Laço
Apesar da dor, sorrio feito uma criança.
Diante mim, Faria dorme feito um bebê com a boca levemente aberta e o rosto totalmente relaxado. Céus, obrigado. Achei que nunca mais iria vê-la. Depois de tudo, depois daqueles testes, eu sobrevivi.
Acaricio a bochecha dela, observando a pele parda reagir ao toque e tomar tonalidades avermelhadas. Alguns cortes da batalha de ontem ainda permanecem visíveis, cicatrizados. Bem devagar, movo minha mão esquerda e movo a mão de Faria junto, repousada nela, vendo a marca do corte da lâmina da assassina sobre o seu punho.
Além disso, consigo sentir os ferimentos nas costas e até mesmo nas laterais de seu corpo. Pela concentração de aura, consigo deduzir onde os maiores ferimentos estão. Isso era impossível antes. Mas, depois de todos aqueles experimentos, pareço ter ficado mais forte.
Cerro os dentes. Isso não muda nada.
As lembranças retornam junto a dor e faço o máximo que consigo para dissipar os pensamentos, tremendo. Droga, aquele cara é louco.
A respiração de Faria muda e congelo, ficando totalmente imóvel conforme ela se move, colada em mim. Eu a acordei? Sou pressionado num leve movimento no colchão e sua mão desce, soltando a minha ao cair no lençol, saindo tateando-o em seguida, como se estivesse me procurando. Permaneço parado, processando tudo conforme a cabeça dela tomba, suas unhas encontram minha camisa e puxam o tecido em seguida.
Os dedos encostam na barriga e arrepio, sentindo-os subirem enquanto o outro membro também mexe, subindo e abrindo. Ambas as mãos param sobre meu peitoral, sendo pressionado pelo corpo e pelas unhas dela. Sou gradualmente empurrado e não consigo me mover, não sei como deveria reagir e nem como sair dessa sem acabar acordando-a.
Minhas costas encostam na parte de madeira da cama de Maria e, a cabeça de Faria encosta no meu pescoço, encaixando nele enquanto o resto do corpo pressiona o meu, parando. Fico quieto, sem conseguir me mover. Sinto os batimentos cardíacos desacelerarem, além de senti-la milimetricamente.
Embaixo das mãos, a sua parte superior encosta na minha com mais força do que gostaria, assim como a inferior. Quando os movimentos param totalmente, movo a outra mão e retiro a direita do rosto dela, empurrando-a gentilmente. Nossos corpos descolam e ela tomba bem devagar, em um sono extremamente pesado.
Ainda bem.
Com um cuidado imenso, subo meu corpo com o cotovelo, ficando sobre os joelhos. Permaneço parado por alguns segundos, apenas observando-a para ter certeza de que não vou acordar Faria. O tempo passa, ela permanece imóvel com as mãos juntas, de olhos fechados sobre seus cabelos pretos e, termino de levantar.
Suspirando, ponho a mão na minha cabeça já de pé, sem cabelo algum. Cerro os dentes, descendo os dedos ao sentir as inúmeras cicatrizes, enormes. Volto a atenção para baixo, onde os pratos de comida vazios permanecem sobre a estante. Pego-os com o máximo de cuidado e passo pela porta aberta, caminhando pelo corredor até abrir a porta para a segunda sala.
Espero a abordagem daquela cachorra ou de Keila, mas nenhuma das duas aparece. Inclusive, onde ela dormiu? Olho pelos sofás, pela porta e passo no pelo terreno, depois pela cozinha e não encontro ninguém. Deve ter saído.
Vou até a pia e vejo uma frigideira suja junto a um copo, garfo, faca e prato, todos sujos. Pelo visto já tomou café. Abro a torneira e jogo água nelas, pegando a bucha ao molhar minhas mãos e colocar sabão nela, limpando tudo ali.
Sinto pontadas de dor nos movimentos, mas são insignificantes. O próprio ferimento no meu pescoço é bem maior que eles, apesar de ter sido fechado na hora. Céus, um pouco mais de força e minha jugular teria rompido. Melhor nem pensar nisso, estou vivo e é isso o que importa.
Em meio aos movimentos circulares da minha mão, retirando o preto da frigideira, a água acumulada reflete meu reflexo e cerro os dentes, estou horrível. Enxugo tudo e coloco para secar, imediatamente indo para o banheiro. Entro nele e, quando olho o espelho, quase arranco um pedaço da minha língua.
