Capítulo 01
Acordo com o som irritante do despertador invadindo meu sono. Abro os olhos lentamente, tentando ajustar a visão embaçada pela luz suave que entra pelas cortinas. Estico o braço, procurando o botão de desligar, e finalmente consigo silenciar o alarme.
Com um suspiro, levanto a cabeça do travesseiro e passo a mão pelo rosto, sentindo a pele quente do sono. Meus dedos encontram os fios de cabelo desordenados que cobrem minha testa e os afasto com cuidado. Cada movimento é lento e deliberado, como se meu corpo ainda estivesse relutante em abandonar o conforto da cama.
Sento na beirada da cama esfregando os olhos enquanto o mundo ao meu redor ganha foco. A luz dourada da manhã pinta o quarto com um brilho suave, tornando a transição do sono para a vigília um pouco mais agradável. Dou mais um suspiro, desta vez resignado, e me levanto, pronto para enfrentar o dia e aquele inferno chamado escola.
Caminho ao banheiro e tomo banho, deixando água quente escorrer sobre meu corpo, levando consigo os últimos vestígios de sono. Fecho os olhos, aproveitando a sensação reconfortante do vapor e do calor que me envolvem. Esfrego o shampoo no cabelo, criando uma espuma abundante que massageia meu couro cabeludo. Cada movimento é meticuloso, quase ritualístico, enquanto lavo e enxáguo.
Termino o banho e saio, pegando uma toalha macia e seca. Envolvo ela ao redor da cintura e sigo para o espelho embaçado, limpando a superfície com a mão para revelar meu reflexo. Seco meu corpo rapidamente antes de focar no cabelo. Desembaraço os fios úmidos com cuidado, dividindo ao meio com precisão.
Com a franja já ajeitada, começo a trançar as mechas de cada lado, os movimentos fluindo naturalmente depois de anos de prática. As tranças ficam firmes e bem-feitas, enquadrando meu rosto de maneira perfeita. Dou uma última olhada no espelho, satisfeito com o resultado.
Visto o uniforme escolar, ajustando cada peça para que fique impecável. A camisa branca está perfeitamente engomada, e a gravata está ajustada com precisão. Coloco o blazer, sentindo o tecido se ajustar aos meus ombros.
Antes de sair, passo a mão pelas tranças uma última vez, certificando de que estão bem fixas. Dou um sorriso rápido para o espelho, pegando minha mochila e saindo do quarto, pronto para enfrentar mais um dia de escola.
Saio do quarto e caminho pelo corredor, ainda sentindo a suavidade do início da manhã. Ao me aproximar da cozinha, um sorriso se forma no meu rosto ao ver Rindou. Ele está no meio de um alongamento, com uma perna esticada sobre a bancada, enquanto segura um Toddynho na mão livre.
— Bom dia, atleta. — digo, encostando na porta e observando ele com diversão.
Rindou olha para mim e sorri de volta, ainda mantendo a pose.
— Bom dia, mestre das tranças. — responde ele, dando um gole no Toddynho.
Caminho até a mesa, pegando um pacote de biscoitos para acompanhar meu café da manhã.
— Se prepara para mais um dia de guerra. — digo, me referindo à rotina escolar.
Ele ri, trocando de perna e continuando o alongamento.
— Sempre pronto. E você, pronto para enfrentar a multidão?
Dou uma última ajeitada nas minhas tranças, me sentindo confiante.
— Como sempre.
Enquanto nos preparamos para sair, o ambiente da cozinha é preenchido por uma sensação de camaradagem e familiaridade, tornando o início do dia um pouco mais leve e agradável.
Enquanto arrumo minha mochila na cozinha, Rindou termina seu alongamento e se aproxima, com um olhar curioso.
— Ei, Ran, como estão as coisas entre você e o Smiley? — pergunta ele, casualmente.
O sorriso no meu rosto desaparece instantaneamente. Sinto um aperto no peito, e meu estômago se revira. Desvio o olhar, tentando manter a compostura.
— Estamos... bem. — respondo, com um tom que não convence nem a mim mesmo.
Rindou percebe a mudança e franze a testa.
— Você parece meio abatido. Alguma coisa errada?
Solto um suspiro pesado, sentindo o peso das palavras não ditas.
