24:[Cabelos Ruivos]
[20/02/2019- Quinta-Feira]
ARIEL MURPHY
"Ainda não me convidaste para o Baile..." Rocei as minhas pernas nuas nas suas e selei o seu pescoço.
"Apetece-me um cigarro." Arranhou as minhas costas, desviando o tema da conversa.
"À uma e meia da manhã?" Ri com sarcasmo.
"Disse a pessoa que me acordou há meia hora para foder."
Pois.
"Isso não interessa." Pus-me em cima da sua cintura e afastei os seus cabelos da sua testa. A Lua iluminava-nos pouco, o que me irritava um pouco, mas ao mesmo tempo agradava-me, pois dava um toque especial à madrugada fresca e chuvosa que estava. "Interessa-me saber porque é que ainda não tenho um par para o Baile."
"Minha Lua, apetece-me mesmo um cigarro."
"Para de mudar de assunto! E de fumar!" Apertei o se maxilar com raiva. Porém, ele ainda assim foi capaz de me paralisar com o seu olhar nocivo. "Essa fuligem só causa problemas para a saúde."
"fuli—quem?"
"fuligem: porcaria, sujidade." Enumerei sinónimos. "Gabriel Lestrange."
"Mas eu estou viciado nessa fuligem. Cura o stress." Sentou-se encostado na parede, ainda comigo em cima da sua cintura. As suas mãos percorreram as minhas costas nuas e apertaram a carne das minhas pernas, logo em seguida.
"Eu também curo o stress e não estás viciado em mim." Resmunguei, cruzando os braços e biquei o lábio inferior. "Podia ser o teu cigarro."
"E estavas na minha boca todo o dia?" Inclinou-se para a frente e mordeu o mesmo lábio com os seus caninos afiados.
"Com uma condição." Puxei os seus cabelos para trás e a minha íris encontrou a sua. "Eu ser o teu par para o Baile." Ele não abriu a sua boca e nem sequer rosnou em desaprovação.
"Feito. Agora vem cá." Pôs a sua mão direita por detrás da minha nuca e puxou-me contra os seus lábios. Beijou-me.
E que beijo.
A sua língua dançava com a minha, enquanto os nossos corpos em completa nudez encontravam-se em sincronia com a melodia. O seu sabor a laranja juntou-se ao meu, formando um doce e fresco sabor a frutas. Cada vez ficava mais viciado no sabor e cada vez pedia mais e mais forte. Eu amava esta droga. Amava a maneira como ela me acalmava e enlouquecia. Amava os seus lábios, a robustez contra a suavidade que os meus possuíam, a rudez que ele transmitia e cada toque, a falta que ele passava nos seus dedos. A cada segundo, eu queria explorar o seu inexplorável.
"Chamas-me de animal, mas também és um." Sussurrou, trilhando beijos pelo meu queixo. "Que mais segredos tens que eu não sei?"
Arranhei o seu peitoral, quando senti os seus dedos agarrarem a minha carne macia. As nossas barrigas colaram-se ao passo que ele me mordia cada sarda cervical minha. As suas mãos brutas estalaram os meus glúteos e arranharam as minhas coxas até metade.
"Descobre." Beijei o seu ombro com desejo e mexi um pouco a minha cintura, ouvindo-o suspirar. A sua mão destra tocou-me entre as pernas, enquanto beliscava cada centímetro de pele.
Insatisfeito, deitei-o na cama, com as costas viradas para o colchão. Preso pelos meus braços e eu sentado em cima da sua barriga, beijei-o novamente com a mesma intensidade. Porém, ele logo tomou as rédeas do momento e atacou o meu ombro com mordidas.
A sua esquerdina pousou na minha cintura e empurrou-a para baixo, deitando-me em seguida no colchão e algemando-me com as suas hábeis mãos. O seu joelho, já entre as minhas pernas, afastou-as para me deixar completamente à sua mercê e vontade.
Ayy, I've been fuckin' hoes and poppin' pillies
Man, I feel just like a rockstar (star)
Ayy, ayy, all my brothers got that gas
And they always be smokin' like a Rasta
Fuckin' with me, call up on a Uzi
O som tocou debaixo da almofada onde eu tinha a cabeça pousada. Quem foi o adubo que tem a ousadia de nos interromper neste momento? Tera puxou o aparelho e levou-o à orelha.
"Não é uma boa altura, Camoren."
Estás a brincar.- disse sem expressar qualquer som- Desliga isso.
"Pessoal? Tens a certeza?" Desanimado e sem esperanças, afastei-me do seu corpo e coloquei-me de lado, tapando-me em seguida com o lençol branco. Ele, por sua vez, sentou-se na borda da cama, ao meu lado. "Não, Camoren, não." A sua mão acarinhava o meu ombro em pedido de desculpa e rendição. "Eu prometo." Tirei a sua mão de cima de mim e tapei-me por completo. "Xa—sim, prometo. Xau."
"O que é que essa queria?" Disse ao mesmo tempo que ele desligava a porcaria do telemóvel e punha-o no chão.
"Ela quer que eu vá ter com ela ao Stars."