Ontem estava tão disperso que sequer havia me olhado no espelho. Mas agora, vendo meu próprio reflexo, vejo o quão horrível estou. Sem cabelo algum e com enormes cicatrizes pela minha pele branca, vejo apenas a sombra do que fui um dia. Os resquícios dos cortes fundos e enormes passam pelas bochechas, nariz e testa, descendo pelo pescoço e vão para a nuca.
Levanto a mão e concentro minha aura, encostando o dedo nas feridas fechadas ao energizá-las, tentando restaurar o meu rosto. A pele vibra, as cicatrizes diminuem e a dor invade meus sentidos, vindo pela tentativa de restauração forçada. Mas não me importo, continuo aplicando o vermelho nos cortes e, mesmo diminuindo-os, permaneço horroroso.
Meus olhos azuis tremem, lágrimas surgem neles e cerro ainda mais os dentes, ciente de que se eu continuar vou apenas piorar minha situação. E há como piorar? Afastando minha mão ao colocá-la na parede, sinto a água descer pelas bochechas no silêncio absoluto. Droga, como fui acabar assim? Eu estou horrível. Se Faria acordasse ali iria se assustar comigo! Não sei como aguentou ficar tão tranquila comigo assim! Eu, eu mesmo sequer estou conseguindo me olhar!
O choro é intensificado, balanço a cabeça e, involuntariamente, sinto a aura azul brilhar junto a vermelha, que definitivamente é de outra pessoa. Lembro-me da dor, lembro-me das injeções sendo aplicadas e dos cortes apenas para testar minha resistência, para avaliar minha regeneração e se estava reagindo aos produtos. Dos impactos para eu ativar a aura, das auras misturadas e dos dons implantados.
Tremo, sentindo tudo retornar feito um furacão e, um toque.
Arrepio e viro. Dou de cara com Faria.
Travo, vendo a mais pura preocupação dominar o semblante dela. Desvio o olhar imediatamente, retirando a mão da parede conforme limpo as lágrimas, continuando a cair enquanto tento me esconder, tomado pela vergonha.
Ela permanece parada, apenas me observando e realmente quero sumir. O que raios eu estou fazendo? Chorando feito um bebe? Depois de ter sido salvo, depois de tudo eu estou chorando? Depois de tudo, eu virei esse monstro?
Sem falar uma única palavra, Faria dá um passo na minha direção e, sou segurado pelo braço antes de conseguir me afastar. Permaneço encarando o chão, sentindo-a pela aura. Não olhe para mim, por favor.
Indo contra meu desejo, ela levanta a outra mão e encosta na minha face. Estremeço e, bem devagar, sou virado na direção dela.
Nossos olhares se encontram e realmente quero entrar na terra, quero desaparecer sob seu olhar, com o castanho transbordando tristeza.
–Ângelo, está tudo bem. –Faria sussurra e as lágrimas inundam o meu rosto. Como? Como estaria? Olhe para mim! Olha para como eu estou! –Você está aqui, você está vivo.
Abaixo a cabeça, não conseguindo manter o contato visual.
–Eu virei, isso. –Murmuro, a outra mão dela solta meu braço e sou virado na direção dela, sendo obrigado a olhá-la nos olhos.
–Não, você continua sendo o Ângelo. A mesma pessoa. Essas cicatrizes não te fazem um monstro, elas vão sumir. –As palavras ressoam e nego com a cabeça, ciente de que não vão sumir. –Ângelo, por favor! Vamos para o grupo e lá eles irão dar um jeito nisso! Relaxe!
–Eles, eles vão? –Pergunto feito uma criança, realmente me sentindo patético.
–Eu te garanto. –Ela murmura, gentilmente acariciando meu rosto ao se aproximar com um leve sorriso. –E você vai ficar ainda mais gato que antes.
Uma risada escapa entre meus dentes e tombo minha cabeça, sendo puxado. Antes de conseguir reagir, os braços de Faria são passados por volta do meu rosto e sou encaixado num abraço.
Fico imóvel, sem conseguir mover nem um único músculo enquanto a densa e quente aura dela cobre a minha pele, cobrindo-me feito um cobertor conforme meu corpo cede, o ar escapa dos meus pulmões e desabo, retribuindo o abraço.
As lágrimas secam e permaneço afundado no pescoço de Faria. Fechando os olhos, a passagem do tempo parece desaparecer e o enorme peso sobre mim some, junto a sensação horrível de ter virado algo abominável. Eu não sou um monstro, ela não me acha um monstro.
