A Good Bye
Os três viam-se desconfortáveis no banco traseiro daquele carro. O veículo era espaçoso, entretanto a tensão sobre o que realmente poderia ter acontecido com Yan os impedia de relaxar. Assim que receberam a notícia, aguardaram poucos minutos pelo o momento oficial de conclusão da festa para irem juntos à residência dos Huang. Mei Ling somente conseguiu permissão de seus pais por Lucas provar que era uma ligação de emergência da mãe, sendo também um último presente de aniversário naquela noite. Bem também pois, como combinado, ela não estaria mais de castigo, todavia Mei Ling e seu vestido vermelho deveriam estar em casa antes da meia noite. Senhora Li não perdia uma boa ironia.
Por sorte a pequena viagem não perdurou muito e logo estavam de frente à casa de Lucas o aguardando abrir o portão.
— Mãe, cheguei...! Mark e Mei também estão aqui...! — assim que entrou, passou a procurar qualquer vestígio que indicasse onde sua mãe e a robô estariam.
— Aqui no quarto querido!
Os três seguiram com passos rápidos até serem interrompidos por Lucas, brevemente impedindo passagem em frente a porta.
— O que aconteceu...? — as palavras dele escaparam em tom baixo.
Senhora Huang estava sentada ao lado de Yan descansando sobre a cama. Porém algo se encontrava incomum, suas articulações: fios, sua pele: aço. Não mais se assemelhavam a um humano e sim a uma máquina. Sua cor antes pálida, agora cintilava quando a luz tocava o metal.
— Meu Deus, ele estava falando sério... — pensando alto, Mark arregalou os olhos sem medo de expressar sua surpresa — Okay, isso é meio sinistro...
— Mas por que ela está ficando assim? Isso nunca aconteceu antes. — Mei Ling indagou.
Os três, agora de frente para a cama, observavam a cena enquanto gradativamente Yan perdia mais e mais sua aparência humana.
— É como se ela estivesse voltando a sua forma... Original? — ela completou.
— Mãe, o que exatamente aconteceu?
— Nós duas íamos jantar, mas ela se recusou a comer dizendo que não deveria se apegar a uma vida que ela nunca poderia ter. Depois de um momento, eu estava na cozinha lavando os pratos quando escutei algo caindo no chão. Na hora que me aproximei para ver o que era, as pernas dela já estavam assim... — a feição da mãe era de pura preocupação.
— Ela não disse mais nada, ou qualquer outra coisa estranha? — Lucas se aproximou analisando como a mudança no corpo da garota ocorria rapidamente. — Tocou o braço dela esperando que houvesse alguma reação.
— Ela somente sorriu pra mim. Consegui colocá-la na cama com essa estranha mudança de peso, mas ela não responde nem se move faz alguns minutos.
Os três adolescentes estavam aflitos e de certa forma muito confusos enquanto o corpo da garota além de mudar também emanava calor. Mei Ling e Mark ficaram um pouco mais afastados da cama tentando encontrar uma possível causa ou solução para aquele problema. Lucas por sua vez notou a mão da robô fechada. Cuidadosamente tentou abri-la, porém algo lhe chamou a atenção.
— Lucas... — a voz de Yan ecoou, porém nem seus lábios nem seus olhos se moveram, permaneceu estática — É você? Posso sentir sua presença.
— Yan...?! — o garoto correu para olhar para a face já metálica — Por que isso está acontecendo?!
— Esse corpo não suporta tanta carga... O sentimento de Mei Ling por você cresceu, está forte demais... — Ainda imóvel.
— Eu não entendo...
— Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde... "Sou vida presa num corpo para poder ter uma forma, assim como os humanos. Mas, segundo alguns acreditam, diferente dos humanos não possuo alma".
— Então foi por isso que o computador sofreu um curto, você compartilhou a carga de energia que recebeu da Mei Ling... Yan, se tivesse um computador aqui, poderíamos te consertar?!
— Sou uma ameaça, estou muito sobrecarregada. Vocês deveriam se afastar antes que o perigo seja maior.
— Lucas, ela pode explodir a qualquer momento... — Mark indagou pensativo — Já sei! Meu pai tem um computador no escritório dele, podemos descarregar e atualizar o sistema lá. Ele é potente o suficiente para uma descarga elétrica. Acho que não vai nos matar pelo menos e meus pais estão jantando fora.
