11:[ Samba na cara da sociedade, viado!]
ARIEL MURPHY
"Ariel?" Acordei ao sentir alguém abanar os meus ombros de forma brusca. "Acorda, caralho!" Remexi-me até conseguir me soltar daquele incómodo.
"Deixa-me dormir." Deitei-me de barriga para baixo e abracei o que parecia ser uma almofada. Não tinha forças- nem vontade- para sair daquela cama nem daqueles lençóis quentes e com cheiro a laranja doce. Estou tão quente e confortável, não quero sair daqui nunca mais. "Por favor." Afoguei o meu nariz na almofada e sorri nato. Sentia-me tão seguro aqui.
"Acorda, pivete!" Após ouvir estas palavras, a minha nádega direita ardeu o bastante para que eu não pudesse conter um pequeno grito de dor, ao contrair todos os músculos do meu corpo.
"Max!" Agarrei na almofada, que outrora estava debaixo da minha cabeça e bofeteei-o no seu rosto quadrado. "Gwirion!" Tera apenas se ria genuíno do momento. "E para de te rir! Estava a dormir tão bem!"
"Claro que na minha cama todos dormem bem!"
Espera!
Acabei de dormir com dois Alphas?
Numa cama onde um Alpha dorme diariamente?
Na cama onde o Tera dorme diariamente?
Impossível!
"Minha Lua, estás a corar tanto!" Tera começou a rir de novo, levando, também, o Max por esse caminho. Corei ainda mais.
"Parem de gozar comigo!" Cruzei os braços em volta da almofada que tinha posto por cima das minhas pernas traçadas. "E por que razão estão vestidos com o equipamento?"
"Porque são sete e um quarto. Horas e irmos para o treino."
Resmunguei em desgosto, antes de me levantar da cama com a cara mais sofrida que podia fazer naquele momento. O frio logo invadiu as minhas sensações, obrigando o meu subconsciente a desrespeitar a Lua por dar-nos um tempo destes em plena manhã- embora eu gostasse, mas por vezes preciso de um pouco de calor-.
"Tome o seu equipamento." Max atirou o meu traje desportivo para perto de mim. "Se despache."
"Vocês entraram no meu dormitório?" Questionei com o objetivo de queimar o tempo necessário para que o Tera percebesse que eu não queria me despir na frente deles.
"Sim. Fomos ontem de madrugada Ainda de te chamamos, mas não quiseste acordar." Tera percebeu o porquê daquela pregunta e destrancou a casa de banho. Peguei na minha roupa e entrei.
"Porque você não se veste aqui? Somos homens." Max indagou confuso.
"Gosto de privacidade." Afirmei antes de fechar a porta por detrás de mim.
Ao fim de alguns minutos, estava pronto para sair do cubículo mais largo que o meu. No entanto, decidi fitar-me ao espelho. A t-shirt vermelha era me ligeiramente larga e as suas mangas curtas tapavam quase metade dos meus antebraços. O símbolo da escola- a cabeça de um lobo- estava estampada em cima do meu coração. Nas costas, o número 01 em letras brancas estava com o nome "Murphy" por baixo. No lado dos calções negros, o mesmo número.
Permiti-me sorrir, antes de sair da casa de banho.
"Pronto?"
"Tha."
Saímos do edifício e caminhamos em direção ao pavilhão de paredes brancas. Eu estava a frente deles, com o paço apressado, enquanto eles andavam relaxados entre risos.
"Cara, acredite em mim: o Ruivinho tem um quadril melhor que a sua namorada."
Espera, outra vez.
"E por que caralhos olhas para o cu da minha namorada?!"
"Cu?"
"E-eu tenho um rabo assi tão grande?" Parei de andar e dobrei-me para ter as certezas que estava tudo no lugar. Estava tudo normal. Estava tudo como sempre. O que o Max vê que eu não vejo?
"Marshall?"
"O que eu tenho a haver com isso?"
