Aquele com a bomba - Parte II
Lucas levou consigo o misterioso Haechan para dentro. Não tinha certeza se era certo deixá-lo entrar, entretanto algo lhe dizia que o garoto não estava mentindo na questão de ser amigo de Mark. Embora ele nunca tenha comentado sobre a existência de Haechan, Lucas acreditou no menino.
— Cheguei! — se pronunciou, entretanto Mei Ling não respondeu.
Deixou as sacolas de compras em cima da bancada da cozinha observando disfarçadamente o garoto que parecia perdido ali dentro.
— Você é amigo dele mesmo, né? — Lucas acabou comentando.
— Sim... — sorriu um tanto sem graça — Nós nos conhecemos num acampamento de verão na Coréia.
— Oh, você também viaja muito?
— Na verdade não, meus pais sim. Dessa vez precisaram vir a negócios para Hong Kong. Me lembrei que Mark estava morando aqui esse ano e quis vir junto. Eu moro na Coréia a propósito...
— Para um coreano o seu cantonês é muito bom... — Lucas estava impressionado.
— Eu estudo em um colégio de elite, temos aulas avançadas de mandarim, cantonês e japonês. — com um suspiro, passou a ajudar Lucas a retirar as compras da sacola.
— WOW! — Lucas e seu grito escandaloso — Mas espera, espera! O que quis dizer com "morando aqui esse ano"? Mark não morava no Canadá antes de ser transferido?
Por um momento, Haechan parou o que estava fazendo para encarar Lucas com um semblante confuso.
— Agora eu que te pergunto: você é mesmo amigo dele? — Haechan questionou piscando duas vezes rapidamente antes de prosseguir — Já sei que nem sabia sobre a minha existência, mas pelo visto não sabe de nada sobre a vida do Mark também, não é?
Lucas fez uma careta apertando os lábios ao tentar se lembrar de algo convincente em sua defesa.
— É claro. — Haechan soprou um riso breve — Mark é cauteloso demais para deixar as pessoas saberem sobre seu passado.
— Ele é meu amigo... — Lucas ficou sério — Não é justo você decidir por si só que não temos um laço de amizade só porque o conhece mais do que eu...
— Não me entenda mal. — Haechan levantou ambas as mãos rendendo-se — Não quis dizer que não eram amigos. — sua voz transbordava calmaria.
Lucas fez um bico negando com a cabeça.
— Somente irei te perdoar se me ajudar a fazer algo forte que cure um resfriado potente.
Haechan concordou com a cabeça se colocando ao lado de Lucas prontamente. Ao ver que acabaria fazendo tudo sozinho, decidiu usar o mais alto como seu assistente.
— Bom... Com o que você me trouxe só me veio à mente uma coisa... — vasculhando as sacolas, Haechan retirou uma cenoura, um gengibre e um aipo os deixando sobre a pia — É Lucas, certo?
— Eu mesmo.
— Coloque para ferver em fogo baixo um copo e meio de água com uma pitada de sal. — Arregaçou as mangas e se aprontou a cortar a cenoura e o aipo em pedaços bastante pequenos.
Lucas obedeceu às ordens do garoto sem pestanejar e, mesmo se embaralhando para encontrar as coisas de primeira, ficou surpreso em vê-lo tão sério e calmo demonstrando que sabia o que estava fazendo.
— Então... Um acampamento de verão, não é? — Lucas indagou.
— Ah, sim... — despejou a cenoura e o aipo na panela mudando o fogo da boca para o alto — Mark e eu acabamos dividindo o quarto com mais dois garotos. Ele tinha um sotaque engraçado no começo. — cortou duas rodelas de gengibre as despejando também no caldo.
— Você sabe por que ele foi pra Coréia?
— O pai precisava viajar pra Austrália e a mãe pra Rússia, então ele foi matriculado no mesmo internato que eu por meio de um amigo da família. Mas como estávamos de férias, ele foi mandado para o acampamento: crianças que não têm ninguém para cuidar delas nas férias ficam aqui. — expressou bem seu sarcasmo.
— Então seus pais também trabalham demais...
Haechan concordou com a cabeça mexendo levemente a sopa com uma concha de inox brilhante. Antes que pudessem falar mais alguma coisa, Mei Ling adentrou a cozinha em busca de um copo d'água.
