Algo está por vir
Meros quatro dias haviam passado e o trio já estava se acostumando com a presença uns dos outros. Mei Ling foi quem primeiramente tinha aceito Mark no Lunch Rangers, como Lucas gostava de denominá-los, entretanto o último citado ainda não confiava de certeza no novo aluno. Não tentava compreender bem o porquê de tanto ciúme, porém também não gostava de querer afastar Mark sempre que o via rindo com sua melhor amiga.
O mês da feira de ciências estava se aproximando e com ele a impaciência de Lucas com o técnico que não terminava logo de consertar seu computador. Sem seus programas e tecnologia, Lucas já estava desistindo de ganhar e mais preocupado ainda por ter inscrito ele e Mei Ling na feira sem terem agora o que apresentar. Com o fiasco do robô que gerou na criação de Yan, Lucas e Mei Ling decidiram fazer um acordo: Mark não podia descobrir a verdade, muito menos os colegas e professores da escola. Contudo, nada seria tão simples e fácil como estava aparentando ser.
Durante o intervalo daquele dia, todo o colégio sofreu uma espécie de queda de energia. Os alunos encaravam os cantos já animados para serem liberados, se possível, enquanto os professores pareciam desesperados à procura de alguém.
— Ah! Aí está você! — o professor de educação física comentou ofegante — Está encrencado Lucas...!
— Eu? Mas o que eu fiz? — Lucas fitou Mark e Mei Ling completamente confuso.
— A luz! O que...o que você... Fez com a luz?! — levou as mãos aos joelhos expressando uma careta de dor.
— Não fiz nada, ué. Não adianta me culpar que eu nem saí daqui. — deu uma enorme mordida em seu crepe — Por que eu perderia meu precioso tempo de comer para ir mexer em luz? — comentou de boca cheia.
— Não tente me enganar mocinho... Ah... Eu sei bem...sei bem que você...apronta dessas.
— Ih professor tá acabadinho hein? — usou o crepe em suas mãos para apontar ao mentor à frente — Dá aula de educação física, mas uma corridinha no colégio já te nocauteou.
Nesse momento, Mark se engasgou com o refrigerante que bebia tentando esconder as curvas que seus lábios faziam por querer rir.
— Não fale besteiras, sou muito jovem ainda! — tentou se recompor imediatamente.
— Tá sim professor, tá na flor da idade, bem novinho você. — Lucas batia nas costas de Mark tentando ajudá-lo a desengasgar — Eita que entrou pelo cano errado, agora vai arrotar só cheirinho de melão gaseificado.
— O que aconteceu? — Mei Ling se aproximou com um saco de salgadinho — Ele se engasgou?
— Acho que é só olhar para ele que você descobre. — Lucas estava rindo escandalosamente enquanto Mark se esforçava para não rir do professor.
— Cala a boca... — agora estavam os três rindo.
— Lucas, vou perguntar mais uma vez. — cruzou os braços — Para que usou o gerador do colégio?
— Mas é insistente esse cara... — Lucas sussurrou.
— O que? Fale mais alto menino!
— Não foi eu professor, já disse, estive aqui comendo desde o início do intervalo!
— Posso confirmar isso, professor. — Mark, agora mais calmo, comentou — Saímos juntos da sala e compramos os crepes, estamos comendo aqui desde então.
— Mark, eu sei que ser aluno novo é difícil, principalmente quando se entra na metade do ano, fazer amigos se torna complicado. Mas mentir por eles não vai te fazer bem.
— Quantas vezes vou ter que dizer que não fui eu?!
— Professor, não acha que está sendo injusto culpando-o sem provas? — Mei Ling acabou entrando na conversa com um semblante irritado.
— Podemos olhar as câmeras de segurança, professor. — Mark notou o olhar da garota e tentou evitar que ela levasse bronca — Isso provaria nossa inocência.
— Você não fez nada mesmo? — olhou torto para o garoto, mas se sentiu um pouco mal pela forma como os outros dois o encaravam.
— Eu sei que não tenho lá a ficha mais limpa do colégio, mas quer tanto assim me dar uma suspensão? Já disse que não fui eu. — Lucas não desconectou seu olhar em momento algum.
— Eu irei checar os vídeos... — coçou a nuca tentando aliviar a tensão entre eles — E quanto a vocês, voltem para suas salas que seu regente lhes dará um comunicado importante por causa da falta de luz repentina.
Assim que se afastou, Lucas permaneceu com o semblante sério e o punho esquerdo fechado. Mei Ling tocou-lhe o ombro brevemente ao comentar:
— Não ligue para ele, vai ver que não fez nada de errado e irá se desculpar...
— Com certeza, cara! — Mark também quis confortá-lo — Ele estava errado e vai pensar melhor antes de isso acontecer de novo, com quem quer que seja.
Lucas abriu um largo sorriso concordando com a cabeça.
— Claro, vocês têm razão. — mais uma enorme mordida no crepe — Vamos terminar logo e ir para a sala. — Estava de boca cheia.
Parecia o mesmo velho Xuxi de sempre, contudo os dois amigos ao lado sabiam que ele estava chateado. Lucas podia ser guloso, mas comer naquela velocidade era uma tentativa óbvia de esconder suas expressões.
Mark foi o primeiro a se levantar. Limpou brevemente sua calça ao ir jogar as latas de refrigerante e os guardanapos que usavam na lixeira por vontade própria. Viram os alunos se juntando nos corredores para voltarem às suas salas e logo se puseram a fazer o mesmo.
— Mark Lee. — o coordenador o chamou e assim que o garoto se virou, ele concluiu — Preciso tratar de um assunto com você sobre o conselho e os alunos.
— Claro professor... — se despediu dos amigos com um aceno de cabeça e seguiu o mentor.
