- Ah... - Assenti voltando a acariciar Bob. - Pode-se dizer que sim.

- Você me ajudaria a tirar as pessoas da casa para não ter testemunhas quando eu assassina-lo? - Ela perguntou me fazendo sorrir.

- Claro! Quer uma faca ou algo assim? - Me levantei parando ao seu lado e ela riu.

- Pelo visto você não é lá muito fã do meu irmão. - Ah mesma riu.

- Não é nada pessoal. Eu só não fui com a cara dele. - Sorri mostrando os dentes e ela riu de novo.

- Ele não vai ter mais uma cara depois que eu encontrar ele hoje. Já avisei mil vezes para ele não fazer festas sem nossos pais em casa. Essas festas dele sempre dão alguma merda no final. O Justin não tem nada na cabeça. - A garota resmungou enraivecida.

- Que tipo de merda?

- Brigas que dão polícia, adolescentes bêbados que quase sofrem acidente indo para casa, pais irados porque a filha engravidou... - Ela passou a mão na cabeça. A mesma parecia cansada.

- Você parece meio exausta. Se precisar de ajuda para matar o Justin, eu estou a disposição, juro. - Ergui a mão direita aberta.

- Vai ser útil. - Ela riu. - Qual seu nome?

- Wendy. - Respondi segurando a coleira de Bob Marley.

- Jennie. - Ela respondeu. - É um prazer. Você vai passar o verão todo aqui?

- A ideia a princípio era essa, mas talvez eu desista antes. - Nós duas começamos a entrar e eu puxei Bob para que viesse junto.

Prendi-o ali na frente, porque era onde estava a comida e a casa dele. Ele não era obrigado a ficar lá nos fundos só porque tinham um bando de adolescentes ali.

- Por que? Não está gostando da hospitalidade do meu irmão sem noção? - Ela perguntou assim que passamos pela porta. Eu ia responder, mas ambas avistamos ele beijando/engolindo uma garota. Outra garota.

- A hospitalidade dele não faz muito o meu tipo. - Fiz uma careta.

Os minutos seguintes consistiram-se em Jennie dando o maior sermão no Justin na frente de grande parte das pessoas ali presente. Alguns ali resmungaram dizendo que ela era estraga prazeres, mas se realmente já aconteceu de quase sofrerem acidente  por saírem daqui bêbados, acho que ela está coberta de razão.

Até eu que não penso nas coisas direito concordo com ela.

A festa ficou com um clima esquisito depois que ela subiu as escadas transbordando raiva. Jennie parecia mais decepcionada com Justin. Quem não ficaria?

As pessoas aos poucos foram indo embora enquanto eu me sentei no sofá da sala com um saco de pipocas que achei na cozinha observando todos saírem.

Era óbvio que eu estava sorrindo.

- Que droga. - Beverly se jogou no sofá ao meu lado. - A festa estava tão boa!

- Nem me fale! - Chelsea sentou do meu outro lado, ambas com maquiagens borradas e expressões de tédio. - Eu estava quase ficando um cara super gato!

- E eu! - Beverly encarou Chelsea e eu continuei apenas enchendo minha boca de pipoca enquanto as observava. - O cara era mó lindo!

- Era para eu estar beijando aquele gatinho agora. - Chelsea escorregou pelo sofá em desânimo.

- Idem. - Beverly fez o mesmo enquanto eu apenas as olhava mastigando. Não demorou para que elas olhassem para mim.

- Que foi? - Perguntei com a boca cheia.

- Por que está tão quieta?

- To... - Engoli. - Comendo. - Voltei a encher minha mão, porém Beverly segurou meu pulso antes que eu pudesse tirar a mão de dentro do pacote.

- Espera! Essa foi sua primeira festa! - Ela sorriu. - O que achou?

- É, o que achou? - Chelsea também me encarou.

- Eu... - Olhei para as duas. - Achei legal? - Fiz uma careta e elas me encararam sabendo que eu estava mentindo.

- Fala a verdade, Wendy.

- Ta, achei um saco! Muito barulho, pessoas fedendo, garotos estranhos, bebidas horríveis e pessoas se engolindo por toda parte. Não parecia nada com o que eu imaginei ou vi nos filmes. Não tinha ninguém dançando ou se divertindo, só um monte de pegação. Deveriam mudar o nome de festa para motel. - Ambas riram.

- É uma festa sem pais, Wendy.

- E? - Arqueei uma sobrancelha.

- Deixa para lá. - Chelsea resmungou. - Pelo menos você bebeu um pouco.

- Ah, é. - Assenti. - Eu não cuspi no copo e entreguei à primeira pessoa que apareceu não. - Balancei a cabeça em negativa e naquele momento Justin e Jennie desceram as escadas.

- Ok, você conseguiu! Todos foram embora! - Ele exclamou indo em direção ao outro sofá e se jogando.

- Nossa, que pena né, Justin! Poupei você e os nossos pais de arcarem com as consequências de adolescentes maiores e monores de idade voltando para casa bêbados! - Ela exclamou revoltada.

Eu? Eu estava comendo pipoca observando tudo.

- Não exagera. - Justin revirou os olhos.