Passando os dedos pela minha cabeça, sem cabelo algum, a respiração de Faria desacelera junto aos batimentos cardíacos, ficando mais tranquila. Céus, por que sempre preciso deixá-la preocupada? Eu, eu sempre faço isso.
E, e ela sempre está comigo nesses momentos.
Sou afastado de forma bem lenta, vendo tudo azul enquanto a visão de Faria sorrindo é formada diante de mim. Movendo uma das mãos, vejo-a limpar a água seca no meu rosto conforme a outra gentilmente segura meu punho aberto.
–Melhor? –Ela pergunta em um sussurro, entrelaçando os dedos nos meus ao terminar de retirar o choro, fazendo um leve carinho em seguida. Concordo num pequeno movimento da cabeça, ficando ainda mais envergonhado por gostar disso.
–Sim, obrigado. –Respondo quase murmurando, custando a subir os olhos para olhá-la diretamente nos olhos, apertando sua mão em seguida. A carícia cessa, a atenção de Faria é voltada para nossas mãos e sorrio, esperando nossos olhares se encontrarem novamente para continuar. O foco das pupilas castanhas retornam pra mim e suspiro. –Obrigado por tudo. Eu, eu não sei o que seria de mim sem você.
Silêncio.
Nenhuma palavra é dita, apenas continuamos a nos olhar conforme ela sorri, fazendo as cores retornarem ao mundo junto de sua face, maravilhosa.
Bem devagar, a tristeza e receio dentro de mim são dissipadas. Instintivamente, dando lugar ao imenso sentimento que sempre me domina quando estamos pertos um do outro.
Aplicando um pouco mais de intensidade no aperto de mão, minha aura parece criar vida própria e sai do núcleo de força, indo em encontro a Faria pelos meus dedos e face, sendo novamente acariacada. Os pelos dela rupiam e, sinto como se estivesse hipnotizado pelos olhos castanhos, vendo a aura vermelha mudar.
Tremo dos pés à cabeça, recebendo uma mensagem pelo carmesim. Sinto-a vibrar, só então notando a conexão das auras, na qual imediatamente transmite nossos pensamentos.
Pela energia de Faria, sinto a sua intenção e cada milímetro da minha alma treme. Meu coração dispara, a força azul denuncia meus pensamentos e consigo ouvir os batimentos cardíacos dela dispararem, também não acreditando nisso.
Algo dentro de mim parece explodir, reagindo ao pensamento refletido na energia.
Medo, sinto medo e, a palavra é estampada na minha mente, mas não consigo processá-la.
O mesmo acontece com ela e, para o meu desespero, meu corpo age sozinho.
Ela quer isso.
Dou um passo para perto, aproximando dela conforme meus sentimentos mais íntimos transbordam para fora, sendo revelados pela energia.
O mesmo acontece com Faria que, inconscientemente, lança os seus pensamentos para mim pela aura vermelha junto a, seu sentimento sobre mim.
A descrença me domina.
Nossos momentos juntos retornam em feixes. Quando nos conhecemos no grupo, quando ela me ensinou a controlar meu dom e desenvolver ele, quando fui para minha primeira missão e quando corremos daquele cachorro louco.
Da nossa primeira vitória no truco contra Miguel e Evely, de nosso momento, apenas nós dois naquele banco na praça.
Lembro da imensa vontade que tive de beijá-la. Mas, o medo de colocar tudo a perder, o medo de perdê-la para sempre me fez recuar perante a ela naquele dia.
E, com isso vazando pela minha energia, a surpresa domina todos os meus pensamentos.
Ela também queria.
Faria queria aquele beijo. E, pelos próprios olhos dela, sinto o mesmo receio que senti naquele momento. Medo da rejeição, da perca e do abandono. Medo de estragar essa relação tão boa por algo que, que em nenhuma das tentativas anteriores, nunca havia dado certo.
Olhando-a nos olhos, no presente e agora, cada fibra do meu ser reage ao senti-la se aproximar e descer a mão pela minha face, deixando o mesmo sentimento transbordar enquanto o simples pensamento de que isso poderia nunca acontecer rasga minha alma. Isso poderia ser totalmente impossível caso eu realmente tivesse desaparecido.
E, pensando nisso, Faria me puxa.
Um choque, minha energia estala, o contato afasta qualquer pensamento e, o beijo faz minha alma vibrar.
Nossos lábios encostam, o tempo parece dilatar e, a parte superior da minha boca é puxada.
Uma sensação indescritível inunda meus sentidos e, perdendo as forças, sou empurrado um passo para trás enquanto meu beiço é puxado em um beijo que sequer sabia da existência.
