Morcego maldito
Avançando, o morcego tenta me atingir e desvio das garras dele junto dos cortes de energia, desistindo de tentar revidar quando noto o quão insignificante os golpes estão sendo.
Nem um único arranhão! Não causei nem cócegas!
Meu coração acelera e, vendo a criatura vir com tudo, lanço meu corpo para baixo e ela passa direto.
As suas garras cortam o ar na minha esquerda e saio rolando, desviando. Levanto num impulso e vou na direção oposta enquanto o monstro pousa, gira o corpo e toma voou novamente, reiniciando a perseguição.
Que droga! Desde quando morcegos conseguem voar tão facilmente!?
O que eu faço!? Ficar correndo até Julia ou Campos aparecer!? Eu vou morrer bem antes deles aparecerem!
"Descobriu o seu dom?" As palavras dela ecoam na minha mente e, sinto a aura vibrar.
"Não, essa energia nunca se manifestou em nada." Lembro que respondi ainda a seguindo nos corredores enquanto arrumavam minha casa e, bem, davam um jeito de ajudar meus familiares.
"Mas você já precisou disso?" A pergunta retorna feito um raio. "Se eu não tivesse chegado, você teria lutado? Teria enfrentado aquele merda? Dons somente surgem em momentos de necessidade."
Jura!? Agora seria uma ótima hora para o meu surgir então!
Mas como eu deveria saber o que é!? E como esperar isso aparecer pra eu lutar!? Mesmo Campos, com sei lá quantos anos de despertado, sumiu após encarar aquela coisa! Então quem dirá eu!?
Viro no corredor e salto dentro do banheiro, indo direto pro ladrilho antes dr rolar e usar o resto de inteligência que me resta.
Concentro minha aura e a lanço contra a pia, cessando o movimento antes de ir pra direção oposta. Então, o morcego arrebenta a parede já cortando a aura e volto pro corredor num salto, saindo em tropeços enquanto a criatura grunhe, retomando a perseguição.
Droga! O que eu faço!? Os dons não deveriam ser algo natural como respirar ou correr!? Ent…
Meu pensamento é cortado.
Sou atingida e jogada na parede.
Grunho ao acertar o chão. A dor bagunça minha mente e agarro meu braço esquerdo, latejando. Abro os olhos e, pela minha pele preta, o sangue escorre até pingar no chão, vindo de uma ferida enorme no antebraço.
Merda.
Subo o olhar, dando de cara com outros dois morcegos. O rosto distorcido deles parecem me analisar, pensando o que deveriam fazer comigo e arrepio, vendo-os sorrirem.
A aura vermelha em mim reluz, eles aproximam e, cerro os dentes.
Merda!
O chão estoura, pedaços de concreto sobem e levam consigo os monstros que, antes de conseguirem reagir, são batidos contra o teto.
O som de ossos quebrando junto a gritos ecoam no local e, sem nem mesmo saber o que está acontecendo, minha aura reage.
Os braços deles tentam cessar o movimento e, falham, sendo dobrados no impulso do concreto.
Minha aura vibra, o núcleo de força parece virar um motor e eles são esmagados.
O sangue espirra por todos os lados e somente não me acerta pela ação da aura vermelha, barrando-o centímetros da minha face ao deixá-lo cair.
Continuo parada, sem entender nada. Bato as costas na parede, vendo o líquido vermelho escorrer na estranha estrutura que pulsa vermelho.
O que foi isso?
Olho para a minha aura, na mesma tonalidade. Espera, isso é a minha energia
Quase num movimento monótono, aponto a mão na direção do monte e, ele diminui, assim como imagino. A forma abaixa e consigo ver os restos das criaturas nela, totalmente prensadas.
Isso é, nojento.
Processo tudo em silêncio, observando a luva escura brilhar no contato da força carmesim e, sorrio.
Julia estava certa! Dons aparecem na hora do aperto! E esse, esse é o meu!
–Você está bem? –Viro de uma vez e dou de cara com Campos, com os olhos arregalados. –Tá, tá. Deixa eu adivinhar, despertou?
–Pelo visto, sim. –Respondo. Só então noto o quão sorridente estou. Ele sorri de volta, satisfeito.