"Compara aquele cuzinho rechonchudo com a tábua da Camoren!" Antes que algum pudesse acrescentar mais alguma coisa, agarrei nas pregas da t-shirt e baixei-as o máximo possível para poder tapar as minhas ancas. "Se você desse uma estalada ali, veria o quão bom aqui—"
"Max!" Interrompi-o, antes de abrir as comportas do pavilhão e entrar.
Larguei a t-shirt do equipamento e dirigi-me ao campo, num passo apressado. Alguns dos meus colegas de equipa já estavam a aquecer separados em duas filas, outros estavam deitados ou sentados no chão à espera que o dia acabasse para voltar aos seus dormitórios. Corri até à baliza, que estava no meio do fim do pavilhão e saltei para tocar na barra de cima.
Nestas últimas semanas notei que o treinador se atrasava um pouco, que já não dormia cá como alguns professores. Então comecei a aquecer sem as suas informações. Mesmo com maior parte da concentração em mim, um olho sempre fitava aqueles dois. Ambos se riam e chutavam a bola no pouco espaço que existia entre ambos. Max estava de costas para mim, enquanto que o Tera, de momentos em momentos, olhava para a baliza, para mim.
"Achas?" Li os lábios do Tera, com a minha experiência e talento para esta capacidade. Ele disse alguma outra coisa que eu não consegui ler, apenas conseguia entender pequenas palavras. "Nunca lhe faria isso." Olhou para mim e disse. Quando reparou que escutava a sua conversa, cessou a sua fala e começou a dar toques seguidos na bola.
Estranho.
"Desculpem o atraso, crianças, outra vez." O treinador apareceu com uma data de papelada entre as mãos. Ele estava bagunçado dos pés à cabeça: O cabelo parecia que não era penteado há dias e a roupa estava toda amarrotada. Reunimo-nos ao pé dele e sentamos no chão frio. "Estive a tratar uns assuntos importantes com a enfermeira." Risadas maliciosas tomaram o local, deixando o treinador sem qualquer reação. Marshall, chega aqui." Puxou o Tera pelo braço e entregou um pouco da papelada. "Estão cá todos?" Deu uma leve olhada pelas cabeças e contou-as. "O Gabriel?"
"Estou aqui, Treinador." Por instinto, olhei para onde a voz saia, da porta de entrada principal. "Desculpe o atraso, também." Caminhou até ao meu lado direito. Baixei a cabeça em submissão. Tínhamos ambos as mãos atrás das costas e as pernas um pouco afastadas.
"Fui ontem há noite informado que fomos convocados paras as eliminatórias da próxima semana do Campeonato Regional. E como todos devem saber, nós temos de passar por elas para chegar aos quartos-de- final. Esse é o nosso objetivo mínimo a cumprir, mas como a escola é competitiva, quer chegar às finais e ganhar, para mantermos o nosso pódio e termos aquela beleza de taça pela terceira vez consecutiva."
Levantei o olhar para o treinador, mas antes de chegar ao destino final, ficou parado no olhar de ódio do Tera, que fitava o rapaz ao meu lado.
"Posso dizer uma coisa, treinador?" Gabriel disse, e o treinador assentiu. "Nós temos um novo membro na equipa, o Ariel Murphy." Senti a sua mão por cima do meu ombro esquerdo. "E acho que devemos apresentar a equipa como uma pessoa." Olhou para mim. "Nós, Wolves, começamos apenas com 11 participantes e éramos clandestinos, sendo eu, o Marshall, o Andrews, o Felix e o Fill como os primeiros membros da equipa do décimo ano, e isto há três anos. Convidamos várias pessoas dos outros anos- que já não estão cá-, e construímos, assim a equipa. Treinamos sem qualquer treinador, num pequeno terreno aqui perto, e podíamos dizer, que éramos unidos. Participamos pela primeira vez no campeonato e no primeiro ano ganhamos. E foi incrível." Ele afastou-se de mim e juntou-se ao Tera, pondo, também a mão no seu ombro. Reparei, então, que tudo não passava de um desafio entre os dois "O que quero dizer com isto. Sim, és Omega e és o novo guarda-redes da equipa, mas, por favor, não nos tires a taça. Faz o máximo para que não percamos."
