Qual meu nome?
Os três permaneceram estáticos enquanto a silhueta feminina se aproximava de dentro do quarto. Com cuidado e calma, ela se colocou em frente a porta deixando os longos fios negros atrás de sua orelha com lentidão. Sorriu com delicadeza para cada um que a fitava.
— Ai meu Deus, ela está pelada. — Lucas comentou já prestes a cobrir os olhos — Espera... É igual ao corpo de... Uma boneca? — expressou o quão estava confuso em sua face.
— Mas quem é ela? — a senhora Huang indagou tocando o cotovelo de seu filho — Ou melhor, o que é ela?
— Droga, droga! — Mei Ling sabia que a cor de seu rosto havia desaparecido.
— Mei Ling, você sabe quem é ela e o que ela está fazendo aqui? — Lucas notou o quão espantada a garota estava — Você está bem? Está ficando pálida.
— Olá. — a garota se pronunciou — É um prazer conhecê-los. — uma reverência breve — Estou muito feliz por poder me comunicar pessoalmente com vocês agora. — o enorme sorriso permaneceu em seus lábios.
— Tudo bem... Mas, sem querer faltar com o respeito, quem é você? — Lucas se pronunciou, visto que Mei Ling aparentava estar muito pensativa para dar-lhe atenção.
— Eu sou vida presa num corpo para poder ter uma forma, assim como os humanos. Mas, segundo alguns acreditam, diferente dos humanos não possuo alma.
— Olha só que legal, né minha gente?! — ele parecia estar agindo estranho — Mãe, vai lá no seu quarto e coloca algumas roupas numa mala e apenas o necessário para podermos sobreviver por uns dias, tá bom?
— O quê? Por quê? — a senhora Huang o fitou.
— Porque... — ele passou a sussurrar mantendo o sorriso no rosto para a misteriosa garota não notar — Ela é um alienígena que invadiu a nossa casa... Agora vamos antes que ela faça experiências horrorosas na gente.
— Ah meu menino... Você tem assistido muitos filmes.
— Mãe, isso é sério, você estava ouvindo o que ela estava dizendo?!
— Não sou de bom agrado para você Xuxi? — a garota deu um passo à frente dissipando o sorriso.
— Minha nossa ela sabe meu nome, ela já sabe nossos nomes! — escondeu sua mãe atrás de si arregalando os olhos — Por favor, se quiser levar alguém, que seja só eu!
— Meu Deus Lucas, ela não é um extraterrestre! — Mei Ling coçou a cabeça frustrada — Ela não vai nos matar, nem abduzir ou tocar naqueles lugares... Pelo amor de Deus.
— Ela é o que então? Você a conhece?
— Ela é o nosso projeto de ciências. — ele pareceu estar completamente perdido — Lucas, ela é o nosso robô... Na verdade, é o que eu criei no seu computador.
— O quê? Eu não estou entendendo nada. Como que isso — apontou para a garota — saiu do meu computador? Ele é ótimo, mas não faz milagres.
— Acho que com o curto circuito na hora do apagão ela nasceu. Como um holograma, só que mais real, sei lá... Argh! Não me peça para explicar coisas que eu não entendo!
— Mas Mei Ling, nós não editamos ele assim, por que se parece um uma garota?
— Eu estava brincando no editor... Mas você entrou no quarto e não me deixou apagar!
— Agora é minha culpa?
— Claro que é!
— Certo, crianças vamos nos acalmar tudo bem? — a senhora Huang interveio — Meu bem, sim querida você mesmo, venha comigo. Vamos te vestir com alguma coisa. — guiando o suposto robô pela mão, a mãe do garoto seguiu para seu quarto.
— Mas que loucura! Por que você fez uma garota no editor?
— Ah, isso lá importa?! Precisamos saber como desligamos ela ou sei lá, voltamos para o início das configurações.
— Meu computador torrou, como que eu vou fazer isso?
Lucas voltou para o seu quarto e começou a analisar o estrago que o suor dos copos havia feito.
— Droga, vai levar muito tempo para arrumar isso aqui, e se eu deixar numa assistência vai demorar bem mais... Meu Deus do céu, era só um pouco de água e falta de energia, precisava de tudo isso?!
— Com quem está reclamando agora?
— Com a vida.
— E então?
— Hoje não vai dar para fazer nada, mas amanhã eu posso começar a consertar isso aqui. Queimou o monitor, eu vou precisar de um novo para poder ver se o HD queimou também... — coçou a cabeça frustrado levando as mãos para a cintura.
— E se estiver queimado?
— Perdemos tudo que tinha nele.
— Lucas, os vídeos do... — rapidamente o mais alto a interrompeu com um repentino olhar entristecido.
— Vamos ver se minha mãe está bem com a robô.
Mei Ling não quis comentar mais nada a respeito daquele assunto, ela sabia que para ele era algo sensível e por isso se preocupou, contudo se sentiu culpada de certa forma pelo o que aconteceu com o computador. Seguiu o outro em silêncio, mas sem deixar de observá-lo ou procurar ver qual expressão seu rosto demonstrava naquele momento. Entretanto, novamente ele estava com a feição despreocupada de sempre. Mei Ling odiava não ser capaz de saber o que Lucas pensava nessas horas.
