Capítulo 10
–Por que tudo isso? –Perguntei, a atenção de Campos e Amaral voltam para eu.
Suados, eles permanecem parados, aparentemente tentando entender a pergunta. Suspiro, soltando os pesos com um oito neles no banco, olhando principalmente para Amaral.
–Para que vocês fazem isso? Tipo, você não vai ficar mais forte assim, tu poderia estar fazendo trozentas coisas ao invés de… Levantar sascoisas. –Digo, apontando para os pesos nas mãos dele.
–Ah, você não está totalmente errada. –Ele responde, descendo os pesos sobre o banco à sua frente. Ainda não entendo como esse cara consegue levantar os de vinte sozinho. –Mas, parando de fazer isso, eu vou enfraquecer.
–Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito. –Campos suspira e solta a barra de ferro em suas mãos. Vejo-a subir na maquina e ouço um suspiro, acompanhado por um sorriso. –E quem é injusto no pouco, também é injusto no muito. Lucas dezesseis dez, entende?
–Não. –Respondo, o que o faz rir. Amaral coça a cabeça, aparentemente pensando em algo.
–Como você quer ficar mais forte se não faz os treinos básicos? –Ajeitando o óculos, ele calmamente estica os braços e agarra a parte de cima da máquina, uma enorme barra, ficando pendurado nela em seguida. –Se você é fiel no básico, também vai ser fiel no difícil. Não dá pra fazer equação de segundo grau sem saber a de primeiro.
–Precisava me lembrar de matemática? –Arrepio, odiando lembrar das minhas tarefas. Entrei numa escola a pouco tempo e aprendi a ler, tacaram números na mesa e me obrigaram a fazer contas estranhas, inúteis e sem sentido!
–É a analogia, desculpa o gatilho. –Sinto uma leve vontade de socar Campos pela piada, mas apenas reviro os olhos. Ouço uma risada e Amaral sorri um pouco, voltando a pegar os pesos de vinte em cada braço.
–Pense, pense que seu corpo precisa estar preparado. –Ele começa a dizer, levantando e descendo os… Halteres um de cada vez, fazendo muito esforço. Não consigo entender, com a energia o esforço dele quase zeraria. –Você pode acostumar a fazer tudo com a aura, mas ai seu corpo vai travar ali. Quando você força seu corpo, você se desenvolve e a aura também.
–Quanto maior a garrafinha, mais água cabe.
–Que analogia foi essa!? –Amaral questiona e, seu braço trava no meio do caminho, o peso desce e é solto na mesa. –Você está comparando ela a o que!? Uma garrafinha mineral?
–Eu não estava pensando nisso, mas… –Campos deixa de se pendurar e aterrissa, olhando para mim em seguida. –Eu te compararia a uma garrafinha stanley.
Não faço ideia se isso foi um elogio ou uma ofensa.
–E o gordo seria o que? Um galão de água? –Amaral mal acaba de falar e Campos sorri de canto a canto, amando a ideia.
Eles disparam a rir, como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo. Parada, tento entender a graça e como esses dois conseguem ficar tão tranquilos na nossa situação.
Estamos quase sendo caçados pela D e, eles riem assim? Aliás, de onde veio esse Lucas dez… Dezessete?
Estreito os olhos, melhor voltar pro meu treino.
***
Lembrar disso é quase um, um contraste com o que estou vendo.
Amaral limpa o sangue de sua boca, no meio de uma multidão de despertados caídos. Suas máscaras e roupas estão carbonizadas, sequer sinto a aura deles. As mulheres que nos ajudaram parecem estarem tão surpresas quanto eu, a própria ruiva aparenta não acreditar naquilo.
Quando cheguei, vi Amaral atravessar o campo de batalha e derrubar os membros da D que estavam causando um trabalho enorme para ela e pros Palmares, o que é… Incrível.
Isso é realmente fruto daquele versículo? Ou somente um dom absurdo?
