30:[Meu Príncipe...]
Desenho aí em cima é um esboço da Deusa Lua. Não pus coisa mais forte pra não traumatizar vcs.
Musiquinha triste pra ler gente.
Queria agradecer ao Lobo por ter me ajudado em diversas partes neste capítulo. Adoro-te, Lobo <3
E desculpem-me os erros, sem revisão detalhada
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[25/03/2019- Segunda-Feira]
TERA MARSHALL
"Você ainda não falou com o Ariel?" Max pergunta enquanto toca no meu ombro com a sua mão esquerda. Notava preocupação na sua voz.
"Não. Ele que me tem de pedir desculpas." Disse orgulhosa mentira, ao cruzar a porta principal da escola, pronto para a primeira aula depois de um treino intensivo.
"E você também, Tera." Max travou-me ao pé das escadas e olhou para os meus olhos. "Ele errou primeiro, e tu erraste depois. E eu te conheço demasiado bem para acreditar que não sente arrependimento por aquilo que você falou." Baixo a cabeça e suspiro. Ele tinha razão. "E, cara, ele não fala com a gente desde essa sexta. As semanas inteiras: aula- dormitório, aula-dormitório. Nem para comer ele sai, quase."
"Tens razão, Max. Depois da aula eu vou falar com ele, nem que o obrigue a ficar na sala comigo. Tenho de remediar as coisas."
Max sorriu para mim, mostrando os seus dentes perfeitamente brancos e o seu novo piercing prateado na gengiva de cima. "Só dou ideia boa, eu sei."
O sinal altíssimo quase rompe os meus tímpanos, indicando que a primeira aula do dia estava a começar, infelizmente. Pelo menos era Química, e eu não tinha de ficar 100% atento ao que o professor dizia. Então, aproveitarei esta hora para pensar no que diria ao Ariel.
Subimos a enorme escadaria até à sala 56. O professor esperava-nos encostada à porta aberta com os seus livros e o seu portátil apoiado nos braços. Como sempre, fui o último a entrar dentro da sala, o que o irritava pois eu deixava-me ir lentamente para poder aproveitar os meus últimos segundos de liberdade.
Assim que entrei dentro da sala, olhei para o lugar do meu rubi, mas ele não estava lá. O seu lugar estava vazio, limpo, sem vestígios de que ele tenha passado por lá à hoje.
Química, uma das suas disciplinas favorita, com o professor que ele ama, e ele falta?
A minha mente inventa que ele fora apenas à casa de banho ou que tenha se atrasado um pouco, como tem, ultimamente.
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15 minutos e nada.
20 minutos e nada.
25 minutos e nada.
E o meu coração não para de acelerar por conta da ansiedade. Sentia até a ansiedade do professor, mas ele nem ninguém era permitido de sair da sala durante as aulas. Tudo por minha culpa, já que demoro 5 anos para chegar às mesmas e estou sempre a sair sem a autorização dos responsáveis.
Até já tinha lhe pedido para o ir ver, mas o professor não me deixou. E isso deixava-me cada vez mais inquieto. Eu já tinha roído as unhas todas da minha mão direita e quase passava para a esquerda quando o Max me trava. Eu não aguentava mais um segundo dentro daquela sala sem saber como ele estava, sem ele no geral.
Mas não era o sentimento de falta que sentia todas as noites. Era pior. Era mais forte. Era sentimento de perda. Preocupação excessiva. Era um sentimento que apertava o meu coração e me fazia suar frio por todos os lados. Eu sabia que era por causa do Ariel.
"Max, vem comigo."
Foram as minhas últimas palavras antes de sair da sala de aula, pouco me fodendo para o que o professor achava. Ouviu chamar pelo meu nome e apelido, assim como o do Max, que veio logo atrás de mim. Fecho a porta com força e apenas ando sobre o chão infindável do corredor.
"Tera, o que se passa? Está tudo bem?"
"Não, não está nada tubo bem, Max." Assustei-me ao ouvir a minha própria voz trémula. "E eu não sei o que se passa, só sei que algo não está bem."
"Está se sentindo bem? Tontura, fraq-"
"Não é comigo, porra!" Grito, virando-me para trás para o puder encarar. Ele me olha assustado assim que a minha respiração fica de novo acelerada. "É com o Ariel, de certeza. E-Eu não sei explicar, só sei que é." Era como o meu corpo soubesse que algo estava errado. Era como se ele tivesse um mau pressentimento sobre o futuro. Mau, não. Terrível.
