20. Raquel em "O que ele vai ser quando ele crescer?".
20. Raquel em "O que ele vai ser quando ele crescer?".
Dias atuais: 2014.
"Talvez ele seja um cientista como o pai", pensou Raquel no momento em que Juliano nasceu. Cientista, professor de Literatura ou qualquer outra profissão... Ainda estava indefinido o que Juliano escolheria ser quando crescesse. "Ele é amável, gentil e inteligente como o pai", corrigiu-se Raquel. O que importava era que aquele bebê estava fazendo 15 anos. Quinze anos depois...
– Juliano, levanta! – Gritou a mãe do rapaz com a costumeira farinha de trigo. Aquilo era uma tradição desde o terceiro aniversário de Juliano. – Quem é o aniversariante mais crocante de BH? Julia... Juliano?
O filho de Raquel não estava fingindo sono como sempre fazia em todos seus aniversários. O doce garoto já estava vestido e com um semblante sério.
– Mãe, um amigo meu precisa falar com a senhora. – Contou. – O nome dele é André Carvalho, advogado e detetive.
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André, naquele momento, estava mais ansioso do que no dia em que nasceu sua filha. A espera, de vinte minutos por Tereza, mãe de Isaac e Isadora, pareceu ser de três ou quatro horas. Talvez fosse o olhar penoso de Raquel, mãe de Juliano, que lhe deu essa sensação...
A ansiedade, em seguida, foi substituída pelas tremedeiras em suas mãos quando a segunda mãe chegou. Tereza também era ruiva e muito bonita, mas não mais que Isadora.
– O que o Isaac aprontou? Se tem polícia no meio, só pode ter o dedo de Isaac... – Supôs a mãe do garoto. – Juliano, o que foi que o Isaac aprontou? – Gritou.
– Juliano está trancado no quarto. Disse que vai ouvir tudo de lá mesmo e que não quer ser incomodado, por enquanto. – Respondeu Raquel. – E não, não foi só o Isaac que aprontou. Foram os três.
– Bem que eu estava sentindo uma energia negativa emanando daquele namorado da Isadora... – Imaginou a ruiva. – Ele é um traficante de mulheres, não é?
André gelou ao ouvir a última frase de Tereza. Justo ali, numa averiguação de paternidade, precisava ser lembrado o motivo da morte de seu pai?
– Olha, senhora, a razão pela qual estou aqui não envolve nenhum crime, por enquanto... – Confessou o detetive. – Represento os três adolescentes na busca pelos seus respectivos pais. Eles já sabem quem são e querem que os pais também saibam da existência deles.
– Raquel, você cedeu à chantagem do Juliano? Com que tipo de cara ele te olhou para você botar a boca no trombone?
– Nenhuma. O Juliano bisbilhotou o meu diário e o Isaac e a Isadora já sabiam há séculos sobre os seus recortes da Descoladas. – Esclareceu. – Eles são inteligentes e juntaram as peças do quebra-cabeça. Além disso, a tia desse moço é a dona Ana Maria, a guarda-noturna da Douglas Monteiro.
– Então é isso, falo com vocês em breve. – Disse André. Finalmente ele havia descoberto de onde saíra a impulsividade de Isaac e Isadora e a calma de Juliano. – Antes disso, se acertem com seus filhos e errem o número da minha delegacia, por favor, se tiverem alguma urgência.
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Isaac e Isadora, realmente, tinham herdado os genes do diabo. "Fazer o quê?", pensou Tereza. "Já não bastava os olhos amendoados do pai?", concluiu consigo. "Como eles podem estar tão contentes?", enfezou-se. "Juliano, pelo menos, teve a dignidade de voltar da escola e se trancar até a hora da festa". Era 17 de setembro de 2014.
Arruinada por não ter sido suficiente como pai e mãe de seus filhos, Tereza planejara uma vingança. Sim, o aniversário daqueles dois híbridos de capeta seria só dali a seis dias, mas eles mereciam aquela homenagem.
– Essa vai para Isaac e Isadora! – Gritou a mulher. – Não, eu não me arrependo de ter parido os dois. – Continuou a ruiva maior, quase chorando.
