31:[Obrigado, Lua.]
[30/03/2019- Sábado]
TERA MARSHALL
"Tera, por favor, larga-me..." A sua voz voltou a ecoar entre risos. "Eu não consigo desenhar assim!"
Tiro mais uma vez a sua mão esquerdina de cima das suas pernas e beijo-a. "Eu nunca mais te largo."
Já era o quarto dia que ele estava acordado e neste fim de tarde ele recebera alta, finalmente. Os médicos ficaram espantados, sem saber como, espontaneamente, ele tinha acordado sem qualquer tipo de lesão cerebral.
Não era normal...
Mas a vida é estranha, não é mesmo?
No momento em que ele acordou, eu chorei gargalhadas surpreendidas. Eu não sei como controlei a minha vontade por beijá-lo e abraçá-lo com força, mas consegui apenas agarrar no seu rosto, outrora, cansado e pálido, e sorrir de testas coladas.
Fazia mais ou menos quinze minutos que estávamos de viajem de volta para casa. Era a minha mãe que conduzia o carro, ela no lugar do volante e eu e o Ariel nos bancos de trás.
Ele ainda me temia um pouco, mas não tanto quanto a alguns dias atrás.
Durante estes dias, tenho lhe mostrado que nunca seria capaz de lhe magoar, e ele, a passos lentos e pequenos tem se entregado a mim física e psicologicamente. Disse-me que não conseguia aguentar o meu toque ao longo daquelas terríveis semanas, pois o relembrava...daquilo. E eu, burro, não fui capaz de entender isso. Ele contou-me também que não queria fazer queixa do caso, já que queria esquecer o seu pai o quanto antes.
Se ele soubesse que esse monstro já está no inferno eterno...
"O que estás a desenhar?" Beijei o seu coro cabeludo, contente por saber que este nosso pesadelo tinha finalmente acabado.
Ele olhou para mim com um sorriso tímido e voltou a fitar o desenho. "É uma paisagem. Eu via enquanto falava..." Ele hesitou por um momento em me contar. "enquanto falava com um amigo meu. Sempre íamos para um descampado conversar."
O que ele sabia era que todos nós, eu, a Kira, a Kai e o Max tínhamos preparado um pequeno retiro para nós passarmos a noite. Como a minha mãe me disse: precisávamos lhe mostrar, um por um que estávamos lá para ele, para aquilo que der e vier.
E assim lhe mostrámos.
Assim que a Kai o viu, saltou para cima dele com lágrimas nos olhos, contente por ele estar bem e a salvo. Infelizmente, nem ela nem o Max foram capazes de o ver acordado. Então, achava normal eles estarem pasmos- num bom sentido- ao vê-lo ali. Já a minha irmã manteve-se no mesmo lugar, tentando mostrar-se forte com o seu boné da Adidas para trás. "Eu não estou a chorar!" Garantindo de perfil.
Na mesa do jantar, o meu pai ficou ferido com diversos cortes de defesa, assim como de ataque. A sua cara tinha poucos arranhões, o que indicava que ele não sofreu muito. Pelo que me falou, aquele monstro está a ter uma morte bem dolorosa, organizada pelo gangue amigável da policia. Eles eram acionados quando a Justiça não era mais capaz de condenar aqueles que deviam ser condenados até à morte.
Esses era o caso do Elijah.
E espero que esta seja a última vez que tenha de pensar e/ou falar no seu nome.
Ariel voltou aos seus hábitos alimentais normais, comia que nem um lobo, o que me fazia rir por dentro. A comida do hospital nunca é das melhores. O facto de o meu pai ter feito o seu jantar favorito também ajudava nisso, assim como o ambiente alegre que estava naquela mesa.
O meu menino está a voltar à vida durante estes dias.
Obrigada, Lua, por me teres ouvido.
Obrigada mesmo.
Depois de uma sessão sem fim de filmes terminada, os visitantes tiveram de ir embora e nós fomos nos deitar poucos minutos depois.
Quando o vi no corredor do andar de cima de pijama, uma vontade de dormir agarrado a ele subiu-me no instinto. Mas, como ele me tinha dito 'eu ainda me sinto um pouco desconfortável dormindo contigo na mesma cama', embora eu tenha dormido com ele no mesmo quarto, apenas distanciados por alguns metros.
"Ariel?" Chamo-o com alguns segundos depois de o encarar. Ele vira o seu corpo pelos calcanhares e fita-me.
"Sim?"
O pensamento pedinte de 'eu amo-te e quero tentar dormir ao pé de ti' fora trocado pelo "Boa noite, amor."
"Boa noite..." Desejou com um sorriso.
E entramos nos nossos próprios quartos.
E mesmo afastados por uma maldita parede, o meu peito não parava de arder por falta do seu toque.
Ah, caralho, estou mesmo dependente dele.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
Nem uma hora depois, eu já estava à frente da porta do quarto dele, com a minha almofada fofa entre os braços, ganhando coragem para lhe pedir para ficar com ele naquela noite.
Inspirei fundo e libertei o ar calmamente.
Bati à porta e rodei a maçaneta, pondo somente a cabeça dentro da divisão. Ariel estava deitado de lado, virado de frente para a porta- onde eu estava envergonhado-. Ele tinha um olho aberto, disfarçado pelos seus caracóis ruivos com algum brilho. O quarto não estava escuro, o Ariel fazia questão de deixar a luz da Lua entrar no seu quarto.