–Eu dei cabo nos outros morcegos, então devemos estar seguros. –Falando bem devagar, seus pelos arrepiam e os meus também. Antes de processarmos, um violento tremor atinge a estrutura.
Claro que não estamos!
Sou segurada pelo braço e as rachaduras no chão aumentam. A luz desaparecr e, no instante seguinte, surjo sobre uma mesa.
Ein?
–Você resiste bem aos saltos. Normalmente as pessoas vomitam. Tu, apenas apagou por um tempo. –Tento entender o que foi isso e vejo Campos diante mim, colocando as mãos no bolso. Olho ao redor, estamos num escritório. –Está bem? Dei uma emendada nesses seus machucados.
–Como? –Olho para meu braço esquerdo tapado por aura vermelha bem diferente da minha, mais grossa e pulsante. Quando esse cara fez isso? Deve ter sido quando "apaguei" ou… Ah, sei la. –Obrigada. É… Julia? Onde…
–Parece ter sido a causa do tremor. –Ele prontamente explica.
Olhamos para as rachaduras, espalhadas por todo o local e, olho para a janela, onde a própria ruiva permanece imovel nos encarando.
–Dessa vez até que foi rápido em? Se machucou?
–Preciso mesmo responder? –Ela questiona retirando as mãos das costas, mostrando a máscara em V branca com sangue para nós. Arrepio, lembrando do homem e do meu irmão. –Pelo visto fomos isolados na separação. Alguma ideia de como sairmos daqui? Não posso somente abrir um buraco para fora, isso vai nos jogar no vazio.
–Espera, isso daqui é uma separação da separação? –Pergunto, lembrando da explicação dela sobre o local. "Pense numa folha de papel. Agora, em outra menor sobre ela. Bem, é mais ou menos assim." Sinceramente não entendi nada, porém não fui louca de perguntar novamente.
–Literalmente. –Respondendo, a aura vermelha em sua volta diminui e seu cabelo vermelho para de brilhar, caindo em ondulações até os ombros. –Consegue cuidar disso, Campos?
–Quer que eu tire a gente primeiro ou o local inteiro? –A resposta me surpreende. Então o novato consegue!? Conversei com esse cara duas vezes e não coloquei muita fé na força dele, mas… Espera! Essa luva, aquele sumiço do nada e o quão rápido foi a reação…
Um estalo. A atenção deles é voltada para cima e olho na mesma direção. Não vejo nada além do teto cinza. O som repete, eles arqueam as sobrancelhas e trocam olhares, numa conversa silenciosa que sou totalmente excluída.
–Ou o dom da pessoa está falhando…
–Ou está sendo fortalecido. –Julia completa. –Mas que espécie de habilidade separa uma separação espacial? E eu achando que já tinha visto de tudo…
–Olha, pelo visto estão querendo nos manter aqui o máximo de tempo possível. –Abrindo e fechando as mãos, a atenção dele é focada na luva preta e o carmesim surge nela, rodopiando pelos dedos ao… Energizar o tecido? –Um ataque direto da D?
–Bem capaz. –A ruiva conclui, ajeitando a jaqueta preta com ambas as mãos, deixando-a aberta. –Palmares está longe, então facilita muito. Deslocamos nossas forças para lidarmos com os monstros, eu estou presa aqui, é a chance perfeita.
–Vamos acabar com os planos desses desgraçados então. –Campos fala sorrindo. Os óculos pretos vibram, tomados pela tonalidade vermelha junto a camisa branca. O short jeans abandona a tonalidade azul e o carmesim também o domina, tingindo o tecido conforme sinto algo me segurar pela mente. –Um salto entre dimensões, o que pode dar de errado?
–Quer um impulso? –Julia pergunta. A leve expressão de orgulho nela me surpreende. –Melhor, um incentivo?
–Dependendo, quero sim. –Ele fala, abrindo as mãos e a luva imita um motor, emitindo um som tão intenso que lembro de carros velhos. Porém, sem as falhas e ruídos irregulares. –Mas depois, trabalho primeiro.
Então, fechando-as, o local em nossa volta é circulado pelo vermelho.
