Não fuja, por favor
Olha quem chegou trazendo uma novidade, é isso mesmo... MY ANGEL está sendo reescrita e os primeiros 5 capítulos são inéditos.
Eu amo essa história, mas muitos pontos nela me incomodavam e resolvi ajustar.
Não irei apagar a outra versão, não até finalizar essa inteira, não se preocupem.
Nem irei mudar a história, ok?
Espero que gostem e aproveitem mais uma vez essa história que começou lá em 2016/17.
Leiam com atenção aos detalhes e comentem porque quero realmente saber se vale a pena reescrever.
Adicionem na biblioteca, favoritem.
Boa leitura. ❤
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POV Camila
"Realmente achou que aceitaríamos você com esse bastardo?"
A frase da minha mãe ecoava por minha cabeça há horas. Eu não conseguia pensar sequer no que fazer ou em quem procurar por ajuda, abrigo, eu simplesmente não sabia de nada.
GRÁVIDA.
Não podia acreditar que a condição para que eu voltasse para casa era tirar a vida do meu filho, era abrir mão de um pedaço meu. Mas poderia ser diferente? Não com os pais que eu tenho, os "Cabello" são donos da maior agência de modelos do país e investidores de um time de basquete em Nova Iorque. Eles sempre viveram de aparência e a verdade que sempre ouvi dos dois que só nasci porque a sociedade impõe a família tradicional, nada além.
As lágrimas caíam enquanto as lembranças surgiam em minha mente... Passado e presente se fundiam e meu coração se despedaçava ainda mais enquanto eu abraçava meu próprio corpo, eu só queria sentir-me segura uma vez na vida. Eu não podia contar com amigos, meus pais ou qualquer pessoa porque todos eles pensavam da mesma forma, que eu sujei o sobrenome da família Cabello Estrabão.
Matthew Hussey.
Jamais deveria ter me entregado para alguém como ele, fiquei cega pelo príncipe encantado que ele se mostrou que não consegui enxergar o homem estúpido, agressivo e sem escrúpulos que ele é. Eu não sabia o que sentia sobre ele, decepção, nojo, raiva, mágoa... Eu só sabia que ter me apaixonado por Matthew foi o pior erro da minha vida.
Flashback On
-Eu não vou assumir essa criança, arruma um jeito de acabar com isso.
-"Isso" é o nosso filho, Matthew.
-Seu filho, você que foi uma burra de não impedir essa merda.
-Aconteceu.
-FODA-SE! Agora se vira, eu estou indo embora.
-N-não pode fazer... fazer... fazer isso.
-Achou mesmo que um dia eu casaria com uma mulher assim? Por favor, Camila. _ Matthew falava e eu sentia meu coração acelerar enquanto as lágrimas caíam. _ Eu já consegui tudo o que eu queria, dei visibilidade para a minha empresa e fodi uma virgem.
-Você é um...um canalha.
-O brinquedo perdeu a graça, se é que me entende. Ninguém na vida vai querer uma garota cheia de traumas e que mal sabe falar, homem gosta de algo que você nunca vai ser. _ Ele levou a mão ao rosto ao sentir um tapa e me olhou enfurecido.
Senti meu rosto esquentar com um tapa forte e ele me empurrou fazendo com que eu batesse na parede, deixei o teste de farmácia cair no chão e observei Matthew pegar minha bolsa no sofá antes de me entregá-la. As lágrimas caíam por meu rosto pela decepção, a humilhação de suas palavras e a agressão, eu cheguei esperando um homem feliz por saber que seria pai, não uma pessoa que eu nem sabia que existia.
[...]
-Precisamos resolver isso o quanto antes, Alejandro.
-Eu vou procurar algum médico especialista em casos assim o quanto antes.
-Obrigada, eu sabia que podia contar com vocês.
-Só precisamos de um local discreto para tirar isso.
-C-como? Tirar o meu filho?
-Realmente achou que aceitaríamos você com esse bastardo? _ Ouvir minha mãe falar dessa forma fez meu coração quebrar.
-É o meu filho.
-É um problema, Camila.
-Eu não posso tirá-lo. Papa, diz que não concorda com isso.