"Amor, eu...hum...eu posso dormir aqui? Não estou a dizer na cama...quer dizer, estava, mas se não quiseres eu posso dormir na..." Ele levantou o seu dorso, mostrando a minha t-shirt da Levis. Ele fez beiço naqueles lábios, e isso destabilizou-me por um momento. "...na, na cadeira ali do lado." Aponto com o indicador a cadeira de escritório cuja estava perto da sua respetiva secretária ornamentada com os livros do Ariel, quer sejam eles escolares ou pessoais.
"Tera, eu nã-"
"Eu sei, eu sei, só que eu não consigo dormir sem ti ao meu lado."
"Eu ia dizer que não te iria deixar dormir na cadeira pela quinta noite consecutiva." Ariel abre os lençóis da cama para mim, assim que eu entro dentro do quarto.
Nem poupo os passos, apenas deito-me ao seu lado, não encostado a ele, a seu pedido.
Estávamos cara a cara, em silêncio completo, somente fitávamo-nos pelos olhos, sem nenhum contacto físico. Assim que eu ameaço fechar os olhos, por entre um sorriso desafiador, ele assopra de leve no rosto, o hálito de menta acusa que ele mascou uma pastilha recentemente. Abro os olhos e passo a minha língua pelo canino. Paro, porém, quando sinto a sua mão na minha. Pensei que o toque ficaria por ali, mas ele puxa, lentamente, a mão para si.
Levou os meus dedos aos seus lábios. Não os beijou, não os molhou com a língua, apenas os levou para o toque. Não sabia se era pela minha burrice eterna se era por outro argumento qualquer, mas eu não entendia o que ele queria fazer.
Ele baixou as mãos pelo seu pescoço e apertou-o um pouco. Senti a cartilagem da sua traqueia assim como a pulsação nas suas veias e artérias. Ele não partia o nosso contacto visual, mesmo que toda a nossa atenção esteja no nosso toque. Por cima da t-shirt, as nossas mãos passam por todo o seu peito, etapas lentas e cautelosas. Senti as batidas do seu coração rápidas e fortes. Ele estava nervoso, contudo não queria parar.
Ele aproximou-se a mim alguns centímetros e encostou a cabeça na minha maçã de Adão. Apenas relaxei mais ainda e deixei-o controlar-me por completo. A minha mão tocou-o pele com pele, por debaixo de toda a sua vestimenta. A sua tez não estava mais fria. A sua barriga descia e subia em estágios velozes e cada vez que me aproximava mais do seu ventre, mais rápido eram os seus movimentos. Não cheguei a tocá-lo na virilha, por muito que eu quisesse. Ele não comandou a minha mão para o fazer. Com a mão por entre as suas coxas, ele largou a minha mão e pôs a sua em volta do meu pescoço.
Eu não entendia o seu jogo, mas não me atrevi a jogá-lo.
Esperei mais alguns segundos pelos seus comandos manuais, mas eles não vieram. Tirei a minha mão da sua perna e subia para a sua cintura, puxando-a para mim. Com peitos juntos, consegui sentir o seu coração mais calmo à medida de que ele me beijava o queixo com pequenos celos carinhosos.
"O que foi isso, Ariel?"
"Eu tenho que ensinar ao meu corpo que nunca irás me fazer mal nenhum..." Sussurrou. "Eu tenho que aprender a confiar em ti, no teu toque, a cem porcento. Por isso eu larguei a tua mão na minha coxa. Queria ver o que farias. Embora eu tivesse as minhas espectativas."
"E eu fui pelas tuas espectativas?"
"Claro."
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
[05/04/2019- Sexta-Feira]
Ainda bem que era tradição escolar dar uma semana livre antes do Baile.
Se não eu estava fodido.
A minha mãe achou estranho eu acordar antes do meio-dia para apenas ir ao shopping. Tinha de me despachar, porém. Hoje, o meu menino de olhos azuis fazia 17 anos e eu já tinha o seu presente encomendado havia semanas.
Entro na loja em mente e sou introduzido por paredes brancas e cinzentas com alguns recortes em dourado. Estava disposto a lhe comprar uma aliança de namoro com uma pequena Lua tingida nele. O Ariel não era muito de ouro, por isso optei por prata.
Aproximo-me do balcão.
"Bom dia, como posso ajudá-lo?" Era uma mulher com alguns anos acima de mim. Cabelos negros com azul claro nas pontas, os olhos verdes e os seus lábios com algum- demasiado- batom negro.
"Venho buscar a minha encomenda."
"Nome?"
"Tera Marshall."
"Sabe o número da encomenda?"
Tiro o papel com o seu número e entrego-lhe, 313 248 317. Ela sorri para mim, depois de conferir que tudo esta correto dentro do sistema e sai para uma área restinta atrás dela.
Passo o olhar pelo relógio aparentemente caro- 8horas e 24 minutos. A mulher só apareceu seis minutos após, o que me deixou preocupado- meia hora depois tinha de estar numa loja de roupas cuja ficava a quase 1 hora do shopping.
"Está aqui a sua encomenda. São 229 dólares, por favor."
Que a minha mesada de vários meses e prendas de Natal em dinheiro valham a pena.
Paguei o valor certo e assim que pus as mãos na caixa, saí do shopping praticamente vazio e peguei no meu carro do seu lugar.
A caminho da loja extremamente cara de roupa, o meu peito sofria por ansiedade. Estava deserto para chegar a casa e convidar o Ariel para o baile com o anel e com o traje. Eu espero que ele aceite, mas mantinha as espectativas baixas, já que um pouco do meu consciente sabia que as chances de ele aceitar eram muito escassas. Seriam nulas, de certeza, se eu não tivesse deixado um bilhete na mesinha de cabeceira.
