Noite Estrelada
A noite se aproximava enquanto Mei Ling seguia a mãe para todos os cantos após ter se despedido de Mark. Manicure, cabeleireiro, maquiagem, agradecia por pelo menos já ter comprado o vestido alguns dias atrás. Estava ficando indisposta, não deveria ser uma festa extravagante, muito menos queria chamar atenção usando aquele vestido de baile. Contudo por completo não estava odiando, via-se somente sem ânimo para comemorar o dia e sua mãe fez questão de mimar a única filha com uma festa glamourosa demais. Deveria se sentir como a Cinderela assim que tudo encontrava-se perfeito: o vestido princesa vermelho caindo-lhe aos joelhos, os saltos Mary Jane brancos, aqueles que ela jurava que iriam traí-la mais tarde e o belo coque tradicional chinês em tranças decorado com grampos de flores douradas. Sua mãe exclamava cheia de orgulho: "Uma princesa!", enquanto Mei Ling murmurava: "Uma abóbora".
A festa se iniciou assim que os convidados foram chegando e a pilha de presentes aumentando. Mei Ling sabia que os pais tinham dinheiro, porém nunca imaginou que seria uma festa ao nível "Mark Lee". O salão achava-se cheio com adolescentes comendo, bebendo e dançando ao som do DJ e seus mashups elaborados. Os parentes da família Li encontravam-se confortáveis nas mesas numeradas conversando enquanto aguardavam a anfitriã se revelar e a festa realmente iniciar.
Mark checava as horas em seu relógio Tommy Hilfiger azul de couro marrom a cada dez minutos. Dividia momentos com colegas de classe aguardando Mei Ling finalmente dar o ar da graça após quase uma hora que a festa havia começado. Entretanto sua preocupação maior via-se em saber se Lucas de fato apareceria posteriormente ao que havia acontecido. No fundo Mark queria que o garoto viesse, mesmo que ainda estivesse ressentido pelo que havia ocorrido na noite passada. Ele exigia uma explicação, não por ele, mas por Mei Ling.
Ajeitou a gola preta da camisa slim branca que vestia e voltou as mãos para os bolsos da calça social que o fazia parecer mais velho. Tomaram-se alguns minutos para que pôr fim a garota tímida de vermelho viesse cumprimentar seus convidados. Mark diria que nunca a viu tão graciosa, todavia muito evidente de que era a mesma Mei Ling que ele conhecia.
— Mas que droga... — apertou a nuca tentando não encarar muito, mesmo que seus olhos arranjassem um jeito de voltar a fitar a garota.
De certa forma Mei Ling não permitiu que seu coração partido fosse exposto por suas expressões. Por vezes procurava algo no salão disfarçadamente, todavia sorria o tempo inteiro. Dançava, fazia piadas com Yun e as colegas de classe até que seus olhos curiosos encontraram Mark Lee. Discretamente deixou as garotas se divertindo próximas à cascata de fondue de chocolate para se aproximar do garoto ao lado da mesa de bebidas.
— Se divertindo? — ela indagou.
Com um sorriso de resposta, Mark ofereceu um copo de ponche para a garota. Ela recusou com delicadeza.
— Agora eu entendi porque não queria uma festa.
— Isso aqui está mais elaborado que meu aniversário de quinze anos... Só não me pergunte porquê.
De forma misteriosa ele a encarou.
— Hm, eu acho que sei porque... No fundo você também sabe.
A garota então sorriu de canto e parou para analisar o traje que Mark vestia.
— O que temos aqui? — deu uma volta ao redor do amigo — Social despojado com topetinho... Já sei, você sempre quis ser o James Bond asiático.
— Olha só quem está falando, a garota disfarçada de Lady Di chinesa...!
Após um soco leve no ombro dele, os dois riram em conjunto. Mark não admitiria, mas Mei Ling estava exageradamente bonita com aquele vestido, tanto que o deixava com raiva por fazê-lo ficar tão nervoso.
— Você devia usar roupas sociais com mais frequência.
