Decepção
A máquina dispara contra mim.
Corto os disparos de energia com a ponta da lâmina, crescendo a cada movimento pela ação do vermelho. O metal verde concentra ainda mais da força e os tentáculos metálicos ficam brancos, disparando simultaneamente contra mim e, num unico movimento, parto todos.
A coloração esverdeada é rompida e a máquina tem sua parte superior arrancada pelo carmesim, atravessando-a facilmente. Ela tomba e ambas tremem, claramente entrando em colapso e caminho na direção delas, abaixando a lâmina enquanto sinto os olhares dos outros membros ao longe, simplesmente abismados.
Provavelmente para eles, isso é uma velocidade assustadora. Porém, chega a dar tédio. Quando vi essa máquina alienígena caindo, fiquei empolgada e, olha onde terminou. Disparando pelos tentáculos, corto o verde com a adaga dourada e divido-a em cinco, fazendo picadinho do objeto grande como um elefante.
Os pedaços caem ruidosamente e tentam se reunir, indo todos na direção um dos outros e parto-os ainda mais. Sendo reduzidos a bloquinhos, eles vibram e envolvo-os na aura vermelha, separando todos antes de girar e manter cada pedacinho distante um do outro no ar. Então, volto a andar para a base, extremamente frustrada.
Decepcionante.
***
O som de carne sendo rasgada e queimada inunda meus sentidos. Caio no chão e, vendo o sangue espalhar-se pelo local junto a luz, grito algo sem sentido. Meu velho cai na minha frente, ferido no braço esquerdo e a forte luminosidade diminui. Seguro-o e ajoelho, encarando a carne carbonizada no seu membro enquanto ele grunhe em agonia, tendo sido atingido.
O que raios aconteceu!? A criatura fecha a boca, tendo acabado de disparar contra os polícias e, olhando para onde eles estavam, não vejo nada além de sangue pela sala, junto a ossos. Meu estômago embrulha e, ouvindo outro som, o medo me invade.
Olhando para o monstro, os olhos cinzas me encaram trêmulos. Abrindo a boca, a mesma luz é concentrada e agarro meu velho, sem conseguir levantar do chão e o branco irrompe por todos os locais.
Eu vou morrer.
Então, o vermelho rasga o local e a esfera é rompida, a luz liberada para a esquerda e o ladrilho inteiro rompe. Sou lançado pela colisão e puxo André, batendo contra a parede enquanto o branco é encontrado outra vez.
Sendo direcionado contra uma silhueta vermelha, a surpresa me domina ao reconhecê-la. Feito um raio, ela abaixa e o feixe é disparado sobre sua cabeça, evaporando totalmente a parede atrás dela junto ao quarto do meu pai.
Com parte do cabelo preto queimado pelo disparo, a mulher vestindo roupas pretas fecha os punhos e, as luvas vermelhas brilham, colidindo contra o queixo do enorme lobo, batendo os dentes um nos outros. A esfera é desfeita e rosto dele sobe, junto do corpo, tirando os pés do chão no golpe.
Arregalo os olhos, não acreditando naquilo. Descendo, ele rosna e levanta as patas, descendo-as contra a jovem que, expelindo o carmesim em espirais, atinge-o uma segunda vez ainda no ar junto a cor, lançando-o contra o corredor. O gigantesco corpo do monstro é violentamente propulsionado e sai rolando até colidir contra a geladeira.
Somente então, consigo respirar e nossos olhares se encontram.
–SAIA DAQUI! –Maria berra, tomada por uma estranha aura e tremo, não conseguindo reagir e, seus olhos ficam vermelhos. –SAIA DAQUI AGORA LUAN!
Um rugido, a criatura levanta e dispara uma segunda vez sem sequer carregar. Movendo-se no mesmo instante, ela abaixa e salta na direção oposta onde estou, atraindo o disparo para o outro lado da casa ao correr.
O QUE ESSA LOUCA ESTÁ FAZENDO!?
O lazer persegue-a e quase tenho um ataque quando Maria salta por cima dele, aterrissando no chão com o punho fechado. O vermelho nela gira, é reunido no membro e, num soco, lançado contra o ser. Atingindo em cheio na esfera, o lazer é desfeito em seguida e ele se afasta, abrindo e fechando a boca com leves quantias de sangue pelos dentes enquanto Maria corre para a pia, agarrando uma faca de cozinha.
