Invencível
Meus pelos arrepiam.
As sombras contorcem-se e Ângelo levanta, notando a minha súbita parada e arregalo os olhos, vendo as trevas tentarem formar algo e falharem.
O que está acontecendo? Meu dom tenta loucamente avisar sobre algo e minha preocupação com Faria triplica. Já faz uns trinta minutos desde dela ter saído e eu to tão ansiosa quanto Ângelo. Não, ele tá mais. Deve ter tirado e colocado até boné preto umas quinhentas vezes nesse meio tempo.
–Você, viu algo? –O questionamento vem num sussurro e nego, tentando entender a situação.
–O problema é exatamente esse. –Respondo, preocupada e o chão começa a tremer.
Arqueiro as sobrancelhas, Ângelo faz o mesmo e o azulejo vibra cada vez mais, as paredes também e trocamos olhares, pensando no mesmo.
Então começou? Bruta late e imediatamente vamos para fora do quarto, indo até o terraço onde vejo-a rosnar para algo no céu. Quando subo os olhos, sou eu que tremo.
Um gigante olho fita nossa região.
Ângelo trava também, encarando a espécie de criatura colossal na nossa frente. Movendo-se, as escamas cintilam num violento azul e a cabeça levanta do chão, o corpo redondo e comprido sobe e… Meu Deus.
A espécie de cobra gigante e azul volta a atenção para nós, deixando a língua vermelha descer e vir na nossa direção junto a um horrível cheiro.
Bruta continua a latir, sem medo algum e troco olhares com Ângelo, totalmente pasmo. Aquilo, aquilo tem no mínimo quinze metros.
Abrindo a boca, os dentes afiados e gigantescos são expostos e, quando a visão do bote dela forma-se na minha mente, as trevas mostram o contrário.
Algo atinge-a pelo lado da boca e suas escamas estalam, rompendo no impacto com a esfera de terra, afastando-a um pouco antes da aura vermelha surgir sobre sua cabeça, descendo em lâminas.
Que droga!? Estrondos ecoam e o sibilar da criatura afasta todos, fazendo tudo tremer como se um terremoto atravessasse o local e, o ar racha.
Enquanto a gigantesca criatura tenta achar algo, esquecendo nossa existência ao seguir pela rua atrás dum ponto vermelho, gigantescas fendas surgem por todo o céu.
–Meu Deus… –Ângelo murmura, outros estrondos acontecem e, a cauda da cobra vem contra nós. –CUIDADO!
Droga! A garagem é destruída e invoco minha aura, liberando-a em torno de mim conforme salto na direção de Bruta, parando de latir.
A seguro com ambas as mãos e, assim como aprendi, concentro a aura num único ponto atrás de mim antes de espalhar ela, criando uma defesa que é prontamente reforçada por Ângelo.
Uma esfera vermelha é formada em nossa volta e golpeada. Nosso centro gravitacional é alterado e a parede dela vem contra mim. Sequer tenho tempo de pensar, apenas sou acertada e levada junto da força, agindo feito uma bola.
O mundo gira e grunho, o carmesim me atravessa junto do impacto e aperto Bruta nos meus braços, tentando protegê-la e acerto algo feito um cometa.
Não sei se é pela adrenalina, susto ou simplesmente situação, mas assim que aterrisso levanto e a dor é acompanhada pelo sangue no chão, escorrendo do meu braço esquerdo.
Maravilha. Não consigo segurar Bruta e vejo-a cair feito um gato e cair em pé, olhando vidrada para o vermelho escorrer e seguro o membro ferido. Aparentemente o impacto rasgou uma parte da carne, pelo menos não sinto nada quebrado. Deve ser a adrenalina.
–Tente se curar, vamos precisar vazar daqui. –Murmurando, Ângelo ajoelha e assusto com o fato dele estar ileso. Sou tão fraca assim? –Pensei que começaria mais tarde, porém os despertados já estão aqui.
–Foi idiotice ficar em casa? –Pergunto, obedecendo a ordem. Concentro a aura vermelha na ferida, aplicando o que Faria ensinou a uns dias e imito conscientemente um dom de cura. O sangramento cessa, porém a ferida permanece e sequer quero olhar como está, pelo sensor já sei o quão ruim está.
–Sua casa é afastada do centro, então não. –Ele murmura, abrindo as mãos e auxiliando o processo com a própria energia um pouco mais escura. –Ir para região rural é furada, para a dimensão… Bem, vamos focar em não morrer.
–Concordo. –Respondo, ouvindo outras explosões e vejo a parte da garagem totalmente destruída, em ruínas. No horizonte, a gigantesca cobra persegue os pontos vermelhos em violentos botes e solavancos, saindo devastando a rua ao ser atraída na direção do parque.
Enquanto isso, outros seres menores despencam do céu e cerro os dentes, já conseguindo mover meu braço.
