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Capítulo 18

Aviso de gatilho: esse capítulo tem descrição de violência. É breve, nada exagerado, mas se você tem problema com cenas de violência na rua, armas, melhor pular 😉. Não temos Amália nesse capítulo, não gostei muito de escrever, mas é necessário para a continuação da história. Boa leitura!

ANTES
2011

O Ano Novo parecia ter acelerado o tempo. Se antes havia dias preguiçosos, em que Oscar podia simplesmente observar as nuvens lentas do céu, a rotina dos vizinhos e momentos de tédio, de repente, esses dias tinham se tornado raros.

Ele cuidava de César, fazia tarefas para os Santos, e tentava não faltar demais na escola, o que se tornara mais difícil. Amália aos poucos parecia aceitar que ele era um membro de gangue, por ora. Ela gostava de lembrá-lo sempre o quão boas eram suas notas, que ele não deveria desistir de seus sonhos, de ter uma vida melhor. Oscar sorria, só para ela.

Porque Oscar era também Spooky, e deveria ser assustador. Era verdade que ele não havia provado ser tão durão quanto aparentava, e ele desejava nunca ter de ser provar, postergar o tempo, fazer um acordo com a Sorte.
Porém o destino lhe virou as costas naquela noite comum de sábado.
Ele estava no carro do seu primo Juan, que dirigia enquanto eles riam e ouviam música, voltando de uma coleta de dinheiro. O celular de Oscar vibrou no bolso, e distraído, ele não viu o momento que dois garotos vestidos no inconfundível verde e amarelo dos Profetas se aproximaram em outro carro, e pararam no farol ao lado do veículo em que estavam. Um deles era alto, magro, tinha dreadlocks, e o outro, o motorista, era gordo e tinha cabelo raspado. Eles aparentavam a ter a idade próxima a Juan, que tinha dezessete.

– Ei, ei, se não é o velho Juan e o pequeno Spooky. — disse o de dreadlocks, que Oscar reconheceu por ser do mesmo ano que o primo na escola.

– Eles recrutam os merdinhas cada vez mais cedo hoje em dia – disse o motorista.

– Com quem você acha que está falando, cabrón. Por que você não desce, como um homem e a gente resolve isso. –gritou Oscar, enraivecido.

– Profetas são covardes, Spooky... – riu-se Juan.

O gesto foi tão rápido, que Juan e Oscar não viram a hora que o jovem motorista puxou o revólver e disparou. Oscar abaixou, enquanto tentava alcançar a própria arma no porta luvas e Juan saía com o carro em disparada. Quando ele finalmente achou, dez segundos que pareceram a eternidade, os Profetas estavam longe. Uma ardência e dor percorriam seu braço e só então ele notou o feio ferimento: ele havia sido atingido de raspão por uma bala.

– Porra, Juan, eles atiraram em mim... eu...

Então o carro parou, abrupto. Juan segurava a barriga com uma das mãos , tentando pressionar o ferimento de onde saía tanto sangue como Spooky ainda não vira.

– Porra! Eu vou te levar pro hospital.

Desajeitadamente, ele saiu do próprio lugar, enquanto Juan se arrastava para o passageiro. Oscar não tinha carteira de motorista ainda, por causa da idade, mas o pai o ensinara desde muito cedo.

– Acho que eu não vou aguentar, compa.

– Fica quieto! Você precisa se poupar.

O rosto do primo estava pálido, sangue tingia de vermelho sua boca.

– Fala pra minha mãe, fala pra ela que eu sinto muito.

– Você que vai falar, você que vai falar.

No entanto, antes de Juan ser levado para a cirurgia, Spooky olhou nos olhos do primo e prometeu que, se fosse necessário, ele daria o recado à tia.

Juan foi forte o bastante para lhe dar um meio sorriso em agradecimento.

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