–SAIA LOGO DAQUI! –Ela grita, ainda me vendo paralisado e cerro os dentes, sem conseguir me mover. Mordo minha própria língua e levanto com a dor, levando comigo meu pai que custa a levantar, atordoado.
O monstro ruge, arrepiando e corro para fora da casa, indo para o portão aberto. Passo pela poça de sangue e resto dos policiais, sentindo tudo tremer enquanto vou para a rua, vendo pessoas aproximarem-se pela calçada ao saírem de suas casas. O que raios eles estão fazendo!? Saiam daqui!
–SAIAM DAQUI! –Berro e eles fazem exatamente o oposto, olhando tanto a mim quanto meu pai enquanto caminham em nossa direção, droga! Eles vão ser atingidos! Outro tremor, a velha diante de mim sai cambaleando e as outras três pessoas gritam também assustando.
Ajo por puro instinto e me jogo contra o chão junto a meu pai. A luz branca atravessa o local, indo contra o prédio na minha frente antes de explodir nele.
Perco totalmente a visão na explosão e bato contra o asfalto. Tudo sacode, a dor faz minhas entranhas revirarem, o calor surge e sou queimado pelas costas. Grunho em agonia e, mesmo não vendo nada, lanço meu pai para a esquerda com a pele da nuca e costas ardendo em chamas, afastando-o do que quer que seja isso.
Outra onda de calor atravessa meus sentidos e ouço-o dizer algo, saindo rolando pelo morro. A fonte do calor aparenta subir e arranco minha camisa em chamas, jogando-a para longe. Volto a enxergar o mundo em meio ao brancor e a rua despedaçada fica novamente visível.
O som de alguma coisa rompendo rasga meus pensamentos e, subo os olhos e, vendo a parte do prédio rachar.
Droga! Com um buraco nele, a estrutura vibra e a janela rompe. Ouço gritos e, ele tomba. Num pico de adrenalina, levanto em tropeços e saio correndo, ouvindo os destroços despencar e virem contra a rua. Avisto meu pai ao longe e, antes de processar a informação, o estrondo destrói meus pensamentos.
O prédio atinge o asfalto e sou derrubado pelo deslocamento de ar. Perco o equilíbrio, sendo lançado pela rua conforme os destroços cortam minha pele e tento desacelerar a descida pelo morro. E falho, acelerando ainda mais. O mundo gira, bato seguidas vezes contra o asfalto e ralo meu corpo quase inteiro, parando bruscamente em alguma coisa. Sou segurado por algo quente e parado de uma vez. Vômito, com tudo girando e a silhueta do meu pai aproxima-se.
–Está bem!? –Ele pergunta, com os olhos arregalados e ofegante. Concordo quase roboticamente e, sou solto. Olho para quem me segurou, fixada nos destroços com seus olhos vermelhos, gigante na minha direita. É Yara. –Obrigado moça, muito obrigado!
–Que merda ė aquela? –Ela pergunta voltando a atenção para mim, ignorando totalmente o agradecimento conforme o cabelo escuro emite leves ondas vermelhas em conjunto do branco nas pontas. Seguro a vontade de vomitar conforme os detalhes da roupa branca dela ficam mais nítidos e meus sentidos retornam pela adrenalina.
–Eu… Eu não sei. –Respondo, sem conseguir ver a criatura e, os destroços explodem. Pedaços de concreto vem contra nós e, quando iria empurrar ela, eles são obliterados pelo vermelho.
Congelo, vendo-os serem reduzidos a pó e Yara tirar as mãos dos bolsos, fechando a cara. Do meio da destruição, a criatura sai da garagem de minha casa e balança a face, espirrando em meio a poeira.
Sua coloração fica branca e a nuvem de sujeira começa a girar em torno dele, movendo-se junto a cor e seus olhos cinzas são voltados contra nós. Mostrando os dentes, ele rosna e caminha na nossa direção, rupiando os pelos feito um cachorro e minha preocupação é focada em Maria, em lugar algum.
Na verdade, não há ninguém aqui. Aquelas pessoas na rua sumiram! Tusso, com as costelas e costas doendo muito. Droga, eu machuquei feio!
