30. Isadora em "O amargo sabor da riqueza".
30. Isadora em "O amargo sabor da riqueza".
Dias atuais: 2014.
José Ricardo de Pessanha Coelho, indigno do amor de uma ruiva, buscou refúgio na cachaça. Sim, meus caros leitores. A atitude clichê e incoerente para um vilão havia se repetido diversas vezes nos últimos 16 anos. "Em quais atributos Baltazar me supera? Difícil de achar, muito difícil", pensava o bêbado. "Belinda é prima dele e é gostosa, mas não tem nada a ver com aquele raquítico", defendeu-se internamente. "Tereza precisa confiar em mim se eu quiser tê-la de volta em minha cama. Vou contar tudo, tudo mesmo, exceto que eu deito com a Belinda", concluiu. Com esses sentimentos, o malvado da moda procurou sua amada.
– Ninguém pode mais arrumar as unhas em paz! Certeza que o Isaac se meteu em alguma confusão, certeza. – Disse Tereza ao ouvir a campainha de seu novo lar. – Ah, é você, é? As crianças foram para a casa da sua irmã. Por favor, tome um banho e chupe um chiclete antes de ir para lá.
– Eu sei que eles foram para lá, gostosa. Sabia que você fica mais gostosa de roupão? – Jogou. – Eu quero falar com você mesmo. Eu preciso falar com você.
– Não, eu não estou disponível para matar suas carências. – Respondeu.
– Não é sobre carência, Tetê, é sobre falar a verdade, toda a verdade. Eu não sou um pai tão ruim assim, apesar de ser definitivamente ruim e pai. Eu só não quero que eles herdem as minhas maldições.
– Ser alcoólatra e puteiro?
– Não! Não. Lembra daquele dia que você foi procurar a Selena e eu te proibi de falar com ela para todo o sempre? Aquela mulher era perigosa. Mulher não. Mulheres. A irmã dela era pior. Era não, é. Não, não, não, são. Bem, eu não estou aqui para entregar a falcatrua de ninguém, só a minha. Tereza, a Selena estava querendo te levar para a Europa e te transformar em uma marionete de machos mau cheirosos.
– Você está tão bêbado que não sabe distinguir o passado do presente. Ruanna e Selena morreram há mais de dez anos.
– Tereza, tinha um dos chefes de olho em você. Droga, Tereza, droga. Eles queriam te encher de ecstasy e depois de crack para morrer lá pela Europa mesmo. Bem, como eu também sou peixe grande e extremamente perigoso quando quero eu matei esse carinha que estava de olho em você. Quanta adrenalina, Tetê. Foi no dia do casamento do Jorge Henrique. Depois transamos e fizemos aqueles dois.
– Zé, vou ser obrigada a falar com sua mãe e mandar ela te internar em uma clínica de reabilitação para alcoólatras. O seu caso é grave. – Desembuchou a ruiva, mesmo com a estranha sensação de que tudo que Zé Ricardo dizia era verdade.
– Um dia eu te provo que não estou maluco. Se a Tania não fosse tão amarga e dissesse que me mandou matar o tal de Xandy Drácula como chantagem...
– Zé, ou você sai agora da casa dos seus filhos ou...
– Tudo bem, tudo bem. Um dia você acredita em mim. – Finalizou o vilão.
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Já era dezembro de 2014 e Isadora ainda não havia encontrado a felicidade que tanto procurava em sua família. Sim, sua tia Queila era incrível, sua avó bastante atenciosa, seu pai protetor, mas Dora não se sentia feliz. Era certo que as transas com Vinícius aconteciam cerca de três vezes por semana e o administrador adorava se exibir com o casaco vermelho que ganhara da namorada e Dora tinha relativo sucesso relâmpago na moda. Contudo, Isadora não deixou de desconfiar que tudo aquilo era somente fachada e o quanto era insuportável ter que aguentar os chiliques de Mel.
– Por favor, você pode parar de tocar nos meus seios? – Exigiu Melissa Cavalcante.
– Por favor, você pode parar de ser ridícula? – Respondeu Isadora. – Eu não aguento mais. Se quiserem fazer os cliques e o resto da campanha só com ela, façam!
– Ih, eu nunca vi a Dora assim. – Comentou Queila.
– A gente precisa pensar numa solução rápida. – Completou Belinda.
– Vamos colocar a loirinha mais nova como dublê da irmã. Ah, e a mais velha pode fazer as fotos com um manequim, já que não quer que ninguém a toque. – Sugeriu José Ricardo. – O quê? Vocês acham que a Rickelly também não usa computação gráfica nas suas propagandas? – Disse o empresário em resposta aos olhares questionadores.
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Afinal, a traficante de drogas da família de Samantha estava se tornando famosa. Paolla se sentia mal já que parecia que a malandragem compensava. A investigação na Douglas Monteiro, iniciada por seu pai, não tinha dado em nada e André, sem querer querendo, havia beneficiado sua tia mais uma vez. Com ela, ali na sala de ensaios da Rickelly, estava a fofoqueira em ascensão, Britney.
– Direto da Laços Rosa e Cor de Prata, a nova sensação do mundo da moda: Ana Maria! – Anunciou Britney. – Ana Maria era guarda-noturna na escola Douglas Monteiro e se tornou conhecida após amadrinhar o look de Isadora Coelho no Concurso Criatividade Descoladas. Conta pra gente, a senhora sempre gostou de moda?