Finalmente.
Meus pensamentos se misturam com os dela e sou empurrado por outro passo, tendo o pescoço segurado conforme nossas energias reagem uma na outra, bombardeando meu cérebro.
Minhas costas batem na parede e ela simplesmente me esmaga nela.
E então puxa, move e faz meus lábios ficarem dormentes, agindo de acordo com minhas reações pelo laço que denunciam a melhor forma de me deixar totalmente fora do ar.
Os segundos simplesmente não passam e o vermelho parece adentrar em mim. Minha mão é apertada e, céus. Quando sinto que vou perder a cabeça, ela se afasta e finalmente consigo respirar.
Meu pai.
Faria permanece diante mim, com uma das mãos em meu pescoço enquanto os olhos castanhos dela vibram, repletos de satisfação e felicidade. A realização de algo que deseja a tempos toma-a e sinto a sua respiração, satisfação, felicidade e, principalmente, o desejo vindo junto a energia.
Arrepio muito, tentando controlar a troca de pensamentos e, falho brutalmente. Meus pensamentos passam de volta e um gigante sorriso a domina, ficando extremamente feliz ao saber minha reação do beijo.
Quero retribuir.
Cada milímetro meu quer loucamente retribuir. Mas, a parte que me acha um monstro restringe meus movimentos quase completamente. Recebendo essa informação, ela é tomada pela descrença e, quando a aura transmite seus pensamentos, a surpresa me domina. Na visão dela, eu estou exatamente igual a antes. Nada mudou. Não estou como o monstro que acredito ter virado, como o rato de laboratório ou quase assassino.
Eu ainda sou o Ângelo de antes.
De uma vez, puxo-a para perto e retribuo o beijo. Ela é tomada pela surpresa, ficando momentaneamente imóvel e aproveito para imita-la, fazendo-a tremer antes de inverter nossas posições num giro.
Quando a ficha cai, nossas posições já trocaram e quem é prensado na parede é ela. Arranco a respiração dela na ação e aperto sua mão, segurando-a pela cintura com a outra.
Faria ronrona feito uma felina, amando minha ação e me puxa, pressionando a si mesma na parede conforme intensifica o beijo.
Sou conduzido pela aura vermelha.
A mão dela aplica mais força, a pressão na minha garganta aumenta e reúno a aura para conseguir continuar respirando, perdendo a postura enquanto sou puxado pelo vermelho, apertando-a contra a parede e, outra pausa.
Afasto e ela também. Nos olhamos, com a respiração ofegante e, sequer preciso esperar a energia transmitir os pensamentos para entender a mensagem no semblante dela, querendo de novo.
De uma vez, retomo o beijo, deixando uma parte minha que sequer conhecia dominar meu corpo ao pressioná-la contra a parede feito um animal.
Um cheiro intenso invade minhas narinas e, ouço um som dela. Algo parece explodir dentro de mim e aplico ainda mais força, sentindo os ferimentos doerem conforme utilizo a aura azul para puxar Faria, inundando meus pensamentos com a felicidade e prazer.
Não importa, pode doer.
Nossos sentidos são misturados, a dor é dissipada pela aura dela e algo queima dentro de mim, sabendo exatamente o que devo fazer para retribuir a imensa satisfação.
O mesmo acontece com ela e o vermelho é concentrado na minha cintura e, puxando-a, cada milímetro nosso estremece simultaneamente.
Instintivamente, faço o mesmo com a força azul e o fôlego escapa de seus pulmões, sendo retirada da parede por um instante antes de ser batida nela em seguida. Assusto comigo mesmo e, vendo-a com os pés retirados do chão, controlo os meus instintos ao forçar uma pausa.
Paramos, respiramos ofegantes e continuamos a nos olhar. O castanho transborda em prazer, os pensamentos estão embriagados pelo desejo e a descrença inunda nossas essências, acreditando fielmente que isso é outro sonho.
Outro sonho. O pensamento compartilhado me surpreende e também a deixa abismada, ficando ciente de que já sonhei com isso. Enquanto o mesmo sobre ela fica evidente. Sorrio de nervoso, então Faria já sonhou isso comigo? O pensamento é partilhado e arrepio, tendo a confirmação.
Os pensamentos dela vazam e os olhos dela são arregalados, sendo desviados enquanto sou bombardeado por, não um sonho, mas vários. A vergonha faz a sua pele morena corar e, fico paralisado, sorrindo.