'Bom dia, meu Rubi! Desculpa não estar aí para alegrar a tua manhã de aniversário, mas estou a preparar o melhor para ti. Espero que gostes do que eu tenho para te apresentar. Amo-te.'
Corria um pouco mais depressa do que os limites de velocidade permitiam. Já esperava ter várias multas de velocidade assim que fosse ver o correio. Não só eu, mas também os meus pais. Como sempre, todavia, eu não me importava. Não agora, não hoje.
Se eu fosse parado pela policia, podia ter a certeza que teria mazelas de tanta força que a minha mãe iria me bater.
Pus a mão de fora do carro e saboreei o vento fresco da manhã pelas nervuras dos meus dedos. Dava-me a sensação de liberdade e de controlo. Como eu amava isto...
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
Cheguei à loja de roupa mesmo em cima do segundo combinado. O empregado que me esperava olhou-me de cima abaixo, porém ele tinha razão- um rapaz despenteado pelo vento, vestido com roupas casuais de desporto à porta de uma loja de luxo que só vendia roupas de marcas.
Estava safo por ser a loja do meu primo mais velho. Ethan, o novo prodígio de design de moda no Globo.
Cumprimentei o empregado com um sorriso e entrei.
"Tera, meu bom homem! Finalmente vieste." O meu primo logo saiu de trás do balcão e abraçou-me pelos ombros. Em seis anos ele não mudou de perfume que eu tanto detestava.
"Eu disse que aparecia quando mais precisava. Hoje tu pagas-me o favor." Disse entre risadas.
"Interesseiro igual a avó." Despenteou-me o pouco de serenidade que o meu cabelo, rasgando sorrisos nostálgicos para ambos os lados.
"Para, Ethan! Sabes que eu odeio isso, caralho." Afastei-me dele e arrumei as minhas roupas. "Tens o meu pedido?"
"Segue-me."
Esperei que ele me desse o caminho para o poder acompanhar. Andamos até ao segundo andar- uma área reservada-. "Criei os fatos especificamente para ti e para o Ariel. Escolhi branco e preto para vocês, respetivamente." Chegamos perto de uma porta branca, onde o meu primo passou um cartão próprio da empresa e abriu-a.
Era o seu escritório.
As paredes eram brancas e vermelhas, simples, sem decorações ou prateleiras. O quarto era apenas ornamentado com manequins ferrados por veludo vermelho e preto.
Haviam dois com lençóis brancos em cima. E foi a essa dupla que ele correu para se por no meio com um sorriso aberto de tanta excitação que sentia.
"Apresento as minhas duas obras-primas."
E destapou-os.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
ARIEL MURPHY
O relógio apontava as treze da tarde, quando ouvi o carro do meu namorado chegar na garagem de casa.
Ele deve-me explicações e não é um bilhete que irá responder às minhas perguntas.
Fico perto de três minutos ao pé da porta de entrada, com a audição atenta em todos os sons vindos de fora. Tera desliga o motor do carro e demora alguns segundos para sair do carro, talvez tenha parado para acender um cigarro? Não, ele não fumaria em casa, não com a sua mãe dentro dela. O toque do carro indicador de que ele estava trancado soa pouco tempo antes de som do sistema da garagem.
Vinte segundos de fúria crescente, a porta de casa abre-se. Ele é introduzido dentro da moradia pelo meu olhar fogaz, irritado, azul e frio. Vi a sua maçã de Adão mexer um pouco, mostrando que ele tinha engolido em seco.
"Onde tiveste?" Cruzei os braços e bati com o pé no chão várias vezes. "Hoje é o meu aniversá-"
"Eu sei, amor. E eu fui buscar a prenda para ti." Ele tentou abraçar-me, mas eu vesti-me, no mesmo momento, de lobo. Afastei-me dele e ouviu rosnar. "Não queres saber o que é?"
"Tera, chegaste mesmo na altura do almoço. Vamos comer."
Tera deixa-me passar pela sua frente em direção à cozinha. Suspiro para libertar toda a irritação que tinha, porém sinto uma mão quente e robusta na minha o que me parou de andar e, de golpe, tirá-la de repente do contacto. "O...O meu beijo?" Fitei as suas pupilas, ele ficou assustado com a minha reação ao seu toque.
Foi nato, desculpa...
Sem dizer uma palavra, aproximei-me dele e encaixei de leve os meus lábios nos seus, as mãos no seu maxilar, equilibrando a sua vontade e aumentando a minha segurança. Beijei a sua bochecha de seguida e voltei ao caminho para a cozinha.
O cheiro a carne grelhada afagou os meus sensos. Todos estavam a sentar-se nos seus lugares, sendo o ultimo a completar a tarefa o Tera. O senhor Marshall ainda estava com o seu casaco policial vestido por cima da sua farda, as mangas puxadas para cima, as cicatrizes de luta eram visíveis. Kira estava ao seu lado, de calções desportivos e sutiã desportivo, ao contrario de todos que estavam na mesa- estavam com roupas adequadas ao tempo rígido da cidade.
Todos já me tinham presenteado logo pela manhã: O senhor Marshall deu-me um boné oficial da policia, a matriarca deu-me outro caderno- já tinha acabado com o antigo que tinha comprado havia dois meses- para que eu pudesse fazer as minhas artes e a Kira, no meio de tanto carinho raro, ofereceu-me um blusão cinza com a bandeira LGBT+ centrada nele. Era esse que eu tinha vestido hoje, assim que o tirara do saco da loja.
"O baile começa a que horas?"
"Ás oito da noite." Kira responde ao senhor Marshall. "O Max e a Kai contrataram uma limusina para nos virem buscar." Ela parou o olhar em mim e no Tera. "Vocês vão, né?"
