06. Juliano em "O diário da minha mãe".

Dias atuais: 2014.

Uma das primeiras desilusões da vida de um jovem adolescente era descobrir que algumas coisas na qual acreditava na infância eram mentiras, como, por exemplo, papai Noel, fada do leite ou coelhinho da Páscoa. Mas Queila não foi afetada por esse mal: estava prestes a se casar com seu super-herói.

– Você ainda vai se casar com seu Batman, baby Pao. – Disse Queila à sua melhor amiga, enquanto experimentava o seu vestido de noiva.

– Você está muito enganada, querida. É mais fácil você casar com meu Batman e largar o gostoso do Carlos Ventura no altar. Não sou mulher de ficar apegada a homem nenhum, principalmente quando o homem é um detetive com sede psicótica de justiça e de vingança.

– Mas é óbvio que seu pai amaria ter o Batman como genro. – Opinou Queila.

– Eu não sou meu pai. – Destacou Paolla. – E se Samantha começar a falar que quer eu e o pai dela juntos colocarei ela lá na porta das Descoladas, endereçada para a dona Queila, com os seguintes dizeres : "Aqui eis a nova fã de conto de fadas, que acha, como sua madrinha, que todos romances têm que dar certo".

– Poxa, a Sam só tem dois anos e dez meses. Pare de ser cruel, Paolla.

– Não sou cruel. Só quero estar serena  se um dia o pai de minha filha for o número um a ser eliminado da lista de uma facção criminosa. Uma órfã e uma viúva em uma casa já é demais.

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Para Zé Ricardo, Queila precisava crescer e deixar de viver dentro de um conto de fadas. Bem, Zé faria um certo esforço para isso já que não queria dividir a Descoladas.com com uma garota extremamente ingênua.

Um dos únicos tiros certeiros de Queila, e ele pensava assim porque entendia de tiros, fora conquistar o coração de Carlos Ventura. O viúvo de Selena Botafogo era prodigioso no ramo da moda e tê-lo como aliado seria melhor do que tê-lo como inimigo. O problema é que ele traria de presente para Zé Ricardo duas sobrinhas postiças: Charlotte e Bella.

Sonha Zé Ricardo, sonha. Quem sabe um dia Queila se encante para criar alguma ONG na África (continente que ela amava, inclusive) e partisse para lá, deixando a herança para seu querido irmão José Ricardo de Pessanha Coelho? Para que isso acontecesse, Zé deveria fingir um amor incomum à irmã, um amor que substituísse o amor paterno perdido pela morte de Otávio Pessanha. Sonha Zé Ricardo, sonha, enquanto leva a coelhinha mais nova ao altar.

– Lhe entrego minha querida irmã, amigo Carlos. – Fingiu o ganancioso. – Espero que faça ele muito feliz! – Concluiu.

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Beatriz Coelho sonhava em ser avó e, como Queila estava se casando com Carlos, seu sonho poderia se tornar realidade. Não, ela não adotaria Charlotte e Bella, filhas de Carlos com a falecida Selena, como suas netas, mesmo que Bella espalhasse isso para as milhares de amigas que tinha. Ela queria um neto seu, sangue de seu sangue, que pudesse ser o virtual herdeiro ou herdeira da loja Descoladas após sua morte. Sim, ela confiava em Zé Ricardo, mas algo lhe dizia que Queila ou um filho dela agiria bem mais honestamente que seu primogênito. Era 10 de agosto de 2014.

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Isadora sabia que seu sonho com a moça não era apenas uma ilusão.  Era um aviso, ela sentia. Assim, aproveitou que Tereza havia saído para se encontrar com o namorado, Baltazar, e chamou Isaac para a investigação.

– Cabelos de miojo enegrecidos, venha cá! – Gritou Isadora, chamando o irmão para o seu quarto. 

– Respeite o seu irmão sete minutos mais velho.

– Seis minutos e 38 segundos! – Gritou, novamente, Isadora.

– De qualquer forma sou seu irmão mais de cinco minutos mais velho, cabelos de macarrão cheios de molho de tomate!

– O plano é o seguinte: mexer na caixinha de segredos da mamãe sorrateiramente. Como ela vai perceber nossa invasão de qualquer forma, vamos usar os vestidos dela e tirar algumas fotos.  – Disse Isaac.

– Ok. Eu quero provar aquele preto florido que bate na ponta dos pés da mamãe. – Concordou Juliano.

– Minha desconfiança vem do fato que dona Tereza e dona Raquel agiram estranhamente na nossa apresentação Pais e Filhos.  Eu tenho plena certeza que nós não somos filhos de carinhas aleatórios de alguma festa qualquer, como elas sempre disseram.  Além disso, ela guarda todas as notícias bombásticas daquela família dona da Descoladas. com, a mesma dos meus sonhos.  – Revelou Isadora. – Olha aqui.

E foi assim que Isadora apresentou a Isaac alguns dos segredos da mãe de ambos, entre eles, as fotos da mãe deles adolescente desfilando para aquela empresa.

– Bingo! – Exclamara o adolescente.

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Juliano se achava um rapaz calmo e comportado, mas perto de Isaac e Isadora ele se transformava: o filho de Raquel guardava, lá no fundo, um desejo ardente por aventura.

– Vocês despertam em mim os piores sentimentos bisbilhoteiros que um ser humano poderia ter! – Exclamou Juliano para Isaac e Isadora.

– Vamos logo! Precisamos encaixar as peças desse quebra-cabeça e implorar para nossas mães confessarem, lacrimosamente, o nome dos nossos pais. – Pediu Isaac.

– Está com o celular aí, cabelos de miojo? – Indagou Isadora. – Necessitamos de cópias concretas do crime.

Juliano, contra sua própria vontade, revirou o santo diário de sua santa mãe. O rapaz suponha que Raquel seria incapaz de mentir para ele até aquele momento...

– Eu falei para vocês que aqui só havia resenhas de grandes obras da Literatura? – Dizia Juliano antes de perceber um certi detalhe. – Bem, aqui também tem uma confissão básica sobre... Espera aí.

– Ela escreveu sobre o desespero de descobrirmos nossos pais! – Adivinhou Isadora. – Leia em alto e bom som.

– "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você for parar pra prever o futuro, elas podem simplesmente te rejeitar, já que suas jararacas matriarcas lhe convenceram que você é uma golpista. Que Dona Ana Maria tivesse evitado! Que Tereza nunca tivesse ido pra escola chiquérrima do bairro ao lado, onde os riquinhos desde sempre traficam suas queridas drogas. Que eu nunca tivesse participado das festinhas com aquele nerd , que nem fez o ensino médio e foi pra Harvard. Maldita Douglas Monteiro! Maldito coração inocente meu." – Leu Juliano. – Minha mãe mentiu para mim! Ela conhece o meu pai!

– Olha aqui o que precisávamos. – Dizia Dora apontando para outro trecho do diário. – "Que dona Ana Maria continue velando àquela bendita escola, para que os rapazes riquinhos não enganem mais as mocinhas órfãs ." Precisamos contatar essa dona Ana Maria! – Exclamou Isadora, traçando o plano de investigação de paternidade mais épico que Belo Horizonte já tivera.