No instante seguinte, tudo escurece.
***
A máscara é quebrada no soco.
Movo meu corpo em estrondos, acompanhados de ataques tão poderosos que as "armaduras sintéticas" dos homens mascarados não resistem. As roupas, sempre em formato de terno ou totalmente brancas, são atravessadas pelo vermelho e eles perdem a consciência na hora.
Isso, caso tenham sobrevividos.
Não importa! Raios, correntes, fogo e pedras atravessam os corredores e patio vindo de todos os lados.
Salto entre eles, desviando e defendendo tudo enquanto adentro na luta contra a invasão da D, tentando auxiliar os poucos despertados restantes aqui.
Estão encurralados. Atravesso o espaço aberto indo direto para onde a primeira borda da dimensão está, vendo o aglomerado de assassinos atacarem de todos os lados os membros junto a… MORCEGOS!?
As criaturas rasgam-nos feito papéis e claramente conseguem usar aura, atravessando as defesas de energia, terra ou metal feita pelos meus companheiros. Merda! Desde quando estão conseguindo criar monstros!?
Agarro uma lâmina no ar, vindo na direção do meu corpo e tomo-a para mim, seguindo a correr sem sequer olhar para trás. Dons são ativados e atravessam os sensores, porém desvio de todos em saltos sem nenhum padrão ao seguir correndo.
Preciso primeiro impedir aquele massacre, depois enfio a mão na cara deles!
Meu dom é fortificado, o refinamento faz os músculos serem condensados e aumentarem. A aura berra, deixo os assassinos comendo poeira e abro as mãos, mirando no centro do grupo.
Um corte. Salto, o ataque em meia-lua passa por baixo de mim e sai rasgando tudo, partindo o concreto enquanto alguém aproxima-se e, reajo, ficando de frente para ela.
Arregalo os olhos, subo a lâmina e cravo-a no enorme punho peludo. Contudo, o ataque não é cessado e sou atingida, o vermelho dissipa o impacto e ainda sim sou lançada para a esquerda, batendo no concreto antes de girar e sair arrastando os pés nele, sem a arma.
Faço uma careta, isso doeu. Pousando na minha frente, a enorme imagem de um gorila berra e os assassinos me alcançam, disparando seus poderes contra mim e prontamente fecho o punho esquerdo, já puta.
Num único soco, todos os dons liberados são destroçados e o carmesim abre caminho na eletricidade, fogo e terra, atingindo em cheio um deles. A criatura avança e bato os pés no solo, pensando em qual refinamento irei usar.
Estão usando animais como armas, deveria ficar mal por matar um?
O ser com pelagem escura desce as duas mãos unidas sobre mim e giro o punho, o carmesim faz uma espiral e o corpo dele gira, o ataque sobe junto dos pés e o soco com força total direto no rosto.
Imediatamente reajo aos outros golpes, partindo uma corrente e mando um raio para baixo, dissipando as chamas num movimento em espiral das mãos conforme três disparos atravessam minhas barreiras de energia, sendo redirecionadas para o ar.
Normalmente tiros não conseguem fazer isso. Volto os olhos na direção dos disparos, arrepiando. Isso explica muita coisa! Ao longe na separação espacial, em cima dos prédios a quase três quilômetros de distância, três atiradores apontam suas snipers trezentos e oito contra mim.
Agora ficou bom.
Mais disparos acontecem e reforço as defesas, levantando os braços enquanto ativo o refinamento do meu dom, aumentando minha própria resistência. Uma das munições rompe o carmesim e crava-se no meu ombro direito.
Grunho e fujo para trás de algo, saltando para um dos corredores e os tiros cessam. Droga! Eles estavam armados esse tempo todo e não mostraram!? Olho para os despertados cercados, cerrando os dentes em seguida.
Os corpos triplicaram. Além disso, pela forma desordenada em que os assassinos estão agindo, chuto serem apenas as cobaias. Os membros da D ainda estão vindo.
Droga! Eu nem estou com minhas armas para dificultar as coisas!
Como suspeitei, sinto outra onda de membros da D virem e esses, carregando enormes rifles nos braços. Julia havia falado dessas coisas quando invadiu a base deles, mas para aquela desgraçada resistir a tudo e enfiar a mão na cara dos outros é fácil!