"Também é o teu trabalho, Gabriel." Tera tirou as mãos dele de cima do seu ombro. "Ele não é melhor que tu, e tu também não és melhor que ele." Os dois trocaram olhares competidores e afastaram-se.
"Eu não disse isso."
"Insinuas-te."
"Está bem, rapazes. Vocês já nem se podem ver, já se entendeu." O treinador pôs-se entre os dois e continuou o seu discurso. "Continuando. Eu quero que esta semana deem o máximo para se prepararem para o começo do campeonato. Agora podem formar pares, menos tu. "Apontou para mim. "E fazerem passos de biqueira."
Enquanto que os pares normais se juntavam, eu dirigi-me à baliza e voltei a saltar para tocar na barra. O treinador trouxe uma bola especialmente para mim e mandou-a ao ar com alguma força.
Enquanto não deixava que nenhuma bola abanasse as redes, pensava na apresentação, que se aproximava. Eu não era muito de falar à frente de muita gente, e muito menos para uma avaliação. O coração já batia depressa e ainda falta alguns dias. Tenho medo de estragar a apresentação com a pilha de nervos que era. Terá contrastava comigo, ele parece ser aquelas pessoas confiantes que apresentam como se estivessem a falar consigo mesmas, sem medo do que as outras pessoas estão a pensar.
"Ariel, concentra-te." O treinador mandou-me um ultimo remate, antes de chamar os demais. Antes de ordenar mais alguma coisa, olhou para mim, com um sorriso desafiante e obscuro na mente. Oh não...
"Treinador, por favor, não!"
"Duas filas! Cada um com uma bola."
"Não!" Sussurrei e fui de novo para a baliza, aterrorizado. Eu não estava pronto para aquele exercício.
"Não quero pena contra o Ariel, é com força!" E foi a gota d'água para eu me encolher e esperar que todas as bolas fossem parar ao meu corpo. "Ariel, por favor..." Pus-me direito e em posição para-me- defender. "Prontos?" Levou o apito à boca e apitou.
Consegui defender algumas, mas quando chegou a quinta, a sexta já vinha junta com mais 3 bolas. E há medida que chegavam, maior era a potência do remate.
"AH!" Corri para fora da baliza e passei as mãos pelos cabelos. "Assim não dá!" A equipa toda começou a rir-se da minha figura ridícula. "Não são vocês que estão lá, é normal que se riam."
"Outra vez!" O treinador rugiu, cessando todas as gargalhadas. Deixei um pequeno ganido sair por entre os lábios.
"É desta que eu morro." Sussurrei apenas para mim.
"Prontos?" Mesmo que não estivesse, o apito irritante soou pelo pavilhão, e eu fiz um esforço para não ceder aos meus instintos, que gritavam para eu fugir dali. Não tive nem tempo para fechar os olhos ou mesmo para recuperar o fôlego, que logo senti o meu nariz a arder, os meus olhos lacrimejarem e traseiro bater contra o chão.
"Porra!" Levei, instantaneamente as mãos à cara e fechei os olhos com força, na tentativa de aliviar um pouco o formigueiro que, aos poucos, apoderava-se do meu nariz. Gemia de dores, constantemente, e o meu corpo encolhia-se, à medida que a dor aumentava.
Eu não acredito que levei com uma bolada na cara.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
"Vamos nos atrasar." Disse depois de passar o papel higiénico no nariz pela milésima vez. Um fio de sangue ainda era notável, mas não era nada de muito alarmante.
"E? Qualquer das formas, era Física e Química. O professor até fica contente se eu não aparecer." Tera estava ao meu lado. Fazia-me companhia na enfermaria da escola, que ficava a poucos metros do pavilhão. Era um espaço bem pequeno, com meramente duas macas com cobertores limpos. Eu estava sentado numa delas, com as pernas penduradas. Eu era tão baixo, que os meus pés tinham de fazer um esforço para tocar só com os dedinhos. Tera, por sua vez, estava sentado numa cadeira de ferro, com a cabeça apoiada nos braços.