–As vezes me esqueço do quão forte esse miserável é. –A minha… Esquerda? Isso, Angelo murmura, também na defesa dos feridos comigo. Seu rosto está um pouco vermelho por causa da aura, sinal de nervosismo. –Apesar disso… Olhe, mais estão chegando.
Sinto pontos de aura surgirem ao longe, como o portal que destruí. Aparentemente não vão conseguir vir pela parte de baixo, já que derrubei tudo nela, mas nada os impede de vir da nossa volta.
–Elas são realmente valiosas então. –Murmuro, voltando a atenção para o trio. Elas estão conversando algo com outros experimentos, talvez checando se estão todos bens.
–Se aparecer um superior… –Angelo murmura, ajeitando o boné em sua cabeça, quase totalmente vermelho pela ação da aura. –Estaremos em problemas.
Se me lembro bem, superiores são despertados que conseguem usar seus dons no máximo. Se comparar com garrafinha, eles seriam… Uma caixa de agua? Enquanto eu seria uma stanlei, stanley, não lembro agora o nome.
Além disso, lembro de Leila falar algo sobre eles… Conseguirem tomar a aura do local para si e alterarem o local. Como era o nome? Era um refinamento diferente dos que Maria estava aprendendo…
–Ei, eu estou louco? –Angelo questiona, arregalando os olhos. Arqueio as sobrancelhas, do que esse cara está falando? –O que é aquilo?
Aquilo? Olho na mesma direção, Faria parece levantar um ferido e, espera, há algo no horizonte.
Na verdade, algo imenso. É como, é como uma bola vermelha de… Carne? Não, não é isso, é feita de aura.
Um péssimo pressentimento me invade. Isso, isso parece muito com o que Leila me falou. Algo enorme, com uma aparência estranha e invisivel aos sensores de aura.
Essa habilidade deveria atacar algo, mas quem estaria sendo atacado? Espera, Campos e Maria não acabaram de ir atrás do cara que estava atacando de longe?
Olho para Angelo, provavelmente pensando o mesmo.
No segundo seguinte, a aura é movida. Na nossa frente, algo atinge bruscamente o chão e, arrepio dos pés a cabeça, vendo duas figuras.
–SOCORRO! –A voz de Maria parece paralisar o tempo enquanto, enquanto a vejo com a roupa repleta de cortes, com marcas de… De inflação pelos ombros e braços, alguns nos pescoços e nas partes expostas de seu corpo.
E, nos seus braços, Campos tenta se levantar, com uma enorme inflamação nas costas e no lado esquerdo do pescoço, uma carne vermelha que pulsa violentamente.
Não consigo reagir. Vejo Angelo aproximar deles e segurar Campos, falando algo enquanto tremo, observando-o ser colocado no chão, com a aura fraca.
Algo quase, algo quase o matou. A esfera de carne começa a ruir, desfazendo-se rapidamente no horizonte e, cerro os dentes, sentindo o pressentimento piorar.
–EI! –Grito, mas sequer sei para quem. Maria olha para mim com os olhos vermelhos e consigo sentir sua dor, o que parece me acordar. –CHAMEM A RUIVA! CHAMEM ELA!
Ela tinha curado alguns caras! Ela deve conseguir ajudar! Quase num movimento instintivo, meu dom ativa-se e a terra em volta dela treme, fazendo-a imediatamente cessar a sua fala junto do trio, voltando a atenção para eu que balanço as mãos, tentando chama-la.
Por favor, venha logo! Aponto para baixo, para Maria e Campos, a ruiva parece entender e salta na nossa direção, vindo em velocidade máxima para a fábrica.
–O que raios aconteceu? –Do meu lado, Amaral surge e cerra os dentes, encarando os dois.
–Um superior apareceu! –Maria continua a segurar Campos, consigo sentir a aura dela movimentar o núcleo de energia dele, mantendo-o funcionando e, sinto outra aura nele. –Ele, ele apareceu e usou aquilo! Campos conseguiu me proteger mas levou o dano inteiro, ainda assim conseguiu nos tirar de lá inteiro…
–E aí deu nisso. –Amaral conclui, cortando a fala dela. Faço uma careta, ainda sentindo algo horrível em mim enquanto vejo Campos tremer. Por todo o seu corpo, a tonalidade vermelha-escura parece rasgar a sua aura, enfraquecendo ele.
