixa doida.

Ele riu, e o coração dela ficou mais leve

- Esse seu primo é esquisito!

Em menos de dez minutos, Oscar tocava a campainha da casa dos Turner, segurando seu irmão de cinco anos pela mão. Ele não gostava de soltá-lo, porque César  às vezes se distraía fácil, e ele havia visto casos de rapto de crianças nos telejornais. E ninguém ligaria se uma criança daquele bairro sumisse.

- Oi, Oscar! Oi César! – disse Amália sorridente, abrindo a porta e bagunçando os cabelos do garoto menor.

Oscar queria dizer para ela não fazer isso, ela sabia quanto tempo demorava para simplesmente fazer o  menino ficar quieto e pentear o cabelo? Mas ele gostava de parecer descontraído, então não disse nada

- Tem certeza que seus tios não vão se importar?

- Não, eu mandei uma mensagem, eles falaram que tudo bem.

Ela levou César a Jamal, que imediatamente ficou feliz com a presença de um amigo de sua idade. Enquanto eles brincavam com legos no chão, um passatempo favorito do primo, Oscar seguiu Amália, que tinha ido à cozinha em busca de refrigerantes e sanduíches.

– Com quem você vai ao baile da escola? – perguntou Amália, enquanto pegava a garrafa na geladeira.

- Maria Guzman– ele disse, sem conseguir esconder o triunfo na voz ao mesmo tempo que Amália gritava "mentira!" – Eu juro.

– O que será que a garota mais popular da sala viu em você? – provocou Amália.

– Deve ser meu charme natural – disse, Oscar, como quem diz o óbvio. Amália fez um grande show em revirar os olhos. - E você vai com quem?

- Edgar Johnson

Oscar fez um barulho de desdém.

- Ele é uma criança mimada

- Bom, você é um homem agora, é isso? – ela disse, debochada

- Eu tenho que ser – ele retrucou, sério, nenhum traço de brincadeira

Ela não sabia exatamente o que dizer. Desde que o pai deles fora preso, a tarefa de cuidar de César tinha recaído sobre Oscar, já que a mãe deles tinha.... problemas. Sem saber o que fazer, Amália pegou uma das mãos do amigo entre as suas e a apertou.

- Se você precisar de qualquer coisa... Eu estou aqui, Oscar.

Ele levou sua outra mão até as mãos delas, e sem perceber, ficaram assim, as duas mãos unidas e muito próximos. Tão próximos que Oscar podia sentir o cheiro de Amália, que lembrava doces. Amália se deu conta de que eles tinham a mesma altura, e que os olhos de Oscar não eram bem castanhos, mas tinham uma tonalidade ocre. E então, eles nunca souberam quem deu o primeiro passo para que seus lábios finalmente se encostassem.

Amália percebeu então que ele havia fechado os olhos, e que ela também deveria fechar. De repente, um barulho alto de tiro a distância os assustou e os arrancou da espécie de transe em que estavam. Olhos arregalados, eles se olharam. Eram amigos, se conheciam desde sempre, isso não deveria ter acontecido.

– Eu não sei porque fiz isso. – defendeu-se Oscar

– Nem eu. Vamos esquecer. Isso nunca aconteceu!

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