Ainda ficava corado pela maneira como ele suplicou ao treinador para vir comigo à enfermaria. No início, pensei que ele apenas queria faltar as aulas, porém, a caminho da enfermaria, ele foi extremamente carinhoso e atencioso comigo, mostrando que ele realmente queria me auxiliar.
"Como estão os seus hematomas, menino Marshall?" A enfermeira entrou no meu campo de visão e examinou-me mais uma vez o nariz. Não parava de olhar para os seus traços: olhos castanhos creme cujo combinavam com a sua cor um pouco escura e os seus cabelos negros que pareciam ter sido esticados esta manhã.
"Estão a melhorar."
"Já lhe disse e vou voltar a dizer: Não se conquista a paz com guerra." Eles trocaram os olhares e sorriram. Num movimento repentino, a enfermeira fita-me e aperta-me as bochechas, apanhando-me de surpresa. "Não sigas o caminho deles, Xuxuzinho. Eles são meninos maus." A enfermeira qual desconhecia o nome, despenteou-me os cabelos com a outra mão e distanciou-se de mim.
"Eles sãos meninos maus." Tera imitava as falas dela com uma voz que me permitiu rir sem parar. Os dois voltaram a trocar olhares letais, antes de me acompanharem nas gargalhadas. Não pude deixar de reparar que os dois eram cúmplices um do outro, e que pareciam que se conheciam há algum tempo.
"Bem, o teu nariz não tem qualquer fratura, então... Acho que estão dispensados." A enfermeira ajudou-me a sair da maca e entregou-me ao capitão, que já se tinha levantado. "Qualquer tontura, vómito ou alguma coisa parecida, informem-me." Assenti com a cabeça e pus a mão na maçaneta. "Ok. Até amanhã!"
"Porquê 'até amanhã'?"
"Porque todos os guarda-redes desta equipa sofrem muito...muito mesmo."
"O-Obrigado pelo aviso.
Mesmo com todo o medo que aquela frase me causava, sai da enfermaria com um sorriso. Tera apenas se ria da minha reação. De certeza que eu estava pálido e com os olhos em pratos.
"Não a ligues."
"Sim, claro, só me disseram que eu estou em risco de vida." Caminhava de costas para o caminho, para ter uma visão melhor dele. Tera caminhava com o capuz da camisola vermelho em cima da sua cabeça e com as mãos resguardadas do frio. Embora parecesse quente, os pelos das suas pernas estavam hirtos. O vento que se fazia um pouco presente batia nas suas pernas despidas, deixando-as geladas. Só de olhar, um arrepio passou-me pela espinha. "Agora vamos para a aula, não é?" já esperava uma resposta negativa.
"Não! Ariel é Quí—"
Pus a mão direita na sua, frente. "Nem Ariel, nem meio Ariel! Tu vais às aulas, e sabes porquê?" Nem o deixei responder. "Porque tens umas notas horríveis a Química. Só não vais a recuperação por sorte, Tera!"
"Eu sei, mãe!"
"Não me interessa se estou a fazer papel da tua mãe. Tu vais à aula!"
"Não mandas em mim!" Acelerou o passo e passou por mim.
"Tera L. Cooper Due Marshall!" Bati o pé no cimento.
"Como sabes o meu nome tod—"
Andei até estar ao mesmo nível que ele. "Eu sou guarda-redes, idiota. Eu sei tudo sobre todos." Larguei uma gargalhada curta. "Nem me obrigues a desvendar o que o L é!"
"Não, não, eu vou. Eu vou!"
"Ainda bem." Entrelacei os dedos e soprei para dentro das minhas mãos.
Poucos minutos depois, estávamos à frente da porta números 23. Antes de paramos no local de desembarque, travamos nalgumas paragens, os nossos dormitórios para podermos buscar as nossas malas. Com o silêncio dos corredores inteiros, era fácil ouvir as nossas respirações lentas.
"Podemos, professor?" Abri a porta e pus a cabeça no frecho que criei.
"Murphy! Finalmente vai haver algum aluno inteligente na sal—Oh...Marshall." De um sorriso aberto e esperançoso, surgiu um olhar repugnante e dececionado. "Falei demasiado cedo."