— Yan me escuta, nem pense em desligar, está me ouvindo...?! Nós vamos te consertar...!
Lucas levantou rapidamente e com agilidade carregou o corpo da garota em seus braços. Sentindo o quão leve ela estava por ser apenas fios e aço agora, o garoto sentiu uma imensa dor em seu coração.
— Mei, preciso que você vá ao meu quarto, pegue o pen-drive em cima da escrivaninha e minhas ferramentas que estão dentro do armário. Rápido...!
Abrindo caminho, Mark o ajudou a sentar Yan no banco traseiro do carro enquanto Mei Ling realizava o pedido do garoto depositando tudo dentro da primeira mochila que encontrou perdida no quarto.
— Mãe, voltaremos logo! — Lucas se despediu rapidamente entrando no automóvel.
— Por favor, tomem cuidado... Todos vocês.
— Boa noite senhora Huang. — com uma reverência breve, está foi a deixa de Mark, que dessa vez se sentou ao lado do motorista.
— Vai dar tudo certo... Não se preocupe! — Mei Ling concluiu já adentrando o carro assim que saiu da casa às pressas com a mochila em mãos.
Com um aceno de cabeça, a senhora Huang observou o luxuoso Cadillac XTS preto se afastar rua a fora.
Segurando Yan pelos ombros a impedindo de cair, Lucas via-se um pouco espremido no banco do carro com a robô apoiada em si. Mark fazia uma rápida ligação em busca da permissão do pai para usarem seu computador dando uma desculpa qualquer enquanto o motorista agilizava para chegarem logo à residência dos Lee. Enquanto o garoto estava ao celular, Mei Ling sentia um enorme peso cair sobre seus ombros. Para a menina a culpa era dela por ter criado Yan e os ter colocado em toda aquela situação. Agora Lucas estava mais uma vez lutando com o medo de perder uma pessoa da sua família e Mei Ling temia que já fosse tarde demais.
Yan não se pronunciou, muito menos respondeu aos garotos durante todo o trajeto para a casa de Mark. Um fator que os deixou ainda mais aflitos e preocupados. Mark temia por uma possível explosão, entretanto guardou sua angústia visto que não era o momento certo de exprimir tais pensamentos. Abrindo caminho destrancando o portão, Mark os direcionou até o escritório do pai. A sala em si era enorme, com uma estante cheia de livros sobre teorias de gestão, contabilidade, biografias de grandes CEO's, entre outras obras aclamadas por executivos. Além de ter um leve aroma de bergamota, o escritório era bastante limpo e organizado. No centro, em uma mesa ampla de mogno marrom escuro, encontrava-se o computador que buscavam. Seu extenso monitor pedia uma senha para desbloqueio, Mark não tomou tempo para acessar um perfil anônimo na máquina e prosseguir com a restauração de Yan. Com urgência, Lucas deixou Yan sentada na confortável cadeira do escritório próxima a mesa e conectou seu pen-drive na CPU do computador iniciando o arquivo que havia desenvolvido meses atrás para criar seu trabalho de ciências. Buscando na mochila, retirou um cabo de alimentação extenso em meio a suas ferramentas.
— Precisamos deitá-la em um lugar mais alto. — comentou buscando pelos cantos.
— Mei, me ajuda aqui. — Mark então se aproximou da comprida estante embaixo da janela — Coloca esses vasos ali, e me ajuda a empurrar.
Com velocidade, os dois levaram a estante o mais próximo possível de Lucas e do computador. Com a ajuda dos dois, Lucas deitou Yan sobre a estante conectando em sua nuca o cabo de alimentação e por fim a outra saída na CPU do computador. Os dados passaram a carregar até subitamente uma mensagem pop-up surgir na tela com letras grandes em vermelho.
— Sobrecarga detectada, favor desligar o sistema. — A voz robótica do programa que Lucas criou se revelou.
— Desligar uma ova...! — Lucas passou a digitar códigos no teclado buscando uma saída daquela janela até finalmente encontrar a aba de atualização e restauração do sistema — Achei!
— Lucas. — Yan subitamente abriu os olhos, porém os lábios metálicos permaneceram imóveis — Isso é perigoso, por favor afastem-se.