Os dois estavam sentados no sofá, ela com dedos inquietos nos joelhos e ele de braços cruzados apenas esperando sua mãe voltar.
— Será que está tudo bem lá dentro? Não costuma demorar tanto assim para uma pessoa se trocar, costuma?
— Você tem muito o que aprender sobre mulheres.
Assim que ele soltou um breve riso nervoso, a senhora Huang apareceu sorridente na sala acompanhada da garota robô. Mei Ling diria que a mãe de Lucas se vestia de forma simples, porém de acordo com sua personalidade, mas nunca pensou que aquelas roupas pouco atrativas para adolescentes cairiam tão bem naquela menina. Lucas nem ao menos conseguiu esconder o quão surpreso ficou.
— Ela é adorável! — a senhora Huang comentou.
— Como estou?
— Linda, você está muito bonita! — Lucas sorriu largamente sem conseguir tirar os olhos da garota à sua frente.
— É... Muito bonita... — Mei Ling não sentia inveja e não admitiria que era ciúmes, contudo estava frustrada.
Agora todos estavam novamente reunidos na sala. A garota respondeu corretamente todas as perguntas de Lucas o que os fez acreditar que ela realmente era seu projeto de ciências, ou quase. Mei Ling sabia que criar exatamente o tipo ideal de Lucas seria uma tortura para si mesma, todavia nunca pôde imaginar que sua má sorte seria maior ainda fazendo a garota vir parar na casa dele. Se arrependeu de ter mexido naquele editor, mais ainda por ver o quão entretido e curioso, a respeito do robô, Lucas estava. Apenas os observou com o queixo apoiado em sua destra fitando a família Huang conversar animada com direito ao maldito sorriso de Xuxi que lhe dava arrepios.
— Então! — finalmente Mei Ling se pronunciou em uma forma de cutucar Lucas e pedir um pouco de atenção — Falamos, falamos e falamos, mas não sabemos o seu nome. Qual é?
— Meu nome? — a garota sorriu — Você me chamou de "O tipo ideal..." — Mei Ling rapidamente se levantou com as bochechas rubras.
— Essa não, ela não tem um nome! Que tal escolhermos um agora?! — sentou-se velozmente rindo como se seu coração não estivesse acelerado.
— Mas ela não estava dizendo agora qual o nome que você deu? — confuso, Lucas fitou sua melhor amiga.
— Nome de arquivo não é um nome digno, coitada, ela merece algo melhor! Vamos escolher! — estava falando mais rápido do que o normal.
— Você está bem?
— Estou ótima, que isso!
— Yan. — a senhora Huang indagou.
— Segundo minhas fontes de dados, este nome significa "bonito, belo." — a garota juntou as mãos ao sorrir — Eu gosto muito deste nome!
— Oh... — Lucas riu — Ele combina com você. Não acha Mei Ling?
— Com certeza. — continuou sorrindo.
— Acho melhor eu preparar um lugar para Yan dormir. Vamos ver... — a senhora Huang se levantou analisando os cantos da casa — Yan, querida, que tal dormir comigo?
— Tudo bem! — Yan parecia animada com tudo aquilo, o que era estranho para um robô, porém nenhum dos presentes na sala percebeu este fato.
— Ela vai ficar com vocês?
— Acho que é a nossa melhor opção, seus pais não aceitariam outra garota morando sob o mesmo teto de graça, além dela ser uma estranha.
— Mas...
— Mei Ling... Como você acha que seus pais vão acreditar na nossa história? Minha mãe estava presente quando aconteceu, mas os seus pais não. Vão achar que enlouquecemos de vez. E outra, minha mãe estará aqui também, vai ficar tudo bem.
— Hm... — por fim ela concordou — Tudo bem, então ela fica... E eu saio. — cochichou a última frase.
— Eu não escutei, o que disse?
— Meu Deus, veja as horas! Eu preciso voltar para casa.
— Hm. — ele sabia que tinha algo errado — Eu te acompanho. — Lucas ameaçou a se levantar, entretanto Mei Ling lhe tocou o ombro e o impediu.
— Está tudo bem, eu preciso comprar umas coisas no mercado. Por favor faça companhia à sua mãe e a Yan.
— Tem certeza de que está tudo bem ir sozinha?
— Claro, a chuva parou e eu não moro longe, está tudo bem.
Rapidamente, Mei Ling buscou sua mochila no quarto de Lucas e após se despedir seguiu para a porta principal. Logo já estava na calçada caminhando em passos rápidos.
— Mei! — Lucas gritou de seu portão antes que a garota sumisse de sua vista — Tem certeza de que está bem?
— Sim! — usou toda a força que podia para sorrir — Até amanhã Lucas.
A única coisa que Mei Ling queria agora era ficar sozinha, no qual poderia aceitar sem culpa de que estava com ciúmes e via-se preocupada em deixar Lucas e Yan morando juntos. Era um tanto engraçado acreditar que ele poderia se apaixonar por um robô, entretanto Mei Ling não tinha escolha, seu coração via Yan como outra mulher e por algum motivo se sentia ameaçada por ela ser exatamente a garota com quem Lucas aceitaria namorar sem ao menos hesitar.
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