Dia 477
21 de Novembro de 2002
Quinta-feira

Era manhã quando Harry sobressaltou com a batida na janela da cozinha. Era uma coruja de tamanho maior que as normais, carregando uma carta enviada pelo Ministério da Magia, tinha certeza por conta da espécie. Ele andou apressado, deixando o café para outro momento, jogando a xícara na pia, com receio de ser algo ruim. A pequena Murphy seguiu seu caminhar de dentro do berço da cozinha, onde ela se lambuzava com um pedaço de caramelo.

"Obrigado." murmurou para a ave ao pegar a carta, recebendo uma bicada indicando sua fome, ele apenas deu de ombros, ela podia esperar ele ler.

Abriu o selo do Ministério e começou a ler, nesse meio tempo Draco entrava na cozinha com Delphinus em suas costas, ela ria de alguma coisa que Malfoy havia falado, mas Harry não tinha ouvido.

"Bom dia, monstrinho." Draco disse para a bebê no berço, enquanto colocava Delphi no chão.

Murphy instantaneamente largou o doce e ergueu as mãozinhas meladas pedindo colo para Draco, era apegada demais no loiro, o que deixava Harry com bastante ciúmes e ele teria dito algo se não tivesse passeando o olhar pelo pergaminho em mãos.

"Você está suja, que tal um banho para refrescar depois?" Draco diz se inclinando na barra do berço, sorrindo ao observar sua bebê. "Está bem quente hoje."

"Olha, uma coruja!" Draco ouve Delphi falar e vira o rosto, vendo a coruja e Harry lendo uma carta, no momento exato que ele a fecha e olha com preocupação para Malfoy.

"O que aconteceu?" pergunta pegando Murphy quase de imediato, imaginando que algo poderia acontecer de ruim.

"Sua tia, Andrômeda... ela está internada, Teddy está sob a guarda do Ministério agora, e você é o único parente dele vivo além dela, e eu sou o padrinho, estão convocando eu e você para decidirem a guarda temporária dele." Harry explicou, em tom precupado.

"Céus, disseram como ela está?"

"Apenas que está internada, pediram nossa presença o quanto antes, o mais tardar amanhã."

"Eu cuido da Murphy!" Delphi se ofereceu, Draco sorriu meigo para ela, negando com a cabeça. De maneira que o assunto não se tornasse pesado para a criança.

"Você é praticamente um bebê ainda, não vai ficar sozinha... e já disse que ela não é uma boneca pra você fingir que é sua filha, meu bem."

Delphi suspirou deixando os ombros caírem desanimada. De fato, recentemente Draco havia pego Mérope no quarto de Murphy tentando dar mamadeira para ela enquanto colocava a pequena no cercadinho, cambaleando com o peso da bebê já um tanto gordinha.

"Eu posso ir, levo a Murphy e a Delphi, você precisa ir dar suas aulas." Harry responde caminhando até Draco e deixando a carta sobre o balcão.

"Nem pensar, você vai voltar com o Teddy que só tem 4 anos, ele também fica muito no colo. E a Mérope adora dar perdido na gente pra ficar andando sozinha pelos lugares, então eu vou com vocês."

"Ei!" Delphi protestou, enquanto bebericava do café que a própria colocou na xícara.

"Mas eu posso lidar com isso."

"Eu sei que pode, a questão é que precisa de mim com você, ok?" Draco usou uma das mãos para acariciar o rosto alheio, Harry suspirou e deixou de relutar sobre o assunto, assentindo.

"Escreva uma carta enquanto eu dou um rápido banho na Murphy, ajude Delphi a se trocar, está bem?" estabeleceu enquanto pegava a bebê do colo alheio, que pareceu relutar por sair do chamego do pai loiro.

"Sim, chefe." Draco brincou, se virando para fazer o café da manhã de Mérope.

***

Murphy chorava no colo de Harry enquanto eles andavam pelo Ministério. A viagem rápida havia a deixado enjoada. Já Delphi andava contente segurando a mão de Draco. Era óbvio que recebiam olhares dos bruxos pela família peculiar que formavam.

"Ainda acho que deveríamos ter trazido o carrinho."

"Quero a minha filha nos meus braços, Draco. Principalmente aqui." Harry murmurou enquanto pressionava a bebê mais contra seu peitoral. Draco suspirou, entendia o que ele queria dizer.