— Agora tudo vai dar certo, você vai ficar bem...! — Lucas sorriu já pronto para iniciar a restauração.
— Eu não devia ter surgido, foi apenas um acidente, meus dados não estão gravados no programa, não sou uma máquina.
Lucas obrigou sua mão a parar na metade do caminho sobre o teclado. Mei Ling apertou as mãos tentando compreender porque as coisas estavam acabando daquela forma. Mark que até então examinava a situação tentando entender como tudo havia ocorrido finalmente teve a resposta que buscava. Tocando o ombro de Lucas, com pesar o garoto concluiu:
— Se ela realmente é o sentimento da Mei Ling... A restauração irá deletar qualquer vestígio dela que ainda exista no sistema. Ela não existe como dados ou números, Lucas ela não é um código ou algo que possa ser programado.
— Não, ela... Eu que criei ela... Isso não pode ser o caso! — Lucas se recusava a acreditar.
— É impossível prender qualquer sentimento em um corpo físico! Mesmo que tenham criado ela usando seu protótipo como corpo, uma emoção nunca permanece a mesma já que não é matéria! Se você rejeitasse a Mei Ling, Yan desligaria pois um dia o amor dela por você acabaria, mas como você correspondeu, ele somente vai aumentar! Está entendendo? Ela vai explodir por não ter como manter toda essa carga de energia!
— Eu não vou desligá-la se é isso que está sugerindo!
Antes que os dois levantassem mais ainda a voz um com o outro, Yan direcionou seus olhos, agora azuis, para Lucas e com uma voz falha e travada acrescentou:
— Eu... Não vou... Desaparecer... Nem... Te abandonar.
Todos se silenciaram para fitar a robô já em seu ápice de transformação. Estava retornando ao pequeno protótipo que uma vez Lucas havia criado.
— Sempre que estiver com Mei Ling, nós estaremos juntos.
— Yan...
Lucas tentou continuar, porém o robô prosseguiu:
— Não tenha medo. Quando precisar de mim... — seus olhos se fixaram no peito do garoto — Me chame com a voz do seu coração. Eu sempre estarei com você.
— Não é a mesma coisa!
— Todos somos imortais enquanto existir alguém que ainda nos guarde em sua memória. Você não precisa me ver para sentir a minha presença.
Mei Ling estava com os olhos marejados e sua cabeça baixa. Mark a amparou levemente acariciando suas costas num toque amigável. Lucas fechou o punho voltando a encarar a tela do computador.
— Eu sabia que você não desistiria de mim, e saber disso me faz muito feliz.
— Você já está desligando o sistema, não é? — Lucas murmurou.
Yan então conseguiu dar seu último sorriso.
— Esses foram os melhores momentos da minha breve existência em um corpo físico. Muito obrigado a todos...
Assim que Yan fechou os olhos, sua essência deixou a máquina agora deitada sobre a estante.
— Eu me diverti muito.
Ela havia se libertado, porém de alguma forma os três sentiam sua presença mais forte do que nunca. Era como se ela estivesse por todo o quarto, o preenchendo. Mark então, em um sinal, pediu a Mei Ling que fosse até Lucas.
— Ele precisa de você... — um sussurro.
Em passos curtos ela se aproximou e tocou a mão de Lucas. A feição do garoto demonstrava pura tristeza, entretanto não havia nenhuma lágrima expressada. Nada disse, apenas abraçou o namorado com afeto o apertando em seus braços e pedindo para que com a força que aplicava naquele carinho toda a angústia do garoto desaparecesse.
A noite terminou silenciosa, contudo, repleta de sentimentos. A rotina antes esquecida, bateu novamente a porta e os três amigos foram obrigados a aceitá-la.
Três Semanas Depois
A famosa feira de ciências do colégio estava começando. Os alunos corriam de um lado ao outro organizando seus estandes e preparando seus discursos para os professores. O nervosismo emanava aos montes naquela ampla quadra. Eram vistos dos mais variados experimentos e criações ali, alguns estrondosos e outros simples, porém bem elaborados. Lucas caminhava por entre cada mesa observando cada projeto com um sorriso fino no rosto. Assim que se aproximou do pátio para buscar um refrigerante em uma das máquinas, avistou Mark e Mei Ling sentados no banco debaixo de uma árvore.