Aquela foi a gota d'água para o menino. Com um calor repentino nas bochechas, Mark soube que estava corando, para isso preferiu desviar o olhar e impedir que ela tomasse conta de seu nervosismo junto a um riso baixo. Em contrapartida, Mei Ling o analisava de forma afiada até soltar mais um tiro no garoto.
— Você está diferente.
— Como assim? — voltou a atenção para ela.
— Algo em você... Mudou. Notei hoje de manhã, mas nos divertimos tanto que não pude perguntar o que era. Agora está me incomodando não conseguir descobrir o que é.
— Nada passa batido por você, não é Mei Ling?
— Logo eu, Sherlock Holmes?
— Jesus amado...
— Vamos, explique-se.
— Tudo bem, tudo bem. — um sorriso amarelado — Eu recebi uma notícia ontem de manhã. Queria compartilhar com você e o Lucas, mas... Você já sabe o resto.
Assim que tal nome caiu na conversa, Mei Ling prendeu o ar por breves segundos sorrindo rapidamente para impedir que Mark visse qualquer vestígio dos seus sentimentos. Entretanto os olhos se perderam na multidão como se procurasse ligeiramente por algo, ou alguém novamente. Mark então esperou que ela voltasse aos sentidos sozinha antes de dizer qualquer coisa ou continuar com o assunto.
— E, então?
Ao perceber o que havia feito, contornou todo o caminho de volta para cair seus olhos no amigo que sorria de forma doce para ela.
— Não se preocupe, ele vai vir.
— O quê...? Oh! — apontou para qualquer direção negando rapidamente com a cabeça — Não, não é isso, eu só...!
— Li Mei Ling, você não vai conseguir esconder nada de mim.
Ela se calou para observá-lo. Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a música cessou e os convidados vibraram pelo enorme bolo amarelo pastel, muito bem decorado com pérolas brancas comestíveis e flores de chocolate, que foi posto sobre a mesa de centro redonda no salão. O confeiteiro agradecia as palmas sorrindo ao seguir o ritmo dos convivas assim que Mei Ling voltou a ser o centro das atenções.
— Está na hora, aniversariante.
Notando o silêncio da garota relutante em seguir para o centro do salão, Mark tocou as costas dela.
— Olhos em toda parte... Parece até que estamos perdidos na floresta da Branca de Neve... Escura, cheia de monstros com olhos grandes... Te encarando... — deu o braço como apoio — Tô dentro, vamos fazer isso?
Tímida, porém agradecida, Mei Ling laçou o braço de Mark tentando manter a postura de garota extrovertida e durona. Assim que seguiram ao salão, Mark a deixou ao lado do bolo com uma piscadinha discreta. Enquanto as luzes neon coloriam o local, todos os convidados em conjunto da melodia parabenizaram a garota com palmas cantando em conjunto. Mei Ling sentiu a vergonha em seu ápice com todos aqueles olhares, e cores, e luzes apontados para si, contudo aos poucos que passou analisando a face encantada de cada um ali, a timidez e o nervosismo foram cessando.
Mark ao canto estava feliz em ver a amiga ficar mais confortável. Enquanto observava cada expressão dela, sentiu algo lhe chamar a atenção, como a necessidade de olhar em volta. Assim que o fez, reconheceu um rosto familiar no jardim. Via-se próximo a uma árvore. Parecia impaciente ao mesmo tempo que agoniado. Mark acabou soprando um riso baixo e coçou a cabeça.
— Mal começou e já acabou. — sussurrou, logo voltando com sua postura e sorrindo para a aniversariante.
O bolo foi cortado e os pedaços foram distribuídos. Mei Ling estava revigorada e se sentiu emotiva quando a mãe lhe deu um abraço aconchegante para parabenizá-la.
— No fim, fez uma festa exagerada, né mãe? — retribuiu o abraço.
— Precisávamos te dar algo memorável com a família. — Mei Ling se silenciou para fita-la — Eu sei que não estamos tão presentes em casa.
E então o pai se aproximou para também abraçar a filha.