Passei a mão no pescoço, o olhar tímido.
"Não queres ir, Ariel?" A Dona Chris pousa o olhar por mim, pouco depois de analisar o seu filho. Ele, por sua vez, estava com o olhar desiludido e desanimado.
"Não sei para ser sincero..."
"E vais deixar passar a oportunidade de ver o professor de Química bonito? Ele vai estar de fato hoje..." Kira pisca-me do olho, enquanto bebe o sumo de laranja. "Eu só curto meninas, mas digo que o professor fica sensual de fato.
"E, além de mais, o Tera gast-" O senhor Marshall continua a conversa de me convencer a ir.
"Não contes!"
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
Aproximavam-se das cinco da tarde quando alguém bate à porta do meu quarto. Vesti o roupão branco e longo e ateio com o seu cordel vermelho, tapando o meu corpo nu acabado de tomar banho, e fui em direção à porta. Abri apenas uma brecha para poder ver quem me visitava: Tera.
"Posso entrar?"
Abro mais um pouco a porta, indicando que ele podia entrar. Reparo que ele tinha mudado de roupa. Agora vestia uma jean preta rasgada no joelho, uma t-shirt simples e apertada. O seu cabelo molhado indicava que ele tinha tomado banho ao mesmo tempo que eu. Mesmo com o cheiro do shampoo e do gel de banho, ainda conseguia sentir o seu cheiro fresco a laranja.
Sentou-se na cama e pediu para que eu me sentasse ao seu lado. Ariel, ele não é capaz de te magoar, repeti à minha mente e segui em frente.
Sem nenhum indicio antecedente, ele sai da cama, apenas houve alguns átomos de segundos de intervalo para que ele se baixasse sobre o seu joelho esquerdo. Viu-o morder o lábio inferior, um sinal de ansiedade, ao pegar a minha mão direita, gentilmente, e beijou os nós dos meus dedos.
"O que é que estás a fazer?"
Em vez de se expressar em palavras, com a sua mão esquerda tirou algo dentro do bolso das suas calças. Era uma caixa pequena, negra e quadrada.
Levei a mão à boca quando me apercebi que ele me pedia para ir ao baile daquela maneira romântica.
Eu não acredito nisto...
"Ariel..." Abriu a caixa. Era um anel de prata com uma Lua em cima. Aquele mesmo anel que eu secretamente desenhei no meu caderno já há alguns meses. "Dás-me o prazer de te ter como par para o baile?"
"Eu não tenho...eu não tenho..." Ainda estava abismado com aquilo tudo. "Roupa."
"Eu já tratei disso..." Fez uma pausa. "É um sim?" Os seus lábios foram esticados num sorriso esperançoso. Para o não o desfazer, balancei a cabeça no sentido positivo.
"Sim..." Foram as únicas palavras que saíram da minha boca, antes de sentir o anel ser empurrado contra o meu anelar direito. "Tu és doido..." Analisei melhor a aliança assim que a trouxe para perto do meu olhar. "Isto deve ter custado...imenso dinheiro."
"Não chega nem perto daquilo que tu mereces." Levantou-se. Mesmo antes de ele conseguir completar mais alguma ação, abraço-o pelo pescoço, um ato de agradecimento e casto beijo o seu pescoço. Ele pousou as mãos nas minhas costas, estava surpreso por o ter abraçado daquela maneira um tanto aflitiva, mas logo encaixo os braços à volta do meu corpo, com alguma força.
Parecia que não me queria deixar ir.
A sua testa estava apoiada na curvatura do meu ombro, respirava fundo o meu cheiro de Omega. Ouviu fungar uma vez, o que me assustou, pois ele não é de chorar por algum motivo. Tento afastar o meu corpo do seu, contudo sou parado a meio por outro aperto forte dele. "N-não. Só mais um pouco." E baixou a força no mesmo segundo em que eu relaxei nos seus ombros.
E ficamos alguns minutos ali, abraçados, calados, apenas a aproveitar o momento. Desta vez, consegui sentir o que ele estava a sentir: um sentimento profundo de preocupação e desespero. Ele não queria que eu fosse a lado nenhum, não queria passar por aquela dor que ele tanto me fala. Disse-me: 'é como parte de mim estivesse a morrer devagar e dolorosamente.'
Durantes estes dias em que eu voltei para casa, todos tentam me mostrar o quão bom é estar vivo: Filmes, livros, séries, amigos, comidas, cappuccino, diversão, amor, sentimentos e sensações, lugares, natureza, sol, chuva, tempestades, calor... Sim, era verdade: viver dói, mas antes de um arco-íris tem que haver uma tempestade. Não é?
E aos poucos, o meu arco-íris tem mostrado a sua existência.
"Eu amo-te, Ariel. Eu amo-te tanto." A profundidade que fora transmitida naquelas palavras era impossível de descrever.
Afastei as nossas caras, para que pudesse fitá-lo, o olhar brilhante e o sorriso perfeito. Conectei os nossos lábios durante alguns segundos, mostrando, sem palavras, o quanto o sentimento era reciproco.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
Com a porta trancada, eu e a Kira estávamos no seu quarto, ainda não prontos para descermos e encontrar os outros.
Kira ainda estava a passar a maquilhagem simples e básica que combinaria no seu vestido vermelho. Era um vestido simples, nada de pedras brilhantes nem de rendas, era só vermelho. Um vestido decotado e de alças que lhe batiam pelo meio da coxa. Kira passou um pouco de rímel nas pestanas e um batom bastante vermelho e vivido. Os sapatos de salto alto? Não, ela preferiu ir com as suas sapatilhas da Adidas brancas. Queria manter o pouco de dignidade que ainda tinha.