— Yo! — Lucas apressou o passo para se juntar aos dois — Finalmente achei vocês, pensei que íamos nos encontrar na entrada da quadra.
— Eu te mandei uma mensagem, você não viu? — Mei Ling ergueu o celular.
Com uma expressão confusa, Lucas destravou seu celular para encontrar a mensagem não lida da namorada.
— Eu deixei o celular no silencioso sem querer... — um riso breve.
— Mas então, por que quis que a gente viesse aqui hoje? — Mark questionou — Vocês cancelaram a inscrição de vocês, não foi?
— Sim, mas fui convidado para julgar os trabalhos do primeiro ano. — levou as mãos para a cintura — Já que consegui entrar na faculdade, o professor fez um acordo comigo de limpar meu histórico escolar caso eu ajudasse hoje.
— É, você não tem o que reclamar... Depois de tudo que aprontou sem querer aqui, era capaz a faculdade não te aceitar por medo de você botar fogo em tudo. — Mei entregou uma lata de soda ao namorado.
— Eu acabei de falar que fui aceito na faculdade e você só prestou atenção na parte em que eu fui punido? Que tipo de namorada é você?
Mark estava rindo, entretanto bastante animado com a notícia.
— O QUÊ?! — a garota arregalou os olhos — Você passou?!
— Eu acabei de falar que sim! Que espécie de reação de efeito retardado foi essa? — um enorme sorriso estampado na face dele.
— Congratulations man! — Mark não se conteve em usar sua língua nativa, se aproximou dando um aperto de mãos em Lucas e o abraçou brevemente com direito a tapinhas nas costas.
— AH! — Mei Ling se levantou num pulo e o abraçou com animação assim que Mark se afastou — Isso é demais! Meu Deus, eu estou muito feliz!
— Agora mesmo estão falando com um futuro estudante de engenharia mecatrônica.
— Mas que metido. — Mark riu ainda sorrindo.
Enquanto riam em conjunto, mais uma voz se pronunciou.
— Hey! — Haechan trazia consigo uma sacola com salgadinhos e doces enquanto corria em direção aos amigos — Quem aí está com fome?
— Oh, Donghyuk você por aqui. — Mei Ling comentou.
— Eu o convidei, tínhamos marcado de fazer umas coisas hoje. — Mark explicou.
— Vamos aproveitar que ainda não começaram as apresentações e vamos comer logo. O almoço vai demorar ainda. — Haechan por fim concluiu.
Juntos decidiram ir para a cantina visto que o grupo havia crescido. Dividiram um bom momento juntos enquanto comiam todas aquelas guloseimas.
— Amanhã meu voo vai sair às sete e quarenta e cinco da manhã.
Haechan explicava que ficou muitos dias longe da escola, por consequência teria aulas extras presenciais para completar seu penúltimo ano no colégio.
— Mas já? Nós nem tivemos tempo de sairmos mais. — Lucas murmurou — Que droga...
— É isso ou eu reprovo. Eu até ficaria, mas não tô afim de ficar mais dois anos na escola. Já é um tormento ter que ficar mais um que dirá dois. — os salgadinhos os obrigaram a falar de boca cheia — Pelo menos meu melhor amigo vai comigo.
Um silêncio perdurou por alguns segundos com Lucas e Mei Ling agora encarando Mark.
— O que foi? — Haechan pareceu confuso — Você não disse que ia contar pra eles na festa de aniversário dela? — encarou o amigo com desaprovação.
— "Eu me esqueci" não vai colar, né? — Mark soprou um riso amarelado.
— Espera, você vai embora para Seoul amanhã? — Lucas estava sem expressão pela revelação repentina.
Mei Ling permaneceu fitando o garoto sem jeito à sua frente.
— Eu enviei meu histórico escolar para várias faculdades e recebi propostas muito boas, mas uma em particular me chamou atenção... Vou ficar no dormitório sem custos adicionais, vão pagar minha estadia e tem almoço e jantar no refeitório. É uma das melhores universidades de Seoul... Me deram bolsa.
