11. Tereza em "Carregando os filhos do diabo".
11. Tereza em "Carregando os filhos do diabo".
Lembranças de 1999.
Os dias passaram-se monótonos desde a festa particular feita por Raquel, Tereza e seus respectivos pares na despedida de solteiro de Jorge Henrique. Monótona e enjoativa, na verdade. Segundo o que Raquel ficou sabendo da própria boca de Paulo Vítor, a mãe deste tentara desesperadamente destruir sua honra. Tania, como era chamada a dondoca, soubera que o filho estava com uma mulata na festa do irmão e chocara-se ao ouvir da boca do caçula que "a mulata se chama Raquel e é minha namorada". Agora, ela esperava que Paulo se impusesse diante da mãe e, deixasse claro, que toda família deveria aceitar sua namorada. Isto deveria ser feito o mais rápido possível, visto que o rapaz fora aprovado para estudar Astrofísica em Harvard.
De repente alguém bate na porta do quarto de Raquel. Seria Paulo Vítor com boas-novas? Não, era o insuportável do Xandy Drácula. Com qual mentira ele viria dessa vez? Para se ter uma ideia do nível de vigarice do DJ, ele inventou que havia visto Zé Ricardo, namorado secreto de Tereza, sair de um local onde fora encontrado um corpo pouco tempo depois. Para alívio de Raquel, Tereza deu a devida surra no malandro.
– Minha cabocla linda está desocupada? – Jogou o asqueroso.
– Estou sem compromissos, mas, como não sou tua cabocla, não tenho tempo para você. – Respondeu a morena.
– Fiquei sabendo que o engomadinho vai para os Estados Unidos. Você jura mesmo que ele vai te esperar tendo tanta mulher gostosa por lá? A família dele é de políticos, certamente vão arranjar a filha de algum deputado para se casar quando ele voltar do United States.
– Xandy, estas tuas técnicas de sedução não funcionam comigo, nem com Tereza ou com qualquer garota decente. Faça-se o favor de procurar quem realmente te queira, isto é, se existir alguma maluca para tal.
– Jura, Cinderela? – Indagou Xandy. – Pois eu tenho uma maneira de fazer parecer que você me quer... – Confessou o malandro enquanto agarrava a jovem à força.
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Paulo Vítor tinha alguns sonhos a realizar: se destacar em Harvard; ser um tio carinhoso e babão para Maurício, que em breve nasceria; e a mais importante de todas era se casar e construir uma família com Raquel. Não, não se deixaria enganar pelas fofocas de sua mãe. Ele pediria para Raquel o esperar e deixaria claro que queria somente a ela. Sim, ele terminara o ensino básico três anos antes e não ficaria com sua amada no ensino médio, mas ele casaria com ela assim que se formasse em Astrofísica por Harvard.
Desse modo, com aquelas motivações, o nerd fora encontrar sua princesa encantada. Ele só não esperava que a cena que viria fosse tão desestimulante e trágica: Raquel estava seminua, em sua cama, ao lado de um homem qualquer.
– Como? Como você foi capaz de fazer isso comigo? – Gritou o nerd. – No fundo a minha mãe tinha razão. Você só se aproximou de mim por causa do meu dinheiro!
– Ah, então você é "o engomadinho louco pela Física"? Raquel me falou muito de você enquanto eu fazia ela gozar... – Mentiu o homem.
– Raquel, como você teve coragem? – Indagava o desiludido. – Raquel... – Dizia, enquanto a moça acordava.
– Paulo Vítor? Você aqui? – Surpreendeu-se a morena. – E o que Xandy faz na minha cama? O que você fez comigo, seu idiota?
– Jura que não lembra o que acabamos de fazer? Nem quando eu agarrei nos seus peitões e você disse"Mais fundo, Drácula. Mais fundo"?
– Você abusou de mim, seu cínico? – Adivinhou a moça.
– Nunca! – Exclamou o loiro, ensaiado. – Tudo que eu fiz foi porque você quis. Foi você que me deu bola e me implorou para te foder quando esse engomadinho não enviou o convite do casamento dele. Além disso, você já tinha me permitido lamber suas partes íntimas antes...
– Raquel, eu te disse que não podia interferir nos convidados do meu irmão... Por isso que te chamei para a despedida de solteiro dele. Lá a minha família não ia prestar de atenção em ninguém. – Justificou-se Paulo.
– Ou seja, te fez de prostituta. – Interferiu Xandy. – Você fez muito bem em pôr um par de chifre nesse mimado.
– Paulo, o que ele está dizendo é mentira... – Defendeu-se Raquel. – Eu nunca tive nada com ele...
– Mentira? E como ele sabe que gosto de Física e que não te convidei para a festa do casamento do meu irmão? – Observou o universitário. – É melhor a gente dá um tempo, sabe. Quem sabe o tempo de minha estadia em Harvard... – Disse o futuro físico, desolado.