Ambos tentaram ignorar todos os olhares e cochichos ao redor deles enquanto andavam apressados para um departamento específico. Era óbvio que olhavam curiosos para a criança que eles adotaram e principalmente para o bebê loirinho no colo de Harry. Caminharam o mais breve possível para o lugar especificado na carta.

"Se senta ali com ela e a Mérope, eu vou falar com eles." Draco disse para Harry em tom baixo, tocando seu ombro antes de dar um passo para se afastar.

"Nem pensar, eu vou com você. Posso resolver isso também."

Draco respirou fundo antes de virar para Harry e o encarar de novo, a expressão cansada com aquele assunto.

"Eu sei que você pode, Harry, mas você não precisa porque você está sobrecarregado demais os últimos meses. Só senta um pouco e descansa enquanto eu assino a papelada para pegarmos Teddy." Draco explicou com calma, mas Harry apenas fez uma expressão irritada, antes de caminhar até um dos sofás do ambiente e se sentar, Mérope o seguindo em silêncio.

Draco sentia que teria mais dor de cabeça sobre aquele assunto, mas apenas seguiu até o balcão para falar com o recepcionista daquele departamento. Não demorou muito para trazerem Teddy até eles após terminar de assinar os papéis. O bebê quase instantaneamente deixou os cabelos loiros quando foi para o colo de Draco, um sorriso presente nos lábios ao vê-los.

"Ei, sentiu saudades?" Teddy balançou a cabeça sutilmente, envergonhado antes de afundar o rosto no pescoço de Draco aproveitando do colo familiar.

E assim eles se hospedaram num dos hotéis trouxa, sabiam que teriam mais privacidade e sem paparazzi os seguindo. Embora Draco odiasse aquele ambiente cheio de muggles, ele tentou entender que era para o bem das crianças, era ridículo como eram expostos a manchetes sensacionalistas sendo tão novas, tudo porque se tratava do sobrenome "Potter Malfoy" juntos.

"Dormiram." Draco disse no fim da tarde quando os três ressonavam baixinho na enorme cama do hotel. O berço transfigurado não serviu de muito já que Murphy havia ficado agitada com a presença de Teddy e erguia os braços gordinhos para apertar o bebê mais velho.

"Você precisa parar de me subestimar, Malfoy." Harry disse em tom baixo, escorado na janela do quarto e observando o ambiente muggle do lado de fora. Draco girou os olhos se apoiando ao lado dele.

"Por favor, não vamos brigar. Teddy acabou de chegar, não quero um clima ruim entre nós afetando as crianças." Draco pediu, massageando as sobrancelhas, em sinal de cansaço.

"E agora me transforma no vilão da história." respondeu mal humorado, saindo de perto de Malfoy em direção ao banheiro.

"Harry, não tem vilão, não tem história, só estou pedin-... esquece, fale e pense o que quiser." Draco deu de ombros, desviando o olhar para o chão.

"Está bem."

Dia 479
23 de Novembro de 2002
Sábado

"Vai mesmo ficar emburrado pra sempre?"

"Agora está falando comigo?"

"Harry, foi você que parou de falar comigo. Não seja infantil."

"Vai se foder."

"Caralho, podemos conversar normalmente? Voltou no tempo é?" diz beirando a acidez. "Está no quinto ano de novo?"

"Não. Só queria que me levasse a sério as vezes, mas você age o tempo todo como se eu não pudesse me defender ou fazer as coisas sozinho, não é assim que funciona e eu fui independente a vida toda, não preciso de você agora para dizer o que devo ou não fazer, era isso que queria que entendesse."

Draco respirou fundo ao ouvi-lo cuspir as palavras, girou nos calcanhares pra alcançar o berço de Murphy quando ela resmungou baixo, indicando que iria começar a chorar por ter sido despertada fora de hora.

"Nunca foi minha intenção te fazer se sentir sufocado comigo. Era apenas preocupação com o meu marido, imaginei que estava no direito de agir como alguém preocupado com a sua saúde. Mas se isso te incomoda tanto, eu irei parar de falar e agir dessa maneira, não vou mais te incomodar com os meus sentimentos."

"Obrigado." Harry respondeu ainda em tom irritado, saindo do quarto a passos fortes.

Draco encarou a bebê que logo retornava ao seu sono. Os olhos acinzentados estavam um tanto vermelhos e lacrimejados, ele limpou o rastro de água antes mesmo de alcançar as maçãs de seu rosto, se recusaria e expressar qualquer sentimento ruim, não era alguém que chorava facilmente mas era inevitável não se sentir daquela maneira com o amor da sua vida lhe pedindo espaço. 