— Com certeza fazendo jus ao título de presidente do conselho estudantil, hein? Estou muito feliz por você, de verdade, porque isso é incrível, mas... — Lucas começou sorrindo, contudo, fechou a expressão cruzando os braços — Quando ia nos contar que vai embora? Por mensagem já dentro do avião?
— Isso não é justo. — Mei Ling pareceu cabisbaixa.
— Eu sei, eu devia ter contado, mas sei lá... Estávamos tão bem sem nenhum assunto sério pra incomodar, não quis estragar o clima... Queria passar meus últimos dias com vocês exatamente como passamos.
— Mas ia nos impedir de se despedir! — Mei Ling exclamou.
— Mas isso não é um adeus, é um até logo. — abriu um sorriso — Eu ia avisar no final do dia, pra amanhã irem me ver no aeroporto. Já era o suficiente pra mim.
— Então hoje à noite vamos celebrar! — Lucas sorriu de lado — Todos fomos aceitos na faculdade e o Haechan vai voltar pra escola, vamos comemorar!
— Como se eu estivesse feliz de voltar pra escola. — Haechan expressou uma careta, porém se animou ao lembrar-se de algo — Podemos ir em uma lanchonete aqui perto! Ela é um pouco simples, mas o hambúrguer deles é muito bom! Podemos pedir batatas e milkshake e...! — se perdeu com os olhos brilhando apenas ao imaginar.
— Você só quer ir pela comida, né? — Mark murmurou.
— Oh Canadá... — levou a mão de encontro a face com um suspiro — Tem um arcade do lado, podemos comer e depois ir jogar lá. — e então sorriu de forma cínica para o melhor amigo — Só de lembrar de escola, prova, trabalho fiquei deprimido, e daí que me afogo na comida por isso? — revirou os olhos.
— Ótima ideia!
Mei Ling sorriu, pois se lembrou do lugar que Mark havia lhe apresentado no dia de seu aniversário.
— Você gosta desse tipo de coisa, não é?
— Bem, sim... — Mark concordou com a cabeça um tanto sem graça.
— Então sem reclamações! Hoje depois da feira de ciências, vamos comemorar juntos. — Lucas concluiu.
Todos estavam de acordo, mesmo que Mark tivesse preferido manter sua partida em sigilo, o garoto se sentiu feliz por ter eles como seus amigos. Pela primeira vez Mark percebeu o quanto sentiria falta deles e dos dias que passaram juntos. Mei Ling decidiu esperar Lucas para almoçarem juntos enquanto Mark cumpria seus planos com Donghyuk. Partiram ao shopping para comprar um novo travesseiro para o mais velho e um journal para o mais novo. Haechan sempre gostou de manter um diário sobre seus segredos e viagens. Desta forma o dia foi passando com Mark e Haechan juntos e Mei Ling acompanhando Lucas em sua tarefa como jurado dos trabalhos do primeiro ano. Recebeu a permissão do coordenador para tal, contanto que ela não auxiliasse ou se envolvesse no trabalho que Lucas deveria concluir. Os dois diriam que aquilo era bastante cansativo, mesmo que não parecesse, o horário do jantar quase estava aí e os dois já se viam mortos de fome.
Após cada medalha ser distribuída, Mei Ling notou Lucas sorrindo de maneira diferente do costume enquanto estavam mais afastados dos alunos e professores. Ele parecia triste e um pouco nostálgico ao mesmo tempo.
— Meu trabalho aqui está feito. — e então ele se pronunciou — Vamos...? — o sorriso permaneceu, contudo mais acolhedor.
Estendeu a mão para que a garota a segurasse e seguiram juntos a saída do colégio. Na metade do caminho, Mei Ling apertou um pouco a destra de Lucas chamando assim a atenção do garoto.
— Não sabe quão orgulhosa eu estou de você.
— O quê? — um riso envergonhado — Por quê?
— Você não participou da feira esse ano. Por quê?
Ele parou por um momento para pensar observando os negros e brilhantes olhos de Mei Ling até um riso soprado escapar de seus lábios.
— É por isso que sinto orgulho de você. — ela sorriu largamente.
— Quando foi que começou a analisar a minha cabeça desse jeito?
— Desde o momento em que me apaixonei por você.
Lucas não se conteve pela emoção do momento. Simplesmente abraçou a garota como se a estivesse protegendo do mundo.