"O Tera vai-te comer inteiro assim que chegarem em casa." Passou a língua por entres os dentes enquanto sorria para mim através do espelho. Corei com o seu comentário. "Ainda por cima com essas calças."
Minha Lua, que ousadia!
Vi-me um pouco tímido quando me olhei pelo meu reflexo. Trajava uma camisa branca sem qualquer desenho ou figura- optei por não levar a gravata, deixando os primeiros dois botões abertos- e por cima um casaco elegante cinza fechado no botão negro centrado. As calças eram negras e um pouco justas, de cintura um pouco subida. Para completar o conjunto, levava uns sapatos de sola vermelha, extramente caros.
E eu, que no primeiro dia de escola, calcei umas sapatilhas velhas e sujas...
O fato era...lindo, mas não era o meu estilo. Sentia-me estranho vestido nele, já que era a primeira vez que usava este tipo de traje.
Mas tinha altas espectativas que o Tera- que estava no andar de baixo à nossa espera- estivesse mais bonito que eu.
"Ele não tem motivos para me comer. Olha para mim, sou a pessoa mais horr-"
"Nem te atrevas a acabar essa frase, Ariel." Ela caminha até a mim e cola o indicador nos meus lábios. "És lindo com todo o tipo de roupa. E, além do mais, és ruivo de olhos azuis, sardento, com um sorriso lindo, com um corpo perfeito para ti. As outras da escola invejam-te por estares com o meu irmão, e olha que ele não escolhe gente feia para namorar."
"A sério?"
"Ele próprio me disse depois de te ver na primeira aula: 'Tenho um estrangeiro na minha turma. Kira, ele é lindo.' E eu disse: 'É o ruivo?' e ele respondeu que sim." Tirou o indicador dos meus lábios e esfregou-me os ombros. "Tu és perfeito, caralho. Ponto final."
Iria responder ou sorrir em confirmação, mas a porta do quarto encerra qualquer inicio de ação. "Despachem-se, eu quero vos ver antes de ir embora." Era a voz autoritária e querida do senhor Marshall.
"Temos de ir ver o teu futuro marido." Beija-me a bochecha e distancia-se de mim.
Fui o último a sair do quarto, por minha ordem. As minhas mãos tremiam cada vez mais que me aproximava das escadas. Eles estavam lá em baixo, ansiosos. Dei a mão à Kira enquanto formava o mais confiante sorriso possível para aquele momento. E devagar, descemos cada degrau com cautela e lentidão.
Tera e os chefes da casa estavam no hall de entrada, à espera que nos aproximássemos deles. Perdi quase a respiração quando vi tanta beleza num só lugar. Tera estava vestido com um fato branco, que fazia contraste com a camisa negra que ele tinha como segunda pele, as calças eram também brancas e o seu sapato-também caro, mas usado-era negro. Ele tinha uma rosa azul nas mãos, com o meu nome escrito, em letras itálicas numa etiqueta branca colada ao cale negro da folha.
Levei a mão à boca, quando abandonei o ultimo degrau.
Ouvia elogios vindo das outras pessoas presentes, mas eu não conseguia responder ou até mesmo sorrir, estava hipnotizado pelo olhar terno do rapaz na minha frente. O nosso olhar não se desencontrou por um momento, enquanto juntávamos as duas mãos e sorriamos um para o outro.
"Tu estás lindo." Foram as únicas três palavras que foram trocadas entre nós. Eu tinha medo de abrir a boca e soltar algum grunhido e algum som envergonhado.
De facto, o seu fato conseguia intensificar a cor cinza esverdeada dos seus olhos, o que dava um tom especial e único a si mesmo. Iria beijar os seus lábios quentes e, tal igual aos meus, formigantes, porém fui parado pela tosse provocada propositadamente pela mãe.
"Fotografia?" Ela segurava uma câmara Canon, à qual não conseguia identificar o numero de série. Sorri para ela.
Na fotografia, eu fiquei no meio do Tera e da Kira, a pedido deles, com um braço fino e feminino em cima dos meus ombros e uma mão quente e vigorosa na minha. Estava afagado pelo carinho e amor deles, não só o sabia através do toque, mas também pelo brilho e energias que eles transmitiam.
Estava a ficar tudo perfeito, pouco a pouco.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
Eu e a Kira ficamos sem palavras quando vimos os fatos dos irmãos Andrews. Eles eram lindos. Max estava apenas de camisa branca ornamentada escassamente com rosas azuis escuras, as calças eram também escuras assim como a gravata que ele usou. A sua irmã mais nova, sentada no banco de cabedal da limusina, trajava um vestido amarelo torrado complexo que lhe tocava pelo inicio do joelho. Ao contrário da sua namorada, ela tinha os cabelos volumosos soltos, batiam-lhe pela cintura, e não tinha pontas espigadas ou estragadas, o seu cabelo era forte, brilhante e bastante encaracolado. O seu cabelo negro dava contraste à cor do vestido, porém coincidia com a fita negra que ela tinha na cintura, formando um laço um tanto grande das suas costas. Era mais fechado do que o decote extravagante da Kira, sem mangas, contudo Kai usava sapato de salto alto negro. Com batom negro, os seus olhos azuis brilhantes eram avivados.
"'Tou de pau-feito." Kira sussurra ao se sentar em frente da sua beta.
"Minha Lua, Kira, se controle." Max pediu entre gargalhadas. "Nem eu falo assim."