Dia 480
24 de Novembro de 2002
Domingo

O moreno observava sua pequena filha sentada no carpete, encarando a tela da televisão que passava um desenho qualquer. A menininha suspirou, estava de barriga cheia, em seguida tombou as costas contra o sofá e os olhinhos verdes desviaram para o lenço que carrega para todos os lados, se aconchegou para cheirar antes de voltar a observar o desenho. Já Teddy estava muito empenhado em rabiscar coisas aleatórias numa folha, os fios num misto de azuis e castanhos, sentado não muito longe de Murphy.

"Harry, estou com fome." disse Delphi ao lado de Harry, segurando alguns pergaminhos que lia das aulas na Arara-rosa, como uma Botões de Açúcar mas no Amazonas, para os bruxinhos que ainda faltava alguns anos para Hogwarts ou CasteloBruxo.

"Acho que Draco já está acabando o jantar, querida." respondeu, desviando o olhar de Murphy para Delphi, um pequeno sorriso para ela.

"Posso perguntar algo?" se aproxima dele no sofá, deixando de lado o trabalho de casa.

"Claro que pode, é alguma dúvida sobre o trabalho?" aponta para as folhas, mas ela nega com a cabeça.

"Na verdade, não. Mas... vocês vão se separar? Vão me devolver?" ela pergunta em tom um pouco mais baixo, com receio da resposta.

Ao ouvir aquilo, Harry se sentiu mal. Devolver uma criança como se fosse um mero objeto de negociação, parecia cruel demais para qualquer pessoa. Ele tomou liberdade de se aproximar e acariciar os fios de cabelos cacheados e cheios, um sorriso pequeno ganhando presença para tentar amenizar o que quer que ela estivesse sentindo no momento.

"Não vamos nos separar, não vamos te devolver. E mesmo se ele ou eu pedisse o divórcio, você continuaria sendo minha filha e dele. Afinal de contas tem nosso sobrenome agora, prometemos que iríamos cuidar de você, isso não vai mudar nunca, está bem?"

Ela assentiu um pouco mais aliviada, porém ainda tristonha de reparar em como o casal estava afastado nos últimos dias, mas não iria se intrometer, afinal ouviria um "você é nova demais para entender". E Delphi entendia muita coisa, mais do que as crianças da sua idade entendiam. Talvez fosse a vida cruel que o destino lhe deu logo tão nova, sem o amor e auxílio de pais que a amassem, deixada sozinha em um orfanato onde acabou ajudando na crianção das crianças mais novas daquele lugar, aprendendo a cuidar de si mesma sozinha.

"Vocês tem certeza?"

"Absoluta." se inclinou para puxar a menor para um abraço, que retribuiu com o mesmo carinho.

Era um tanto irônico o fato de que os pais daquela menininha haviam tirado a oportunidade de Harry em ter uma família. E agora ele estava dando uma a ela.

Dia 482
26 de Novembro de 2002
Terça-feira

Harry estava acordado desde as quatro da manhã. Ao seu lado estava Malfoy, ressonando tranquilamente perto de seu despertar por já ser quase seis horas. O moreno olhava para o teto com os pensamentos a mil, se questionando tantas e diversas coisas, girou a cabeça para olhar e ver a face adormecida e pálida, com fios loiros meio bagunçados.

Seu coração começou a bombear com força ao olha-lo demais, diversos momentos juntos passando por sua mente, como os sorrisos ladinos, piadas mal contadas, aconchegos fofos e beijos de esquimó. Por que tinhas de ser tão complicado? Por que tinha que afastar a pessoa que criou um laço tão intenso?

Talvez a falta de um elo. Sim, era isso!

Não. Harry não queria um elo, são só cinco anos. Não é? O divórcio viria de um jeito ou de outro, não faria um elo sabendo que teria data de validade. Mas... não gostava muito da ideia de que a porcaria de um feitiço comandasse seus sentimentos, tinhas de ser verdadeiro, não é? Ou não... não fazia idéia.

Mas... como saberia se era verdadeiro?

"Hmm!" ouviu Malfoy resmungar e se aconchegar a Harry, o abraçando como se fosse um ursinho e invadindo sua área de conforto, sonolento demais para acordar e notar o ato.