— Você que me ensinou a sentir a presença de quem eu amo sem precisar provar alguma coisa. — se afastou brevemente apenas para fita-la mais uma vez — Você me fez mudar Mei Ling.
— É porque eu amo você. — ela riu tímida.
Após um selinho, Lucas voltou a caminhar de mãos dadas com a namorada. Sussurrou um rápido "eu também te amo" para não expressar sua vergonha.
Assim que chegaram em frente à lanchonete, encontraram Mark e Haechan os esperando. Os dois estavam rindo de alguma piada que contaram. Mark parecia morrer de tanto rir enquanto Haechan fazia caretas e uma dança esquisita imitando o possível motivo para tanto riso.
— Yo! — Lucas chamou a atenção dos dois — O que estão fazendo? — riu da situação.
— Foram namorar e esqueceram a gente aqui, né? — Donghyuk levou as mãos à cintura.
— Claro que não, nós viemos andando. — Mei Ling esclareceu.
— Aham...— seguiu para a entrada da lanchonete — Vamos logo que eu tô com fome, por favor?
— Quando nos conhecemos ele era todo tímido, agora se transformou... — Lucas arregalou os olhos brevemente.
O jantar foi calmo e divertido. Haechan contou histórias divertidas e algumas gafes de Mark que o garoto se recusou a revelar antes não tendo medo também de expor suas façanhas cômicas. Dessa forma os dois chineses perceberam porque Donghyuk recebeu o apelido que tinha, ele realmente aquecia o coração das pessoas.
A porção gigante de batata frita com bacon e cheddar foi o suficiente para os quatro saciarem a fome, tendo direito também a milkshakes e refrigerantes. No arcade também dividiram bons momentos. Riram, vibraram pelas vitórias e também pelas derrotas. Haechan estava tão sorridente que mais tarde reclamaria pelas suas bochechas doloridas, entretanto isso deixaria Mark aliviado após toda a situação que o mais novo vivenciou.
Lucas e Mei Ling aproveitaram o máximo que puderam também, suas faculdades eram distantes, para isso se veriam menos que de costume, porém não deixaram nada estragar aquele momento, se focaram em dar a Mark a melhor e mais alegre despedida de todas. A diversão foi tamanha que nem notaram as horas voando e o momento de voltarem para casa se aproximar. Essa seria a última noite em que se veriam antes da breve separação. Todavia não deixaram os pensamentos melancólicos os atingirem e concluíram a noite com sorrisos, abraços e acenos.
Já era cedo pela manhã. Lucas se espreguiçou tirando a preguiça do corpo. Tomou uma ducha breve e, prontamente vestido, se encontrou com a mãe na sala de jantar. Com um sorriso acolhedor a mulher já estava a par da situação, logo quis confortar o filho com um agradável café da manhã juntos. A casa parecia silenciosa sem as perguntas de Yan, ou seu prato posto na mesa. Lucas conversava com a mãe normalmente, contudo analisava cada detalhe que o fazia sentir falta da garota em casa.
— Não vá se atrasar, o voo sai daqui uma hora e meia. — ela recolheu a mesase aprontando para lavar a louça — Acho melhor já ir pegar o ônibus, querido.
— Tudo bem eu convidar a Mei Ling pra almoçar com a gente hoje?
— Claro Xuxi, que pergunta é essa, só porque estão namorando agora não vou criar limites entre vocês. Menos a porta do seu quarto, ela vai ficar aberta sempre está me ouvindo?
— Meu Deus mãe... — riu baixo já à porta calçando seus sapatos.
Naquele instante, recebeu uma mensagem de Mei Ling. A garota estava indo buscá-lo de táxi para irem juntos, uma cortesia do pai.
Mark recebeu um abraço da mãe pela milésima vez naquele dia. Ele já havia passado um ano longe dos pais, porém quatro era uma ideia assustadora na mente da mulher. Os pais voltariam para o Canadá como planejado, entretanto Mark, que deveria voltar com eles, estava agora partindo para a Seoul. Terminou de guardar seus pertences nas malas e logo estava pronto para seguir ao aeroporto.