Quase abandono o Max, no momento em que a minha mente manda o meu corpo acelerar o passo até o dormitório do Ariel. Salto todos os degraus das escadas, apenas seguro pelo corrimão branco.
Durante toda a corrida desde da sala até ao edifício dos dormitórios, o meu coração não parou de bater com mais intensidade que nunca. Sentia-o nos meus pés, nas minhas orelhas, nas artérias do meu pescoço.
"Tera, por amor à Lua, eu fumei há pouco." Max corre até ao meu encontro, tossindo como se fosse expelir um pulmão. Mesmo assim, eu não espero por ele. O meu foco estava no Ariel.
Segui, com o passo mais acelerado até ao seu quarto. Nunca tinha subido dois andares naquela rapidez, em tão poucos segundos. Acho que toda aquela ansiedade me deixou um pouco mais veloz. Ansiedade que aumentava a cada segundo e que causava a dor insuportável no peito.
A porta estava, agora, na minha frente.
"Ariel?"
"Ariel, está aí, guri?" Nada.
O meu coração bateu mais forte, a ansiedade triplica e o meu instinto berra para que eu arrebente com a porta à minha frente.
E assim o fiz.
O quarto estava escuro.
Assim que eu acendi a luz do meu quarto, o meu coração saltou uma batida para bater tantas outras rapidamente. A gravidade desaparece deixando-me sem chão. As lágrimas começaram a correr e o grito alto sai da minha garganta, assim que vejo o rapaz que eu amo pendurado por uma corda, no meio do quarto, enforcado, com os dedos roxos das mãos curvos pedindo um átomo de oxigénio.
"Não, não, não, não!" Desespero, correndo para os seus pés parados suspensos no ar. "Ariel! Ariel, por amor à Lua, não me faças isso!" Berro, empurro o seu corpo para cima. "Não te atrevas a deixar-me, Ariel! Ouviste-me?! Max!" Ele continuava parado ao pé da porta, pasmo. "MAX!"
Max sobe em cima da cama e com uma tesoura tirada da secretária do quarto, corta a corda grossa com pressa. As suas mãos estão tão trémulas quantos as minhas, mas ele consegue manter a puta da calma e cortar a corta.
"V-Vai chamar ajuda, Max!" Engasgo-me, tentando agarrar no corpo mole do meu rubi. Não o vejo o a sair do quarto, assim que ponho o Ariel no chão. "Ariel, Ariel." Bato no seu rosto com a palma da mão com alguma força. "Hey...Ariel, por favor, a...acorda, vá lá." Beijo sua testa, esperando receber algum simples movimento dele.
Mas ele continua imóvel, branco, parado, mole.
Lua, deixa o meu menino viver...
"A...Ariel? Vá lá, caralho, responde-me." As minhas lágrimas recém-formadas caem contra o seu rosto. Encosto o meu dedão na sua veia carótida e espero que, por mais fraca que fosse, a batida viesse. "Por favor, Ariel. Eu peço-te. Volta para mim. Por favor, prín-príncipe, não me faças isto! Não me faças isto. Não me faças isto. Não me faças isto."
"Minha Lua!" Era a voz da Enfermeira Kate e de trás dela seguia-se o Treinador.
Liberto todo o nó na garganta que estava preso e choro, enquanto eles se aproximavam do corpo dele. Kate levantou as pernas dele e o treinador levou-me para fora do quarto com o telemóvel em linha.
Destruído, caio em cima dos braços do Max e abraça-o com força. Ele chorava, mas, ao contrário de mim, ele fazia-o mudamente. Apenas as lágrimas lhe caiam nos olhos, enquanto os meus grunhidos altos e desesperantes ecoavam por todo o edifício.
"Não, Max. D...Diz que não. Diz que isto não está a acontecer..."
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Vê-lo com uma mascara de oxigénio colada ao seu rosto e com canudos esbranquiçados nos seus braços deixa-me fraco, sem vida, sem um pingo de energia para poder largar a sua mão mole e pálida e ir para casa descansar.
Sentado numa cadeira ao lado da sua maca, não parava de olhar para o seu rosto mais branco do que usual, tentando mais uma vez decorar as suas feições, embora as lágrimas decorrentes não me deixavam.
Encosto a minha testa nos nódulos dos seus dedos e deixo mais lágrimas escaparem. Os meus olhos já ardiam por tanto choro, porém a minha dor nem fazia parte de uma milésima que o meu menino tem sentido.