–Pelo visto, eu não fui o único a pensar onde seria. –Minhas palavras saem picadas, baixas e sussurradas. A atenção dela retorna a mim e solto uma risada singela. –Mas, no banheiro da casa de sua amiga? Nós dois erramos.
Ela ri, ciente de que vi os locais onde havia pensado que conseguiria me beijar. E, quando vejo-a tentar colocar os pés no chão, sou dominado pelos meus instintos e a levanto pela cintura.
Faria arregala os olhos, voltando a atenção para mim conforme nossa visão fica alinhada. Com o azul, lentamente firmo a posição dela e levanto sua outra mão, ainda fechada na minha, colocando-a do lado de seu rosto enquanto deixo o que quero fazer transbordar pela energia, sem desviar o olhar.
E, recebendo o recado, ela sorri, passando as pernas atrás de mim.
–A vontade. –Ela responde e, retomo o beijo num avanço, sendo apertado pelas coxas dela conforme realizo uma de suas fantasias passadas pelo laço.
Agora, é minha vez.
Os leves e baixos sons junto da imenso desejo vindo do laço denunciam o quão bom está sendo.
Os segundos não passam, minutos viram horas e perco totalmente a noção do tempo. Meu corpo começa a agir sozinho, obedecendo as mensagens vindo da energia enquanto ela faz o mesmo, levando a minha mão entrelaçada na dela até a própria barriga, sendo apertada pelos nossos movimentos, cada vez mais intensos.
Os pensamentos de Faria gritam e meu corpo parece gritar em resposta, queimando pela aura e desejo enquanto nossas mãos são soltas.
Uma pausa, recuperamos o fôlego e trocamos olhares.
Os olhos castanhos dela estão transbordando em energia vermelha.
O vermelho tenta a todo momento puxar o azul e controlo ao máximo meus instintos, querendo loucamente retomar o beijo.
Então, ouço algo estalar.
–Ah não. –Faria murmura e, algo adentra nos meus sensores. A forma de um pequeno ser saltitante é formado na minha mente e reconheço, é a Bruta. A cachorra atravessa o terreno numa velocidade assustadora, arrastando a coleira pelo chão e sinto outra coisa no sensor, uma pessoa.
É Keila. Droga! Desço Faria e os pés dela encostam no chão enquanto a desprendo da parede, sentindo nossas frustrações gritarem pela conexão de nossas energias e pelos seus olhos, repletos pela raiva.
Realmente fico surpreso e, com o pensamento compartilhado, vejo-a desviar o olhar e sair do banheiro. "Disfarce idiota!" Ouço Maria se aproximar e também vou para o corredor, voltando para o quarto enquanto ela arruma a cama, dobrando os cobertores e colocando-os no armário.
Subo o colchão onde dormimos, só então processando tudo o que aconteceu. E, principalmente, o que quase aconteceu. A vergonha me domina e os pensamentos dela inundam minha mente, deixando tudo ainda pior.
Ela poderia ter atrasado uns dez minutos. Ligo a TV e abaixo o volume, deixando o controle sobre a estante antes de pegar a bolsa onde os CDS dos jogos ficam, fingindo escolher um conforme a presença de Maria caminha pelo corredor.
"Merda! O dom dela!" Faria pensa e, quando a informação sobre a sua habilidade chega, simplesmente travo.
Ela para na porta e nós dois olhamos-a de relance, sorrindo de canto a canto, merda. Sem dizer uma única palavra, Keila leva as mãos até o próprio cabelo preto, preso num rabo de cavalo, desprendendo-o antes de pegar uma blusa cinza sobre o moletom, vestindo-a sobre a camisa preta sem tirar os olhos de sua amiga, fixa no armário.
Maria viu, Maria viu tudo! Droga! Deve ter visto ainda mais! O pensamento compartilhado continua e nossas imaginações fazem cada milimetro meu tremer. Desfaço o mais rápido possível a imagem minha e de Faria no colchão, sentindo-a tremer pela conexão e a rompemos. Engolimos seco, sem saber como deveríamos reagir e ouvimos uma risada.
A amiga dela apenas volta pelo corredor, largando a gente sozinho no quarto. Devo estar igual a uma pimenta. Cada centímetro da minha pele está coçando e agradeço muito pela conexão ter sido rompida, porque meus pensamentos estão incontroláveis.
Porém, olhando para Faria de relance na frente do armário, tremendo um pouco enquanto um cheiro muito forte vem dela, tenho certeza que o mesmo acontece com ela.
Céus, e agora?
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