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
Durante os primeiros quinze minutos de viagem, tentava não me mostrar preocupado, no entanto eu estava ansioso e preocupado pela nossa chegada-pela minha chegada, no caso--. Acho que o Tera percebeu como eu me sentia pois não parava de apertar carinhosamente a minha mão e a beijar os meus cabelos.
Decidi falar.
"Como é que acham que eles vão reagir ao me verem...depois...daquilo?" Mordi o lábio e não me atrevi a olhá-los.
"Felizes." Max respondeu confiante. "Você não sabe, mas assim que o assunto rondou a escola, todos os alunos, sem nenhuma exceção ficaram imensamente preocupados com você. Imploram ao Tera para dar notícias suas-"
"Especialmente o Gabriel." Tera interrompeu, suspendendo a cabeça no vidro da viatura.
"A escola está cheia de cartazes com números de linha de apoio. Os professores gastaram um período de aulas para falar sobre suicídio, depressão e bullying."
"O Gabriel sentiu-se imensamente culpado assim que soube. Quis ir logo te ver no hospital, assim como o professor de química."
Cheguei à conclusão que é preciso alguém dar esse passo para que as pessoas se preocuparem de verdade com o próximo, isso quando eles se preocupam. São escassas as pessoas que realmente levam a sério o suicídio e os problemas mentais que levam uma pessoa a fazê-lo.
Na sociedade onde estamos, as pessoas são egoístas e pouco se fodem para o próximo.
Mas preferi deixa as minhas filosofias apenas para mim.
"O máximo que eles podem te fazer é abraçar-te com muita força. Mas sabendo o nível de timidez e orgulho que cada aluno tem, apenas sorrirão, ou irão ficar extremamente felizes, mas não o mostram."
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
E assim foi.
No momento em que pus os dois pés dentro da entrada do recinto privado que o colégio tinha alugado, todos os alunos direcionaram o seu olhar para mim. Parecia que o mundo tinha parado. Alguns deles sorriam abertamente, orgulhosos por eu estar ali, outros, especialmente meninas, tinham lágrimas nos olhos e as duas mãos na boca.
Os professores, especialmente o de Química e o Treinador, tinham se levantado para vir ao meu encontro, o que foi uma tarefas difícil, pois a multidão que estava nas suas frentes- o que dificultou a minha visão de águia- estava pasma.
Olhei para o rapaz ao meu lado, que aparentemente se preparava para falar alguma coisa no meu ouvido, no entanto foi parado por um espectro louro cujo me abraçou fortemente sem qualquer aviso prévio.
Gabriel Lestrange.
Ele tinha os dois braços enrolados no meu tórax, a cabeça pendida pelo queixo no meu ombro, as cinturas alguns centímetros-crucias para a minha sanidade- afastadas.
"Ainda bem que estás aqui, Ariel." Fitou-me. Os seus olhos estavam brilhantes- ele estava a chorar?!- "A escola não conseguia ser a mesma sem o nosso estrangeiro Omega." Riu-se e afastou-se de mim. Ri também. "Feliz aniversário, Ariel."
"Obrigado, Gabriel..."
Sentamos na nossa mesa. Ainda estava envergonhado pelos olhares, embora eles estarem a voltar ao estado normal. E assim, mais descansado, pude olhar bem o local. Era um espaço extremamente grande, dividido em dois espaços pela metade: uma parte apenas para as mesas do baile e outra era a pista de dança. Havia um pequeno palco, perto da pista; duas cadeiras-- parecidas com as da realeza-vermelhas, com uma coroa posta em cada uma-a esquerda era para o Rei do baile e outra para a Rainha do Baile.
O local era rodeado por luzes vermelhas e brancas, as cores representantes do Colégio. As mesas redondas tinham toalhas brancas, cujas eram ornamentadas por pratos brancos com uma linha estreita encarnada, copos de vidro e talheres de metal detalhados com o símbolo do Colégio. As paredes, também brancas, eram decoradas com balões de vários tipos de vermelhos, porém todos tinham o mesmo símbolo a preto. O teto era feito de vidro e era a Lua que dava a iluminação natural e especial para aquela noite.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
O jantar correra bem, mas fora um pouco agitado, pois a cada cinco minutos, eu era interrompido pelos restantes colegas que queriam desejar-me os parabéns com sorrisos verdadeiros nos rostos. Alguns dos meus antigos colegas de equipa pediram-me desculpas por todo o mal que me causaram e, como haviam combinado entre eles, entregaram rosas brancas- a cor da paz-.
Depois do jantar, umas meninas-não eram estudantes- vestidas com o mesmo vestido negro, entregaram papeis vermelhos a cada um dos participantes. Assim que acabaram de distribuir, o Diretor do colégio pegou no microfone e subiu no palco, ficando na frente das cadeiras.
"E como em qualquer Baile escolar, deve haver um Rei e uma Rainha. Dentro desses papeis estão a listas dos casais da escola, e cada um de vocês deve escolher um par para ser elegido. Daqui a dez minutos, as meninas irmã recolher."
E acabou por não dizer mais nada.
Abri então o envelope, na esperança de ver o meu nome ao lado do meu par. Estavam por ordem alfabética, sendo que os primeiros a aparecerem na lista, eram os homens. Procurei o meu nome, mas ele não estava lá. Estranhei. Então desci o meu olhar para os T's.
Tera Marshall & Camoren Diaz
E não era só isso, Kai e Kira também não constavam na lista.
Assim como o de Max fora trocado por Maxine, mesmo depois de ele ter já atualizado os seus documentos e que para a sociedade ele já seja um homem.
"Vejo que o Diretor continua a ser homofóbico..." Mordo o lábio e franzo as sobrancelhas em desaprovação.
"Também viste, não foi?" Tera sussurra no meu ouvido, a voz dececionada.