"Stars?"
"O Boate." Suspirou, infeliz. "Eu disse que não posso."
"Mas querias ir." Deduzi.
"Ciúmes, Ariel Murphy?"
"Não, Tera Marshall. Só chateado, desiludido, irritado, triste, aborrecido."
"Porquê?"
A inteligência não é o ponto forte dos Alphas, pois não?
"Oh." Mordeu o lábio e riu, atrevido. "Podemos solucionar isso."
Pegou nos meus braços e tentou selar os nossos lábios de novo, porém afastei-me, rapidamente.
"Agora, não quero." Passou a língua pelo canino. "Recompensa-me sem relações sexuais."
"...Está bem."
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
A floresta estava escura. Apenas sabia por onde passava devido à luz branca que o carro expunha na frente. O orvalho caia em cima do vidro em períodos constantes e a música Visions of Gideon acompanhava perfeitamente o ritmo da natureza. Tera cantarolava baixo a letra enquanto eu tentava adivinhar o sítio onde ele me levava.
Não fazia ser no meio da floresta, porém.
Esperei mais quinze minutos e o carro parou em frente de uma pequena casa feita de madeira escura. Notei o estado velho e gastado da madeira, e deduzi que tivesse ao abandono há décadas. Porquê aqui, Tera? O que esta casa tem a haver contigo?
Tera abriu a porta do meu lado com uma vénia enquanto sorria orgulhoso e ansioso.
"Onde estamos?"
"O sítio que eu gosto de chamar de Refúgio."
Ele pegou na minha mão e puxou-me com gentileza- e com alguma pressa- para dentro da casa.
Por dentro, a casa parecia ter sido limpa e arrumada havia dois dias.
Tera carregou num interruptor e uma luz laranja inundou o pequeno e único compartimento. Haviam mantas e cobertas no chão feito de pedra e quatro almofadas por cima dos mesmos. Encostada nas paredes de madeira uma mesa com garrafas de vinho e whisky vazias juntas com copos de vidro limpos.
Tera tira o meu casaco com paciência e beija o meu pescoço casto.
"Senta-te." Puxou-me pela cintura e ajudou-me a sentar em cima das mantas. De seguida, ele puxa um fio cujo estava ao pé da parede no meu frontal, levantando um pano branco que- só agora reparei- estava na minha frente. A paisagem da floresta foi revelada e eu apaixonei-me por ela em instantes.
A Lua brilhava numa fenda de nuvens que se formara- ao que parecia- por minha causa. As estrelas acompanhavam o Astro, umas brilhando mais tons azulados e brancos, outras brilhando tons torrados e castanhos. As árvores altas, em tons verdes escuros, terminavam a pintura natural.
Era a perfeição aos meus olhos.
Tera entregou-me uma caneca com algum líquido escuro dentro dela. Pelo cheiro, presumi que era café fraco. Ele sentou-se logo ao pé de mim, com uma caneca igual, mas com um líquido vermelho e um pouco mais espesso. "O que é?"
"Ginga."
Ele pegou no telemóvel- estúpido, idiota, desprezível, inútil- e pôs uma música com baixo volume. O momento ficou perfeito desde aquele momento. Eu e o meu namorado, sozinhos numa casa, abraçados pelo calor das mangas com as nossas bebidas- quase- favoritas, ao som de uma música calma e arrastada e com uma visão obrada para nós.
Encostando a minha cabeça no seu ombro, passei a minha mão pelo seu joelho. A sua perna logo ficou em cima das minhas, e os seus dedos percorreram a minha cintura.
"Porquê refúgio?" A pergunta saiu sem a minha autorização. Acho que a curiosidade dominou a minha boca e deixou-se falar.
Riu, fraco.
"Quando eu tinha 12 anos, eu era uma criança frustrada." Começou, calmo. "Estava sempre zangado com tudo. Com os meus pais, com a Kira, com a escola, com as minhas amizades, com o amor. E sempre vinha para aqui, quando tinha a ira a altos níveis." Bebeu um pouco da sua bebida e suspirou. "Eu partia tudo que estava aqui. Esmurrava as árvores, gritava comigo mesmo. E depois tudo ficava bem. Mas cada vez que eu voltava para casa, era induzido a vários problemas. E houve uma vez, tinha quinze na altura penso eu, em que voltei para casa e a minha mãe estava mesmo chateada comigo. Ela bateu-me por um motivo que eu nem hoje sei qual foi. Eu corri para aqui. Foi nessa noite, aqui que fumei pela primeira vez.
Acarinhei o seu queixo com os meus dedos e puxei o seu rosto para os meus lábios. Um gesto de agradecimento por ele se ter aberto um pouco mais para mim.
"Tu tinhas algum refúgio?" Perguntou, respirando o perfume libertado pelo meu pescoço.
"Os livros, as canetas, os desenhos." Mordi o lábio ao reparar o seu olhar intenso sobre mim. "E uma foto da minha mãe."
Ele travou.