— É complicado, Rin. Estamos juntos há dois anos e meio, mas... até hoje ele nunca me deu um anel, nunca me assumiu publicamente.
Rindou fica em silêncio por um momento, digerindo a informação.
— Aquele arrombado nunca te apresentou como namorado?
Balanço a cabeça, sentindo a frustração crescer.
— Quando os amigos dele perguntam sobre mim, ele sempre diz que sou apenas um amigo. É como se eu não existisse de verdade na vida dele... eu não sei.
A confissão deixa o ambiente pesado, e eu vejo a preocupação nos olhos do Rindou.
— Ran, você não merece passar por isso. Não é justo para você.
Sei que ele tem razão, mas o amor é complicado.
— Eu sei, Rin. Só que é difícil... eu o amo, e não quero perdê-lo. Mas também não quero continuar me sentindo assim.
Rindou coloca uma mão reconfortante no meu ombro.
— Você precisa conversar com ele, dizer como se sente. Talvez ele não perceba o quanto isso está te machucando. E eu juro que se aquele arrombado não te assumir, eu quebro ele.
Assinto, sabendo que ele está certo, mas o medo de enfrentar essa conversa me paralisa.
— Vou tentar, Rin. Vou tentar.
Com isso, terminamos nosso café da manhã em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos, enquanto me preparo para mais um dia, carregando esse peso no coração.
Chegamos à escola, e o movimento já está intenso no pátio. Estudantes circulam em todas as direções, rindo e conversando animadamente. Caminho ao lado do Rindou, mas meu humor ainda permanece sombrio depois da nossa conversa matinal.
Assim que entramos pelo portão, avisto Smiley ao longe. Ele está encostado em uma das paredes, rodeado pelos seus amigos, todos rindo de algo que alguém disse. Normalmente, eu iria até ele, ansioso por um momento juntos antes das aulas começarem. Mas hoje, o peso das palavras do Rindou ainda pairam sobre mim.
Paro por um instante, observando Smiley enquanto ele conversa despreocupadamente. Ele parece tão à vontade, tão distante das preocupações que me consomem. O sorriso que sempre achei encantador agora parece uma barreira entre nós, algo que me mantém afastado da realidade que eu tanto desejo.
— Ran, você está bem? — pergunta Rindou, percebendo minha hesitação.
Forço um sorriso para tranquilizá-lo.
— Sim, só estava pensando em algumas coisas.
Ele me dá um olhar compreensivo, mas não insiste.
— Vamos, temos que pegar nossos livros antes da aula. E sobre aquele arrombado, esquece ele.
Assinto e seguimos em direção ao prédio principal, passando ao lado do grupo do Smiley. Não consigo evitar uma última olhada na sua direção, esperando que ele me note. Mas ele está completamente absorvido na conversa com seus amigos, sem perceber minha presença. Parece que eu sou insignificante.
Entramos no prédio e sigo para o meu armário, tentando afastar a amargura que cresce dentro de mim. Cada passo parece mais pesado, cada sorriso que vejo ao meu redor uma lembrança do que eu ainda não tenho.
Enquanto pego meus livros, decido que preciso encontrar uma maneira de resolver isso. Rindou está certo: preciso falar com Smiley, preciso ser honesto sobre como me sinto. Só espero ter coragem suficiente para enfrentar essa conversa, e que, de alguma forma, as coisas possam mudar.
Fecho meu armário, respirando fundo para afastar os pensamentos pesados que têm me assombrado desde a conversa com Rindou. Quando viro, sou surpreendido por uma visão que me faz sorrir instantaneamente: Angry, o irmão do Smiley, corre em minha direção com os braços abertos, com o rosto iluminado por um sorriso radiante.
— Ran! Mãe! — ele grita, chamando atenção de algumas pessoas ao redor.
Antes que eu possa reagir, Angry já está me abraçando com força, quase me derrubando. Sinto o calor do seu carinho e não consigo evitar rir, retribuindo o abraço com igual entusiasmo.
— Angry, meu menino. — digo, afagando seu cabelo.
Ele se afasta um pouco, ainda sorrindo, com os olhos brilhando de alegria.
— Eu estava com tanta saudade, mãe! Como você está?