–Não, não concordo. –Digo, a surpresa atravessa o semblante de Ângelo e ativo meu dom, as visões conseguem formar o que desejo e enormes rastros de corpos pela cidade. –Precisamos dar um jeito de ajudar os outros!
–Enlouqueceu!? –Ele questiona e abre os braços. –Quer lutar contra aquilo!?
–Não! Quero ajudar os outros! –Exclamo, pensando no motivo de não ter saido anunciando que o ataque iria acontecer. Droga, iriam me chamar de louca. De todo jeito! –Não precisamos lutar contra aquela coisa! Vamos apenas…
Um grunhido, subimos os olhos e, O QUE!?
Enormes garras vem contra mim e o branco toma conta de tudo. O sensor de energia é totalmente coberto e, quando os sentidos retornam, uma águia gigantesca está caida no terreiro onde estamos, com a asa esquerda repleta de penas brancas repleta de sangue e a direita levantada.
Bruta late diante mim e de Ângelo, furiosa e o monstro tenta levantar voou, falhando. Caindo no chão, suas gigantescas garras atravessam o concreto e, num salto, ele passa para a outra casa.
O que foi isso? Meu dom é ativado somente agora e sequer espero que as imagens fiquem prontas, apenas as dissipo correndo na direção de onde aquilo foi.
–SE NÃO QUISER AJUDAR FIQUE AÍ, ÂNGELO! –Berro, tomada pela adrenalina e assovio, um comando para Bruta me seguir.
Eu mal passo dela e ela já dispara comigo. Vou para a parte quebrada e salto o muro branco, indo para cima dos destroços do que um dia foi onde penduravam as roupas e nem espero uma resposta.
Apesar de estar cagada de medo, com vontade de chorar e me encolher, tudo em mim fala para eu não deixar de ajudar eles. Meu dom, minha alma e até a carne parece gritar isso.
Céus, nem consigo entender como raios Bruta derrubou aquela aguia.
Mas não importa. Minhas visões estão escolhendo a hora de funcionar e fizeram questão de mostrar aquela águia encarando três adultos, então não vou simplesmente esperar ela voltar a funcionar!
Passo para dentro da casa, seguindo o rastro de destruição. Paredes arrebentadas, marcas de garras pelo chão e o estranho som da besta.
Meu corpo esquenta, o tempo desacelera e, quando viro na sala, avisto a enorme aguia grunhir na direção de um homem, contra a parede e abismado.
Meus olhos avistam os outros dois a direita, olhando tudo no corredor e, Bruta salta. Minha linha de raciocínio é cortada, ouço os batimentos acelerarem conforme, a ficha do que aconteceu finalmente cai.
A águia olha para trás, vendo a pequena rottweiler ir na sua direção mostrando os dentes. Um clarão domina tudo, a visão forma-se e, quando consigo enxergar novamente, fico perplexa.
Estourada na parede, o enorme corpo da ave está totalmente dilacerado. O sangue queimado permanece colado na estrutura junto das penas, carbonizadas.
Aproximando do homem, em pé mas totalmente fora do ar, Bruta cheira-o e vira os olhos para mim. Indo na direção do corpo do monstro em seguida, observo-a morder a enorme garra dela e a puxar, trazendo consigo todo o corpo do ser que descola da parede, atingindo o chão enquanto… A cor branca o contorna.
Aproximando, ela solta o animal e senta no chão, levantando as orelhas dobradas conforme o rabo em meia-lua balança freneticamente. Lembro das aulas onde ensinaram Bruta a "pegar" o que eu mandar, que baseava basicamente nela morder algo e trazer até mim… Assim como agora.
Os três homens olham para nos assustados. Sinto Ângelo chegar e parar, provavelmente analisando tudo enquanto processo as informações.
Na verdade, isso explica a força surreal dela, os saltos imensos e… Ah, isso explica eu ter achado ela numa caixa de papelão aqui na capital.
Céus, então Bruta é uma despertada?
***
Campos cospe sangue.
Seguro-o pela cintura, olhando para as ruinas que um dia foram uma cidade. Estou com Raissa no outro braço, também segurada do mesmo jeito e suspiro, sentindo o deslocamento das estranhas energias pelo local.
–Bom trabalho. –Digo, voltando a atenção para o novato que sorri, ainda com sangue na boca. Solto Raissa e permaneço segurando ele, esperando-o conseguir firmar o corpo nos próprios pés antes de soltar totalmente.
–Agradecido. –O salto foi quase perfeito. O único problema foi que saímos muito acima, ai despencamos por quase quinhentos metros. Estava atenta, então nada grave aconteceu.
Volto os olhos para a cidade, sentindo as colisões acontecerem. Pelo visto colocaram uma dilatação do tempo onde estavamos, que merda. Estreito os olhos, as pupilas focam e avisto seis monstros ao longe, lutando contra despertados junto da polícia, disparando com rifles e metralhadoras.