— Ah, você voltou... — parecia confusa caminhando diretamente para o armário de vidro onde estavam os copos.
Nem mesmo notou a presença de Haechan, parecendo fora de órbita enquanto alcançava a garrafa d'água de vidro na geladeira.
— Mei, este é o Haechan, um amigo do Mark.
— Oi. — Haechan sorriu brevemente após cumprimentá-la com a cabeça.
— Oi... — Mei Ling sorria, mas nem estava prestando atenção direito ao seu redor.
Virou-se para retornar ao quarto até que Lucas parou em sua frente.
— Você está bem? — dobrou um pouco os joelhos para analisar a face da garota — Parece angustiada...
— Não, não...! Estou ótima, só estou preocupada com o Mark... — com um sorriso amarelo se desviou rapidamente de Lucas.
— Você pode acordar ele? — Haechan indagou — Está na hora de comer.
Concordando com a cabeça, a garota correu de volta ao quarto. Não estava muito confiante em acordar Mark e ficar sozinha com ele outra vez, não após aquela confissão. Sentia-se uma babaca por revelar que gostava de Lucas e ainda pedir ajuda para Mark. Se ajoelhou próxima a cama e permaneceu o encarando dormir durante alguns segundos.
— Mark... — tocou seu ombro o chacoalhando levemente — Você precisa comer...
— Hm... — resmungou.
— Vamos...! Você não comeu nada o dia inteiro vai ficar com fraqueza... — estava com receio de tocá-lo, contudo não queria demonstrar seu desconforto tão diretamente.
— Okay... Já acordei, já acordei... — um suspiro e ele se virou de frente para Mei Ling.
Ainda estava deitado, mas seus olhos caminhavam pelos cabelos, bochechas até alcançarem os olhos da garota. Ficou silencioso de repente.
— Ah, hm... — novamente Mei Ling encontrou-se com raiva em gaguejar.
Por outro lado, Lucas estava com as mãos na cintura mordendo o lábio inferior ainda na cozinha com o garoto suspeito.
— Acho que o Mark falou alguma coisa para sua namorada. — Haechan quebrou o silêncio.
— O que? Ela não é a minha... — Lucas se interrompeu para rir baixo com um sorrisinho suspeito.
— Ha ha... Ai nossa ele é doido... — Haechan sussurrou abrindo a tampa da panela para mexer o caldo e experimentar uma colherada rasa.
— Calma, como assim?
— Como assim o que? — buscou um prato de sopa mais simples e uma colher para servir a sopa.
— Por que acha que o Mark disse alguma coisa pra ela? — Lucas o fitou curioso — O que tanto ele esconde? Você sabe de tudo, não é?
— Epa, epa uma pergunta de cada vez... — Haechan riu com olhos bem abertos — Eu não posso sair contando a vida dos outros desse jeito. Se ele não te disse nada, quem sou eu pra dizer? — colocou o prato e o talher em uma bandeja de madeira delicada, provavelmente da senhora Lee, para servir o almoço de Mark na cama.
— É tão ruim assim? — Lucas seguiu o garoto no corredor.
— Você vai saber assim que ele olhar pra minha cara.
— O que, por quê?
— Tenha paciência...
— Você me disse que são amigos. — Lucas se preocupou.
— Calma, eu não coloquei veneno nem batizei a sopa... — Haechan riu como uma criança — O considero muito ainda, mesmo que eu tenha destruído sua vida...
Aquelas palavras fizeram Lucas paralisar e fitar o garoto misterioso que agora o fazia duvidar de ter confiado nele e o deixado entrar.
Adentraram o quarto encontrando uma Mei Ling afobada com um Mark sonolento.
— Ah, olha só eles chegaram com a comida! Ótimo, ótimo...! — ela se levantou para sentar na cadeira da escrivaninha.
— Mark, seu amigo estava lá fora... Disse que veio te visitar. — Lucas iniciou analisando as expressões dos dois garotos.
— Amigo? — Mark coçou os olhos tentando espantar o sono enquanto se sentava.
Assim que Haechan deixou a bandeja à sua frente em cima da cama, Mark prendeu a respiração.
— Olá, Mark... Saudade?
