Capítulo 11
Eu disse que não acredito que estamos presos em casa com o Oscar!
(Jamal, temporada 1)
PRESENTE
César não tinha entendido ainda. Ele fazia seu trabalho para os Santos, mas estava sempre metido em alguma confusão com os amigos estranhos que tinha. Como naquela porcaria da festa de Halloween. Muitas vezes Oscar tinha de lembrá-lo que os negócios vinham antes da escola.
Mais do que ninguém, Spooky gostaria de que a vida do seu irmão fosse a de um adolescente normal, mas isso era impossível, quando você nasce numa família de criminosos.
Essa linha de raciocínio não ajudava a melhorar seu humor. Sentado nos degraus da escada da sua residência, ao lado do irmão, sentia o calor excessivo que o enervava, assim como a própria falta de coragem de terminar a conversa com Amália. Depois do Dia das Bruxas, eles não tinham se visto.
— Vai pichar uns muros, mas toma cuidado. Os Prophet$ estão por aí. — ele disse a César, após um trago em seu cigarro. O ritual — adquirido no final da adolescência — o acalmava.
— Legal. Só preciso passar no Ruby e resolver umas coisas...
Spooky o encarou através das lentes dos óculos escuros, irritado. Esse era exatamente o problema, o garoto simplesmente não conseguia compreender.
— Vou pichar primeiro. — disse César.
Ou talvez compreendesse, afinal.
Alem de tudo, estava preocupado também com os outros membros dos Santos. Alguns membros haviam saído para um trabalho. Nada grande, pouco risco, dinheiro fácil. Mas havia uma sensação, um pressentimento. Algum tempo depois, ele estava em casa, quando Sad Eyes chegou com a notícia de que um deles fora baleado. Que poderia ter sido um Profeta o autor do disparo.
O sangue de Oscar gelou nas veias. César estava sozinho, pichando por aí, sem saber de uma provável emboscada nas ruas. Ligou para o celular do irmão, ele não atendia. Perdeu as contas de quantas vezes fez isso a caminha da casa de Ruby.
Mas quem atendeu foi Jamal, primo de Amália.
A cara de espanto dele seria cômica, não fosse a situação em que se encontrava. O medo estava ali, gravado em um dos olhos negros, porque o outro estava coberto como de um pirata, como se ele ainda fosse a criança que a prima cuidava. O tal do Ruby e uma garota alta o encaravam ao fundo da sala.
— Balearam um dos homies. Vocês viram o César? Ele não atende o celular.
— O celular dele não está funcionando. Ninguém quebrou, ele só pifou.... Causas naturais...
Ele ignorou o garoto enquanto olhava por cima do ombro, checando se ninguém o seguirá até ali.
— Se virem o César, diga que estou procurando por ele.
— Sim, senhor.
Ele não devia ter dado dez passos quando o carro da polícia apareceu do outro lado da rua avisando do lockdown. Ele correu novamente até à casa dos Martinez.
Enquanto tentava olhar pela janela sem ser visto, Jamal gritou que não acreditava que estavam presos na mesma casa com ele, Oscar.
Os outros dois davam risadas forçadas, cheias de medo. Imbecis.
E sim, ele é que estava preso com os garotos idiotas. Enquanto Ruby falava com os pais ao telefone, ele sentou no sofá e fechou os olhos, tentando se acalmar. Não sabia se o membro da sua gangue sobreviveria. Não sabia se algo havia acontecido a César, o que seria sua culpa. Nem sequer sabia como estaria Amália. A verdade é que confrontar aquele riquinho em Bretwood fizera ressurgir o fato imutável de que ele era um assassino, um criminoso condenado. E Amália era uma cidadã honrada, dedicando seu trabalho para tentar oferecer alguma perspectiva as crianças do bairro.
O medo que sentiam dele não era infundado, mas o enchia de raiva.
— Voce quer alguma coisa? Água? Chá? Café? — questionava Jamal, num frenesi, quase encostado a ele.
— Espaço pessoal.— de maneira bizarra, o jovem se levantou somente para se sentar do outro lado de Oscar .
— Por que tão perto? — gritou, perdendo a paciência — Tem mais cinco lugares.
Em situações como aquela, ele precisava de ar, e definitivamente estava começando a se sentir enclausurado.
— Queria te perguntar uma coisa, se puder... — e ele começou a falar algumas bobagens, mas o divertiu um pouco o fato de que queria saber sobre o fundador dos Santos, Lil Ricky.
Quando seu celular tocou, ele viu que era Sad Eyez. Ele foi atender no banheiro indicado por Ruby, longe daquelas crianças loucas. Era um relatório: Sad Eyes o informou que o Santos machucado fora levado ao hospital, que César não havia sido encontrado por um dos policiais corruptos, e estava seguro em sua viatura. Ninguém mais se machucara. Já era noite quando terminou a conversa, mas seu humor tinha melhorado consideravelmente. Tanto que ele ficou observando o jogo imbecil de "Transa, Casa ou Mata " que os três tontos, Monse e a outra garota do César estavam jogando .
Havia pelo menos dois triângulos amorosos no pequeno grupo, sem que eles percebessem. Ruby, de quem Jasmine parecia gostar, estava apaixonado pela garota que ele vira com César um dia, Olivia. E ela parecia não perceber que Monse também gostava de César. Monsé, por quem César havia arrumado tanta confusão, e de quem Atalaia tomara as dores, afinal. Ele não aguentou, e acabou rindo.
— Você quer jogar? — perguntou Jamal, se jeito. Só para se divertir, ele resolver participar.
— Ok. Eu mataria você. E você — disse olhando para os garotos. — Transaria com você. E com você— disse, apontando para as garotas.
Jasmine o olhou, fazendo uma espécie de dancinha sensual.
— Tudo bem. Transaria com você também. Depois, te mataria.
Eram apenas crianças tontas. Talvez por isso César gostasse de passar tanto tempo com eles.
O jogo o deixou com uma impressão estranha, certa tristeza e nostalgia.
Ele saiu para fumar no jardim dos fundos. Sem conseguir se impedir, mandou uma mensagem para Amália: "O lockdown acabou. Você está segura?"
Quando ele voltou para dentro, sem resposta à sua mensagem, César tinha chegado, e uma discussão generalizada sobre beijos e confiança estava acontecendo.
— Vocês são todos loucos!
Eles imediatamente silenciaram.
— Temos negócios! — disse a César.
— E o alerta?
— Acabou.
Negócios eram negócios, afinal. O resto, inclusive o amor, podia esperar.
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