Ariel, eu peço tanta desculpa.
Eram quase nove horas da noite, quando a minha mãe, vestida com a sua farda de enfermeira, entra dentro do quarto com algumas lágrimas nos olhos. "Querido?" Ela estava quase sem voz, contudo conseguia enxergar a ternura e preocupação nela.
"Ele vai ficar bem, mãe?"
"Estamos à espera dos resultados da TAC, Tera. Mas temos esperanças que não haja grandes danos cerebrais." Suspira. Ela posiciona-se a poucos metros de mim, com a ficha técnica dele do meu lado. Eu não entendia como ela conseguia ser tão profissional, tão...insensível... "Vai para casa descansar, filho. Eu não quero que passes aqui a noite."
"Eu quero estar aqui quando ele acordar."
Atrás da minha mãe vinha o meu pai, ainda vestido do trabalho. "Filho..." Ele aproxima-se de mim. Tiro o meu rosto devastado em angustia e desespero da mão do Ariel e fungo, olhando para ele. "Precisas de descansar, sim?"
A minha mãe agacha-se ao meu lado e passa a mão pelo meu ombro. "Eu vou fazer o turno da noite, hoje. Se ele se mexer, eu ligo-te logo, okay?
"Prometes?" Ergo o meu olhar de volta ao rosto do Ariel e penso de como ele iria se sentir se, assim que acordasse, não visse ninguém do seu lado.
"Eu prometo, Tera." Levanto-me e limpo o meu rosto com a manga da camisa do colégio e abraço o corpo da minha mãe. "Eu amo-te, sim?"
Assinto. E, em seguida, aproximo o meu rosto ao do Ariel e inclino os meus lábios aos dele, massajando os seus caracóis já sem brilho e despenteado. "Sê forte, mais uma vez, amor." Sussurro tão baixo que penso que disse aquilo em pensamento.
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A dor veio como tudo naquela noite. Encolhido no meu colchão agarrado à sua sweater amarela, choro tudo o que tinha guardado, inalando o seu cheiro. Eu sinto a sua falta, do cheiro dele, do seu toque, da sua fala, do seu sorriso, dos seus lábios nos meus, das brincadeiras, das brigas, das falas escocesas que ninguém entendia, do seu lado irritado e fofo ao mesmo tempo, da sua inteligência, da sua maneira audaz, do seu corpo, dos seus desenhos, das suas escritas secretas...
Acendo a luz LED laranjas do meu quarto e olho pela quinquagésima vez para o envelope branco e vermelho em cima da minha cômoda, assim que a sua letra perfeita vem na minha mente mais uma vez.
Até uma carta de suicídio ele escreveu.
Pela última vez tento ganhar coragem, ao inspirar o ar pesado e quente do meu quarto- fazia horas que eu não abria a janela-. Expeli o ar dos pulmões em momentos entrecortados, ainda tremia de ansiedade. E, assim, com a pouca coragem que tinha, peguei no envelope e rasgo a parte de cima.
Vi o meu nome escrito pela sua letra perfeita com um pequeno coração preto no lado. Minha Lua... As lágrimas voltam a descer, mas cesso-as no mesmo instante.
Esperava encontrar um bilhete ou uma folha com algo escrito, mas encontro uma pen preta e branca escondida por entre um pedaço pequeno de papel, que tinha escrito "Desculpa" em escocês.
Puxo o meu portátil para o meu colo e ligo-o. Espero alguns minutos e conecto a pen à entrada. A sua pasta logo é exposta e dentro havia um único ficheiro- Eu peço desculpas...-, um vídeo de alguns minutos.
Carrego nele.
Ariel estava sentado no tapete cinzento do seu dormitório. O sinal interrompe-o mesmo antes de falar, e associo a hora que ele começou a gravar à hora em que eu conversava com o Max, depois do treino.
Ele estava com a mesma t-shirt branca quando o encontrei. Os pulsos descobertos, assim como as suas pernas. Podia ver todos os cortes e cicatrizes da sua pele.