Para estarem com essas armas maiores, um tempo realmente passou. A menos que o comunicado de Palmares tenha chegado. Bem, não sinto nenhuma ação das sombras aqui, então ele ainda está ocupado nas áreas da Bahia.
Distante, bem distante, vejo uma enorme cobra levantar junto a um sibilar. Ela emite ondas de energia verde das suas escamas azuis, repelindo os disparos junto dos dons daqueles em batalha, não conseguindo atravessar a estranha força.
Uma das grandes? Dou dois passos para frente, olhando os outros monstros. Uma espécie de tigre persegue duas mulheres, saltando em zigue-zague conforme disparam suas energias em formas de vidro. O material é quebrado pelas garras brancas e a pelagem marrom dele brilha.
O espaço torce, a boca da criatura surge e fecha-se sobre a cabeça de uma. Eles atingem o chão e a outra grita, disparando contra o animal que termina o serviço em um único movimento.
O terceiro monstro… Ah, foi pulverizado. Quarto, caido? Olha so, alguns perderam. Quinto… Espera? Um dinossauro em miniatura?
Com o corpo exatamente de um velociraptor mas com penas ao invés de escamas, a criatura dispara a correr pela rua em direção a algo. Forço meus sensores e, ah, ele está perseguindo alguém.
Pelo visto tivemos baixas.
O sexto monstro é derrubado e, espera? UMA CACHORRA?
Avisto Keila, Ângelo e uma pequena cachorra, similar a um rottweiler cair no solo junto a uma espécie de tigre preto, sem parte da pelagem que foi carbonizada. Que papo é esse!? Essa cachorra usou um dom ou estou louca!?
Os dois sequer vão finalizar o animal, ainda respirando. Eles correm para os escombros e começam a mover eles, provavelmente a procura de sobreviventes. Enquanto isso, a cachorra senta e permanece olhando fixamente para o tigre, não ousando mover nem um único músculo com a respiração extremamente fraca.
Eu vou tirar essa história a limpo depois.
–Raissa, cuida dele um momento? –Peço, apontando para Campos. Ela concorda, sem muita confiança e ele estreita os olhos, escondendo o quão machucado ficou no salto. Porém parte de nossa ligação ainda está ativa, consigo sentir sua dor e ferimentos. E não são poucos.
–C –Raissa começa a falar e ativo um refinamento, imitando o dom de Campos ao saltar no espaço.
Por um instante, a cor do mundo desaparece e meus sensores de energia são a única coisa ainda funcionando. Com ele, vejo o deslocamento e atravesso as ruínas, indo direto contra a imensa criatura.
Feito um cometa, atinjo-a e afundo suas escamas. A luz retorna, permaneço com as mãos agarradas na lança de aura vermelha fincada no centro da testa dela e, em outro refinamento, desço minha energia em uma descarga elétrica.
O sibilar do monstro ecoa nos meus ouvidos e ouço as escamas estourarem, a carne romper e a força estrangeira tentar resistir, em vão.
Meu dom engole-a feito chamas sendo liberadas junto a gases e arranco a lança, sentindo-a começar a tombar.
Salto, vendo o gigantesco corpo da cobra ir pro chão e enormes ondas de poeira rasgarem o local, levantando partes das ruinas conforme desço lentamente no ar, usando a aura para desacelerar a ação da gravidade. Tento reconhecer o local, com destroços apenas de árvores e estruturas de pedras. Ah, deve ser a praça.
Volto a atenção para os despertados, cerca de cinco, extremamente aliviados com minha aparição e ignoro-os totalmente. Olho na direção do tigre de pelagem marrom, rupiando dos pés a cabeça ao notar que está na minha mira.
Qual refinamento agora?
O animal dispara a correr na direção oposta, adentrando nos destroços e cesso a descida no ar.
Sorrio, fazendo o anel dourado virar outra vez a adaga enquanto o animal afasta-se.
Eu tenho uma ideia.
–Vamos lá… –Campos aterrissa perto de mim junto a Raissa, na verdade no chão a quase cinquenta metros e seguro a lâmina com ambas as mãos, recolhendo-a ao armar uma perfuração decidindo… Me exibir mais um pouco. –Agulha.
Num movimento, atravesso o ar e o ataque é lançado exatamente igual uma agulha.
Contudo, numa velocidade absurda.
O vermelho cruza a cidade e toma uma força colossal, levando consigo os destroços em violentos deslocamentos de ar e energia conforme a criatura salta em zigue-zague, achando que vai conseguir desviar.
Porém, no momento de seu salto para o lado, o ataque é redirecionado e atravessa-o.
Estraçalhando sua carne.
Abaixo a lâmina, fazendo-a retornar a ser um anel antes de olhar para baixo, onde Campos me olha totalmente abismado. Contudo, maravilhado. Raissa está na mesma situação, totalmente em transe.
–Certo, podemos ir para a dimensão alternativa agora? –Digo, descendo no ar realmente gostando do olhar dele.
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