- Não estou exagerando e você sabe disso! Você já é de maior, cara! Está na hora de crescer e parar de agir feito um adolescente imaturo! Pode fazer festa? Pode! Mas com cuidado e responsabilidade! Não são bonecos, são pessoas!

- Ai, Jennie, já acabou!

- Acaba quando eu decidir e no momento eu ainda estou falando. - Ela rebateu me fazendo assentir. - Você não tem pensado em nada ultimamente. O que está acontecendo com você? Você não era assim! Você pensava nas pessoas, pensava em você e nas consequências que seus atos trariam. Por que, de repente, ficou desse jeito? Perdeu o cérebro quando ganhou músculos?

- Eu só queria me divertir! Estou de férias, é meu último ano na escola antes de eu ter que me infurnar dentro de uma faculdade longe daqui, que nem você fez! - Ele reclamou fazendo Jennie abaixar os ombros. - Quer contar para nossos pais o que aconteceu? Conta. Conta que eu enchi a casa de gente, embebedei todo mundo e que eu não duvido nada de que tinham drogas por aqui também. Eu não ligo. - Ele cuspiu as palavras se levantando. - Na verdade... eles não vão ligar. - E assim Justin saiu da sala batendo a porta.

Eu pensei em gritar para ele levar a porta com ele, mas não era uma boa hora.

Nós três encaramos Jennie que estava parada nas escadas de braços cruzados. Seu olhar estava baixo, mas ela parecia tentar mostrar força.

- Que treta. - Chelsea murmurou.

- E tudo por causa de uma simples festinha. - Beverly balançou a cabeça.

- Né? Estragou a festa e ainda dá sermão. - Chelsea falou me fazendo encara-la.

- Estão falando sério? - Arregalei meus olhos. - Vocês viram a mesma cena que eu?

- É óbvio.

- E foi só essa conclusão que tiraram? Gente, está na cara que eles tem problemas.

- Toda família tem problemas, Wendy. - Beverly murmurou enquanto se levantava.

- Mas isso não é desculpa para estragar uma festa assim. - Chelsea finalizou e as duas foram em direção à cozinha resmungando que estavam com fome.

Eu sei que não sou a melhor das pessoas, sei que sou bem bipolar e que muitas vezes não penso antes de dizer algo, mas naquele momento eu não acreditei que elas se importaram mais com a festa do que com as duas pessoas em conflito que vimos.

Eu até pensei em ir conversar com um deles, mas eu não sou nada boa nisso. O máximo que eu faria era sentar ao lado da pessoa, assentir e dizer: complicado né.

Acabei não fazendo nada. Talvez eles precisassem ficar sozinhos para pensar ou sei lá.

Subi as escadas para ir em direção ao quarto. Queria muito tomar um banho e dormir. Eu nem sabia a hora, mas o sono já estava quase me dominando.

- Let it go, let it go... - Cantarolei indo em direção à janela para fecha-la, mas acabei ouvindo um choro do Bob. Olhei para baixo e vi o mesmo com a pata enrroscada na corrente. - Tadinho. - Desci novamente o mais rápido que pude e fui até lá fora para ajudá-lo. - Calma, calma... - Falei baixo enquanto tentava desenrolar sua pata. - Espera aí... pronto. - Sorri e acariciei o mesmo.

- Ele ganhou uma nova companhia. - Levei um susto ao ouvir uma voz do além, mas era só o Bieber atrás de mim.

- Ai diabo, que susto! - Me levantei. - Pensei que o Bob Marley tinha falado.

- O que? - Ele gargalhou.

- Estava pronta para benzer ele. - Abracei meus braços e observei enquanto ele ria, mas logo sua risada parou e seu semblante de antes voltou a aparecer. - Você... está bem? - Inclinei meu rosto para frente e ele se sentou ali na grama mesmo. - Vácuo.

- Estou. - Ele respondeu. - Muito bem. - Justin abaixou a cabeça e eu encarei a porta da casa querendo fugir lá para dentro. Eu não era nada boa para aconselhar ninguém em momentos assim. Mas olhei para Justin e bufei antes de me sentar ao seu lado.

- Er... - Olhei para ele. - Complicado, né? - Justin olhou para mim e eu rapidamente olhei para frente.

- Até que não. - Ele negou voltando a olhar para frente. - Eu acho que eu complico.

Era para ser uma daquelas cenas de filmes em que as duas pessoas se entendem e de alguma forma uma consola a outra. Mas eu não fazia ideia do que ele estava falando. Eu não sabia falar em metáforas.

- Ah... - Olhei para o chão tentando raciocinar.

- Tudo bem, Wendy. Não precisa tentar ser legal comigo. Sei que não fui tão amigável com você.

- Bem...

- Talvez tenhamos começado com o pé errado. - Ele sorriu. Seu sorriso naquele momento não tinha ironia ou safadeza, como todos os outros que ele me dera durante o dia. Ele parecia sincero. Não vi um idiota ali.

- É. - Sorri também.

[...]

- JUSTIN DEVOLVE MEU SUTIÃ! - Gritei do banheiro feito uma maluca enquanto ouvia uma risada dele no corredor.

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Continua...
Quando? Ninguém sabe.