O moreno pensou em protestar e o afastar de si, mas fazia algum tempo que não tinha o contato de sua pele com a dele, ou sentia seu cheiro tão de perto, ou sua respiração quente, ou suas mãos com toques fortes e gélidos em seu corpo, ou... para, Harry!

"Eu te odeio, Malfoy." resmungou a contra gosto, enquanto deixava de lado a briga de ambos para o abraçar de volta e se acolher a ele.

Não levou minutos para Harry conseguir dormir, depois de noites de quase insônia.

Dia 484
28 de Novembro de 2002
Quinta-feira

Era cedo quando Draco foi chamado para a sala da diretora de CasteloBruxo, o rapaz loiro se encontrava sentado de frente a ela.

"Bom, vamos ao ponto. O Governo Bruxo Brasileiro está com uma excursão para alguns pontos específicos da Amazônia para estudarem algumas plantas ainda desconhecidas, tomei a liberdade de reservar uma vaga para você, professores e estudantes de poções e herbologia vão ser convocados a participar. Sei que tem uma família, mas vejo muito potencial no senhor, espero que possa pensar sobre o assunto com carinho."

"Oh, sério? Não, imagina, é um prazer receber esse convite, fico grato. Só de fato terei que dar a resposta depois pois preciso me organizar com meu marido. Quantos dias será essa excursão?" Draco respondeu com o tom um pouco animado, realmente se sentia lisonjeado com a proposta principalmente por ser um estrangeiro.

"Duas ou três semanas. Os detalhes você irá receber por carta, não poderei participar e não saberei tirar suas dúvidas no momento, então sugiro que espere a carta e de retorno ao correspondente da mesma."

"Farei isso, obrigado!"

***

"Duas ou três semanas? Mas e eu e as meninas?"

"Você não consegue dar conta sozinho? Agora que Murphy já pode ficar no berçário."

Harry desviou o olhar pensando sobre o assunto, ele conseguiria sozinho. Mas... não queria que Draco fosse, era muito tempo agora que se viam todos os dias e todas as noites. Mas também... havia dito que era independente e não precisava de Malfoy.

"Eu consigo." Harry disse quase num suspiro, virando as costas para mover a varinha em direção a louça e os objetos começarem a lavar. Ele caminhou para fora da cozinha sem olhar para Draco, que não ficou confuso com o tratamento de ultimamente.

***

"Por que você está aceitando ir cuidar de plantas?" Harry pergunta após o silêncio que se fazia entre eles ao se deitarem para dormir. Draco abriu os olhos para olha-lo.

"Porque é algo que agrega na minha vida profissional."

"Mas... esquece, você não vai entender." se virou de costas para ele, puxando a coberta.

"Harry, eu estou cansado de tudo ser motivo de discussão. Só por favor, se abra comigo sobre isso e vamos resolver de maneira civilizada."

"Plantas, Draco. Ano passado, a outra Murphy disse que sentia falta quando morávamos no Brasil e trabalhávamos com plantas. Isso não vai ser só três semanas."

"Oh..."

"É... oh." suspirou, a voz demonstrando cansaço. Harry se virou devagar para olha-lo de volta. "Eu não gosto disso."

"Você diz não acreditar ser o nosso futuro, então porque não gosta?"

"Porque se tudo for compactuando, é como se a gente andasse para o mesmo futuro da realidade dela. Essas coisas existem repetições, não dá mesma maneira, mas existem. Então eu não quero que aconteça conosco também."

"Harry e se... e se for-..."

"Não é!" o interrompeu, Draco suspirou desviando o olhar.

"Amor, por favor... só, considere. Quanto mais cedo aceitarmos que é nosso futuro, mais cedo podemos nos colocar diante disso e entender tudo que vai acontecer e aconteceu, tentar ficarmos prontos pra quando acontecer."

"Não vai acontecer, Draco."

Malfoy suspirou e fechou os olhos. Harry era irredutível, não iria mais tocar no assunto pois no final iriam discutir e brigar bem mais do que antes.

"Boa noite." Draco disse após um tempo, dando as costas para ele dessa vez, se aconchegando para tentar dormir e fugir daquilo no momento.

Dia 487
1 de Dezembro de 2002
Domingo

A garota olhava para Malfoy com curiosidade, enquanto ele colocava os anéis em seus próprios dedos, ajeitando a camisa social branca por dentro do cinto.

"Brasão dos Malfoy?" ela pergunta ao observar um dos anéis. Ele virou o rosto para ela, levando alguns segundos até entender.

