23. Tereza em "Te amo, mas não quero".
23. Tereza em "Te amo, mas não quero".
Dias atuais: 2014.
Raquel decidiu comer gula com refrigerante naquela manhã de 24 de setembro de 2014. Não, não pensem mal de Raquel: ela não tinha aqueles costumes alimentícios; porém foi uma gula com refrigerante o seu primeiro desejo de grávida. Assim, para manter as lembranças boas, Raquel se dispôs a fazer aquilo. Em poucas horas ela se encontraria com Paulo Vítor e, certamente, este jogaria na sua cara que Juliano era filho de Xandy, não dele. O pior de tudo é que Xandy estava morto e ele nunca poderia confessar (ao menos que decidisse se apresentar em uma mesa espírita) que Raquel fora vítima de seus excessos sexuais. Os pensamentos de Raquel foram interrompidos pela chegada de Tereza.
– Eu jurei que não pisaria na Descoladas novamente. Agora, provavelmente, vou ter que passar o Natal na casa da família do Ricardo e fingir que ele nunca mandou abortar nossos filhos. – Desabafou a namorada de Baltazar.
– Pelo menos a avó de seus filhos parece ser menos megera do que a do meu. – Consolou a filha de dona Cícera. – Bem, de qualquer modo é melhor que as crianças finalmente conheçam suas famílias paternas e...
– Não, não é! É quase certo que o Zé mexe com tráfico de modelos e o avô do Juliano, o senhor Luís Henrique, é político. Já ouvi dizer que ele tem aliados que venderam a alma para o diabo...
– Duvido que esses aliados sejam piores que Tania, a intolerante mulher dele. – Desabafou, por fim.
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Zé Ricardo não conseguiu acreditar que Tereza fora tão burra a ponto de levar uma gestação sem sentido adiante. Ele só deu um bom conselho a ela e parece que ela o havia entendido muito mal... Quantas outras modelos José Ricardo não tinha ajudado a se livrar de uma gravidez indesejada e não planejada? Zé gostava muito de Tereza, mas o fato dela ser sua amante não lhe dava o direito de ter um tratamento vip (apesar de o próprio ter sujado as mãos pessoalmente por causa daquela ruiva). E, agora, o detetive anunciava que Zé era o provável pai dos gêmeos daquela mulher tentadora. "Bela herança de crime eu tenho para dar aos dois", pensou o homem.
A soberba de Zé findou-se ao ver a acusada de seus pensamentos. O rosto tomou rubor e o coração um ligeiro palpite. O prazer em forma de mulher entrara naquela com um semblante de amargura.
– Muito desprazer em te rever, José Ricardo Coelho. – Disse Tereza.
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Antônio olhava para André com um de decepção. Que André era parcial em relação à tia era óbvio, mas ser parcial com três jovens de quinze anos era uma novidade para o pai de Paolla.
– Bom dia a todos, exceto ao André. Só fui avisado ontem sobre essa reunião, então, espero que ele se arrependa de ter sido tão insensato por ter comandado um caso sem a minha permissão. – Queixou-se Antônio.
– Se eu perder o emprego de investigador e tiver a carteira da OAB cassada, pelo menos poderei trabalhar como babá. – Debochou André de si mesmo.
– Calma aí, o meu Juliano não é um bebê. – Defendeu-se Raquel.
– Não seria nosso? – Interferiu Paulo Vítor. – Ele é nosso filho! Aliás, por que você não me contou que estava esperando um filho meu?
– Para a sua mãe mandar abandonar a criança num orfanato? Não, eu não sou tão burra. – Respondeu.
– Pessoal, eu sei que aqui é uma delegacia e que podemos prender todo mundo caso algo aconteça, mas vamos manter um pouco de decoro? – Pediu o avô de Samantha. – Mais uma vez, bom dia aos senhores e as senhoras aqui presentes. Este é um caso atípico. Geralmente quem pede a averiguação de paternidade são as mães, não os filhos. Pelo que me foi contado, três adolescentes de 15 anos se uniram a um detetive sem noção e a sua tia traficante de drogas para descobrirem quem eram seus respectivos pais.
– Eu gostaria de tentar negar a paternidade, mas essa ousadia é genética. – Riu José Ricardo, especialmente na parte em que a "traficante de drogas" fora citada.
– Após as crianças descobrirem a identidade de seus pais, estes informaram ao senhor Carvalho e o senhor Carvalho informou às respectivas mães. – Continuou Antônio.
– A sensatez foi do Juliano. Isaac e Isadora pensam com os nervos. Eles pretendiam me enganar e resolver tudo por conta própria. – Interferiu André.
– Fomos todos enganados. – Queixou-se o juiz novamente.
– Eu fui a primeira! – Contou Tereza. – Aprenderam por mitose com o pai.
– Já a parte dos nervos é sua, não minha. – Defendeu-se o primogênito de Beatriz.
– Aquietem-se, por favor. Não sei como uma dupla de casal como vocês chegou a dar certo um dia. De qualquer forma, as mães confirmaram que os senhores são os pais e, para finalizar a averiguação, deverão fazer os testes de DNA e assumir as responsabilidades que lhe cabem quando isso for confirmado.
– Eu só libero a pensão após ver o boletim deles. – Escancarou Zé Ricardo. – Não vou mimar nenhum adolescente que tenha preguiça de estudar.
– Por mim, você pode colocar o seu dinheiro no... – Dizia Tereza, que estava disposta a lançar um tapa na cara de José Ricardo. Porém, este fora mais esperto e lhe roubara um beijo assim como na primeira vez em que se viram.
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Tereza era uma garçonete de respeito. Garçonete e garota propaganda do supermercado Carinho Verde, de seu namorado Baltazar. Ela era uma mulher de respeito e não podia sentir prazer com o beijo do homem que destruiu a sua vida. Isso já seria demais! Ela precisava lembrar dos obstáculos que havia passado por ser mãe solteira. Tereza só não largara a faculdade de Design e Moda por questão de honra, mas, depois que concluiu-a, desistira de vez do sonho de ser modelo. O jeito foi começar a ganhar a vida como garçonete mesmo até lhe aparecer Baltazar. Ela queria esquecer de vez daquela paixão contraditória... A estratégia dera certo até aquele setembro de 2014. Mas, naquele momento, seu coração acelerava e batia de forma incomum. Ele não podia ainda amar aquele homem.
– Você pode colocar o seu dinheiro no... no bueiro. – Continuou Tereza, se acalmando. – Eu só quero que você não roube a paz dos nossos filhos.
– Bem, não fui eu quem procurou por eles. Basta que eles me deixem em paz também.
– Seu, seu homem das cavernas! – Gritou, em resposta.
– Vamos nos acalmar, por favor. – Pediu Paulo Vítor. – Eu também preciso entender melhor tudo isso. – Confessou.
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Paulo Vítor sentia um vazio enorme em seu peito. A imagem de sua amada na cama com o DJ já não era tão pertinente antes... No lugar dela fotos estantes, borradas, apareciam. Eram memórias inventadas por ele ali mesmo de uma infância e início de adolescência perdidas. Seu filho já tinha 15 anos e Paulo só sabia que ele havia ganhado o nome de um santo, o mesmo que batizava a cidade de onde Raquel viera.
– Eu... eu preciso conversar com o Juliano o mais breve possível. Eu queria dizer que sinto muito e...
– Não se preocupe. Não vou tirar o direito do Juliano conviver contigo e muito menos julgá-lo. – Respondeu Raquel. – Ele só tem 15 anos e é muito menos insensato que você quando tinha essa idade.
– Quando eu tinha 15 anos, eu já havia pulado o ensino médio e só pensava em ser um grande cientista em Harvard. Você ainda exige sensatez desse Paulo Vítor? O de 30 anos é capaz de calcular a burrada que fez.
– E eu? Eu era uma menina que nem quinze tinha quando fui estuprada por um cafajeste, desacreditada pelo namorado e que se viu sozinha com outra gestante nesse mundinho pequeno. Eu tive que ser sensata à força.
– Me perdoa. – Pediu o físico. – Agora eu só quero recomeçar com nosso filho e recuperar o tempo perdido.
– Você é incapaz de ver que o tempo passou e que, mesmo nós sendo tão jovens, não temos mais todo o tempo do mundo? Não era isso que você gostava de cantar no meu ouvido? – Recordou a professora de Literatura. – Vá em frente com o nosso Juliano. Ele quer muito te conhecer e tenho certeza que irá te adorar. Agora, comigo? Eu ainda tenho mágoas daquilo tudo. O perdão é o máximo que você pode conseguir. – Confessou. – Boa sorte. – Disse, por fim, Raquel ao virar-se para o amado e seguir até a saída com a amiga.
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