31. André em "Tempo de chorar e de crescer".
31. André em "Tempo de chorar e de crescer".
Lembranças de 2001 e 2002.
André não tinha apenas um pai, mas também um amigo para comentar desenhos animados. A falta de irmãos menores era um fator para isso, mas André desconfiava que, fora da armadura de policial, seu pai era bem mais legal. "Quando eu crescer, eu quero ser valente que nem o Johnny Bravo!", dizia André assistindo ao Cartoon Network com seu pai. "Não queira ser um azarão no amor como ele", rebateu seu pai. Anos depois, André adotou as roupas pretas e o topete (dito ridículo por Isadora), mas ninguém mais percebeu a homenagem a não ser sua mãe (os outros preferiam confundi-lo com o Batman, talvez porque ele não fosse tão burro quanto Johnny). Aqueles foram seus últimos momentos com seu pai.
Eram 19h00 do dia 11 de dezembro de 2001 quando André escutou uma conversa acalorada entre seus pais.
– Aluísio, tem certeza que vai fazer essa investigação sozinho? – Dizia Luísa para o marido.
– É a oportunidade de pegar as irmãs Botafogo na boca do tráfico. E você sabe, não sabe? A Ana é vista em todas as rodas de drogas possíveis. Prefiro ser eu a pegá-la do que qualquer outro policial.
Quisesse o pequeno ter dormido naquela noite, pois seria impossível dormir na próxima e na próxima... Os primeiros sinais da tragédia se apresentaram às 11h30 do dia 12 de dezembro. Em vez de sua mãe, Ana Maria viera lhe pegar de táxi na escola.
– Onde está a mamãe? – Perguntou André.
– Foi resolver um negócio e logo estará de volta. – Respondeu.
– Papai já voltou para casa? – Indagou, dessa vez sem resposta. – Tia, eu posso comprar um suco de laranja antes de ir para casa?
Menos de um minuto depois André via na TV do barzinho a maior tragédia de sua vida: "Policial civil é encontrado morto perto de boate." À tarde, André soubera que foram três tiros na cabeça; à noite, sobre o caixão de seu pai, prometeu que terminaria aquela investigação por ele.
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Charlotte exibiu com orgulho a quinta estrela na camisa da seleção brasileira recém-comprada por seu pai. Junho daquele ano tinha sido um dos melhores meses de sua vida e a presença de seu pai em todos os jogos na madrugada (para desagrado de Selena e da pequena Bella) fora o ápice da garota de oito anos. Não sabia Charlotte que, além do melhor mês, 2002 também lhe guardava o pior mês de sua vida. Era 06 de dezembro daquele ano quando a menina fora, contente, mostrar o boletim para sua mãe.
– Mamãe, tirei média 10 em Matemática esse ano. Só não fui tão bem em Biologia, a média foi 7,5. – Contou a alegre Charlotte para a mãe.
– Filha, isso é muito bom e... A mamãe vai amanhã para Montevidéu com a titia e eu quero que você cuide da Bella por mim, está bem? Ela só tem quatro anos...
– Mamãe, você e tia Ruanna só vão passar cinco dias em Montevidéu, não é? Bella não vai nem notar. – Disse a inocente menina.
– É, ela nem vai nem notar minha ausência... – Respondeu Selena.
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Anna Julia seria a futura princesa da Rickelly. Fora isso que sua mãe havia dito antes de ir para Montevidéu com sua tia Selena. Sua meia-irmã, Patrícia, filha de seu pai com um tal de Mara, dificilmente assumiria o comando da empresa. Ivan era um evangélico fervoroso e não gostava nada de sua primogênita ser mãe solteira. Tanto é que, segundo o que Anna Julia ouviu, Patrícia iria para a Europa com a filha em poucos meses. A vida seguia confortável e diante desses fatos nada poderia abalar uma Anna Julia de seis anos. Ledo engano. Um telefonema de seu tio Carlos às 20h00 do dia 07 de dezembro abalou a expressão de seu pai. Sua mãe e sua tia tinham tomado um avião naquela madrugada e logo depois pegaram um carro alugado para ir a uma tal de La Niña (uma loja de roupas uruguaia). "O carro, o carro!", gritou Ivan. O carro havia explodido e carbonizado tanto Selena quanto Ruanna.
Dois dias após a explosão, os corpos carbonizados foram transformados em cinzas e estas cinzas foram jogadas no Parque da Colina. Os choros de Jacyara e Bella e o heroísmo de Charlotte, que abraçava as duas pequenas, certamente confundiram a cabeça de Anna Julia. Não, não podia ser! Uma mulher de cabelos loiros com uma capa de chuva violeta passara ali. Ela tinha os olhos de sua mãe, olhos estes que Anna Julia jamais esqueceria.
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