-Você não vai estragar os nossos planos com isso. _ Ele complementou e senti mais lágrimas caírem pelo meu rosto. _ Ou tira essa coisa ou sai de casa, não vou permitir que manche o nosso sobrenome.
-Pai...
[...]
Flashback Off
Mordi o lábio tentando de alguma forma interromper as lágrimas que insistiam em cair pelo meu rosto e me encolhi pelo frio que fazia, eu só queria um abraço, alguém para me apoiar e dizer que vai ficar tudo bem, que meu filho não é uma "coisa". Levei a mão até minha barriga fazendo um leve carinho e sorri entre lágrimas imaginando o que eu sentiria quando ouvisse seu coraçãozinho bater, quando o segurasse pela primeira vez em meus braços.
-Com licença, aconteceu algo? Precisa de ajuda, moça? _ Levantei o olhar percebendo uma mulher parada em minha frente e neguei rapidamente. _ Certeza?
-Tenho.
-Está esperando por alguém? Quer companhia?
-Não! _ Levantei rapidamente do banco assustada e ela levantou as mãos em rendição.
-Calma, só falei por terem alguns homens ali.
-Já vou embora.
-Espera! A sua bolsinha. _ Ela estendeu a bolsa enquanto dava um leve sorriso. _ Não fica aqui durante a noite, essa praça é perigosa. Adeus, moça.
-Adeus.
[...]
Observei a mulher de olhos verdes quase virando a esquina em sua caminhada e me preparei para sentar novamente no banco, mas vi dois homens me olhando de longe fazendo meu corpo estremecer de medo. Sem esperar mais nada corri na direção da mulher que me olhou surpresa e virou para conferir se alguém nos seguia, pedi aos céus que ela não me desse mais medo que aqueles dois porque ela também é uma estranha.
-Está tudo bem, moça?
-Está sim, eu só fiquei com medo.
-Posso ajudar em algo? Não me pareceu estar esperando alguém. _ Mordi o lábio quando ela parou em frente uma casa enorme. _ Precisa de algo?
-Eu só estava pensando na vida.
-Dia difícil?
-Vida difícil.
-Às vezes o tempo resolve tudo. Por que não vai para casa e descansa? Talvez amanhã você pense melhor no que fazer para resolver. _ As palavras dela foram como um gatilho para as lágrimas que eu prendia. _ O que houve? Disse algo errado?
-E-eu... Você só me... Droga!
Tentei não travar, mas era impossível quando eu ficava nervosa, as lágrimas apenas caíam e eu me sentia cada vez mais frágil na frente de uma mulher que se preocupou sem ao menos me conhecer, uma estranha que conseguiu demonstrar mais preocupação quem meus pais e o Matthew. Senti a mulher me puxar com cuidado para um abraço e me permiti chorar ali, nem sei quanto tempo ficamos assim, eu só desabei em lágrimas arrancando tudo que aconteceu de dentro de mim, todas as lembranças, as palavras, tudo mesmo.
-Fica tranquila, vai ficar tudo bem.
-Eu não... não... não...
-Calma. Quer entrar? Tomar uma água? _ Neguei rapidamente finalizando o abraço e ela tocou meu rosto limpando as lágrimas. _ Calma, eu não vou fazer nada de mal.
-Eu não a conheço.
-Sou Lauren Jauregui, prazer. _ Ela estendeu a mão dando um leve sorriso.
-Camila Cabello.
-Agora que nos conhecemos, quer tomar uma água? Suco?
-Melhor não.
-Pode ser na lanchonete, assim você fica mais a vontade. _ Ela sugeriu e mordi o lábio negando com a cabeça. _ Ok, então podemos conversar aqui mesmo. O que houve?
-Eu não... Eu não tenho mais para onde ir.
-Brigou com seus pais?
-Sim.
-Tem algum amigo? Eu posso emprestar o meu celular para ligar.
-Ninguém.
-Algum parente? _ Neguei com a cabeça e ela apontou para a casa. _ Tenho quarto sobrando, se quiser passar a noite.
-Não.
-Olha, eu também estou confiando que você não vai me matar.
-Não é isso.
-Claro que é, mas eu juro que não vou te fazer mal.
-Eu não vou dormir na casa de uma estranha. _ Ela estendeu a mão me olhando com um leve sorriso. _ Já falei que não.
