33. Bella em ''Os primeiros pulos da gata''.
33. Bella em "Os primeiros pulos da gata".
Dias atuais: 2015.
Certamente Queila queria convencer Carlos a ter outro filho. Não que Carlos não quisesse ser pai novamente, mas a experiência traumática de ser pai solo de duas filhas pequenas (após perder a esposa num terrível acidente de carro) não lhe fora nada boa. Não, nada de mal aconteceria à Queila. Não. Ele só não estava preparado para ter outro filho.
Queila havia saído bem cedo com Charlotte no domingo. Tinha voltado com um macacão amarelo à mostra em sua bolsa e com a ideia de fazer uma reunião ali na cozinha mesmo. Não, Carlos não queria ter outro filho.
– Amor, eu e a Charlotte queremos conversar com você, só estamos esperando... – Dizia Queila antes de Maurício chegar. – Ah, ele já chegou.
– Bom dia a todos vocês. Eu não sabia que a Gangue começaria mais cedo hoje. – Supôs o rapaz. – Fiquei bem alarmado quando mamãe disse que vocês tinham me chamado antes de eu me levantar da cama. Vocês entendem que eu precisava tomar banho, me arrumar, não entendem?
– Então vocês saíram para a casa do Maurício bem cedo, foi? E por que você comprou um macacão, Queila? O que o menino tem a ver com as nossas discussões de família?
– Tudo. Carlos, eu adoro planejar as coisas antecipadamente. Eu só queria dar um presente e você não precisava abrir o bico. – Discutiu a caçula de Beatriz.
– Chega! Parem de brigar. Esta reunião não é sobre vocês dois... – Falou a moça apontando para o pai e para a madrasta. – É sobre nós dois. – Finalizou pegando na mão do namorado.
– Charlotte, pare de defender a Queila. Ela sempre convence você a falar o "quanto quer um irmão mais novo". – Berrou o pai.
– Pai, não é sobre a Queila, é sobre mim. Eu estou grávida.
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Afinal a Gangue dos Pré-Universitários não era tão dispensável assim. Só ali, observando, Bella podia ver o quanto as aparências enganavam. Por exemplo, Jacyara e Isaac eram mais "amigas" que namorados e Melissa não parava de olhar para o decote de Isadora. Somando dois mais dois a própria descobrira que tinha como deixar Isaac solteiro e obrigar Zé Ricardo a lhe adicionar em seu esquema de tráfico. Bem, apesar de ser um grande plano, aquilo não era o mais interessante naquela reunião de fevereiro de 2015. André levara a sua tia (que nunca ia ao encontro) até Paolla e os dois estavam em uma conversa calorosa com Ana Maria. Não custava nada Bella fingir que ia beber água e escutar parte da conversa.
– Você tem que voltar para lá e fazer a Gata Borralheira acreditar que você está do lado dela. – Aconselhou André.
– Qual é o nome da boate mesmo? – Indagou Paolla.
– Cheiro Santo. – Respondeu. – Olha, eu sei que ela é criminosa, mas eu estou com tanta pena dela. Ela disse que está doze anos sendo só a Gata Borralheira...
– Só para não deixar passar. Como é a aparência dessa mulher mesmo? – Retornou Paolla.
– Assim... Ela tem belos olhos azuis e cabelos loiros. O rosto eu não consigo ver, mas eu tenho certeza que ela realmente é uma gata...
– Doze anos sendo só um disfarce. Pegou essa, Paolla? Quem aparentemente morreu há doze anos e tinha envolvimento com o tráfico?
– Pelo envolvimento eu diria que é a Ruanna, mas pode ser muito bem a Selena. – Observou a mãe de Samantha, para o choque de Bella.
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Tereza tinha um coração bobo e isso ela não podia negar. Sim, ela havia terminado com Baltazar ainda em dezembro de 2014. Não, a desculpa que era por causa do desentendimento de Melissa e Isadora no ensaio da Descoladas não colou. Sim, ela precisou confessar para Baltazar que ainda sentia algo por Zé Ricardo. Falando no diabo... "A Queila também te convidou para a festinha das crianças? Quer que eu passe aí para te pegar?", perguntou o contato "Pai dos gêmeos". "Eu posso ir de a pé, não posso? É aqui no quarteirão", respondeu. Em seguida, para não tão grande surpresa de Tereza, a campainha de sua casa tocou.
– Você quer um pouco de vinho? – Perguntou o malandro com a garrafa na mão.
– Eu não bebo vinho à tarde. – Negou Tereza.
– Perdeu o hábito, Tetê? Quando você era mais jovem tomava vinho comigo em qualquer hora do dia e em qualquer lugar. No meu carro, na cabine de roupas da Descoladas, no escritório da mamãe...
– Você está confessando que se aproveitou de uma garota semi-inconsciente? – Provocou. – Sabe, naquela época eu era idiota o bastante para cair na sua lábia. Hoje não sou mais. Sei quem é homem de verdade ou não.
– Então quer dizer que o tal de Baltazar não é um homem de verdade? A prima dele, a gostosa da Belinda, me disse que vocês terminaram.
– Eu e Baltazar decidimos dar um tempo devido às brigas constantes da Isadora e da Melissa. – Disfarçou. – Agora, respondendo a sua pergunta, o Baltazar é sim um verdadeiro cavalheiro. Ele nunca mandou a finada esposa dele abortar suas filhas e soube ser um pai amoroso e presente para elas.