–Mas o que aconteceu com ele!? –A experimento ruiva questiona, chegando perto com os olhos arregalados antes de abaixar perto dele. –Essa aura…
–Consegue ajudar? –Maria volta a atenção pra fora da fábrica, Faria e Angelo aproximam também e a moça parece pensar, não respondendo Amaral. –Sim ou não?
–Posso tentar. –Ela define, estendendo as mãos na direção da ferida. –Enquanto isso, olhem meus… Meus amigos, alguns já não conseguem mais lutar.
–As tropas recuaram. –Maria fala, levantando ainda com os olhos em algo além da fábrica. –Elas… Parecem estar se agrupando.
–Eles… –Volto os olhos para Campos, levantando o rosto ao tentar falar. –Com certeza vão vir junto daquele homem.
–Se… Se ele conseguiu fazer isso com Campos, com toda certeza vai vir em linha reta junto dos outros. –Angelo murmura. Não sei se isso deveria ser bom ou péssimo. Pelo menos… Sabemos que vai vir um ataque concentrado, né?
–Ele usou um refinamento muito complexo, com toda certeza vai precisar esperar um pouco para poder usar seu dom normalmente. –Amaral estala os dedos, olhando para mim em seguida. –Olha, devemos ter três minutos antes dele ter força total. Eu estou sentindo eles se aproximarem, provavelmente vão nos ameaçar.
–Por que eles não nós atacariam? –Faria pergunta.
–Somos muito valiosas. –A moça define. Olho para ela, com o cabelo preto brilhando em vermelho junto das pontas, carmesins, reagindo a aura que, de forma simplesmente incrível, está sendo usada dentro do corpo de Campos sem nem mesmo encostar nele.
Eu, eu não entendo de imediato a fala dela. Mas, eu sinto que é algo haver com os poderes das três.
Julia falou que quando meu pai me vendeu e aquele homem iria me levar, a intenção dele era… Era fazer experimentos em mim para ver se eu suportaria um despertar artificial. Aparentemente, a chance de sobreviver é uma em… Cem mil.
E aqui três conseguiram sobreviver, além de ficarem exatamente fortes.
–Faria e Angelo, fiquem na linha de trás. –Amaral começa a dizer, abrindo as mãos ao também olhar para fora da fábrica. No meio da terra seca, andando calmamente na nossa direção, um homem de vestes vermelhas exala sua aura… Escura, espalhando-se pelo céu ao tomar o azul do local. –Raissa… Você vai precisar ficar mais na frente, é a única com um dom de ataque.
–Marinho e Ravena podem lutar. –A moça diz, olhando para o mesmo local de nós. –Os outros… Já estão muito feridos. Nem sei se Tati vai sobreviver.
–Vamos precisar comprar tempo. –Maria declara. Esses dois nomes que a moça falou, é o nome das duas que estavam com ela? –Acho incrível você nem me chamar para lutar.
–Se quiser ir enfrentar o superior, pode ir na frente. –Os dois se encaram. Fecho os punhos, temendo por uma discussão e, ela suspira, voltando a atenção para Campos.
–Se algo for dar errado, eu apareço lá.
–Então vamos. –Ele declara já liberando sua aura, sendo tomado por uma tonalidade branca. Apesar disso, seus olhos permanecem em Campos. Não sei dizer se ele está acordado ou beirando desmaiar. –Segura as pontas aí.
Antes deles irem para fora da fábrica, eu vou na frente, disparando a correr conforme meu coração dispara.
Olhando todos os feridos, olhando toda essa destruição e sangue, o homem de vestes vermelhas parece tomar o meu foco.
Esse desgraçado vai pagar por isso.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro