Quando eu Cheguei
O aeroporto estava um pouco mais movimentado do que de costume. Mark e Haechan se esgueiravam por entre todas aquelas pessoas enquanto os pais do mais novo abriam caminho já preocupados com o táxi.
— Que loucura, será que tem alguma celebridade aqui? — Haechan encarou os lados segurando o ombro de Mark com sua destra para não se separarem.
— Escutei alguém gritar "irmã mais nova" de não sei quem por ali. — Mark apontou com o polegar driblando o que surgia em seu caminho.
— Meu Deus... — o mais novo encarou o caminho por cima do ombro do mais alto.
Em pouco a multidão foi se abrindo e os seguranças rodearam a área tentando controlar o fluxo de pessoas que se amontoavam no mesmo lugar. Devido a isso, Haechan foi empurrado fazendo com que Mark mudasse seu foco para trás rapidamente e o segurasse pelo braço.
— Céus que lugar infernal... — Mark murmurou puxando Donghyuk que quase havia caído. — Essas pessoas não têm noção das... Ai! — acabou libertando um grunhido de dor ao ser atingido nas costelas.
Mark virou-se perplexo e se encontrou no centro daquela multidão sendo engolido por milhares de olhares enquanto uma garota assustada o fitava abraçada no que ele julgou ser a case de uma guitarra. Ao que tudo indicava, ela tentava proteger o instrumento em questão, aquele mesmo que era o culpado do cutucão dolorido que Mark recebeu. Os fios roxos dos cabelos dela cobriam suas bochechas assim como a touca e os óculos escuros não permitiam muito que sua face fosse exposta.
— Me desculpe, eu estava de costas, não te vi. — Mark simplesmente comentou após curvar a cabeça e arrastou Haechan consigo para fora daquele círculo.
O que ele menos queria era chamar atenção no meio de tanta gente.
— Não, espera...!— ela tentou responder ou chamar sua atenção, porém um dos seguranças a tocou o ombro gentilmente e a escoltou para o lado oposto que os garotos seguiram.
Com dificuldade, e direito a costelas doloridas, os dois saíram daquele lugar caótico e alcançaram o casal Lee.
Uma careta se via explícita na face de Haechan assim que as bagagens foram ajeitadas no porta-malas. Se encontrava incomodado em quanta coisa seus pais levavam toda vez que viajavam. Bem, não era como se fossem ficar pouco tempo longe de casa, apenas desta vez tiveram sorte de fechar negócios com mais facilidade e voltarem antes de um ano se fechar.
— Donghyuk, vamos ter que usar dois táxis. Então seu pai e eu vamos na frente. — Senhora Lee apontou para a tela de seu celular. — Depois de deixar Mark no dormitório me avise e vá direto para casa.
— Tudo bem mãe, já basta eu ter que desfazer as minhas malas, prometo que não vou fazer hora com ele lá. Não se preocupe.
Ela entregou uma quantia para pegarem o táxi sabendo que, além do dormitório ser longe do aeroporto, sua residência também não era nada próxima.
— Muito obrigado senhora Lee. — Mark sorriu. — Quero dizer, por tudo, obrigado por tudo.
— Prometi à sua mãe que ficaremos de olho em você. — A mulher sorriu. — Quando chegar no dormitório, não se esqueça de ligar para os seus pais.
— Ok, pode deixar.
Assim que se separaram e os dois adentraram o táxi, Haechan liberou um suspiro cansado.
— Credo, nunca vi um aeroporto tão cheio assim antes, que horror. Apocalipse zumbi é assim? Não dava nem para se mexer direito sem acertar a cara de alguém.
— Eu que o diga, minhas costelas estão pedindo arrego. — Massageou levemente o local que ainda latejava.
E partiram para o endereço que Mark apontou ao taxista. Estavam cansados, tanto que pouco falaram e mais se encostaram no banco com a mente reclamando de tanto ficarem sentados. A janela de Mark estava aberta, e mesmo querendo se jogar numa cama, ele estava animado enquanto observava a paisagem ao redor. Nostalgia, era o que ele estava sentindo ao ver aquele lugar. O vento soprou em sua face e ele não podia ficar mais feliz por estar ali.
— Está gravando um videoclipe? — Haechan o cutucou com palavras. — Rindo sozinho com o vento na cara. As pessoas vão pensar que endoidou.
O riso foi iminente, porém Mark expressou uma careta no instante em que voltou a encarar o mais novo.
— Nossa, que engraçadinho você é. — O empurrou o ombro.
Donghyuk poderia estar caçoando dele, no entanto Mark não conseguia ficar bravo, principalmente por ver a felicidade estampada no rosto do adolescente por ter seu amigo de volta.
Trinta minutos e o dormitório se encontrou à frente do táxi.
— Não se esqueça de avisar quando tiver terminado de desempacotar. — Haechan estava debruçado na janela do táxi.
— Ué, por que quer que eu avise sobre isso? — Mark ajeitou a alça de sua mochila de tom escuro no ombro já segurando a alça de sua mala vermelha de rodinhas.
— Sei lá, vai que eu fico entediado sozinho lá em casa. Podemos ir para algum lugar à noite e comer fora. — Deu de ombros. — Enfim, já vou indo, meu quarto tem muito que ser redecorado.
— Claro, por que você ficou uma eternidade fora né Haechan? Voltou como uma pessoa totalmente diferente.
Mark estava sorrindo de forma debochada, o que fez o mais novo sorrir também.
— Comprei coisas novas em Hong Kong, idiota. Agora entra logo que metade das suas coisas já estão no seu quarto. Meus pais avisaram que os entregadores deixaram lá para você.
— Sério? Pensei que deixariam na entrada, que bom!
— Nem eram tantas caixas, você pegou poucas coisas. — Haechan se ajeitou no banco e por fim acenou. — De qualquer forma, hora de ir. Boa sorte e até mais! — sorriu após se despedir.
Mark retribuiu o aceno e observou o táxi partir antes de entrar naquele enorme dormitório. Inspirou fundo no instante em que empurrou aquela porta de vidro.
— Wow... — os olhos percorreram o local curiosos e animados.
O lugar era imenso e bem diversificado. Havia alguns estudantes espalhados no hall, outros esparramados nos sofás jogando conversa fora ou mexendo no celular. Tinha também algumas salas separadas por divisórias de vidro. Mark conseguiu identificar uma daquelas salas como sendo uma área de estudos pelas mesas com luminárias e algumas paredes com tomadas e placas de Wi-Fi. Não tinha tanta certeza disso, no entanto.
Se aproximou do balcão tendo um sorriso acolhedor em retribuição a troca de olhares. Fitou o crachá brevemente. "Choi Hyunsoo" era o nome da recepcionista.
— Bom dia. Por acaso você é o bolsista transferido de Hong Kong? — ela indagou.
— Sim, meu nome é Mark, vim buscar a chave do meu quarto... — por algum motivo ficou tímido, porém culpou a empolgação.
— Desculpe te abordar assim. Notei suas malas e todos os outros estudantes já subiram, por isso julguei que você fosse o último.
Ela se virou abrindo uma gaveta com trinca e buscou um arquivo. Logo ela o deixou em cima do balcão separando alguns papéis em conjunto da chave.
— Este é o seu cronograma de aulas, elas começam semana que vêm. — Indicou um dos papéis logo colocando outro por cima. — E este os horários do almoço e jantar. Você pode optar em não comer aqui, mas temos um horário específico para refeições. Então, se não aparecer até antes da cantina fechar, vai ter de comer fora. Não se esqueça. — Apontou para o corredor à esquerda. — Esta ala é para o dormitório masculino, se atravessar para o lado direito irá encontrar o feminino. Temos regras rígidas a respeito de garotos no dormitório feminino durante a noite e vice-versa, então tome um tempo para ler as regras do dormitório também, ok? — estendeu o último papel em conjunto de uma chave. — Essa é sua cópia da chave. Pode personalizá-la como quiser, mas fazer outras cópias não é permitido. E caso a perca, terá de pagar uma multa em conjunto de uma taxa para lhe darmos outra, por isso cuide bem dela, tudo bem?
Mark assentiu já com os papéis e chave em mãos.
— Alguma dúvida?
— Os quartos são individuais, ou dividimos com outros estudantes?
— Aqui usamos um quarto para dois alunos. Mas não se preocupe, se tiverem problemas, você pode enviar um pedido ao coordenador para que os troquem de quarto. Porém isso só será possível se outro aluno no seu dormitório quiser trocar também.
— Ok. É, mais uma coisa, os chuveiros...
— O banheiro masculino e seus chuveiros ficam no segundo andar. Não há horário específico para tomarem banho, mas a água quente é cortada sempre às três da madrugada.
— Ah, entendi.
— Muito bem. Ah sim, suas coisas chegaram mais cedo e já estão lá em cima. Você ficou... — Checou os papéis novamente. — No sexto andar, quarto 116. É só utilizar o elevador no final do corredor a esquerda que irá chegar lá.
— Certo, obrigado.
— Ótimo, se precisar de mais alguma coisa, estaremos aqui.
Mark não se sentia deslocado ali, portanto tentou ao máximo não parecer tão animado por estar na faculdade. Seguiu o caminho que lhe foi indicado e tão logo já se via de frente ao seu quarto. Tomou ar e abriu a porta. Suas caixas estavam espalhadas ao lado da cama à esquerda enquanto o canto à direita se via decorado e organizado. Assim que deixou sua mochila em cima da cama notou um pequeno post it na escrivaninha ao lado:
"Sinto muito escolher sem você chegar, mas a direita me dá sorte, desculpe"
— É, bom, vou sobreviver.
Seria um trabalho bastante cansativo desfazer as malas e todas aquelas caixas, no entanto Mark não quis deixar a preguiça o dominar já que agora dividia o quarto com outra pessoa. Não queria incomodar ou ter problemas tão cedo, na verdade, dificuldade era o que ele menos queria esse ano, já lhe bastava tudo o que lhe aconteceu até agora.
Começou calmamente organizando espaço na estante em sua parte do cômodo e passou a guardar suas roupas. Fez o mesmo com seus tênis e em pouco já estava retirando seus pertences e algumas decorações que trouxe de casa. Pôsteres de filmes e algumas letras de música, uma luminária de lava roxa, seu violão, o notebook, seus cadernos e os livros que precisou comprar quando fez a matrícula. Sua escrivaninha, mesinha de cabeceira e estante estavam basicamente organizados e a parede decorada. Assim que terminou levou as mãos a cintura ficando satisfeito em partes com o resultado. Dobrou as caixas de papelão e as prendeu uma na outra descendo para se desfazer delas nos recicláveis.
Finalmente estava tudo em seu devido lugar e Mark se encontrava livre para descansar sem preocupações. E foi o que fez. Voltou ao seu dormitório e tomou uma ducha ainda um tanto envergonhado pelos chuveiros coletivos, mesmo que houvesse divisórias. Em pouco tempo, já se sentia mais revigorado, faltava agora relaxar os músculos. Foi então que se atirou em sua cama e tirou um cochilo.
Novo ano, novas amizades, novo ambiente, nova vida. Isso era o que preenchia a mente de Mark desde que havia recebido a carta da faculdade lhe garantindo aquela bolsa. E ele estava certo, tudo de agora em diante seria novidade e ele queria aproveitar o máximo que pudesse para não se arrepender no futuro.
Tendo uma boa noção de como a vida é, nem tudo é um mar de rosas e disso ele sabia bem, por isso estaria pronto para encarar o que viesse. Entretanto o que Mark não esperava era que as coisas viriam a se tornar muito mais peculiares do que o normal.
E o culpado tinha nome: Huang Xuxi.
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