"Sim."
Max, que ouvira a nossa conversa, levantou-se, contudo, volta-se a sentar no seu lugar, quando sente o cheiro a mar passar por nós.
Camoren Diaz.
"Eu trato disto." Pisca-nos os olhos, antes de seguir caminho para o palco.
Ela vestia um vestido azul-marinho decorado por rendas brancas. Era apertado na cintura, mas tornava-se mais leve a partir das ancas até ao meio das suas coxas finas.
Camoren pega no microfone e pede a atenção de todos. Todos no baile param de sussurrar, mudando da questão de quem iriam escolher para o que é que a Camoren estava a fazer.
Tera pega na minha mão, sentia-o preocupado e um pouco irritado. Nem ele, nem eu queria que ela fizesse publicidade para que a escolham.
"Bem, se puderem olhar para o papel dos casais, podem ver que existem imensos erros nos casais. Para começar, é Max Andrews e não Maxine Andrews. Todos aceitam isso menos o senhor Diretor. Depois, temos a Kira e a Kai que estão juntas desde o primeiro ano. De seguida, mas não menos importante, eu vim com o Gabriel e não com o Tera. Nós acabamos já há imenso tempo, senhor Diretor, aceite, porque eu, teimosa como sou, já aceitei. E por ultimo, o Tera veio com o Ariel, então, por favor, pessoal, risquem o que está errado e ponham certo."
"Camoren Diaz!" O Diretor começou, já irritado com toda a humilhação merecida.
"Não, Diretor, nem comece!" Max levanta-se do meu lado e rapidamente vai abrindo a sua camisa. Ele tinha os olhos um pouco encarnados o que mostrava que ele odiava ser chamado de 'mulher' ou ser relembrado que ele tinha nascido no corpo errado. Ele tirou a camisa por completo, mostrando as duas cicatrizes que ele tinha por debaixo de ambos os mamilos. Os seus abdominais eram bem definidos e rasgadores de suspiros das solteiras presentes. "Me diga, onde eu sou uma mulher?! Onde você vê uma mulher em mim, porque eu não estou enxergando!"
"Quando vai deixar de ser um homofóbico?" Camoren continuou, após Tera ter acalmado o Max com o seu olhar de Alpha. "Por amor à Lua, senhor Diretor, estamos em pleno 2019, que tal deixar as pessoas serem felizes? Mesmo que namorem com pessoas do mesmo sexo, mesmo que para serem felizes tenham de mudar de sexo. Até a minha avó de 75 anos aceita. O problema não é a idade ou as crenças, o problema é a mentalidade da pessoa."
Pessoas aplaudiam as defesas delas, até mesmo os professores.
"Existe tanta homossexualidade no colégio, senhor Diretor. Até no seu sobrinho, sabia?" O Diretor ficou incrédulo, assim como eu e toda a gente. "Até nos seus colegas de trabalho, nos seus melhores amigos. Tem alunos que têm duas mães e o senhor nunca soube. O que vai fazer em relação a isso? Não permitindo casais homossexuais no Baile? Não respeitando os outros? Quando é que vai começar a aceitar que o que está a fazer não irá mudar nada neles? O senhor é que precisa de mudar. O senhor é que está a ser errado. E eu acho que falo por todos. Acho que esta é a opinião de todos nós."
Ouvia-se sim e várias palavras de baixo calão contra o Diretor. Eu estava surpreendido com aquilo tudo. Não só pelo facto de ter sido a Camoren Diaz, a mulher que me destetava, estar a defender toda a nossa comunidade, como também a escola toda, que aparentava nunca aceitar o meu relacionamento com o Tera, seguia-a nos pensamentos.
Sentia a raiva crescente vindo do Diretor.
Ele não falou nada, nem sequer soltou um som, apenas pegou nas suas coisas com má cara, e saiu do recinto, seguido por vários gritos de euforia e de vitória.
Com isto, Camoren abandonou o palco e andou até ao seu banco, o salto pisando o chão de madeira fortemente, sendo aplaudida por todos nós.
Nunca pensei.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
A hora de saber quem é o Rei e a Rainha do Baile chegou. Não podia mentir, estava esperançoso que fosse eu e o Tera. Porém, embora eu quisesse ser, votei na Kira e na Kai enquanto que o Tera votara no Max e as miúdas votaram em mim e no Tera.
O professor de química já tinha os resultados nas mãos. Estava pronto para abrir o envelope negro.
"E os vencedores são: Max Andrews e-ele não tem par. Max as coroas são tuas!"
Eu nunca tinha visto um sorriso tão aberto naquele ser. A sensação de desilusão fora trocada por orgulho quando o vi por a coroa na sua cabeça e tomar o controlo da cadeira. Ele não optou por vestir a camisa de novo, apenas deixou a gravata no mesmo lugar. Era o seu novo traje para o baile. Nem mesmo para as fotografias ele deixou o seu orgulho de lado e mostrou toda a sua sensualidade para os fotógrafos.
E assim continuou o Baile. Depois da entrega da coroa, a musica de festa começou e a pista de dança foi enchida em poucos segundos. Mesmo sendo música eufórica, brasileira, samba e funk-tipologias que eu detesto-não fiquei no meu lugar e, junto com a minha família, dancei do meu jeito desajeitado, no meio de todos os outros colegas.
Estava quente e confortável rodeado por eles. Nunca pensei que iria gostar de dançar os mesmos passos de dança ousados da Kai e acompanhar o Tera nas musicas calmas tocadas pelo Max, no piano vermelho.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
"Vamos dormir naquela casa?" Sussurro, a voz cansada, quando vejo que o Uber tinha ido por caminhos selvagens.