— Nós encontramos sua carta da faculdade.... Meus parabéns, meu amor! — senhor Li acrescentou.
— Sabemos que não vai nos esquecer, mas queremos que se lembre de todo esse amor que está recebendo hoje.
— Não ligue para o quanto isso custou — o pai apontou para os lados brevemente —, queremos que hoje sinta nossa gratidão por você ter nascido. Essa seria nossa chance de te mostrarmos isso.
— Sentimos tanto orgulho de você.
— Feliz aniversário Mei Ling...! — os dois comentaram em coro.
Com um enorme sorriso a filha os abraçou em conjunto rindo como boba. Estava feliz pelos pais que tinha, mesmo que às vezes a mimavam demais após ficarem tanto tempo trabalhando.
Aquele foi um momento de descontração com todos. Mei Ling se divertiu como pôde, porém, gostaria de ver quem tanto perturbava seu coração. Sentia falta dele. Em pouco, Mark se aproximou limpando os cantos da boca sujos com chocolate.
— Estava gostoso?
Ele riu concordando com a cabeça.
— Já estava quase pra te tirar dali. — Mei Ling prosseguiu.
— Claro, sou uma terrível ameaça para os morangos. — estreitou os olhos.
— Também, mas você é quem estava em perigo.
— O que? — soprou um riso — Por que?
— As garotas estavam a um passo de te comer com o chocolate.
— Meu Deus... — começou a rir, contudo desacreditado.
— É sério! Elas estavam te despindo com os olhos. Já estava peladinho na mente delas.
— Que indecência...! — as risadas não paravam.
— Meu Deus, Mark! Você emagreceu cinco quilos! — fingiu surpresa logo rindo.
Os risos preencheram aquele momento sem palavras entre os dois. Mei Ling não conseguia esconder em seu olhar que estava triste de certa forma, não para Mark.
— Eu te observo a algum tempo. — ele indagou de repente — Você não precisa ficar do meu lado por medo de me magoar, sabia?
— Do que está falando? — sua face expressava bem que se encontrava confusa.
— O que eu sinto não está ao seu alcance, então agora quero que pare. Foram ótimas memórias e eu agradeço por você ter me dado a chance que pedi, mas as coisas não funcionam desse jeito. — tocou os ombros da garota com o sorriso mais acolhedor que podia lhe presentear.
— Mark... — ela se calou assim que ele negou com a cabeça apertando levemente seus ombros.
— Você está apaixonada por ele.
Mei Ling prendeu o fôlego.
— Por mais que eu odeie estar dizendo essas coisas, acredite eu não sei porque estou fazendo isso... — riu baixo — Você devia ouvir o que ele tem a dizer. — pelos ombros ele virou a garota de costas para si a fazendo reconhecer o garoto embaixo da árvore — Não olhe pra trás. — com um leve empurrão, Mark deu impulso para Mei Ling ir de encontro com o garoto que os encarava distante no jardim.
Mesmo relutante em prosseguir, Mei Ling fez o que Mark a pediu e não olhou para trás. Os passos lentos entregavam sua inquietude em ficar cara a cara com o garoto que lhe causou tanto sufoco. Com a tamanha lentidão da menina, Lucas preferiu encurtar a distância com mais velocidade. Mei Ling quis recuar, porém se manteve firme. Mark havia usado toda a coragem que possuía para se declarar daquela forma, ela não podia jogar tudo ao ar agora.
Assim que o melhor amigo se tornou mais visível pelas luzes brancas que iluminavam as árvores daquele jardim, Mei Ling sentiu o coração doer ao mesmo que palpitar. O colete slim fit preto que usava por cima da camisa branca o deixava com ar de executivo, assim como a gravata vermelha o fazia ficar muito mais atraente. Mei Ling estava odiando seu coração adorar tal visão mesmo que aquele fosse o mesmo garoto que a fez chorar. Assim que os olhares se cruzaram e o fôlego parecia lhes faltar, Lucas, com a pequena caixa de presente, visualizava todo o céu estrelado nos olhos negros de Mei Ling.
— Eu te disse que viria...
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