"Mau dia para si também, professor." Tera rosnou e sentou-se no seu devido lugar enquanto eu me sentei no meu. Max olhou para mim e deu-me uma piscadela cúmplice. Em tão pouco tempo, sabia que aquela piscadela significada algo mau. Max, o que foste fazer?
"Já está melhor, Murphy?"
"Sim." Mordi o lábio e abri o meu caderno verde e folhei-o, visionando a minha caligrafia perfeita. Quando olhei de novo para a frente, Max ainda olhava para mim, com um sorriso no rosto. Foi o suficiente para a minha cabeça inventar inúmeras possíveis respostas para aquele probleminha, durante a aula.
"Que-raio- foram aqueles olhares?!"
"As piscadelas de olho e o sorriso para você?" Max não me olhou, apenas mantia o olhar fixo no caminho.
"Não!" Neguei, com algum sarcasmo.
"Só disse ao Tera que você é gay. Algum problema?" Aquilo foi um choque para o meu coração.
"Tinhas o dever de me avisar antes!" Gritei, sem nem sequer pensar nos olhares de todas as outras pessoas que estavam nos corredores. "Imagina que ele é homofóbico, ou que não me aceita! O-ou?"
"Serião, isso? A irmã dele namora com a minha, e acha que ele não aceitava? Ele até disse 'Eu nunca lhe faria isso'" Estava tão concentrado no choque daquela notícia, que nem sequer reparei que aquela conversa se tratava deste assunto.
"Ainda assim! Da próxima vez que queiras contar uma coisa secreta minha a alguém, pergunta-me!" Rugi.
"E porquê você quer manter a sua sexualidade um segredo? O amor é uma coisa linda demais para ficar dentro do armário." Acho que ele percebeu o meu recado, já que baixou um pouco o tom de voz. " Beije em público; dance em festas gays; jogue purpurina na sua alma; pinte tudo de arco-iris; ame seu namorado e o mais importante de tudo: Seja como você é por dentro e não deixe o medo te controle. Compartilhe o amor e samba na cara da sociedade, veado!"
-
Depois da sua fala inesperada, senti um nó na garganta se formar. Porra, até nos elogios sou sensível. Sensível num sentido bom, neste caso. Sabia que aquele nó fora de algo feliz. Não evitei um sorriso verdadeiro para lhe agradecer a erguida que ele deu no meu orgulho, e nalguma parte da minha auto-estima.
"Eu odeio-te às vezes, sabias, Max?" Cruzei os braços e fiz um biquinho com o meu lábio inferior.
"Todo o mundo diz isso!, mas eu sei que é mentira. Quem podia odiar alguém tão...tão" As palavras faltavam-lhe. "Perfeito!" Ri-me com aquele riso forçado e sarcástico, porém foi interrompido com uma pequena estalada na minha nuca.
"Au?!" Esmurrei o ombro dele, que provocou gargalhadas altas da sua parte.
"Ah, esqueci de perguntar, Ruivi--"
"Ariel." Corrigi. Odiava que me chamassem Ruivinho, Ruivo, Omega e mais alguns que não queria citar com a minha mente.
"Como foi com o Tera na enfermaria?"
"Porquê essa curiosidade na nossa reação de amizade?" Reforcei a palavra, com o intuito de ele, finalmente, perceber que nada se passava entre mim e o capitão. "Ele é Alpha. Eu sou Omega. E esse par nunca se formou. E quando se forma nada de bom acontece. Digo por experiência própria, Max."
"Mas--"
"E, além do mais, ele namora com a Camoren,... e não está para aqui virado..." As minhas palavras eram as que mais causavam um ardor incontrolável no meu peito.
Sem que eu notasse, nós estávamos na fila para o almoço. Ela estava enorme que parecia que nem amanhã eu saia daqui. Pus as mãos nos bolsos e pus os meus lábios por dentro da gola da camisola. Algumas pessoas, incluindo eu, não estavam com o uniforme vestido. No meu caso, estava para lavar e estaria pronto este fim de tarde. Felizmente, a escola tem um sistema de lavandaria por debaixo da escola, que nos ajudam neste tipo de coisas.