"Sim. Espero que não te importes..." Beija-me os cabelos e volta a pender a cabeça na minha.
Durante a viajem era notável o meu cansaço, uma vez que fora eu que pedi para irmos embora do Baile. Afinal, já eram quase duas da manhã, e eu não queria que o Tera ficasse bêbado.
Queria que esta noite fosse tão especial e importante como o dia. Queria que esta noite fosse o fim de todos os meus medos e da minha ansiedade. Queria que esta noite fosse...a nossa noite.
Não sabia o que ia acontecer depois de que entrámos dentro da casa feita de madeira escura. Não sabia se ia ou não ser capaz de me entregar a ele por completo.
Calei todos os meus pensamentos ao selar os meus lábios nos dele, segundos depois de ouvir a porta ser trancada. Tera assusta-se no começo, no entanto ritribui Foi um beijo vívido, mas ao mesmo tempo calmo. Tera não sabia onde por as mãos, então encaminhei-o a pô-las nas minhas ancas, antes de por os meus braços em volta do seu pescoço. Colei o meu corpo ao dele.
Ele cessou o beijo com outros mais fracos. "Ariel, não precisas de fazer isto, se não qu-"
"Eu quero." Garanti ao mesmo tempo que me afastava dele e tirava a roupa que cobria o meu dorso. "Eu quero ser teu e sentir que és meu. Quero não sentir medo do teu toque dessa maneira."
Ele não falou nada, optou por me mostrar o quão estava ansioso e nervoso por aquele momento. Voltou a sigilar os meus lábios com os dele e, desta vez, não foi preciso eu encaminhá-lo pelo meu corpo. Cauteloso e protetor como sempre, acariciou a minha pele despida ao mesmo tempo que me deitava nas mantas fofas que estava no chão.
À medida que sugava de leve o meu pescoço, pegava na minha mão e fazia carinho nela, para me acalmar, embora eu esteja mais calmo daquilo que espectava. Não sentia medo pelo o futuro, estava confiante de que não teria um colapso nervoso e que as memórias físicas e psicológicas não iriam aparecer naquela noite.
Enquanto despia a sua roupa às pressas, Tera não parou de olhar para mim em momento algum. Ele estava mais nervoso que eu, não queria cometer nenhum erro estúpido e acabar com aquilo.
"Está tudo bem..." Calmo, tirou as minhas calças, juntamente com os meus boxers e, nato, fechei as pernas, tapando o meu íntimo. Segundos depois, porém, voltei a relaxar ao sentir a sua barriga na minha e os seus lábios nos meus. O seu cheiro a laranja voltou a intensificar-se, à medida de que a sua língua explorava a minha boca com detalhe.
Apenas a Lua nos iluminava e o som do vento nos envolvia.
"Tens a certeza?" Sussurrou no meu ouvido e beijou-me a bochecha, as mãos a viajarem pelas minhas coxas nuas.
"Tenho." Voltei a beijá-lo.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
[06/04/2019- Sábado]
Acordei ao mesmo tempo que o Sol começou a mostrar indícios de um dia quente. Faziam alguns minutos que assistia o Tera dormir. Ele estava de barriga para cima, o peito descoberto, o cabelo bagunçado, os braços por cima da sua barriga e as pernas entrelaçadas nas minhas.
Voltei a passar o dedo pelo seu peito coberto, os fios finos e quase inexistentes negros eram iluminados pelo roxo e o laranja de madrugada. Desenhei com o indicador em volta da tatuagem das quatro fazes da Lua perfeitas, postas em linha reta e vertical.
Ainda custava-me acreditar que ele era o meu companheiro...
Fora um choque positivo quando acordei de corpos colados e ver duas tatuagens idênticas em nós dois. Aquelas mesmas marcas que ninguém acreditava que se podiam formar-- representantes de que existem companheiros-- estavam nos nossos corpos.
Quase gritei de euforia quando as vi.
Mas controlei-me para não interromper o sono perlongado dele. Apenas fiquei sentado por entre as mantas polares e as almofadas, envolvido no cheiro a laranja, premiado com a visão que tinha na minha frente: o nascer do Sol rodeado pelas arvores altas, deixava o seu toque de cores naturais do amanhecer à pintura.
"Bom dia." Ouvi a sua voz rouca e fracamente fofa. Voltei o meu rosto na sua direção, o que o assustou, pois eu estava com lágrimas de felicidade nos olhos. "H-hey... O que é que se passa?" Levantou o seu dorso rapidamente para me abraçar por trás.
Ele ainda não tinha reparado na marca.
"Pesadelos de novo?"
"Não, Tera." Sorri e virei por completo o meu corpo.
"Então?"
"Olha aqui."
Desabotoei lentamente os botões da sua camisa de ontem. À medida que a camisa ia deslizando pelos meus braços-- mostrando o estrago que ele deixou--, Tera conseguia visualizar, pouco a pouco, a tatuagem das quatro fases da Lua.
Ele olhou para o seu peito e ficou sem reação por ver a mesma marca. "Nós somos... N-nós somos..."
"Companheir--"
Ele cessa a minha fala com um beijo necessitado e intenso. Não fora preciso explorar as nossas bocas, pois ele logo finita o beijo e respira o meu pescoço, puxando o meu corpo para a frente, ao encontro do seu. De testas coladas, viu emocionar-se levemente por entre um sorriso fechado e sincero.
Agora sim, eu podia dizer que estava tudo perfeito.
"Eu amo-te tanto, Ariel Murphy."
"Eu também te amo, Tera Marshall."
[FIM]
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro