21. Anna Julia em "Fazendo acordos com desconhecidos".
21. Anna Julia em "Fazendo acordos com desconhecidos".
Dias atuais: 2014.
As vendas na Rickelly estavam tão monótonas que Anna Julia seria completamente sem noção se não aceitasse aquele convite à aventura. Sim, nem Anna Julia nem Jacyara conheciam aquele diabinho de cabelos encaracolados, mas a forma que ele falou de "estragar o Concurso Criatividade Descoladas" fora simplesmente magnífica.
O diabinho, de cabelos de caracóis, e seu amigo, um belo rapaz de cabelos pretos como uma noite sem estrelas, apareceram no dia e horário marcado. Era 13h00 do dia 18 de setembro de 2014.
– Boa tarde, senhoritas. Espero que não estejamos incomodando. Eu me chamo ... – Começou o mais bonito.
– Juliano, pare de balela e vamos direto ao cerne da reunião. – Atrapalhou o mais engraçado. – É evidente que estamos incomodando elas.
– A pergunta é: em o quê vocês podem contribuir conosco? – Indagou uma delas. A moça tinha cabelos cacheados e uma pele negra luminosa. Era, também, muito mais simpática que sua irmã mais velha. – E por que vocês querem "arranjar uma confusão no dia da Criatividade Descoladas"?
– É uma longa história. Temos nossos motivos, mas, mesmo assim, é uma longa e complicada história... – Respondeu o filho de Raquel.
– Queremos mídia. Com mídia o nosso caso vai ficar bem fácil de ser resolvido e vingado. – Completou o cunhado de Vinícius.
– E onde nós duas, quer dizer, a Rickelly, contribuiria com a mídia que vocês precisam? – Perguntou a irmã mais velha. Seus cabelos eram lisos e sua pele mais clara do que a da irmã. – E o que nós, quer dizer, nosso pai, sairia ganhando?
– Publicidade, óbvio! – Exclamou Isaac.
– Deixa que eu explico, Isaac. Você só está deixando as meninas mais confusas. – Interferiu seu amigo. – Como eu estava dizendo, eu me chamo Juliano e ele é o Isaac. Armaremos uma confusão no dia do concurso das Descoladas, vestindo as roupas exclusivas da Rickelly... Isto é, se vocês permitirem.
– Gostei da ideia... e de você, Juliano. – Disse a mais ácida. – Minha irmã se chama Jacyara e eu, a propósito, sou Anna Julia.
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Isadora estava para ter um ataque de pânicos a qualquer momento. Não a leve a mal: Lola era uma menina muito boa, mas era tão boba a ponto de dizer para Melissa que Isadora e Vinícius já estavam tendo relações mais íntimas. Aí sim, se a fofoca caísse na boca de Mel, Belo Horizonte toda também saberia que Isadora já não era mais virgem. É óbvio que a ruiva não deveria deixar se levar por esse tipo de intrigas, afinal, ela era a neta de Beatriz Coelho e, como neta da magnata da moda, a moça não poderia abrir mão da calma e da elegância... Mas, por que Vinícius não lhe disse que Bella lhe deixaria na mão para ajudar Melissa no Concurso Criatividade Descoladas?
– Como você soube disso? – Indagou Dora à Ana Maria.
– Eu sou tia de um detetive. Talento para investigação é algo de família. – Gabou-se a mulher. – E, desde que você me pediu para ser sua mentora neste concurso, não penso em mais nada a não ser ganhá-lo para você.
– Nossa, por isso que o Vini nem se importou quando eu contei sobre a história do nosso plano de investigação... Mas, por quê? Por quê?
– Você vai ganhar esse concurso, little rabbit, eu prometo! – Prometeu a guarda-noturna. – Você é uma camaleoa, minha menina, e saberá se adaptar a isso com seu lindo vestido de tecido Chromosonic.
– Não sei como você foi capaz de ter uma ideia tão genial dessas... – Disse Isadora à cúmplice.
– É a Gata Borralheira, meu amor, a minha doce gatinha... Um dia eu tirarei aquela máscara dela, pode anotar.
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Bella tinha que fazer a sonsa da Melissa ganhar aquele concurso de qualquer maneira. Se Isadora, a bonita ruiva de olhos amendoados, ganhasse, Vinícius nunca mais teria olhos para Bella. "Como o Vini pode deflorar outra garota?", pensava Bella. "E eu e Charlotte? Não fomos o suficiente para ele?", indignou-se.
– Eles estavam transando no banheiro, é isso? – Perguntou, boquiaberta, Bella.
– Foi Lola quem disse. – Repetiu Melissa.
– Eu preciso ir para a festa de aniversário dessa garota. – Deixou escapar a filha de Carlos. – Ela é perigosa pro meu amigo.