– Senhora não! Eu ainda sou uma moça. Mas, retornando à sua pergunta: claro que eu sempre fui chique, Britney, porém eu não tinha tido oportunidades ainda. – Respondeu. – Bem, eu não nasci sabendo tudo de moda... Devo essa disposição para aprender sobre o assunto devido a uma certa gata, uma gata bem borralheira, que conquistou meu coração.
– É isso aí, telespectadores, Ana Maria tem um amor! – Exclamou e depois respirou por dez segundos para partir para outra pergunta. – Ana, a audiência está querendo que você esclareça alguns boatos ... Poderíamos dizer que, antes de aprender sobre o mundo fashion, você era especialista em noia?
– Quem nunca teve uma brisa que atire o primeiro salto alto. Sobre essas fake news que espalharam que eu traficava drogas, só tenho uma coisa a dizer: estou livre, leve e rica. Beijinho no ombro para as invejosas. – Concluiu a tia de André antes de lançar um olhar para Paolla.
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Raquel passou a sua vida lendo grandes autores nacionais e internacionais. De Vidas Secas a Dom Quixote, de Cem anos de Solidão a Divina Comédia, a mãe de Juliano se esbaldou intelectualmente e conseguiu o emprego (do qual fora demitida por causa de uma fúria justa) na sua antiga escola. Quisesse Raquel ter imaginado que um dia seria obrigada a perder noites de sono lendo "Eram os deuses astronautas?" e que, mesmo depois da insônia, se pegaria navegando em sites de Ufologia pela manhã. Assim, fora argumentando que "os habitantes de Saturno são seres aquáticos" e "os golfinhos são de Sirius", que Raquel conseguira convencer Leonardo a participar das aulas de paranatação.
– Afinal, Raquel, Jesus Cristo era um extraterrestre? A mãe dele engravidou por inseminação há mais de 2000 anos, então... – Dizia Leo minutos antes de começar sua aula.
– Leonardo, engravidar pela ação do espírito santo não é como se fosse uma inseminação artificial, se bem que... Bem, eu prefiro acreditar que só Atena, Apolo, Ísis, Osíris e outros foram extraterrestres confundidos com deuses.
– Ah, Raquel... Não custa ter sensatez nesse assunto. – Pediu o garoto.
– Não, não custa, mas eu sou cristã desde criancinha. E Jesus Cristo é filho de Deus, não um extraterrestre. – Defendeu-se a mãe de Juliano para, em seguida, entregar seu novo amigo aos cuidados do professor de natação.
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Certamente a língua ferina de Paolla entraria em ação se visse aquela cena. Sim, isso poderia atrapalhar ainda mais o relacionamento de Isadora com Vinícius. Não. Isadora não sabia o quanto aquele namoro importava para ela. E também tinha André. O loiro do topete ridículo arriscou sua carreira para ajudá-la a encontrar o pai simplesmente pelo prazer de ver adolescente feliz. Não. Isadora não estava feliz e precisava avisar isso a André.
– Olá, boa tarde, Isadora. – Disse o detetive ao atendê-la em sua residência. – Vou pegar a Samantha agora. Quer passear com a gente? – Ofereceu.
– Não, André, eu quero conversar com você mesmo. Eu não estou tão feliz como supôs que ficaria.
– É o sabor amargo da riqueza, não é? Estou vendo que voltou a usar suas antigas roupas, antigo penteado...
– Não. Nunca que uma casa com cinco quartos poderia me deixar triste e, muito menos, um guarda-roupa com peças belíssimas. É a sensação de que minha família é uma fachada, como se a qualquer hora algo ruim fosse acontecer.
– Isso tem a ver com a conversa que tivemos no dia da Criatividade Descoladas? – Indagou o loiro.
– Um pouco. Minha mãe também já tinha me contado sobre aquilo. Eu só estou com medo e queria ter alguém fora do meu círculo familiar para me abrir.
– Eu estou aqui, Dora... – Respondeu o homem abraçando a garota. – Para o que você quiser.
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O casaco vermelho de algodão dado por Isadora e as mensagens picantes trocadas com Bella contradiziam o resto de razão que Vinícius tentava manter. Ele gostava das duas, mas tinha objetivos bem diferentes com cada uma delas. Mesmo almejando ter o casamento dos sonhos com Isadora, sabia que com essa não poderia abrir-se às suas ideias de sucesso. Não. A ruiva era honesta demais para concordar com trapaças. Enquanto o primogênito de Irena pensava nestas coisas lhe chegava uma visita. Era Zé Ricardo Coelho e o rapaz esperava que este não viesse lhe cobrar fidelidade à filha.
– Sogro, quanta honra te receber aqui em casa. No que posso te auxiliar?
– Não venha com essa cara de cordeiro para cima de mim. Ando suspeitando de alguns movimentos seus fora da linha. Mas não é sobre isso que vim falar. É sobre o seu caráter. Ele não vale nada e isso me acalma.
– Sou um homem muito bem-comportado e de caráter e...
– Bem, o seu caráter é suficiente para me suceder nos negócios secretos da família. – Notou o ex de Tereza. – Nem Isaac e nem Isadora têm estômago para isso. Eu quero que você me substitua, um dia claro, no esquema internacional de tráfico de mulheres. – Contou, por fim.
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