16. Raquel em "Fogo juvenil".

Lembranças de 1998.

Raquel tinha insônia quando lembrava da pergunta feita por Paulo Vítor em julho daquele ano. Raquel teria paciência para esperar os quatro ou cinco anos que Paulo passaria em Harvard e manteria sua virgindade como se não sentisse desejo sexual algum? E se Paulo Vítor conhecesse uma mulher mais culta e decidisse perder sua virgindade com ela?

Bem, segundo o que Tereza lhe disse, se houvesse paixão e tesão, o hímen sequer romperia e, se rompesse, não doeria tanto. Tivesse dor ou não, fazer amor com Paulo Vítor seria uma experiência inesquecível.

– Acredito que a maioria dos universitários lá dos Estados Unidos não sejam mais virgens.  – Disse Raquel ao amado. –  E você será titio de verdade dessa vez, então... eu lhe proponho que façamos amor!

Paulo Vítor ficou pálido com a oferta da amada. Ele era completamente ingênuo em assuntos sexuais! Porém, Paulo também já havia sido leigo na Física e conseguira ficar bom nisso. Talvez houvesse uma solução, também, em relação ao sexo...

– No próximo domingo meus pais, meu irmão e minha cunhada irão para a missa de Santa Teresa Benedita da Cruz. – Revelou o nerd. – É um ato mais político do que religioso da parte deles, já que papai quer ser eleito senador por Minas nessas eleições. Eu irei te buscar e faremos amor no meu quarto mesmo. – Sugeriu Paulo Vítor, para alegria de Raquel.

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A prova que dinheiro não traz felicidade se chamava Beatriz Coelho. Apesar de ter nascido rica e com comodidades que a maioria das pessoas não tinham, a vida de Bia não tinha sido inteiramente satisfatória, a começar pelo casamento arranjado com Otávio Pessanha. O falecido marido de Beatriz, sentindo-se superior por carregar um pênis e dois testículos, constantemente assumia a responsabilidade de líder da Descoladas.com (nome este devidamente rebatizado por Beatriz devido à chegada da era digital). "Sou eu quem deveria ser responsável pela minha empresa, não aquele traidor", pensava Beatriz enquanto lia uma notícia de jornal.

– Não posso mais confiar na Selena. – Dizia Beatriz para seu primogênito. – Sei que Carlos é um moço bem-intencionado, mas sua mulher e sua cunhada não são. E se aquela menina, que realmente trabalhou aqui, foi morta por um traficante de mulheres?

– Mãe, são boatos de uma imprensa que não tem o que fazer. Provavelmente essa garota havia se envolvido com esse homem sem caráter e os paparazzi estão tentando relacioná-la a Decô. Simples. – Acalmou Zé Ricardo.

– Bem que eu espero que seja isso, bem que eu espero. – Desabafou a senhora, antes de olhar como sua filha mais nova, Queila, se encontrava.

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Raquel se encontrava boquiaberta com a residência de Paulo Vítor. "Será que me acostumarei em ser dondoca quando me casar com ele?", se indagou a amiga de Tereza. Como por adivinhação das intenções da amada, Paulo rasgou o silêncio e comentou sobre sua família.

– Se mamãe fosse menos preconceituosa, eu te apresentaria para a Vitória. – Confessou o nerd. – Ela adoraria te ter como titia do bebê.

– Se nosso amor for forte o bastante, esses achismos de sua mãe acabarão. – Comentou Raquel. – Basta que eu seja uma moça inteligente e estudada e te faça feliz.

– E que ande com o nariz empinado. – Completou Paulo Vítor.

Após esses devaneios, o casal entrou no quarto de Paulo Vítor. Em seguida, Raquel soltou risadas escandalosas. Vejam bem: apesar de estar ansiosa para perder a virgindade, nada podia ser mais engraçado que o pôster de Stephen Hawking ao lado do crucifixo de Jesus Cristo.

– Será que Jesus e Stephen se tornarão amigos? – Debochou a morena.

– Não, eu não sei, embora tenha certeza que religião e ciência se complementam. – Respondeu o dono da casa. – Mas não foi para discutir isso que viemos até aqui, não foi? Vamos nos amar enquanto escutamos a fita que eu fiz para nós...

Dito isto, Paulo Vítor colocou a fita com as quatro músicas devidamente selecionadas. Não, nenhuma delas era romântica, mas todas eram clássicos da música brasileira. Eram elas: Infinita Highway, Fátima, Há Tempos e Como Nossos Pais. Talvez a indignação desse tesão em Paulo Vítor.  

– Cento dez, cento e vinte, cento e sessenta... – Adiantou Paulo, tocando estrategicamente no clitóris da amada.

– Aí não, ou, ou... aí sim. Que choque! – Exclamou Raquel.

– Isso é só o começo, meu amor. – Prometeu o rapaz.

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"Eu vou me livrar das drogas, eu juro", dizia Ana Maria à irmã e ao cunhado. Sim, ela sabia que aquilo era uma das maiores mentiras que ela já inventara, só sendo superada por "Eu vou parar de gostar de meninas" dita aos seus finados pais quando ela tinha 16 anos e estava saindo de casa. Não tirem Ana por caloteira: aquela mentira era necessária já que seu cunhado era detetive de polícia.

– Como vai a sua investigação no caso das irmãs Botafogo? Conseguiu alguma prova contra elas? – Perguntou a loira ao policial.

– Está tudo muito difícil, Ana. Parece-me que não são só elas que estão envolvidas no esquema de tráfico de mulheres. – Contou Aluísio. – Os próprios Ivan e Beatriz podem estar envolvidos, mas eu não vou expedir um mandado de prisão contra eles sem nenhuma prova. Já o defunto do Otávio Pessanha, ah, esse sim eu tenho certeza que era o chefe. Possivelmente ele deixou o legado para o filho mais velho, José Ricardo, mas eu também não tenho certeza disso.

– Não se preocupe, papai. Eu vou te ajudar a prender esses vilões! – Disse o ingênuo André, sobrinho de Ana Maria, que tinha apenas sete anos.

– Sabe de quem eu tenho pena? Da ruiva que estudou lá na Douglas Monteiro. Ela estava saindo com esse José Ricardo aí. E a amiga dela está se envolvendo com o filho daquele deputado bandido, aquele que quer se eleger senador. – Desabafou. – Pobres meninas.

Ana Maria não esperava que, muitos anos depois daquele almoço pacífico, conheceria os filhos daquelas moças e que eles desejariam conhecer o lado paterno e criminoso de suas famílias.