"Eh...Há tanta gente que não se ama e está junto, e há gente que se ama e não está junto." Suspirou, andando um pouco mais para a frente.
"Verdade." Tentei aquecer as minhas mãos com o vapor de água que saia na minha boca. O meu corpo era um cubo de gelo, que tremia constantemente.
"Tipo você e o Tera, não é. Já se amam e nem dizem nada um ao outro."
"Isso já não é verdade!" Corei, violentamente.
" Ariel, eu só digo ver--" Num repente, a sua boca deixou de emitir algum som, e a sua pele foi, lentamente, ficando mais pálida. "Não.... Não... Não. Não. Não."
"O que foi? O-o que se passa?" O seu nervosismo estava a ser passado para mim.
"E...eu já venho." Sussurrou enquanto saia do meu lado.
"Max!" Estendi a minha mão, na tentativa de apanhar o seu braço ou o seu casaco comprido verde-escuro, porém apenas senti o ar por entre os meus dedos.
"F-fique aí. E...eu só me a sentir um pouco mal disposto." E apressou o passo para dentro da escola.
Fiquei especado, a olhar para o chão, tentando formular uma razão para que uma pessoa confiante, que tem sempre um sorriso na cara, ficar ansiosa num momento para outro. E de certeza que não era por uma simples dor de barriga.
Agarrei no meu telemóvel e mandei mensagem para a única pessoa, que, de certeza, sabe o motivo: Tera Marshall. Só tinha um problema, eu não tinha o seu contacto. Acessei ao meu Instagram- que nem utilizava- e procurei o seu nome. Como era um pouco talentoso no que toca perseguir pessoas nas redes sociais, rapidamente, encontrei a sua conta.
KHÉ? Mais de 5.000 seguidores?
E teima que não é famoso.
Ariel, concentra-te.
Felizmente, o seu número estava na sua biografia. Copiei e salvei o seu contacto: "Capitão Fúria" e telefonei-lhe.
"Estou sim, boa tarde?" A sua voz era calma.
"Tera--"
"Ruivinh--?"
"Ariel!"
"Está bem, chato. O que foi?"
"É o Max. Ele saiu de ao pé de mim, pálido. Mas foi do nada! E eu fiquei um bocado preocupado!"
" Hmm." Ele ficou muito pensativo e a sua serenidade não tinha mudado, mas sentia que ele estava inquieto a relação a isto. "Já sei o que é. Estás na fila?"
"Sim."
"Ok." E sem aviso prévio, desligou a chamada.
Voltei a andar mais um pouco, até chegar à porta branca, um pouco mais aliviado. Tirei o meu cartão escolar e massajei-o com o polegar. Já dentro do refeitório, tirei o meu tabuleiro, à direita, e os talheres na esquerda. Colado na parede de cima da cozinha, estava um monitor grande com a ementa de hoje. O prato principal não era nada de especial: batatas fritas (sem sal) com hambúrguer de vaca. Vinha acompanhado com Ketchup quase fora de validade. Quando chegou a minha vez de buscar a minha comida, fui acolhido com olhares amorosos das senhoras da cantina. "Toma, meu menino!" E entregou-me um prato, carinhosamente. Agradeci com um sorriso e um gesto.
Escolhi com o olhar um lugar para me sentar. (In)Felizmente, a turma da Kira não almoçava a estas horas, então estava livre.
Sentei-me no início da terceira fila e pousei os talheres. Respirei fundo e comecei a comer, mesmo com a cabeça cheia de perguntas. Para tentar aliviar a dor que elas me causavam, tentei formular uma pequena parte da minha apresentação.
"Olá, muito bom dia, eu sou o Ariel Murphy, este é o meu colega Tera Marshall, somos alunos do 12ºA e estamos aqui para apresentar..."
Isto vai correr tão mal...
Respirei fundo e tomei a pequena garfada das batatas. Nhé... Mesmo com o gosto horrível da comida, comi. Mais vale ter uma coisa mal cozinhada, do que não ter nada, não é mesmo? Senti o meu telemóvel vibrar dentro do meu bolso. Tirei-o e vi uma mensagem do Tera.