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Começar um curso de verão poucos dias após o ano-novo era um martírio para Tereza. Ela havia passado para a faculdade de Design e Moda e precisava, urgentemente, nivelar seu conhecimento. Mas como ela poderia estudar com aquele cansaço fora do comum e sono de um bicho-preguiça? Parecia que a ruiva não dormia direito por três dias consecutivos, o que era totalmente mentira. Se não fosse Raquel, a moça nem teria ido para a faculdade naquele dia. Raquel... Algo em seu interior, mais forte que suas dores nas costas e abdômen, dizia que a morena precisava de Tereza.
Dito e feito. Guiada por seus instintos fraternos, Tereza decidira faltar às próximas aulas e checar se estava tudo bem com Raquel. Não estava. A moça, que faria só 15 anos em março, estava cabisbaixa em seu quarto, segurando o que parecia ser uma seringa de anestesia em sua mão.
– Aquele maldito me dopou e se aproveitou de mim. – Gritava a garota. – E o Paulo não quer acreditar nisso ... – Repetia em desespero.
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Se não fosse por Tereza, Raquel não teria pensando em tomar a pílula do dia seguinte. Ainda bem que uma podia contar com a outra naquela miserável vida. Se bem que Raquel tinha certeza que aquela pílula não adiantaria, não por causa do abuso de Xandy, mas por uma certa festa em que ambas tinham passado dos limites e certamente haviam esquecido de tomar os respectivos anticoncepcionais.
– Se você não suporta cheiro de galinha cozinhada, assim como eu, tenho certeza que a pílula do dia seguinte faria seu efeito se não tivesse um bebê lá dentro. – Observou Raquel. – Só precisamos confirmar se esses enjoos e outras coisas não tão agradáveis são por causa de seres que permitimos a entrada. O pior é que eu se eu realmente estiver grávida, Paulo não acreditará que é dele...
– Não se preocupe. – Confortou Tereza. – Se eu também estiver, posso pedir ao Zé para conversar com o Jorge e contar a ele sobre a gravidez dupla. Assim, o próprio Jorge Henrique vai convencer o Paulo Vítor que o seu bebê é filho dele. Simples assim.
E assim as garotas de São Juliano, achando que os fios do destino poderiam ser controlados por ela, entraram em dois banheiros distintos, e ambas se depararam com duas listras vermelhas em seus respectivos testes.
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Os planos de trajar belíssimos vestidos e de começar uma carreira realmente profissional de modelo, tiveram que ser adiados, momentaneamente, por Tereza por alguns meses (ou, como Tereza saberia depois, por quase 16 anos) . Ela esperava que, pelo menos, aquela notícia fizesse José Ricardo apresentar a ruiva de vez para sua mãe e que a lábia deste fosse boa o suficiente para convencer Jorge Henrique que ele ganharia um sobrinho.
Não. A estratégia de Raquel de entregar uma carta para Vitória, que mal lhe conhecia, e pedir-lhe para repassar para o já viajado Paulo Vítor não tinha como dar certo. Certamente Tania, mãe de Jorge e Paulo, já teria convencido a nora em relação ao suposto mau-caratismo de Raquel.
O futuro papai se encontrava na recepção da Descoladas e parecia ter uma ardente discussão com Selena Botafogo, que segurava em seus braços a pequena Bella.
– Você e sua irmã terão que dar um jeito nisso. – Ouviu a gestante, de longe.
A moça esperou então que a loira acabasse a conversa com seu amado. Tereza e Zé deveriam resolver assuntos bem mais sérios do que possíveis desavenças profissionais...
– Amor, eu não queria que isso tivesse acontecido agora, mas se aconteceu deve ser pela vontade de Deus, não é? – Começou a ruiva. – Eu sei que você eu não estamos preparados, ainda, mas vamos conseguir passar por isso juntos. Eu estou grávida. – Revelou.
– De quanto você precisa? – Indagou o filho de Beatriz Coelho. – Para tirar a criança, é claro. Se você quiser podemos fazer uma viagem até os Estados Unidos. Lá você não correrá o risco de passar por médicos e clínicas clandestinas...
– O quê? – Respondeu a gestante. – Essa criança é o fruto do nosso amor. Você está pedindo para que eu descarte o nosso filho? Você é rico, tem muito bem como sustentar uma família. – Gritou a jovem.
– E você acha que eu direi para minha mãe que tive um caso com um de nossas funcionárias e ela engravidou? Imagine isso saindo nas manchetes dos jornais? Vai pegar muito mal para mim. – Justificou o milionário. – E cá entre nós, um bebê só atrapalharia sua carreira. É melhor para nós dois que você retire essa criança e que tenhamos mais cuidado da próxima vez...
– Não haverá próxima vez, seu miserável! – Exclamou a universitária. – Eu deveria ter suspeitado que você era igualzinho ao seu maldito pai... Pois fique sabendo de uma coisa: nunca mais você voltará a me ver na sua medíocre vida.
E, assim, Tereza saíra da loja jurando que nunca mais colocaria os pés ali.
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