"Sim. Você é uma Malfoy agora, está na hora de ter um também." Draco comenta, dando meia volta para buscar sua maleta, era bem cedo.

"Malfoy. Eu acho bonito esse sobrenome. Até um pouco mais que Potter... mas não conta pra ele!" ambos deram gargalhadas com o comentário.

"Não vou contar. Mas eu concordo, e convenhamos, ele fica mais bonito como Harry Malfoy do que Harry Potter."

"Concordo. Ele é um chato."

"Delphinus!"

Eles riram novamante enquanto ela pulava da cama com a mochila já nas costas e uniformizada. Draco deu uma última olhada no espelho sobre seu visual e segurou em sua mão para saírem do quarto. Chegaram rapidamente no andar de baixo onde avistaram Harry limpando as mãos de Teddy sujas de chocolate, enquanto Murphy se encontrava dentro do berço, esperneando para sair, chacoalhando as grades.

"Por que ela está chorando?"

"Eu não sei, ela está irritada a manhã toda." Harry diz em tom cansado, olhando para Murphy ao terminar de limpar as mãos do garotinho, que cambaleou para de volta o carpete da sala, com seus brinquedos.

"Está com fome?"

"Talvez, mas ela não quis comer a papinha quando acordou, ela não está com febre, não está com fome, a frauda está limpa, ela não quer os brinquedos e nem o meu colo." Harry se sentou no sofá, pousando uma das mãos na testa sentindo doer com a dor de cabeça pelo choro.

Draco soltou Delphi para poder se aproximar da bebê no berço, ela negou seu colo, caindo de bunda no berço e levando as mãos para os olhos, o choro se tornando mais alto. L

"O que você tem, bebê?" pergunta mais para si mesmo, se abaixando de frente o berço e segurando as grades.

Murphy tinha pulmões de ferro, pois seu choro só aumentava com a agitação a volta dela. De repente, o berço balançou e levitou poucos centímetros do chão, Draco segurou com mais intensidade nas grades com receio dele subir mais. Harry saiu do sofá com um pulo, a pequena fazia seu primeiro ato de magia e parecia cedo demais pra isso acontecer.

"É os dentes. Está nascendo o primeiro, está doendo por isso ela está chorando e não comendo." Delphi diz se sentando na poltrona.

"Como não pensei nisso?" Harry questiona aquilo para si mesmo, se inclinando para pegar Murphy no colo, mesmo que a contra gosto da bebê.

"Começa agora, entre os 5 meses a 1 ano, não é sua culpa." Draco explica, um pouco maravilhado com sua filha manifestado magia logo tão cedo.

"Eu deveria ter me atentado mais." rebate, balançando a pequena conseguindo acalmar um pouco o choro.

"Como sabe que é isso?" Draco pergunta, se levantando após ter certeza que o berço estava no lugar, virando para Delphi.

"No orfanato. Eu era a mais velha, lembram? Eu via como elas cuidavam dos mais novos, sempre que choravam assim era esse o motivo." Explica, mexendo os ombros como se não fosse nada importante pra si.

"Bom, preciso levá-la e preciso ir também. Harry, tudo bem? Você quer que eu falte hoje pra te ajudar?"

"Não. Está tudo bem, não é certo com seus alunos. Eu consigo." suspira, antes de sorrir minimamente para Delphinus e se sentando na poltrona outra vez. "Sem aprontar."

"Vou tentar."  

Dia 495
9 de Dezembro de 2002
Segunda-feira

"Ela precisa comer essa papinha até antes das dez horas, está bem? Ah, e ela adora tirar esse laço e colocar na boca, não precisa tirar dela porque isso a faz chorar, seu cochilo é por volta das duas da tarde e-..."

"Harry, vão cuidar bem dela." Malfoy interrompeu o moreno, que falava com uma das funcionárias do berçário, Murphy estava distraída com um dos brinquedos entre os bebês lá dentro.

"Eu sei, eu só..." Harry olha para Draco apreensivo, um suspiro fraco.

"Eu entendo, mas ela já tem seis meses, está enorme e vai chorar quando quiser algo, exatamente como faz com você. E vai poder encher ela de beijos de noite."

"Eu sei, mas ela vai chorar ainda mais quando eu não estiver perto ou você." Harry entrega para a funcionária a bolsa com a troca de roupa, fraudas e outros objetos para os cuidados da filha.

"Ela vai ficar bem, é uma Potter."