"Será que sou assim tão fácil de esquecer? Ou sou algum qualquer pra não te merecer", Alvin L. e Dinho Ouro Preto haviam visto o futuro de Tereza na bola de cristal que a Legião Urbana usara para gravar Perfeição. Era a única explicação plausível. "Laços fracos são os passos falsos. Feliz aniversário e rosas mortas pra você", cantou o vocalista da Capital Inicial.
– Eu já sei o que vocês dois aprontaram comigo. – Disse Tereza se aproximando dos seus gêmeos. – Agora, só uma dica: não troquem uma palavra comigo até eu me resolver com esse tal de detetive André Carvalho. Senão eu faço o que o progenitor de vocês me mandou fazer quando ainda eram embriões. – Desabafou, por fim, a ex-amante de José Ricardo de Pessanha Coelho.
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O que o pai de Isadora havia mandado Tereza fazer mesmo? A libriana preferiu não pensar. Ela era criança e precisava viver os sentimentos ditados pela emoção. Um deles era conhecer seu pai. Outro era transar com Vinícius ali mesmo no banheiro de Raquel. Sim, a sua primeira experiência não foi tão legal assim e por isso mesmo precisava ter uma segunda imediatamente.
– Vinícius, você trouxe camisinhas? – Perguntou a ansiosa para o namorado.
– Mas aqui, Isadora? Não é um pouco perigoso demais? – Observou o rapaz. Seus cabelos muito pretos e olhos apertados faziam a garota sentir um tesão ainda maior.
– Claro, é muito mais excitante. – Implorou.
De fato, transar sentada na privada que Juliano defecava todas as manhãs era muito mais empolgante do que no quarto escuro e grande de seu namorado. E os gritos dos adolescentes lá fora e a imagem de uma Tereza compreensivelmente irritada...
– O que é isso? – Gritou a garota loira de olhos azuis marcantes em frente a porta. O casal não havia fechado devidamente a porta, o que fez com que Lola flagrasse tudo.
– Lola, eu tenho uma explicação. – Desculpou-se Dora. – Não estamos fazendo nada demais...
Lívida, a ainda inocente moça saiu em busca de um banheiro onde casais não transassem e que ela pudesse depositar suas fezes em paz.
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Raquel precisava ser sincera com o seu filho. Juliano estava certo e tinha sua razão. Ele não podia passar o resto de sua vida sem saber nada sobre o seu pai.
– A Tereza sempre foi superprotetora, sabe? Ela foi criada como minha irmã mais velha... Ela me amava muito e fez questão de trabalhar bastante para nos colocar em escolas particulares. Eu fui logo cair no colégio de Paulo Vítor de Pinto Paes, o seu pai. Ele era um bocadinho mais inteligente que você, não que você seja burro. Ele adorava Física Quântica e eu babava ouvindo ele falar daquilo. Eu não entendia nada, mas já estava apaixonada. Foi aí que ele me convidou para a festa de aniversário do seu, Jorge Henrique. O Jorge Henrique era o melhor amigo do pai do Isaac e da Isadora, mas sobre aquele cão só a Tereza tem a propriedade de falar. Aliás foi na despedida de solteiro do seu tio que vocês três foram gerados. A noiva do Jorge estava grávida e ele teve que se casar. Você tem um primo mais ou menos da sua idade.
– Eu sei. Ele se chama Maurício. E eu também tenho uma prima chamada Noemi. – Contou Juliano. – A propósito, foi a tia Vitória que reconheceu o papai no vídeo "Proibido para os pais". Ah, e foi a Queila Coelho que reconheceu o pai do Isaac e da Isadora.
– Então vocês já conheceram a melhor parte da família? Bem, nesse caso se prepare: a sua avó é uma cobra. E foi por causa dela que eu e seu pai nos separamos antes de eu descobrir que estava grávida... O resto é história e eu prefiro te contar aos poucos. Por agora, saiba que você é tão doce e tão bonito quanto seu pai. Ele terá muito orgulho de você, tenho certeza.
– Não se preocupe, mãe. Eu posso esperar mais um pouco. – Respondeu o rapaz. – Sabia que esse foi o melhor presente de 15 anos de todos os tempos?
– E você é o melhor filho. – Retribuiu. – E, por mais que cresça, sempre será o meu pequeno Juliano, de nome de santo. – Finalizou Raquel com um abraço no filho.
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