O carinho e a energia do Angry sempre têm o poder de levantar meu ânimo.
— Estou bem agora que te vi meu anjo. — respondo sinceramente. — E você? Como foi seu fim de semana?
Ele começa a falar animadamente sobre as aventuras e desventuras que teve, e por um momento, todos os meus problemas parecem distantes. A forma como ele me chama de "mãe" sempre me aquece o coração, um lembrete do vínculo especial que temos.
Enquanto caminhamos juntos pelos corredores da escola, não consigo evitar refletir sobre o quanto Angry se tornou importante na minha vida desde que comecei a namorar com o Smiley. Desde o início, houve uma conexão especial entre nós, algo que transcende a simples amizade.
Desde que Angry começou a me chamar de "mãe", um sentimento de responsabilidade e carinho tomou conta de mim. Ele nunca teve uma figura materna presente, e ao perceber isso, me esforcei para estar ao seu lado, oferecendo o apoio e o amor que ele tanto precisava.
Angry encontrou em mim a figura materna que sempre lhe faltou, e a cada abraço, a cada sorriso, essa relação se fortaleceu. Ser chamado de "mãe" por ele é algo que levo com muito orgulho e carinho. É um papel que assumi de coração aberto, querendo proporcionar a ele o conforto e a segurança que merece.
Enquanto ele fala animadamente sobre seu fim de semana, percebo o quanto me importo com seu bem-estar e felicidade. Ver Angry crescer e se desenvolver, sabendo que tenho uma pequena participação nisso, é uma das maiores recompensas que poderia ter.
Ser "mãe" para Angry me trouxe uma nova perspectiva sobre a vida e sobre o que realmente importa. Ele me lembra que, apesar dos desafios e das incertezas com Smiley, há laços e conexões que valem a pena ser cultivados.
Chegamos à sala de aula, e ele se despede com outro abraço apertado.
— Vejo você mais tarde, mãe. — diz ele, com um sorriso que ilumina seu rosto.
— Sempre, meu menino. — respondo, observando ele se afastar. E enquanto me dirijo para minha própria aula, sinto uma onda de gratidão por tê-lo em minha vida, sabendo que, de alguma forma, também faço diferença na dele.
— E eu não ganho abraço não? — resmunga Rindou.
— É claro que ganha né. — falo e o abraço forte. — Te vejo no intervalo.
Entro na sala de aula, e imediatamente sinto os olhos de todos se voltarem para mim. Os cochichos começam quase instantaneamente, um som sussurrante que se espalha como uma onda pelo ambiente. Estou acostumado com isso. Sou o popular da turma, e com isso vêm olhares curiosos e murmúrios constantes.
Caminho pelo corredor entre as fileiras de mesas, sentindo os olhares das meninas seguindo cada movimento meu. Muitas delas fariam qualquer coisa para ter minha atenção, e sei que meus passos são monitorados com uma mistura de admiração e desejo. Tento ignorar, mantendo meu rosto impassível e focado.
Encontro meu lugar e me sento, soltando um suspiro discreto. Os cochichos continuam, mas já estou habituado a ser o centro das atenções. Algumas garotas trocam olhares e risadinhas, claramente discutindo sobre mim. Tento me concentrar nos livros em cima da mesa, mas não posso evitar pegar fragmentos das conversas ao redor.
"Você viu o Ran hoje? Ele está mais lindo que nunca." "Eu ouvi dizer que ele e Smiley... mas não sei se é verdade." "Será que ele está solteiro? Eu daria tudo para ter uma chance com ele."
Fecho os olhos por um momento, tentando bloquear os ruídos. O peso da popularidade pode ser esmagador às vezes, especialmente quando minha vida pessoal está cheia de incertezas e dúvidas. Se elas soubessem como me sinto de verdade, talvez não fossem tão rápidas em querer estar no meu lugar.
Apesar de tudo, há um certo conforto na rotina, mesmo que seja cercada por olhares e cochichos. Faço o melhor para me concentrar na aula, me lembrando das palavras do Angry e Rindou, tentando encontrar forças para enfrentar o dia e, eventualmente, as conversas difíceis que preciso ter.
A professora entra e a sala se aquieta, mas os olhares permanecem. