Falta dois dias para meus pais saírem para viajar, eu queria muito ir com eles, mas infelizmente não posso. Meus pais raramente me deixam sair, são sempre tão rigorosos, no máximo saio para a igreja a qual eles frequentam, me dizem que o mundo é perigoso e que pessoas más podem fazer algo contra mim.

Ouvir sermões dos meus pais sempre que eu pedia para sair era um saco, eu sempre ficava emburrada, não poderia sair nem mesmo acompanhada pela professora que ficava encarregada de mim quando eles saíam. Eu não entendia, eu já estava velha, não precisava de uma babá.

Eu sempre dava um jeito de sair escondida, eu fingia estar no quarto trancada, nem mesmo a professora sabia das minhas saidinhas mas eu não ficava fora por muito tempo. O que tinha fora da minha casa não parecia ser tão perigoso, eu ia para uma sorveteria ali perto, não demorava tanto, se não iria ser ruim se alguém descobrisse sobre as minhas pequenas fugas.

Daqui a algumas semanas farei dezesseis anos e talvez nem uma festa eu poderei ter, mamãe sempre reclamava do tanto que iria gastar e dos olhares que eu poderia ter se outras pessoas fossem a festa e meu pai? Nem era tão presente na nossa vida familiar, não faria questão da festa. Eu queria tanto comemorar, descobrir coisas novas, fazer tudo que eu quisesse sem a intervenção deles e de qualquer outra pessoa.

Meus pensamentos foram interrompidos por aquele som incessante da campainha tocando, que estranho quase nunca temos visita, quem poderia ser?

Saí do meu quarto, parece que ninguém iria até porta, eu odiava ter que receber estranhos e ficar frente a frente com eles, eu não estava tão acostumada a isso.

Desci as escadas correndo, quanto mais rápido eu despachasse a visita, melhor seria, se ninguém veio abrir a porta é porque não querem visitas, então eu apenas iria manda-lá embora. Abri a grande porta e um homem alto estava lá, sua altura me assustava, não estava acostumada com pessoas tão altas, ele possuía cabelos caídos em seus olhos, e esses olhos apresentavam uma cor indecifrável, azul ou verde? Notei que ele me olhava fixamente, e senti minhas bochechas corarem, uh porque corei com o olhar daquele cara?

- Como você cresceu Sali...

Ele diz espantado e solta um sorriso de canto.

Meu coração estava acelerado

- Como você me conhece seu velh-

Fui interrompida pelo meu pai.

- Ah professor Sebastian! Você chegou em uma bela hora, entre entre!

O moço entrou dentro de casa, ele parecia envergonhado e sem jeito.

Meu pai me cutucou e me mandou ir pro quarto.

- Você iria chamar ele de velho não é? Que tipo de educação é essa garota? Ele tem apenas vinte e sete anos.

Eu abaixei minha cabeça.

- Desculpe...

- Que isso não se repita de novo!
Ele saiu em direção a sala.

O fato daquele homem ter vinte sete anos não me impediria de chama-lo de velho.

Eu fui ensinada a ter uma educação e comportamento brilhante, mas eu não conseguia ter bons modos com outras pessoas além dos meus pais e a minha professora Mary, mas isso não era minha culpa.

Infelizmente não pude ouvir a conversa do meu pai com o moço estranho mas porque eu tinha corado? Acho que aquele homem é o que as pessoas chamam de bonito.