[Mensagem: Capitão Fúria]: "Já entraste?"
[Eu]: "Já."
[Mensagem: Capitão Fúria]: "Ok. Então espera por mim, pelo Max, e pela Camoren. Nós ainda demoramos um pouco. A fila está enorme."
[Eu]: Dá para perceber. "Ok, eu estou na terceira mesa, logo no canto dela."
[Mensagem: Capitão Fúria]: "Está. Thanks."
[Eu:] De nada. Ah, como o Max está?]
Antes de conseguir enviar a mensagem, a minha cabeça foi empurrada, violentamente, para baixo. Fiquei a centímetros da comida. Tentei olhar quem foi o idiota que estava a me chatear, mas mais empurrões de mãos diferentes foram feitos. O último conseguiu com que o meu nariz se molhasse no Ketchup.
"Ups. Foi sem querer." Nem foi preciso eu fitar a pessoa, pois já sabia quem era o dono daquela voz- Gabriel Lestrange. Ele estava rodeado pelos seus amigos da equipa, os mesmos que passam as manhãs a fazer troça de mim. Ao virar a minha cara para eles, Gabriel foi o que soltou uma gargalha. Lembrei-me logo que não tinha limpado o meu nariz.
Eu não estou com paciência para idiotas.
"Gwirion" Foi o que consegui lhe sussurrar sem ter de gritar para que todos no refeitório olhassem para mim que, no caso, já estavam com as suas atenções centrada em nós.
Ele continuou o seu caminho, quando viu o Diretor a aproximar-se da saída, que ficava bem perto de nós. Cobarde de merda. Mas, tu vais pagar, Gabriel. Esperei que ele se sentasse no seu lugar, na outra ponta da mesa, e que começasse a comer. Cruzei as minhas pernas, pondo a direita em cima da esquerda, e continuei a comer como se nada tivesse passado.
Aguardei que o ponteiro dos segundos, do relógio da parede da minha frente, desse uma volta aos números e chegasse no 12. Como esperado, o Tera e seu grupo sentaram-se ao pé de mim. Acenei-os com o olhar. Vi pelas suas caras que algo no meu rosto não estava bem.
"Ariel?"
"Trouxeram Ketchup?" Encostei as minhas costas na cadeira e olhei para o nada. Estava a ficar furioso, e a minha voz caracterizava isso muito bem. Olho por olho, dente por dente.
"S-seus...olhos." Olhei para os seus tabuleiros e, num ápice tirei os pacotes de cima deles.
"Obrigada."
"Hey?!" Reclamaram quase em sintonia.
No mesmo guardanapo em que limpei o meu nariz, pus todo o Ketchup que tinha armazenado, formando uma grande mancha vermelha nele.
"O que estás a fazer?" Tera perguntou-me. Ignorando a pergunta, levantei-me com o papel na mão esquerda e, num passo apressado aproximei-me do Gabriel.
Fodeste-te!
E, sem que ele pudesse se levantar ou me humilhar, colei, com força, o guardanapo na sua cara, e esfreguei. "Ups, foi sem querer." Manchei até o seu uniforme e o seu cabelo.
A cantina toda direcionou a sua atenção para nós, de novo. Gabriel levantou-se e tirou o papel da sua cara. Os seus olhos estavam completamente vermelhos, que encararam os meus azuis de Omega. "Tu. Estás. Fodido. Na. Minha. Mão!" Rugiu, apontando para o meu peito. Os meus instintos gritavam para eu sair dali, mas eu tinha de o encarar. Já tive demasiado tempo a ser submisso. "Metes-te com o Alpha errado, Ariel." Era difícil levá-lo a sério com a quantidade de Ketchup que havia na sua cara.
"E tu meteste com o Omega errado." Vi a sua mão se formar num punho e ir na direção na minha cara, mas ele desistiu da ideia, a meio. Afastou-se de mim e sorriu, cinicamente, limpando a sua cara com um guardanapo.
Andei até ao meu lugar e fui buscar o meu tabuleiro, para o por nas meninas da cantina. Não quis encarar ninguém, nem mesmo o Tera. Sabia que todos estavam surpresos.