– Tem certeza que o Vinícius é só seu amigo? Eu estou sentindo que tem bem mais coisas envolvidas aí...
– Eu só estou com medo que essa Isadora seja uma aproveitadora como a mãe dela. Não é isso que você me disse, que o seu pai foi enfeitiçado pela ruiva mais velha? – Desconversou Bella. – Aliás, como ele entrou nessa furada?
– Bem, como eu já disse a minha mãe morreu com um mioma necrosado no útero. Daí, papai passou a focar cada vez mais na rede de supermercados dele. Até que um dia a tal de Tereza virou garota propaganda dos supermercados do papai. Papai e a Lola enlouqueceram por ela.
– É, é isso. A Isadora enlouqueceu o Vinícius e...
– Está bem, eu já entendi... Chega de Isadora. Até parece que você sente mais raiva dela do que eu... – Notou a primogênita de Baltazar. – Esqueça dela, por enquanto... Ainda precisamos decidir a estampa da minha saia sereia, lembra? – Concluiu, emburrada, a garota.
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Isaac observava, com meio sorriso, o esforço descomunal de Ana Maria para fazer as tatuagens removíveis nos braços de Isadora. O épico concurso (épico pelo que Isaac e Juliano aprontariam) só seria dali a dois dias, mas a gêmea mais nova de Isaac já estava se arrumando desde então. Era 23 de setembro de 2014 e a dupla havia acabado de completar 15 anos de vida. Pobre Isadora. Isaac desconfiava que a performance dele e de Juliano daria mais o que falar do que o traje de sua irmã ou de qualquer outra garota que fosse concorrer naquele concurso. Assim corriam os pensamentos de Isaac até que houvesse uma batida na porta do quarto de Isadora. Era Lola.
– Oi, Zac. Oi, Dora. Oi, moça desconhecida. – Cumprimentou Lorena. – A festa está muito desanimada e a mãe de vocês está com uma cara horrível. Espero que o papai não tenha dito o que cheguei gritando lá em casa na noite do aniversário do Juliano...
– Esquece, Lola. Hoje é um novo dia. O que passou não importa mais e... – Desconversou a aniversariante.
– Vocês vão comemorar hoje de novo, você e o Vinícius? – Questionou a menina tagarela. – Você sabe, não sabe, que naquela hora eu não entendi por que vocês estavam naquela posição no banheiro...
– O quê? Em que posição, Lola? – Gritou. – Eu te mato Vinícius, eu te mato! – Exclamou Isaac. O aniversariante fez questão de sair do quarto da irmã e ir tirar satisfação com o namorado dela.
– Esta casa é pequena demais para vocês dois, camaleoa. – Constatou a tia de André.
– Não só a casa, dona Ana Maria. O mundo também. – Finalizou.
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Paulo Vítor sabia que a Física podia ser muito divertida. Algumas pessoas se divertiam com jogos de futebol; outras tomando cerveja em barzinhos; outros mais inquietos e impulsivos (como seu sobrinho Maurício) pegavam um violão e tocavam "Que país é este" (o que Paulo não julgava); já Paulo Vítor passava seu tempo estudando formas de convencer seus alunos que Física era uma área que valia a pena ser conhecida. Afinal, ele era doutor em Astrofísica, por Harvard, e esse era seu papel. Papel e consolo. A Física, seu segundo grande amor, era a única coisa que lhe fazia esquecer do primeiro, Raquel. Por que ela lhe traíra daquele jeito? Por que ela havia sumido pelo mundo e nunca mais tinha aparecido? Paulo já estava de cabeça fria e poderia perdoar a traição ... Por quê?
É. Os átomos do destino realmente estavam emaranhados. Poucos minutos após Paulo Vítor pensar na sua amada, o professor universitário recebeu uma ligação de um moço, um tal de André Carvalho, lhe convocando para uma audiência com ela. Sim, era ela: Raquel dos Santos Silva. Mas, na realidade, o que lhe deixou de mãos geladas era o motivo da reunião: averiguação de paternidade.
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José Ricardo, quando morresse, daria um belo tapa na cara de seu pai, Otávio Pessanha. Otávio morreu em 1996 e lhe deixara como herança uma irmã sentimental e o sucesso oculto da Descoladas. Ele estava conversando com o "sócio" antes de receber a notícia fatídica. Por que os "produtos" não aceitavam simplesmente o destino deles? Não, não... Apenas uma pessoa no mundo não poderia aceitar nunca o destino de virar um produto e o nome dela era Tereza. Por ela, Zé sujou suas mãos de sangue (embora sua alma já estivesse manchada de lodo). Por ela...
– Olá, senhor José Ricardo de Pessanha Coelho. – Havia dito o rapaz ao telefone. – O senhor está sendo convocado para uma audiência. A convocante é a dona Tereza Valdez de Oliveira. – Finalizou.
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