Haechan havia sido o primeiro a chegar com seus pais, assim que viu Mark se aproximando, não sentiu felicidade maior. Se cumprimentaram com sorrisos soltos e jogaram conversa fora enquanto aguardavam os outros amigos chegarem e dar o horário para a embarcação. Para o alívio dos Lee, os pais de Donghyuk prometeram manter um olho em Mark sempre que pudessem, assim ele estaria seguro.
Quinze minutos para a embarcação, Mark encontrava-se incomodado com a demora dos amigos. Foi então que Haechan começou a rir.
— O que foi, do que está rindo?
E então ele apontou ao corredor mais à frente.
— Mark, Haechanie! — correndo e acenando vinham Lucas e Mei Ling com uma grande sacola em mãos.
— Por que demoraram tanto? — Mark estava sorrindo como um bobo pelo alívio.
— Nós compramos presentes para vocês! — Lucas ofegante apoiou as mãos na cintura.
— Espero que não seja um urso de pelúcia com a cara de vocês dois grudada... — Haechan acabou comentando sentindo um arrepio.
— Aqui, esse é o seu. — Mei Ling alcançou a sacola e entregou uma caixa de presente verde um tanto grande para Haechan — E esse é o seu. — a amarela com listras azuis foi entregue a Mark.
— Oh... Um kit de viagem. Obrigado! — Haechan começou a rir alcançando uma almofada de pescoço branca a encaixando em cima dos ombros — Gostei disso... O que mais temos aqui, um cofre de moedas, interessante, olha tem até sabonete aqui dentro!
Enquanto Haechan se divertia sozinho vasculhando o presente que recebeu. Mark voltou a fitar os dois.
— Não conseguimos encontrar algo melhor, sabe, não tivemos tempo pra pensar. — ironicamente Mei Ling finalizou.
— Tudo bem, eu gostei e... — Mark apontou para Haechan que vestiu sua máscara de dormir rindo sozinho — Ele parece bem feliz com o presente dele também. — acabou sorrindo.
Enfim uma voz ecoou pelos alto-falantes do aeroporto indicando que o portão de embarcações para o voo de Seoul já estava aberto. Tomando o ar, Mark ajeitou a alça de sua mochila nos ombros e sorriu timidamente.
— Está na hora. — Lucas comentou.
Sem delongas, os dois amigos se aproximaram de Mark o dando um abraço em grupo apertado. Levantando a cabeça, Lucas chamou Donghyuk para se juntar a eles. O abraço perdurou alguns longos segundos com os quatro rindo na breve despedida.
— Okay, agora precisamos ir Donghyuk. — a mãe do garoto o chamou.
— Por favor cuidem bem do nosso menino... — senhora Lee comentou segurando nas mãos da mãe de Haechan que assentiu sorrindo.
— Ele ficará bem.
Já libertos do abraço, Mark e Haechan se prepararam para partir.
— Juízo vocês dois... — Lucas brincou.
— Nos veremos em breve. — Mei Ling acenou mesmo que ainda estivessem próximos.
— Até logo...! — os dois amigos se despediram do coreano e do canadense.
Com um sorriso e um breve aceno, os dois seguiram os pais de Haechan após Mark se despedir dos seus.
Seria uma viagem calma e agradável. Mark sentou-se ao lado de Donghyuk que insistiu em ficar ao lado da janela. Por algum motivo passou a relembrar de todos os momentos que dividiu com Lucas e Mei Ling. Estava um pouco triste, contudo sorria de canto enquanto abria seu presente por pura curiosidade. Haviam coisas bastante úteis ali dentro, até que algo incomum estava ao canto da caixa. Assim que alcançou a pequena moldura, Mark começou a rir. Uma foto de Lucas e Mei Ling fazendo caretas lhe aqueceu o coração. A primeira vez em que pisou em Hong Kong, Mark acreditou que seria a mesma rotina solitária que sempre teve. Contudo aqueles dois haviam mudado tanto sua vida, que mal podia expressar em palavras o quão feliz estava por ter os conhecido. Sentiu os olhos marejados, entretanto segurou as lágrimas assim que Haechan empurrou de leve seu ombro e sorriu largamente ao vê-lo nostálgico. A vida é repleta de boas-vindas e despedidas, porém Mark sabia: ficaria tudo bem enquanto estivessem protegidos pelo amor de suas memórias.
Extra ↬
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