-São onze e meia da noite, está começando a chover e você precisa de um lugar para passar à noite. Vamos?
-Eu tenho um spray de pimenta.
-Legal, eu tenho molho de pimenta e de churrasco. _ Lauren falou me fazendo rir pela primeira vez nesse dia tão ruim. _ Vamos?
[...]
-Fique a vontade, Camila. Quer tomar um banho?
-Quero sim.
-Tem um banheiro no final do corredor, eu vou pegar uma roupa para você e uma toalha limpa.
-Tá bom. Muito obrigada por isso, Lauren.
-Nada, eu vou ajeitar o quarto de hóspedes enquanto você toma banho.
Ela subiu as escadas e continuei sentada no sofá observando tudo em volta notando a chave ainda na porta, até agora não acredito que tive coragem de vir para a casa de uma estranha, mas hoje nada mais me surpreende. Notei a presença de Lauren mais uma vez e peguei um casaco de moletom, uma calça de moletom e uma... Cueca boxer? Ela sorriu sem jeito dando de ombros e peguei a toalha enquanto seguia na direção onde ela indicou ser o banheiro. Sai depois de quase meia hora vestindo a roupa que ela me emprestou e vi Lauren deitada no sofá assistindo um desenho oriental, me aproximei receosa recebendo o mesmo sorriso sereno de minutos atrás.
-Vem, senta aqui e vamos conversar um pouco. _ Ela deu duas batidinhas no sofá e sentei ao seu lado. _ Posso saber o que fez você parar naquela praça?
-Eu meio que... Estou grávida.
-Sério? Que legal! Seus pais não gostaram da notícia?
-Não, isso mancha o sobrenome dos Cabello.
-Cabello, eu fiz um projeto para um cara com esse sobrenome. Diferente, não é? _ Ela divagou e riu me olhando. _ Para você é normal, eu sei.
-Cabello agência de moda?
-Isso, foi uma das nossas melhores construções. Espera, ele é seu pai?
-É.
-Então ele brigou com você por isso?
-Ele me expulsou.
-Como ele teve coragem? Isso é desumano, ele deveria te proteger. _ Senti raiva em sua voz e senti uma lágrima rolar por meu rosto. _ Não chora, linda. E o pai?
-Ele não quer assumir. Falou para eu... eu... eu... Droga!
-Calma, fala devagar.
-Eu não... não... não posso tirar o meu filho.
-E não vai tirar, fica tranquila. Eu posso te ajudar se quiser.
-C-como?
-A gente vai dar um jeito, ok? Amanhã a gente pode ir falar com os seus pais e pegar as suas coisas.
-Só os documentos, eles me proibiram de pegar qualquer coisa que tenham comprado.
-Eu sei que a gente ainda não se conhece, mas eu vou te ajudar. _ Ela segurou a minha mão e sorri fraco. _ Eu vou te ajudar, hm?
-Agradeço o que você está fazendo por mim, juro que amanhã mesmo eu vou encontrar um lugar para ficar.
-Não se preocupe com isso agora, ok? Eu vou te ajudar no que precisar.
-Obrigada mesmo. Você nem me conhece e já fez tanto.
-Ainda não conheço, ainda. Quer me contar sobre você?
-Sobre mim? _ Ela assentiu e mordi o lábio enquanto brincava com os dedos. _ O que eu digo?
-Não sei, pode me contar sobre as coisas que você curte fazer. Eu ainda não sei sua idade, seu apelido e nem o sabor da pizza que vamos pedir para o jantar.
-Quatro queijos, calabresa.
-Gostei, meio a meio então. E sua idade? É maior de idade?
-Sou sim, Vinte anos. Eu sei, tenho cara de bebê. _ Falei ao ver sua expressão surpresa, eu não parecia ter mais idade e nem tinha tamanho também. _Que foi?
-Não dava dezessete. Agora o apelido, tem?
-Acho que Mila, me chamavam assim na época do colégio. Ah, e Kaki... Mas esse só meus avós falavam.
-Legal. Eu posso chamar de Mila?
-Claro. _ Sorri de leve e ela piscou para mim. _ Agora você, tem algum apelido?
