Não vou te abandonar
O vento silencioso e frio da noite balança a escuridão ao redor de mim. Na minha frente, o homem que um dia chamei de amigo encara as sombras, de costas para mim enquanto treme, querendo se afastar. Porém, seus membros claramente não o obedecem. Pelo contrário, eles obrigam-no a se virar, deixando parte de seu rosto em lágrimas visíveis.
Para uma pessoa comum, vê-lo nessas condições seria impossível. Contudo, eu sou uma despertada. E, pela energia azul e vermelha vindo dele, consigo enxergar cada lágrima com perfeição. Seus olhos azuis são voltados para mim, tomados pelo medo e os cortes cicatrizados pela sua pele me fazem arrepiar. O que fizeram com você, Ângelo?
Quero perguntar, mas sei que não haverá resposta. Ele tentou por um fim em mim, isso com toda certeza é obra de algum controlador. Alguém está manipulando-o feito uma marionete, ou o quebrou de vez.
-Por favor, saia daqui. -Ele implora em um sussurro, sendo contornado pelo vermelho, sufocando o azul ao dominá-lo. Permaneço em silêncio, procurando qualquer sinal de outro poder no local, encontrando absolutamente nada. A única coisa estranha está no seu pescoço, uma espécie de... Concentração carmesim. -Faria, eu não quero te machucar, eu não vou aguentar muito tempo.
-Me diga onde está. -Respondo firme, referindo-me ao possível controlador sem medo algum. Ele treme, sua consciência claramente é atingida e seus olhos dilatam, está sendo atacado! -ME DIGA ONDE ESTÁ! EU VOU TE TIRAR DESSA!
Ângelo abre a boca, tenta sussurrar algo e, enrijece, seus olhos perdem a cor. Contudo, consigo deduzir a palavra, que é pescoço. A cor vermelha domina os olhos dele, sendo totalmente controlado conforme abre as mãos, reunindo sua aura nelas.
Entro em posição de combate, ativando meu dom. Minha energia sai do núcleo e espalha-se feito eletricidade pelos meus braços e pernas, aparentemente sem nenhuma mudança. Porém, eles estão recheados de aura agora. Subo os punhos, pensando em como vou retirar Ângelo do controle. Mas, não importa o quanto eu pense sequer consigo imaginar o motivo de alguém fazer isso com ele.
Por que mandar ele me matar? Ė quase como se... Quisessem me usar de exemplo. Fecho a cara, entendendo tudo. É essa a forma deles mostrarem que não devo continuar a investigar os experimentos? Beleza, a primeira coisa que vou fazer quando sair daqui é arrebentar um laboratório no murro.
O vermelho nas mãos dele é condensado e, subindo os braços, ele desce-os de uma vez ao lançá-las contra mim. Reúno minha aura nos punhos e avanço, desviando das duas em seguidos saltos antes de me defender de um terceiro corte vindo da esquerda, socando-o.
Ele estilhaça e Ângelo sobe as mãos, o chão arrebenta e salto, vendo inúmeros cortes virem do solo e desvio deles em cambalhotas, chutando-os ao me propulsionar até me aproximar dele, armando outro ataque. Fechando os punhos e, juntando-os atrás de si, ele golpeia o ar num brusco movimento.
O vermelho claro é emitido em uma explosão e soco-o, afundando o centro da aura com o carmesim escuro ao dissipar a força oposta, rompendo o chão no movimento repentino. Os olhos dele são arregalados e, quando tenta se afastar, minha mão atinge o rosto dele, aberta.
A palma dela colide contra o rosto de Ângelo e, enquanto meus dedos são afastados, a aura é liberada no violento tapa. O som produzido ecoa nos meus ouvidos e, com toda certeza, no dele. Ele recua no golpe, tombando para trás e a força de seus olhos somem.
Eu consegui!? Ponho os pés no chão e, quando vou tirar a prova, o vermelho domina minha visão. A dor me atinge e reajo, sentindo todo o meu lado esquerdo ser queimado e afasto, sendo golpeada em cheio. Giro feito um peão e contra-ataco, socando o ar ao projetar minha força pela cor oposta, dissipando no momento e rapidamente voltando-se contra mim.
Ângelo desvia do golpe com um único passo para o lado e, movendo as duas mãos, outros dois feixes vermelhos inundam o local. Invoco minha aura e defendo o golpe, saindo arrastando os pés pelo chão enquanto materializo a energia diante mim, formando uma barreira.
Desde quando ele consegue fazer isso!? Era para ser cortes de energias, não feixes! Meu lado esquerdo queima e, olhando-o, vejo algo corroer minha pele, exposta. Murmuro um palavrão, com parte da roupa rasgada e retorno a atenção para Ângelo, refazendo o tecido com a aura.
Ninguém disse que séria fácil. Cessando o golpe, ele abaixa o corpo e estende os braços, disparando um golpe concentrado e desfaço a barreira, desviando do ataque num salto. O vermelho colide contra uma árvore e, no instante seguinte, ela virá pó. Arregalo os olhos, incrédula. Essa não era a característica da força dele! Há algo de errado!