Tirei o telemóvel do meu bolso das calças e tirei a sua capa negra com desenhos meus colados nela. A fotografia pequena e velha dela logo caiu em cima das nossas pernas tapadas, virada ao contrário. Antes de a inverter, toquei para o recorte amarelado com a ponta nos dedos já vendo os seus cabelos ruivos saírem pela porta pela última vez.
Mesmo paralisado pelas imagens traumatizantes, virei a imagem.
Eu tinha dois anos na altura. A imagem tinha sido tirada por uma amiga da minha mãe num descampando com ervas secas. Eu estava no seu colo, abraçado ao seu pescoço fino e sardento, enquanto brincava com os seus cabelos com as mãos. Ela beijava-me a testa com carinho e com um grande sorriso na cara. Eu não me lembrava o porquê de ela estar com um vestido branco- ela nunca usava vestidos- e eu, um bebe de dois ano, estar vestido tão formalmente. Um casamento, talvez?
"Ela era bonita." Sussurrou. "Parecida contigo, Rubi." Apertou a minha mão ao ver os meus olhos ficarem cristalizados. Nem eu tinha notado, contudo já estava perdido no momento, viajando nas minhas memórias mais antigas e as mais recentes. Cada viagem que fazia, cada imagem que via da minha mãe era acompanhada pela glorificação dos seus cabelos tão ruivos quantos os meus.
Eu amava o seu cabelo,
E foi a última coisa que vi.
"Ela amava-me tanto, Tera. E eu amava-a da mesma forma." Passei a minha íris por todo o seu rosto. "Sinto falta desse amor. Sinto falta dela." Limpo uma lágrima que cai pela minha bochecha.
"Rubi..."
"Tenho saudades de como ela me ensinava a ler." Os seus dedos percorriam as linhas invisíveis dos livros, enquanto ela lia devagar as palavras que eu ainda não sabia prenunciar. "De como ela me penteava, quando acabava de tomar banho. Das músicas antigas que ela cantava para me fazer dormir." Relembrei cada toque seu e do seu tom de voz fino e calmo. Minha Lua, que saudades. "Ela dizia-me todas as noites que o dia seguinte iria ser melhor e que iríamos voltar para a Escócia. E eu perguntava todas as manhãs a que horas iríamos partir." Criança estúpida. "E seis anos depois, ainda estou em Anoía... sem ela."
Fora Tera a limpar as próximas lágrimas persistentes que desceram pelo meu rosto. Ele não sabe o que eu sinto, não sabe a dor que é ver a própria mãe sair da porta de casa sem se despedir, e nunca mais voltar;
A dor que se sente ao apercebermo-nos que fomos abandonados por alguém que jurou amar-nos para todo o sempre.
"Eu só queria eu ela voltasse para me ver. Queria voltar os seus olhos, as suas sardas, o seu sorriso confortante, a sentir o cheiro a bebé. Ela sempre passava um gel de banho para bebés." Ri, fraco e quase insonoro, afastando as suas mãos da minha cara e, agarradas às minhas, pousá-las no nosso colo. "Foi a partir dela que comecei a desenhar- a tua irmã e a Kai devem saber disso- e mais tarde a escrever também. Ela sempre me dizia: encontra uma forma de te expressares. E eu encontrei nos desenhos e na escrita.
"Daí estares sempre com o caderno nas mãos."
"Sim. Durante os anos inteiros em que eu passei naquela casa sem a minha mãe, ou eu estava a escrever ou a desenhar qualquer coisa. Ainda devem haver vários diários meus no sótão."
"Não gostavas de os voltar a ler?"
"Não. Tudo o que eu escrevia era um resumo do que ele me fazia. E eu preferia deixar isso no passado e nunca mais voltar a tocar no assunto."
"Claro."
Outra pergunta curiosa surgiu e, em átomos de segundo, saiu da minha boca.
"Alguma vez o teu pai tentou..."
"Não. Ele fingia que eu não existia. Foram poucas as palavras que trocamos."
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
"E-E houve uma vez que eu cheguei todo sujo a casa e a minha mãe correu ao pé de mim e começou a fazer um filme. Ainda estávamos na Escócia nessa altura. Dizia que se o pai me visse naquele estado, ele tinha um ataque cardíaco." Ri-me na tentativa de o fazer rir também, mas a sua risada não veio e os seus toques na minha barriga tinham parado.
Levantei a minha cabeça para ver o seu perfil encostado ao meu peito, os seus olhos estavam fechados e a sua boca ligeiramente aberta. Ele estava a dormir. Os seus braços estavam em volta dos meus quadris e as suas pernas sobre as minhas. A sua posição de propriedade. Não parei de brincar com os seus cabelos, puxando-os com leveza para trás, para depois o despentear. Ele adorava que eu fizesse isso e temia que, se parasse, ele acordasse.
Desliguei a música do seu telemóvel e deparei-me com uma das milhares de mensagens de Camoren Diaz. Deslizo a notificação para baixo e leio: Eu não acredito que escolheste ficar com o chupa-pilas em vez de vires comigo ao Stars. Tera, desapontaste-me. Eu precisava de ti, hoje, agora, e nem sequer me respondes às mensagens. Tu prometeste dar-me apoio nisto, paixão. Prometeste."
[Continua]
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