-Os meus amigos me chamam de Laur.
-Gostei. E a sua idade?
-Vinte e três, mas com uma coluna de noventa. _ Ri da sua bobeira e ela ficou me analisando.
-Que foi?
-Seu sorriso, ele é lindo. _ Senti o meu rosto esquentar com o elogio e olhei para baixo notando seu olhar ainda em mim. _ Ah não! Assim ficou mais fofa.
-Lauren!
-Foi mal. O que você faz? Talvez eu possa dar uma ajudinha.
-Sou formada em RH, mas eu nunca trabalhei.
-Sabe falar algum outro idioma? Fez algum cursinho profissionalizante?
-Espanhol e um pouquinho de português. Ah, entendo um pouco de francês, mas não sei falar.
-Temos aqui uma poliglota, senhoras e senhores. Já gostei.
-E curso de educação financeira.
-Posso te oferecer um teste na minha empresa, se mandar bem no trabalho a vaga é sua. Isso já ajudaria pelo menos pelo próximo mês.
-E o que eu faria?
-Pode ficar como assistente na recepção. Eu não posso oferecer um cargo de responsabilidade sem te conhecer melhor, entende? _ Ela coçou a nuca e praticamente me joguei em seus braços a abraçando. _ Calma, vai me esmagar.
-D-desculpa. Muito obrigada, Lauren.
-Eu estou confiando na sua palavra e em toda a história que você me contou.
-Juro que você não vai se decepcionar. _ Me afastei vendo mais uma vez seu sorriso acolhedor, não sentia mais medo por ela ser uma estranha.
-Agora vamos pedir à pizza que eu preciso repor todas as calorias que perdi.
-Equilíbrio é tudo.
-Não é?
Observei Lauren mexer no celular antes de sair conversando com algum atendente de pizzaria e continuei sentada no sofá me perguntando de onde eu tirei tanta coragem para vir com uma estranha que poderia me matar. Acho que tomamos atitudes impensadas quando estamos em meio a uma tensão, mas talvez eu possa sair sem que ela perceba e encontre algum lugar para ficar antes dos meus cartões serem bloqueados. Fui andando devagar até a porta que estava apenas encostada e abri lentamente sem fazer barulho depois de pegar minha bolsa deixada no outro sofá, mas senti um leve toque em minhas costas.
-Por favor... Não faz... Não faz nada.
-Calma. Você quer ir embora? _ Lauren perguntou me analisando e senti uma lágrima cair pelo meu rosto. _ Não chora, pequena.
-Me deixa ir.
-Fica tranquila, hm? Você é livre para ir, só que está caindo quase um dilúvio. Olha.
Ela mostrou a chuva caindo lá fora e ouvi o barulho de trovão me fazendo encolher sendo acolhida por seus braços, tentei prender as lágrimas, mas eu ainda estava muito abalada e não consegui, acabei chorando mais uma vez agarrada nela. Voltamos para o sofá mais uma vez e ela ficou fazendo um leve carinho em meus cabelos enquanto eu me acalmava, não queria parecer ser tão frágil, mas era quase impossível.
Suspirei notando minha mão agarrando firme a camisa que ela usava e levantei o olhar um pouco receosa, ela provavelmente iria reclamar de eu ter quase fugido dela e agora estar aqui chorando feito uma criança. Senti um beijo em minha testa e ela pegou o controle da televisão voltando sua atenção para o desenho que era transmitido, pelo menos até o intervalo e sua atenção se voltar para mim mais uma vez.
-Não consegui pedir a pizza, a ligação caiu. Vai ter que encarar a minha comida mesmo.
-E você cozinha bem?
-Ninguém morreu por comê-la. _ Ela brincou e eu acabei rindo, Lauren parecia ser bem humorada. _ Posso fazer um cheeseburger, gosta?
-Gosto bastante.
-Prometo dar o meu melhor. Vamos?
-Vamos.
[...]
Como eu sou "visita", Lauren me proibiu de ajudar em qualquer coisa enquanto ela preparava o nosso lanche, mas fazia questão de mostrar cada ingrediente que iria usar para me passar segurança de que não faria nada de mal. Observei ela montar o nosso lanche acompanhado de muita batata frita e seguimos de volta para a sala onde Lauren me mandou escolher um filme para assistirmos enquanto ela subia até o quarto para pegar cobertores, já que fazia frio. Olhei meu celular indicando que houve um bloqueio do meu cartão e suspirei magoada, como meus pais conseguiam ser tão cruéis assim?