Outro golpe, desvio e avanço, abusando da minha velocidade. Me esquivar de absolutamente tudo enquanto o ataque concentrado é dissipado, virando dois, ambos os feixes rasgam a área de mata atrás de mim, matando toda a vegetação enquanto faz a própria terra ser desintegrada.
Preciso tomar cuidado. Apesar de ser muito mais resistente, não sei o quão forte Ângelo está. Cessando os feixes, ele levanta as mãos e soco o ar, lançando outro projétil vermelho na direção dele e, duas correntes são formadas em torno dos seus punhos, sendo descidas em um bruto impacto ao arrebentar meu golpe.
Sequer tenho tempo de desviar. Recebo o golpe e afasto o par das armas ao segurá-las, usando a minha aura para lutar contra a corrosão ao puxar as duas, trazendo Ângelo junto. A surpresa domina seu semblante e acerto-o com uma cabeçada, dispersando um súbito feixe de energia ao concentrar meu vermelho diante mim, recebendo em cheio o impacto e redirecionando toda a técnica para os lados.
-Me desculpe. -Sussuro antes de puxar outra vez as correntes, criando espinhos vermelhos na tentativa de serem soltas. Porém eles não ultrapassam minha aura e nada muda, apenas puxo-as outra vez e atinjo-o com um chute.
Suas costelas estalam e a dor invade seu semblante. Movo as manifestações e, usando-as para rebater vários cortes de energias vindos do ar, chuto minha aura, criando um projétil vermelho que acerta em cheio seu pescoço.
O carmesim escuro é dissipado junto ao azul e o local rochea no impacto, somente não sendo arrancado pela leve alteração na trajetória do projétil, subindo em seguida. As correntes são desfeitas e minhas mãos se fecham no vazio, abrindo quando mais ataques vem do próprio ar, contorcendo-se na alteração da aura e criando rajadas de ataques.
Destruo todos com as mãos, notando o quão fracos eles estão e acelero os movimentos, a chance de acabar com isso é agora! Angelo grunhe, seu olho esquerdo retorna a coloração normal e cerro os dentes, odiando a ideia de precisar bater nele consciente conforme me aproximo.
-Me perdoe. -Sussurro e, torcendo o local no súbito soco, atinjo em cheio o pescoço dele com outro projétil, no qual atravessa todas as forças e arranca parte da carne dele. Como imaginava, uma espécie de chip se espalha pelo ar, tendo quebrado no golpe e faço-o virar pó num bruto movimento da minha aura, usando-a em seguida para segurar Ângelo, caindo no chão.
Amorteço a queda e, aproximando, seguro-o nos braços. Imediatamente fecho o ferimento com minha aura, queimando-o ao imitar fogo e os olhos de Ângelo são arregalados. Um grito de dor é abafado e a atenção dele é direcionada a todos os lados, como se estivesse acabado de sair dum terrível pesadelo.
-Se acalme, eu já te tirei dessa. -Respondo baixinho, mordendo a língua em seguida. Droga, no calor do momento eu destruí o chip, manter isso talvez me ajudaria a entender como essas coisas funcionam. A respiração dele desacelera, o terror sai de seus olhos e ponho-o sentado no chão empoeirado, procurando algum outro maior ferimento nele. -Está machucado em algu...
-Me desculpe Faria! -Ele grunhe me olhando, voltando a chorar e estreito os olhos, sem medo de nenhum ataque repentino. -Sério, na boa, na... Qual é! Eu quase te matei e quase matei sua amiga! Eu não conseguia lut...
-Pare -Ângelo leva um peteleco no nariz e refuga, engolindo as lágrimas enquanto seu rosto vermelho, cheio de cicatrizes, para de chorar. Me olhando, ele ameaça chorar de novo e suspiro, rindo. É, definitivamente é ele. -Pare com isso, está tudo bem.
Ficamos nos encarando, quase em uma confirmação silenciosa. O semblante dele suaviza, apesar de estar com culpa. Lentamente, levo minhas mãos até as dele, segurando-as com força enquanto finalmente me permito respirar tranquila, vendo-o bem. A surpresa domina seu rosto e, vendo as cicatrizes, a cabeça sem nem um unico cabelo, meu sorriso desaparece.
O que fizeram com você?
-Vamos, vamos para o grupo? Melhor você tomar um banho. -Finalmente digo, depois de uns minutos. Ângelo concorda, ainda relutante e procuro por mais qualquer outro sinal de chip ou dom de controle, porém não encontro nada.
-Ainda, ainda vão me aceitar lá? -Concordo ao ajudá-lo a levantar, dando dois tapas na bunda dele para tirar a poeira, deixando-o extremamente vermelho. Certo, ele ficou com muita vergonha, definitivamente é Ângelo. Sorrio com o teste, conduzindo-o em passos lentos pela área da meta, relativamente afastada do clube. Uns, dois quilômetros.
-Vão fazer até festa. -Digo, olhando-o de relance. -Você não tem ideia do quanto te procuramos, do quanto eu te procurei.
Um singelo sorriso surge nele, coçando a cabeça com sua mão livre, segurando a minha com a outra.
E, quando ele abre a boca, algo entra nos meus sensores.
E sou cortada.
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