–Tem algo pontudo? –Yara pergunta, abaixando e me segurando, ignorando a existência do gigante lobo. Meu pai entra em pânico total, trocando olhares entre ele e eu, sem saber o que fazer enquanto permaneço travado, pensando em algo.
–Uma, lapiseira? –Digo, levando a mão no bolso e ela faz isso primeiro, retirando-a num rápido movimento antes do vermelho contornar meu corpo. A dor diminui e, o rugido da criatura rasga nossos pensamentos.
–Vou precisar disso. –Levantando, os olhos carmesins dela são voltados contra o lobo, carregando outra vez a esfera branca.
ESPERA, ESSA LOUCA VAI ENCARAR ISSO TAMBÉM!?
Antes de conseguir protestar, sou movido num solavanco pela força e bato contra meu pai, indo para perto da parede enquanto um estrondo acontece. O branco domina o local e grunho, batendo as mãos no chão ao cessar o movimento e olhar para onde eles estavam.
E, do lado esquerdo do rosto da criatura, Yara levanta a lapiseira tomada pelo carmesim e finca-a no olho dele.
Gritando, a criatura tenta atingi-la no feixe e erra, saindo arrebentando o local enquanto a imagem dela desaparece. Fechando a boca junto do disparo, ele é envolto pelo branco e a tonalidade é expandida em todas as direções.
Feito uma bomba, a tonalidade sai empurrando tudo e um buraco é criado nela. Espécies de agulhas surgem pelo ar e vão de encontro com a cabeça do animal, atravessando-a.
Arregalo os olhos, sem acreditar naquilo e ele ruge, resistindo conforme os ferimentos fecham e o olho esquerdo abre, repleto de sangue. Levantando ambas as patas superiores, a criatura explode o chão descendo-as e a silhueta de uma mulher surge no ar.
Movendo-se, ela lança algo contra o ser e aquilo crava-se no outro olho dele. Grunhindo, ele abre a boca e dispara o branco sem sequer carregar, cobrindo totalmente o vermelho ao lançá-lo para longe.
Minha mente berra pelo nome de Yara e, quando o disparo cessa, a criatura trava. De uma vez, o vermelho atinge o objeto cravado no olho dela e seu corpo enrijece, os segundos passam, a silhueta da mulher dá um passo para trás e o imenso corpo do lobo vai pro chão.
Vendo-a, não acredito nos meus próprios olhos. É Maria! Ofegante, ela respira fundo e suspira, voltando a atenção para mim ao esfregar as luvas vermelhas, desgastadas e com sangue.
Tento processar tudo o que acabou de acontecer e, ela vem na minha direção. Quando penso que vou ser ajudado e perguntado como estou, sou totalmente surpreendido ao vê-la passar reto e parar atrás de mim e meu pai, encarando Yara logo a frente.
Silêncio. Enquanto levanto junto do velho, elas permanecem quietas, imóveis. Aparentemente em uma conversa silenciosa, nada agradável. Essas duas se conhecem?
Fechando os punhos, um vermelho mais claro é expelido por Maria. Seus membros são cobertos pelo carmesim e as mãos abertas. Mesmo sem nenhuma palavra, entendo perfeitamente o aviso dela.
Não se aproxime. Yara fecha os punhos, com a parte esquerda da roupa rasgada e ferida. Os olhos vermelhos dela repousam em mim, tremendo enquanto a tristeza parece dominar seu rosto.
Vejo o sangue escorrer pela pele escura e, quase num ato instintivo, vou na sua direção. Maria levanta a mão e a põe na minha frente, impedindo que eu continua a andar na direção de Yara.
Abro a boca para falar, mas nada sai. O torpor dos impactos, explosões fizeram minha mente sacudir e agora sinto como se estivesse no modo automático.
–Saia daqui. –Maria fala encarando Yara, cerrando os dentes com violência do outro lado da rua. –Se quer ter a mínima chance de continuar viva, saia daqui.
Arrepio, sem entender o motivo da ameaça e encaro-a. Grunhindo feito um animal, sangue escorre pelas suas mãos, fechadas com tanta força que as unhas perfuraram a carne. O som de sirene ecoa no local e, olhando na direção do barulho, Yara retorna a atenção para mim, tremendo.
E, sussurrando algo, a visão dela desaparece diante os meus olhos.
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