-O que houve?
-Meus pais bloquearam o meu cartão, fiquei sem nada.
-A minha proposta ainda está de pé.
-Mesmo que eu tenha tentado fugir de você? _ Perguntei e ela deu de ombros sentando ao meu lado.
-Eu meio que trouxe você para a minha casa sem nos conhecermos, é normal.
-Desculpa.
-Relaxa. Amanhã se você não estiver confortável aqui em casa, eu te ajudo a encontrar um lugar para ficar.
-Obrigada por tudo que está fazendo por mim.
-Não me agradeça mais, eu só segui meu coração. Agora vamos comer que eu estou cheia de fome e você precisa comer por dois, lembra?
-Nunca vou esquecer, é meu filho.
-Então come, você e o seu bebezinho precisam estar bem fortes. _ Senti uma lágrima cair pelo meu rosto e levei as mãos até minha barriga. _ Disse algo errado?
-Não... É que você foi a primeira pessoa a se referir ao meu filho como "bebezinho" e não como "isso", "problema" ou "merda".
-Seu filho não é nada disso que eles falaram, hm? Ele é um bebezinho que vai ser muito amado e lindo como a mamãe dele.
-Obrigada.
-Posso pedir uma coisa?
-Pode.
-Ainda que você vá para outro lugar, posso manter contato? Se você não se importar, claro.
-Adoraríamos. _ Falei sorrindo entre lágrimas e ela segurou minha mão. _ Obrigada.
-Ótimo. Já aviso que sou uma tia que deixo fazer o que quiser.
-O meu filho não.
-Não duvide da minha capacidade de ser trouxa por criança. _ Ri observando Lauren pegar uma batata frita e jogar para o alto pegando com a boca. _ Legal, não é?
-É. Eu acho.
-Nunca tentou fazer isso quando era criança?
-Não que eu lembre.
-O que você fazia na infância? Isso é regra básica de ser criança.
-Eu fazia aulas de piano e etiqueta.
-Nossa! Que chato.
-Nem tanto, eu gostava dos professores.
-E brincar? Você brincava pelo menos, não é? _ Neguei mordendo o cheeseburger, que por sinal está maravilhoso. _ Como não?
-Meus pais nunca gostaram que eu brincasse, era perda de tempo para eles.
-Aprendeu a andar de bicicleta?
-Não.
-Não brincava de nada?
-Eu sempre ganhava brinquedos, mas meus pais doavam na primeira chance que aparecia.
-Isso é cruel.
-É.
-Não fica triste, hm? Como nós somos amigas, eu posso ensinar você a andar de bicicleta e até te dar uma boneca. _ Ri fraco sentindo meus olhos marejarem. _ Ah, não. O que eu fiz?
-Desculpa, eu sou um pouco chorona.
-Tudo bem, mas acho melhor beber mais água.
-Boba. _ Ela gargalhou jogando mais uma batata para o ar e pegou com a boca. _ Isso é mesmo legal?
-Muito, mas é coisa de profissional.
-Profissional? Isso é brincadeira de criança.
-Como ousa falar assim? _ Não acredito que vi Lauren cruzar os braços fazendo biquinho. _ Isso exige uma técnica e é bem difícil.
Peguei uma batata e joguei para o alto pegando a mesma com a boca. Soltei um risinho vendo a sua expressão indignada e voltei a comer o cheeseburger enquanto mantinha minha atenção na televisão. Apesar de ainda estar receosa com tudo, Lauren não me parecia uma pessoa ruim ou que me faria mal, pelo contrário, até o momento posso jurar que ela tem sido melhor que os meus pais em todos os meus vinte anos.
[...]
-Aqui, essa é a chave da porta e essa a do quarto. _ Lauren estendeu um molho de chaves e me entregou um carregador de celular. _ Não fuja, por favor.
-Não vou.
-É sério, não é seguro sair de madrugada.
-Eu prometo que não vou fugir.
-Vou confiar em você, hm?