🌑🌒🌓🌔🌕🌖🌗🌘🌑
"Eu pensava que os Omegas eram inteligentes, mas depois merda que o Ome—Ariel fez..." A voz irritante da Camoren fez-se ouvir.
"É assim mesmo, Ruivinho!" Senti as mãos do Tera abanarem os meus ombros.
"O pivete só fez o que devia ser feito!" Max bateu-me outra vez nos meus quadris. "Estou orgulhoso dele." Sorri, depois de o matar com os olhos.
Estávamos no dormitório do Tera. Íamos passar a tarde inteira a jogar video-game, já que não havia aulas na parte da tarde. Estava deitado de barriga para baixo, com um livro escrito por Paul Lestrange, entre os braços. Ainda não tinha conseguido tirar o sorriso vitorioso dos meus lábios, e nem me esforçava para.
"Ah, mano! Assim não dá. Você hackeou o jogo!" Max aborreceu-se e pôs a sua cabeça bem em cima do meu rabo. Eu não sou uma almofada, Max. "Nossa Senhora. . .isto é bem confortável." Disse carregando em alguns botões. Segundos depois ouviu-se GOAL vindo da televisão.
"Boa, ganho o dia a ouvir que o meu rabo é perfeito."
"É melhor que o da Camoren...!" Max provocou.
"Khé?!" Vi a Camoren dar um murro na zona abdominal do mulato.
"Mas é assim tão bom?" Tera perguntou e eu corei na mesma hora. "Posso tocar?" Vi a sua mão aproximar dos meus quadris.
"NÃO!" Eu e a Camoren, pela primeira vez concordamos nalguma coisa. Não foi preciso dar uma livrada na sua mão, que a sua namorada, bateu nele.
Max começou a rir enquanto criava uma nova partida de FIFA contra Tera. Não era preciso ser um génio (até a Camoren sabia) para saber que o Max ia ganhar, sempre ganhou e não era nesta partida que ia perder.
"Sabes o que eu gostava de ver, Max?" Tera trocou olhares cúmplices com o seu parceiro do crime.
"O quê, Tera?"
"Uma partida de FIFA da Camoren contra o Ariel." Não!
"Ohohoh, estou gostando!"
"Amor..." Camoren fez um beicinho. Eu sabia, não, todos sabiam que eu não gostava dela e que ela não gostava de mim. Para quê por-me nesta tortura?
"Vá lá, Camoren! Quero ver se você é mesmo boa, quanto diz!" Max sentou-se e eu sentei-me ao seu lado. "Ariel?" Ele fez beicinho que eu não consegui resistir.
"Ah....está bem." Cruzei os braços e tentei encontrar alguma desculpa para não jogar contra ela. Eu não quero passar nenhuma vergonha"Mas primeiro...eu preciso de....ir à casa de banho. O almoço não caiu muito bem..."
"Ok...?" Pela cara do Tera, percebi que nenhum deles tinha acreditado. Não olhei para a Camoren porque sabia que ela ficaria até feliz se eu nunca mais aparecesse à sua frente. "Despacha-te!"
Levantei-me e saí do dormitório. Eu, por coincidência, precisava mesmo de ir à casa de banho. Segui o meu caminho até ela, com as mãos entre as pernas. Abri a porta de metal grossa com algum receio de quem estava cá dentro. Procurei em cada cabine se havia algum aluno.
Ninguém.
Entrei na última cabine e pus as mãos na parede, apoiando-me os meus ombros. Com a mão direita, baixei as minhas calças e os boxers e aliviei a pressão que tinha na bexiga.
Antes mesmo de sair da cabine, algum tempo depois, ouvi a porta da casa de banho ser aberta e passos fortes soarem, apressados. Mas, de repente, esses passos pararam e um riso tomou o lugar.
"Haha, é preciso ter sorte." Era a voz do Gabriel. O meu coração saltou uma batida e os meus instintos berraram de novo para eu não sair do meu cubículo. "Não é, Ariel?!" Ouvi as portas das outras cabines serem abertas com alguma força, uma por uma.
[Continua]
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