Ninguém sabe ao certo de onde virá o próximo fenômeno literário. Quem diria, por exemplo, que o livro escrito por uma senhora dentro de um café escuro e empoeirado de Edimburgo, na Escócia, seria aquele que definiria o futuro da literatura infanto-juvenil? Pois foi exatamente o que aconteceu quando J.K Rowling lançou o primeiro romance de Harry Potter, em 1997. Mais tarde, quando todo mundo estava ocupado procurando "o novo Harry Potter", a história de amor entre um vampiro bonzinho voava das livrarias direto para as mãos de milhões de leitores ávidos. Quando você pensa que já viu de tudo, surge uma trilogia sobre sadomasoquismo – criada originalmente como uma fanfic daquele romance com o vampiro bonzinho – e quebra todos os recordes.

O meio literário é imprevisível, mas permite alguns palpites. Não são poucos aqueles que apostam na internet para revelar o próximo grande livro. O que faz todo sentido. Cada vez mais autores, iniciantes ou não, estão publicando online e testando novas ideias e histórias.

É aqui que o Wattpad entra.

O Wattpad é uma plataforma de leitura online. Um híbrido de livro com rede-social, que permite que qualquer um publique ou leia o que outros estão escrevendo. Além disso, é possível votar nos seus capítulos preferidos, comentar em trechos específicos e mandar mensagens ao autor. Com uma resposta tão direta do público, ficou muito mais fácil – e rápido – afiar o texto.

Logo, a plataforma criou sua própria constelação de autores em ascensão. Usando as redes sociais como única ferramenta de divulgação e escrevendo basicamente sobre o que gostariam de ler, esses jovens movimentam uma legião de fãs que os acompanham em eventos e os colocam no mesmo patamar que qualquer outro escritor publicado tradicionalmente. Isso sem nunca ter ao menos aparecido na TV. (Aliás, a maioria deles nem ao menos assiste TV.)

Lá fora, nós já temos a primeira best-seller criada no Wattpad. Anna Todd, autora de After, nasceu e cresceu no Texas, onde trabalhava como vendedora em lojas de maquiagem e usava o seu tempo livre para escrever no seu smartphone. O longa-metragem baseado na sua obra está sendo produzido por um grande estúdio.

Neste livro, reunimos alguns dos brasileiros que estão seguindo os mesmos passos. Gente que está usando o Wattpad para dar seus primeiros passos na profissão, ampliando sua experiência, acumulando leitores e dividindo histórias. E são esses talentos, selecionados pela MUNDO ESTRANHO, que você conhecerá nas próximas páginas.

Encontramos desde autores de horror, como Marcus Barcelos, até aqueles que fizeram sua fama discorrendo sobre as agruras de ser adolescente, como Aimee Oliveira. E o que dizer da Lilian Carmine que, através do Wattpad, chamou atenção da gigante editorial americana Random House? Um detalhe curioso: o livro da Lilian publicado no Brasil é, na verdade, a versão traduzida do que foi publicado nos EUA meses antes, já que a editora precisou negociar diretamente com os seus representantes de fora do país.

Para criar um ambiente em que mentes criativas tão diferentes pudessem dialogar entre si, pensamos logo nas séries de TV clássicas como Além da Imaginação, Amazing Stories e a recente Black Mirror, onde cada episódio conta uma história independente sobre como as novas tecnologias podem fascinar – e aterrorizar. No nosso caso, a proposta é que cada autor bolasse um mundo semelhante ao nosso – mas com uma única diferença significativa, que impactasse a vida dos personagens e servisse de fio-condutor à trama.

E eles deram um show. Alguns contos exploram a fantasia, outros falam sobre tecnologias dignas da ficção científica, muitos flertaram com a distopia. Todos vão te levar para realidades paralelas ou futuros assustadores. Mundos sombrios, afinal.

Você pode ser um curioso tentando compreender o que o Wattpad tem de tão especial para manter jovens lendo por horas a fio. Estes dez contos vão ajuda-lo a entender. Se você já é um fã da plataforma, nem preciso dizer que provavelmente vai gostar do que encontrará a seguir. Mas, acima de tudo, este é um livro para quem está simplesmente procurando por boas histórias. É isso que importa. No final, o modo como ele é publicado não faz tanta diferença assim.

Felipe Sali