-Pode confiar.
-Amanhã a gente vê o que fazer em relação a seus pais e você, tudo bem? Hoje você precisa descansar.
-Vou tentar.
-Se precisar de qualquer coisa é só ir ao meu quarto. _ Assenti levemente olhando o quarto em volta e senti um beijo em minha testa. _ Boa noite para os dois.
-Boa noite, Lauren. Obrigada por tudo.
[...]
POV Lauren
Uma estranha.
Eu ajudei uma estranha.
Deitei na cama pegando meu celular e mandei uma mensagem para Vero, minha melhor amiga e possível assassina quando descobrir que eu coloquei uma estranha na minha casa, às vezes minha impulsividade me faz tomar atitudes assim. Óbvio que nunca trouxe ninguém para minha casa, nem sei o que me deu para fazer isso, mas de alguma forma estava feliz em ajudar a Camila, algo nela me pareceu tão sincero, frágil. Sem falar que não conseguiria dormir após ouvir sua história e não fazer nada, eu não consigo olhar alguém precisando de ajuda e me omitir, mesmo que muitas vezes isso tenha me prejudicado.
Ligação On
-Palmitinho, diz o que tem de tão importante para contar.
-Tem uma mulher aqui em casa.
-Não participo de ménage, Lucy não deixa.
-Idiota. É sério.
-Como assim? Ela invadiu?
-Não, eu a trouxe pra cá.
-Sabe que não é pra levar ficante em casa, depois elas ficam pentelhando.
-Ela não é ficante.
-Amiga?
-Não, nos conhecemos hoje.
-Você levou uma estranha para sua casa?
-Sim, mas descobri que ela não é exatamente uma estranha.
-Como assim?
-É a filha do Cabello, o cara da agência de moda.
-E o que a filha dele está fazendo aí?
-Eu a trouxe, já disse.
-E o que raios essa mulher está fazendo aí? É uma mulher feita, não é?
-Sim. Eu até pensei que era menor de idade,mas ela tem vinte anos.
-Menos mal, agora me fala o motivo.
-Ela foi expulsa de casa por estar grávida.
-Grávida? E o pai da criança?
-Não quer assumir, eu não podia deixá-la sozinha na rua.
-Lauren, você está comprando problema dos outros.
-Eu sei disso, Vero. Mas juro que se a conhecesse faria o mesmo.
-Duvido.
-Vero, sabe o olhar de alguém frágil? É o dela.
-Ela é bonita?
-Linda, mas a questão não é essa.
-Não?
-Não, tem algo nela que eu não sei explicar.
-Sentiu algo por ela?
-Não desse jeito, sei lá.
-Quero conhecer essa mulher, sabe que pode ser uma aproveitadora.
-Amanhã vou levá-la na Ally.
-Pensa em deixá-la aí? Já quer levar até em médico.
-Penso.
-Lauren...
-Eu sei que pode ser arriscado, mas é pra ela também.
-Não sei qual das duas é a mais maluca.
-Ela, certeza.
-Toma muito cuidado, Lauren.
-Pode deixar.
-E eu vou te matar por ter feito isso.
-Vai nada, você me ama.
-Por isso mesmo, eu me preocupo.
-Juro que está tudo bem.
-Eu vou passar a ficha dessa mulher agora mesmo.
-Tá bom.
-Qualquer coisa me liga.
-Pode deixar. Te amo.
-Também, quando seus pais souberem vão te matar.
-Eu sei, por isso não vou falar agora.
-Brinca com fogo. Tchau, até amanhã.
-Até amanhã.
Ligação Off
Camila Cabello.
A mulher dos olhos mais doces que já vi na vida inteira, uma pena que neles consigo enxergar uma tristeza escondida, mas quem não teria tendo pais que a expulsaram sem se importar se eram duas pessoas desprotegidas no mundo? Eu agradeço todos os dias por ter pais incríveis, mas tenho consciência de que não é a realidade de muitas famílias. Fechei os olhos me permitindo relaxar e só consegui pensar que duas pessoinhas no quarto da frente precisam de proteção, cuidado e apoio para seguirem em frente.
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O QUE ACHARAM? 😍😍😍
Quero muito saber a opinião de vocês.
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