Agora restavam Lucas e Mei Ling no corredor se dirigindo à sala de aula. O garoto estava quieto e seu olhar distante. Sem que pudesse notar, seus punhos estavam fechados e os passos arrastados. Mei Ling então o parou ao pegar em sua mão. Contornando o ombro até a canhota com seus olhos, claramente confusos e surpresos, Lucas fitou a garota.
— Lucas, não gosto quando esconde as coisas de mim.
— Mas eu... — Foi interrompido.
— Você tem o direito de acreditar que nenhum deles veja como você pode ser brilhante no futuro. Mas eu acredito, e sei o quão incrível você é. — sua expressão era serena e calma assim como sua voz — Eu posso sentir o orgulho que seu pai sente por você. — soltou levemente a mão do melhor amigo — Não ligue para eles, só querem resolver o problema e achar um culpado sempre é mais fácil.
Com um sorriso e uma jogada de olhar para a porta da classe, Mei Ling adentrou a sala sabendo que Lucas viria logo atrás. O garoto, por outro lado, estava abalado com a mistura de sentimentos que sentiu naquele instante. Algo o aqueceu, mas não soube dizer quais palavras de Mei Ling que lhe causaram tal efeito, se é que foram só as palavras. Fitou sua mão brevemente logo a levando ao peito e soprou um riso baixo. Não esperava tal conforto, porém o coração acelerado o deixou curioso em ver mais deste lado doce de Mei Ling.
Agora com todos sentados e em silêncio, o professor regente se pôs a explicar a situação para a classe. O gerador do colégio havia sofrido uma espécie de curto-circuito e levariam horas para ser consertado. Com isso os alunos vibraram visando o término das aulas mais cedo, contudo o conselho havia sido convocado para uma solução plausível.
— Permaneçam sentados até que sejamos informados sobre o que faremos.
Cochichos eram ouvidos, Lucas também não estava nada feliz, pois sua inocência foi provada e um pedido de desculpas obviamente não lhe seria entregue. Após alguns breves minutos, Mark retornou para sua classe um tanto desconfortável. Respirou fundo e se pronunciou.
— Devido à falta de energia, as aulas no colégio hoje foram suspensas. — assobios e palmas demonstravam a alegria dos alunos — Mas por uma ideia do diretor, algumas turmas irão se juntar e terão aulas dinâmicas em locais próximos à escola. — vaias marcaram o resto do discurso de Mark — Nossa sala irá se juntar com o segundo ano e vamos ao parque próximo à praça. Um ônibus está sendo preparado, iremos ter uma aula dinâmica de... — outro suspiro e dessa vez Mark fitou Lucas — Educação física.
— Não acredito nisso! — eles reclamavam.
— Sinto muito pessoal, foram ordens do diretor. — Mark coçou a nuca e voltou ao seu assento com o gesto do professor.
— Pois muito bem, vocês ouviram. Então quero que vão aos seus armários no ginásio e busquem seus uniformes de educação física. — agora com voz mais firme — E sem gracinhas, temos a lista de chamada, quem estiver faltando irá para a detenção.
Ninguém estava contente com as aulas no parque, estava quente e o sol os deixava preguiçosos. Com um suspiro longo do amigo, Lucas socou levemente o ombro de Mark.
— Não se preocupe, a culpa não foi sua, mesmo sendo o presidente é o diretor que manda na escola. — uma piscadinha — Eles sabem disso, não ficaram bravos com você.
Mark riu um pouco constrangido pelo amigo ter notado sua preocupação. Porém de certa forma ficou contente com aquelas palavras e sorriu concordando com a cabeça.
Assim que todos estavam com seus uniformes de educação física e as jaquetas com o logo do colégio, os alunos foram se organizando no pátio com as turmas misturadas. Mei Ling acabou sendo rodeada pelos garotos de ambas as turmas para que escolhesse com quem iria se sentar no ônibus. Era algo comum para Lucas, mas Mark estranhou tal situação.
— O que é aquilo? — soprou um riso.
— O macho tentando convencer a fêmea de que ele é o melhor entre os outros. — Lucas levou as mãos à cintura.
— Isso é uma loucura, ela nem sabe o que responder. Não devíamos ajudar...?
— Ajudar? — Lucas riu — Ela vai dizer que já tem alguém com quem sentar, não se preocupe, acontece sempre.
— E ela tem?
— Com certeza, essa pessoa sou...
— Yun! Eu vou me sentar com a Yun hoje, sinto muito. — Mei Ling alargou seu sorriso.
— Como é? — Lucas pareceu indignado.
— Achou que era você, é? — Mark estava querendo rir — Não fique triste, eu também tive esperança. — não aguentou e acabou rindo.
— Mas isso é um absurdo, ela está me trocando.
— Pare com isso, olha só, pelo menos você ainda tem a mim. — permaneceu rindo, mas Mark falou sério — Fazemos isso todo dia man, dessa vez estaremos sentados mais perto só isso.
A chamada começou e os alunos seguiram em fila para os ônibus designados. Lucas ainda estava confuso por Mei Ling escolher sua amiga do conselho e não ele, entretanto preferiu esconder seu ciúme mais uma vez. Já com todos no coletivo, o professor distribuiu garrafas d'água para cada aluno.
— Nossa aula hoje será na trilha do parque. Vocês irão em duplas para não se perderem, quem está sentado ao seu lado é seu par. Será uma corrida de resistência. Quem subir a trilha e voltar primeiro vence. Alguma dúvida?
Assim que o ônibus partiu, os três amigos mal esperavam o que ainda estaria por vir neste dia incomum. Uma simples questão poderia destruir tudo o que para eles era um conforto. O que mais importa: amar ou ser amado?
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