Os dois se encararam por alguns segundos até Mark encarar seus outros dois amigos agora um tanto tensos. Estava sem uma reação específica, apenas um pouco fora de si.
— O que está fazendo aqui? — piscou rapidamente — Você não pode ficar aqui, não, não... — rapidamente Mark se levantou fechando as cortinas de seu quarto.
O movimento foi muito brusco e seu corpo ainda estava fraco. Sua vista escureceu repentinamente o fazendo se apoiar na escrivaninha e fechar os olhos brevemente.
— Ei! Você, volte pra cama agora! — Mei Ling ordenou após o susto.
— Donghyuk...! Por que veio aqui?! Você sabe que não pode vir aqui!
Haechan apertou sua destra contra seu cotovelo esquerdo observando Mark ser arrastado por Lucas de volta para a cama.
— Ninguém me viu, não vai acontecer nada.
— Eles podiam estar em casa! Você não tem noção das coisas?! — por levantar a voz, Mark acabou tossindo pela garganta seca.
— Ah, tá bom já sei...! — Haechan exclamou — Só come logo que está esfriando. — ficou emburrado.
Lucas e Mei Ling não sabiam nem o que dizer. Suas expressões eram uma enorme interrogação seguida pela surpresa em ver Mark tão irritado. Encarando o outro com um olhar de desaprovação, o que estava na cama provou a sopa cuidadosamente pela alta temperatura.
— E então? — Haechan cruzou os braços — Fiz certo dessa vez?
— É, até que está bom. — Mark jogou as palavras com uma careta ao garoto.
— Espera, alguém pode me dizer quem é Donghyuk? — Mei Ling perguntou — E você quem é mesmo...? — apontou para Haechan.
— Eu me chamo Lee Donghyuk. — o garoto iniciou — Mas meus amigos me chamam de Haechan.
— Não entendi esse apelido... — Lucas coçou a nuca.
— Haechan significa pleno sol em coreano... — Mark soprou as palavras ainda focado na sopa.
— Dizem que sou agradável. — sorriu largamente.
— Claro que dizem... — Mark sussurrou.
Com uma careta, Donghyuk encarou o amigo.
— Tá legal, agora me expliquem essa situação. — Mei Ling levou as mãos a cintura — Vocês são amigos?
— Se conheceram num acampamento de verão em Seoul durante as férias. Foi o que ele me disse. — Lucas indagou — Mas mais me parece que se odeiam...
— Eu não odeio ele. — Mark terminou de comer e deixou a bandeja sobre o chão — É só que... Hm... — um suspiro.
Haechan por outro lado não parecia acreditar naquelas palavras.
— Eu fiz os pais dele o odiarem. — completou as palavras de Mark.
— Isso não é verdade. — o canadense passou a ficar sério.
Lucas e Mei Ling se mantiveram observando a cena e sentindo a tensão no ar se intensificar com receio de se intrometerem.
— Então o que foi, Mark? O que aconteceu?
— Não é algo que eu queria falar sobre agora.
— Claro que não. Vamos ignorar o problema que ele some!
— Eu não estou fugindo, pare...
— Não está... Com certeza, acredito em você. — Haechan o encarou aumentando a voz — Você contou para eles o que eu fiz? Ao menos disse que somos amigos? Ah é, você prefere fingir que eu não existo!
— Pare, não é verdade. — Mark estava começando a se irritar.
— O que? Por que está ficando irritado? É por que estou dizendo a verdade? Você não acabou de dizer que não está fugindo? Então você contou pra eles o que aconteceu aquele dia, certo?!
Mark fechou os punhos sentindo a raiva ferver seu sangue.
— Fala logo! — Haechan estava ficando vermelho.
— Você não sabe de nada, cala a boca... — Mark retrucou.
— Ah, então naquele dia quem foi pego com você e uma mochila cheia de drogas não fui eu, né?!
De olhos arregalados e sem palavras, Lucas e Mei Ling não sabiam o que fazer e muito menos o que pensar. Tudo aconteceu tão rápido que o único reflexo que Lucas teve foi o de tentar segurar Mark assim que ele se atirou em cima de Haechan.
A manhã, que começou agradável e calorosa, agora se via entregando ao meio dia com a explosão de uma bomba.
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