Num suspiro, ele começou a falar: "Olá, leannanne. Se estás a ver isto significa que eu já estou morto. E eu não queria ser outro cliché e escrever uma carta de suicídio, então decidi fazer um vídeo. Eu sei que suíc-- todos estão sempre a dizer-me que suicídio é um ato egoísta, mas, adivinha, a vida também foi egoísta comigo." Ele funga. Os seus olhos libertam mais lágrimas. "Desculpa por ter tido um ato destes, depois de tanta ajuda que me tentaste dar. Não só tu, mas todos os outros. Mas não foi o suficiente...nunca foi." Parou de falar por um segundo. "Por muitos antidepressivos e concelhos que me dessem, eu continuaria sem vida e com as tentações suicidas em mente. Tera, há coisas que nem a pessoa mais forte consegue superar. E-E eu cheguei ao limite.
"Ariel..." Limpo as lágrimas cadentes e passo com os dedos no meu cabelo.
Ele não voltou a falar antes de brincar um pouco com os seus dedos e fungar. "Deves estar a perguntar-te o porquê de eu ter perdido a confiança em ti, de ter começado a ter medo de ti, a partir daquela maldita noite. E é para isso que estou a fazer este vídeo. Está na hora de saberes." A intensidade do choro intensificou-se, fazendo o meu coração doer." O meu pai encontrou-me poucos minutos depois de eu ter saído da festa. Sim, o meu pai, Tera. A...aquele...monstro encontro-me e eu nem sei como ele fugiu da prisão sem ter dado nas vistas. Ele apenas...arrastou-me até casa sem dizer uma palavra. Ele bateu-me, como pudeste ver pelo bom estrago em mim. Mas, as coisas...as coisas...Hum." Levou as duas mãos ao rosto e soluçou, mas, como nada tivesse acontecido, ele voltou a olhar para a camara, os olhos azuis inundados. "...foram por outro lado. E-Ele obrigou-me a fazer coisas que eu jamais queri... que eu jamais queria fazer. E-Ele abusou-me, T...Tera. E disse que faria o mesmo à Kira se contasse a alguém..."
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"E-Ele abusou-me, T...Tera. E disse que faria o mesmo à Kira se contasse a alguém..." Travo a gravação outra vez e limpo os meus olhos, fazendo carinho no Óscar.
"Eu não acredito..." O meu pai atravessa a mesa da cozinha e pega no seu casaco policial. "Esse monstro morre nas minhas mãos, esta noite." Ele pega nas chaves do seu mercedes e agarra no seu rádio.
"Pai, tu vai-"
"Tu sabes como eu me sinto acerca desses monstros, Tera." Os seus olhos tornam-se amarelos brilhantes. "Devia tê-lo morto assim pus os olhos naquela cara." Se eu não tivesse tomado um calmante, de certeza que já estaria dentro do carro do meu pai, há espera dele. "Thomas, escuto." Ele chama o seu companheiro pelo rádio.
"Sim, William."
"Temos trabalho. 5 minutos estou aí."
Seguro pela coleira o Óscar, que já queria sair pela porta recém-aberta de casa. Com cuidado, também me aproximo do meu pai. "Pai, promete-me que voltas a salvo."
"Eu volto. Toma conta da tua irmã." Beija-me a testa e fecha a porta de casa. Segundos depois ouço as sirenes do seu carro policial a distanciar de casa.
Subo até ao meu quarto, seguido pelo Óscar, mas sou parado a meio das escadas pelo meu cansaço e pela minha irmã mais nova. Via que ela também chorava a algum tempo, mas mesmo assim conseguia exprimir um pequeno sorriso ao me vir abraçar calorosamente, as suas mãos em volta da minha cintura, e as minhas em volta do seu pescoço.
"Onde é que o pai foi?" A sua voz estava mais rouca que a minha. Beijo o seu couro louro antes de afastar a minha cabeça da sua e de tentar esboçar o mesmo sorriso que o dela.
"Teve trabalho de última hora." Minto. A última coisa que queria era a minha irmã assustada, furiosa e pasma pelas ameaças jogadas durante estas últimas horas.
"Às duas da manhã?"
"A noite é onde o perigo menos se esconde." E com essas palavras, a minha mente cria várias versões daquilo que não queria imaginar. Merda, sinto as lágrimas descerem pelas minhas bochechas de novo.
"Tens alguma notícia do Ariel?" Ela limpa-me as lágrimas com o polegar gelado.
"Não. E não consigo dormir."
"Eu também não."
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[26/03/2019- Terça-Feira]
E como todas as recentes noites, eu não conseguia dormir. Mesmo com a cabeça dentro da sweater dele, inundado pelo o seu cheiro doce, eu não conseguia acalmar o meu coração. Eu não conseguia! Em menos de uma hora de tentativas, o meu instinto, louco, comanda-me ir ter com o Ariel. E desesperado entrei no carro que a minha mãe mal usa.