Certo, vamos lá. Olho para o grupo cercado, conseguindo manter uma formação em círculo ao resistir a ação dos assassinos de vestes brancas. Preciso confiar que eles vão dar um jeito, apenas preciso impedir desses caras irem lá e dizimar todo mundo. A visão disse que iria sobreviver, porém ainda sim preciso tomar cuidado.
Com a aura, expulso a munição do meu ombro exposto e fecho a ferida. Respiro fundo, contando até cinco. O macaco e outros membros também vem para onde estou, acompanhados pelos armados que já apontam contra o corredor.
Vejo uma mulher do outro lado do local, também escondida e nossos olhares se encontram. Não, não uma, mas duas e, reconhecendo-as, sorrio de canto a canto.
Ganhei na loteria, Ana e a treinadora estão aqui. Elas notam minha presença e a jovem, já parcialmente transformada num lobisomem, com os pelos brancos cobrindo todo os seus antebraços e pernas expostos, sinaliza para atacarmos juntas. A mulher sequer olha para mim, totalmente focada na aproximação dos seres.
A pele escura dela cintila, fecho os punhos e surjo no corredor, ficando no campo de visão deles. Reforço às defesas e, sou bombardeada por tiros.
No mesmo instante, elas avançam contra o grupo, surgindo do lado do gorila.
Ambas atacam num murro combinado e a criatura é acertada em cheio, colidindo contra o concreto antes de estourar nele e chamar a atenção dos outros membros, apontando os rifles e imediatamente ajo.
Reúno a aura nas minhas mãos e, inspirando, uso meu dom ao máximo antes de imitar os movimentos de Angelo, cortando o ar com os dedos.
O vermelho é lançado em cortes e colidem com tudo contra os membros da D, lançando-os para trás na explosão conforme a atenção deles são dispersadas, vindo para mim e para a dupla.
Sorrio, feliz pelo refinamento ter funcionado e avanço, repetindo a habilidade. Uma nuvem de energia é criada entre nós e os disparos passam longe de qualquer parte minha, sem a menor ideia de onde estou e troco olhares com Ana, apontando para o grupo.
Entendo o recado e desisto dessa luta, voltando a correr na direção do enorme grupo conforme ouço-as partirem para cima dos atiradores.
Os snipers cessaram os disparos e não sinto mais a presença daqueles caras. Olho para onde estavam e não vejo ninguém. Se reposicionaram? Difícil, alguém deve ter ido até lá.
Concentro o refinamento e, reunindo a maior quantia de energia possível nas minhas mãos, vejo a multidão de assassinos ficarem cada vez mais pertos. Meu corpo entra em um estado de alerta máximo, cada fibra dele parece queimar e, quando sou notada, ataco.
Corto o ar, lançando as forças que totalizam dez cortes, saltando em seguida. Avanço contra um membro da D no ar e, usando a ahra para desviar o disparo vindo de seu rifle escuro, afundo sua máscara num soco.
Os outros disparos colidem contra outros cinco assassinos e o resto passa direto, distraindo-os e dando tempo dos meus aliados notarem minha presença. Ainda no ar, agarro a arma do homem e chuto-o, tomando ela para mim antes de apontar contra os outros vestidos de terno.
Sem pensar duas vezes, puxo o gatilho e os disparos irrompem. Dons são ativados e muralhas de concreto são formadas, protegendo os alvos dos tiros enquanto os atrás de mim imediatamente puxam o gatilho.
Um gigantesco urso acerta-os, lançando três para longe conforme raios me protegem, evitando as munições e retiro o dedo do gatilho, avistando dois aliados e amigos extremamente feridos. Mas, sorridentes.
–FORÇA PALMARES! –A mulher um pouco mais velha que eu berra, tomada pelos raios e o urso ruge, tomado por uma armadura amarela cintilante e os outros gritam, tentando aproveitar a brecha para saírem do encurralamento.
–VAMOS! –Entro na gritaria, puxando o gatilho ao revestir cada munição com minha aura.
É hora de arrebentar esses desgraçados!
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