Malfoy falou com um sorriso, Harry deu um pequeno sorriso de volta antes de olhar para a bebê uma última vez e tocar no pulso de Draco, indicando que podiam aparatar para o lugar mais perto de uma lareira de teletransporte para CasteloBruxo.

***

"Bom dia, alunos. Espero que estejam entendendo com facilidade o que estou falando, caso o feitiço confunda alguma palavra vocês podem me avisar que tentarei explicar novamante qualquer que seja a dúvida." Harry falava enquanto entrava na sala de aula, passando pelo corredor entre as diversas mesas.

Os alunos imediatamente começaram a sussurrar quando se deparam com a aparência inconfundível. 'Harry Potter', 'Caralho gente é o Pottah', 'Eita porra, mentira que ele é o novo professor de Defesa Contra as Artes da Dolores', 'Gente do Céu'.

"Dolores? Gente do céu?" Harry repetiu confuso, se perguntando se o feitiço estava traduzinho automaticamente da maneira certa ou era eles que estavam falando coisas realmente sem sentido e palavrões.

"Suave, prof? Vai ficar boiando ai?"

"Suave? Boiando? Como assim?" Harry pergunta confuso, as palavras pareciam traduzidas ao pé da letra, pois não fazia sentido na sua cabeça para o que eram utilizadas.

Uma onda de risos preencheu a sala por Harry não estar entendendo, de certa forma ele riu com eles de nervoso. Parecia um bom começo.

***

Harry estava sentado ao lado de Draco na mesa dos professores, os alunos entravam aos poucos para o local onde provavelmente era o 'Salão Principal' deles. Percebia os olhares curiosos e até bastante simpáticos dos alunos que entravam, apontando sem descrição para os dois e falando coisas que Potter não ouvia direito.

"Relaxa, eles gostaram de você." Draco murmurou ao perceber o jeito ansioso que Harry estava.

"Gostaram mais de você, olha lá." apontou sutilmente com a cabeça para uma das enormes mesas, onde um enorme grupo cochichavam olhando para eles.

"Eles estão olhando para você também." respondeu ainda em tom baixo, Harry revirou os olhos não acreditando. "Está duvidando? Dá um sorriso para eles."

Harry franziu o cenho confuso para ele com o desafio, mas estava curioso então ajeitou os óculos antes de olhar novamente para o grupo, elas deviam ter entre 14 a 17 anos, percebeu três garotos no grupo com a mesma faixa etária. O moreno deu um pequeno sorriso como um cumprimento simpático, o grupo se agitou soltando gritinhos baixos de animação e acenando com as mãos para eles ganhando a atenção do resto dos alunos, Draco riu ao seu lado e Potter desviou o olhar ganhando rubor na face.

"Eu disse."

"Cala a boca." respondeu humorado.

Não demorou muito para a diretora Maria se pronunciar sobre o novo professor Harry, que ganhou aplausos dos alunos como boas-vindas, era bem novo o entusiasmo daquelas pessoas. Devia ser algo do país deles, como um verdadeiro britânico é de fato um pouco novo tanta hospitalidade. Não que britânicos não sejam simpáticos, mas era fácil notar a diferença de latinos para europeus.

Harry esperava se dar bem nessa nova vida, se acertar com seu marido e ser um bom pai. Mas lidar com seus demônios parecia ficar cada vez mais difícil por negar tanto que os tem dentro de si.

[N/A] Oi gente, então. Eu faço faculdade e esse ano comecei a trabalhar, então minhas ocupações foram lá para cima, os capítulos sempre demoraram para serem postados e vai continuar mais ou menos no mesmo ritmo de postagem, lamento. Mas fico feliz que estejam gostando e sempre pedindo por att!

Como anda as teorias de vocês, hum? Parei de fazer perguntas no final dos capítulos porque inicialmente não tinha muitas respostas porém reparei recentemente que tem bastante agora que mais pessoas lêem, sinto que isso deixa vocês mais inclusos na história quando expõem o que acham que está acontecendo, vou voltar com eles.

Obs: Leiam Slytherin, minha outra fanfic drarry nesse perfil mesmo! Obrigada aos 200K aqui, fico muito grata a vocês, não deixam de me seguir ou ler as outras fics se for do gosto de vocês! 💕

PERGUNTA DO CAPÍTULO
Se as suas teorias estão "certas" com o que descobre no decorrer dos capítulos, o que você acha que vem a seguir? Se estão erradas, quais suas suposições agora? Justifique.