Não fazia ideia de quantas multas de velocidade excessiva eu tinha, mas também não queria saber. Não agora.
Chego no Hospital, estaciono o carro em duas parcelas e rapidamente entro dentro do edifício de 15 andares. Nem procuro um funcionário que me pudesse guiar pelo Hospital, pois sabia de cor em que andar, ala, quarto ele estava.
Assim que vejo a minha mãe ainda vestida com a sua farda ao lado do quarto dele, paro de correr feito louco e aproximo-me dela.
"O que estás aqui a fazer, Tera?" Ela olha-me assustada, mas logo a preocupação toma conta das suas feições. "Devias estar em casa, a descansar. O dia não foi-"
"Não. Eu vou ficar."
"Porquê?"
"Porque eu preciso de estar ao pé dele, como ele precisa de estar ao pé de mim. Eu nunca mais vou me afastar dele, mãe, nunca mais. Longe dele eu...ah, caralho, nem sei explicar...eu sinto-me incompleto e desconfortável."
Momento de silêncio.
"Eu vou ficar cá."
"... O que eu posso fazer?, sempre foste teimoso."
"Como é que ele está, mãe? Ele vai...ele vai ficar bem?" Ignorei os seus insultos.
"Ele..." Fez uma longa pausa. "...ainda não acordou, querido. Mas as suas pupilas começaram a dar sinais."
"Isso é um bom sinal, não é?" Chego-me perto do vidro do quarto e sorrio ainda mais por não o ver mais com a máscara e sim com os canudos hospitalares esbranquiçados.
"É ótimo."
"E quando ele vai acordar?"
"Não sabemos. Pode demorar horas, dias. Tudo depende dele."
Assinto com um sorriso triste.
"Está nas mãos da Lua, Tera. Não há nada que podemos fazer. Só o tempo dirá."
"Chris." O médico-chefe da minha mãe a chama com alguma urgência. Ela não teve nem tempo para se despedir, apenas sorriu para mim e correu ao encontro do senhor.
Depois de respirar fundo e criar forças para entrar no compartimento, abro a porta do quarto devagar. Sou recebido pelo som constante do monitor cardíaco e pelo silêncio da sua respiração. O quarto era iluminado pela luz da Lua e por um pequeno candeeiro laranja.
Sento-me no mesmo banco se sentara outrora e pego na sua mão. Ainda está gelada. Celo os meus lábios nela e, da mesma forma que ele me fazia, passei a sua mão pela minha bochecha esquerda e beijei-a de novo.
"Eu ainda preciso de ti, sabes, né?" Sussurro, enquanto passo a minha mão livre pelos seus caracóis descaídos. "Eu não consigo imaginar o meu mundo sem ti, Ariel. Quando tivemos aquela discussão, na noite em que tu te cortaste, eu fiquei imensamente abalado, porque tu prometeste-me que pararias com esse hábito. Eu por muito tempo não percebi o porquê de teres medo do meu toque, e quando me revelaste isso, eu fiquei...fiquei triste, revoltado...dececionado. "
Ele abusou-me, T...Tera.: A sua voz voltou a soar dentro do meu pensamento.
"E...Eu não fazia ideia, Ariel, de que uma coisa daquele calibre podia acontecer. Eu não fazia. E eu peço desculpas por não ter sido mais paciente e por ter explodido." As palavras fogem-me por um momento. "Eu fumei um maço de cigarros naquela noite, para poder encontrar calma e empatia para falar contigo, mas não foi o suficiente. Durante aquela semana, o orgulho, a porra do orgulho, foi maior que o sentimento de arrependimento. Todas as noites, eu-eu...tive de ir ao teu quarto, dormir perto de ti, porque eu sentia falta do teu cheiro, do teu toque, das tuas falas...de tudo. Eu não conseguia dormir sem ti ao meu lado, eu simplesmente não conseguia."
Tentei segurar o choro, mas falhei desesperadamente.
"E eu arrependo-me por ter sido orgulhoso e não ter pensado em nós. E-Eu podia ter falado contigo...ter sido calmo, ter te entendido. Talvez assim tu não tinhas chegado a este ponto."
Subo para cima da maca onde ele estava deitado, e deito-me de lado e deixo todas as minhas emoções destruírem a parede que construí arduamente para as manter fechadas e desabo assim que encosto a minha testa na curvatura do seu pescoço.