– De novo com isso, Tetê? As crianças foram bem melhores criadas sem a minha presença, isso eu posso apostar. Além disso, é ridículo você não querer pisar na Descoladas por causa de um conselho, ouça bem, conselho de um rapaz de 19 anos. Olha, eu sei que as crianças são lindas e inteligentes, mas você estragou uma carreira de modelo brilhante.
– Eu teria uma carreira de modelo brilhante se você tivesse assumido nossos filhos e dado o suporte necessário, eu não teria perdido a minha carreira de modelo brilhante.
– Quer um copo de vinho? Para relaxar...
– Acho que eu sou obrigada a aceitar agora. – Disse Tereza, retirando apressadamente duas taças de vinho do armário. – Eu ainda lembro da primeira vez que tomei vinho...
– Também lembro. Acho que aquele foi o segundo melhor sexo da minha vida perdendo, é claro, para o dia em que eu fiz os gêmeos em você.
– Como você pode tirar a virgindade de uma garota numa cabine de roupas?
– A garota era linda demais e eu não consegui esperar...
– Mentiroso, você sempre foi um mulherengo. Garanto que conta isso para todas.
– Você acha? Eu só falo que elas são lindas, mas nenhuma me deixou mais excitado do que você. Nunquinha. Seu fogo vai dos pés ao cabelo. – Jogou. – Agora, aposto que você também nunca teve sexo melhor com outro do que comigo.
– Olha, eu já sonhei com a nossa primeira vez num dia que eu estava apagando o fogo com o Baltazar. Mas foi só para lembrar que aquela transa fica em vigésimo lugar.
– Sente saudades, não sente? Você não consegue mentir, senhorita Valdez. Eu sei que você só terminou com aquele trouxa por minha causa. Você ficou balançada com a minha volta. Você estremeceu com o beijo que te dei na audiência do delegado Antônio Alves.
– Não, eu só fiquei assustada e...
– Então está bem. Se eu lhe der outro beijo e você me tratar com frieza, eu prometo, pelos teus cabelos de fogo, que nunca mais vou te cantar.
– Tudo bem, eu... – Dizia, enquanto levava outro beijo roubado do cafajeste. A sorte de Tereza era que o sofá da sala era bastante confortável, já que uma transa no chão seria bem mais humilhante.
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Zé Ricardo chegou na casa de sua irmã quatro minutos após Tereza. Claro, que tudo aquilo foi combinado. A pobre ruiva teve que trocar de roupa depois do estrago que Zé fizera nas que ela usava. Não, Zé não queria rasgar aquelas roupas finíssimas da Descoladas, mas seu instinto selvagem falara mais alto. A vida de Zé se tornaria um paraíso se tivesse a belíssima sempre em sua cama e não tivesse a lama até o pescoço com o tráfico internacional de...
– Tio, eu quero falar uma coisa séria com você. – Gritava Bella, fingindo parentesco sanguíneo. – É um caso de vida ou vida.
– Decidiu confessar que sente inveja da minha Dora? – Jogou.
– Não, é sobre umas coisas que andei ouvindo. – Contou. – O senhor conhece a Gata Borralheira, não é?
– Foi o Vinícius quem te disse, não foi? Eu sabia que aquele miserável metia chifre na minha filha. – Suspirou. – Bem, Bella, você ainda é menor de idade e não pode participar do esquema de drogas.
– Não! Aquela fofoqueira da Ana Maria andou dizendo por aí que a tal Gata Borralheira tem doze anos de disfarce e também a Anna Julia sempre lembra de algo estranho que ela viu no enterro da mamãe e da titia. Me conta. A mamãe e a titia estão vivas, não é? Essa tal de Gata é uma das duas?
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Poucas vezes na vida Vitória havia sido convocada para uma reunião de emergência. Como boa esposa de político, a senhora natural de Formiga evitava se meter em confusões. Bem, aquilo que ele estava vendo na casa de Queila era tudo menos um lugar calmo. Os adolescentes, que começariam suas aulas na Douglas Monteiro no dia seguinte, estavam espaçados na sala, cada um com sua própria tribo. Isadora, por exemplo, estava abraçada com Vinícius no sofá e recebia seu beijo com o rosto um pouco apático. Já Isaac, seu gêmeo, compartilhava seu fone de ouvido com Jacyara e tinha uma expressão bastante animada. Anna Julia e Juliano trocavam fortes carícias em uma parede mais reservada, enquanto sua doce Noemi ouvia atenta às histórias alienígenas de Leonardo. Todos estavam ali, exceto Maurício e Charlotte. Tudo isso era um mau presságio, já que seu primogênito era o violeiro da turma. Por fim, o garoto saíra da cozinha de mãos dadas com a namorada. A palidez do rapaz era assustadora.
– Obrigado a todos os presentes. Não era assim que queríamos dar essa notícia a vocês e, principalmente, tomá-la sem o consentimento dos adultos. – Começou Maurício. – De qualquer forma, eu acho que a família é um alicerce para todo mundo e... – Dizia o jovem, engasgado.
– Eu sou seis anos mais velha que o Maurício e eu queria que isso tudo não pesasse tanto sobre ele. Ele decidiu, porém, que é grandinho o suficiente.
– Mãe, desculpa, eu deveria ser menos... eu e a Charlotte vamos morar juntos. Nós vamos ter um filho.
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