"Eu amo-te, Ariel..." Sussurro no seu ouvido, quase sem voz. "Por favor, volta para mim..."
Beijo a sua bochecha e apago a luz do candeeiro hospital, sendo apenas iluminados pela nossa Deusa.
Lua, trá-lo de novo para mim...
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NARRADOR OMNISCIENTE
[??/??/????- ???]
Se houvesse um sítio mais lindo que aquele, ainda não tinha sido descoberto. Um campo verde coberto por flocos de neve minúsculos, mas juntos davam à paisagem um toque branco ofuscante. De encantar qualquer um.
De longe, uma mulher de cabelos brancos e de pele branca estava em pé. O vento balançando o seu vestido branco e cinzento.
"Archiel." A voz era divina, doce, astúcia, calma, mas forte ao mesmo tempo. Cada um que a ouvisse ficaria eternamente com ela na cabeça. "Vem cá."
O rapaz de cabelos escarlate cedeu aos comandos e caminhou pela estrada de terra batida até à mulher. Assim que ela se virou para o encarar, a poucos metros de distância, o rapaz parou de repente. O rosto encheu-se de lágrimas ao ver os olhos cinzentos daquela mulher.
Não era possível...
"Archiel, meu príncipe..."
"Lua?"
"Ainda é cedo para vires para aqui." Passou a mão pelos caracóis caídos do mais novo, puxando-os com gentileza para cima penteando-os. A cada toque que Lua passava pela pele do rosto de Ariel, mais ele se sentia calmo.
Abraçou-a.
Nunca mais sairia dali.
Por muito tempo, ele não sentia uma paz como aquele. Agora que a tinha, não a largava mais.
"Lua, eu não quero voltar. Eu quero ficar aqui contigo...para sempre."
"Archiel." Afastou-se e limpou as lágrimas que ainda desciam.
"Lua, por favor."
"Ouve, príncipe." Ela passou as mãos pelo peito do Omega e calou-o por um momento. Ouvia-se um choro de fundo, pequenos fungos e múrmuros. "Fecha os olhos."
Archiel conseguia míope ver o seu corpo agarrado ao de Tera, naquela cama de hospital. Ele ouviu todas as palavras que o Tera disse. Sentiu o arrependimento do Tera, viu-o engolir todo o orgulho que o matou lentamente.
E a visão do seu namorado a chorar ao corpo do dele, as emoções todas a borbulhem dente dele matavam-no.
Assim como a sensação de perda.
Ele sentia a sua alma a doer dentro daquele corpo. Não só a dele, mas também da do Tera. Era uma dor insuportável, que tinha de ser finita naquele momento.
"As vossas almas estão conectadas, Archiel. Desde que nasceram." Lua sentou-se ao lado do Tera, apenas divididos por duas dimensões diferentes. "Se um morre, leva um pedaço do outro. Deixa um espaço vazio no outro. Sempre acreditaste em Almas Gémeas, os parceiros escolhidos por mim, não foi?"
Archiel assentiu.
"Vocês ainda não se aperceberam que estão conectados, por isso ainda não nasceu a marca." Ela fez uma pausa. "Ele começou a aperceber-se quando começou a perder-te..."
"Ele não me perdeu."
Espontaneamente, aquele tipo de ligação com o mundo desligou-se e os dois voltaram para o campo.
"Príncipe, a tua vida nem sempre não foi fácil, eu sei. Tive sempre um olho em ti. Sempre foste o meu favorito, por alguma razão és o meu príncipe." Pegou na mão do seu príncipe e levou-o até ao mar que que havia perto. "Como um velho ditado diz, não desistas do livro só porque um capítulo é mau."
"E se todos os capítulos forem maus?"
"Eu prometo que não são todos." Ela passou a mão pela água salgada, formando pequenas ondas. As ondulações formaram imagens, imagens de uma porta ser aberta e duas crianças saírem por elas. Não era possível ver os detalhes devido ao desfoque proposital da espuma.
"Elas estão no teu futuro. Elas e muito mais. O livro está a ser horrível neste momento, mas não desistas dele, okay?"
"Okay..."
"Alguma vez desististe de algum desenho?"
"Não."
"E sempre começaram horríveis. E depois tornam-se uma obra de arte, digno de um Omega, não é?"
"Sim."
"Não desistas, nunca... é isso que eu te peço."
[Continua]
SUICIDIO NÃO É A RESPOSTA!
SE QUEREM DESABAFAR, PFF FALEM COMIGO.
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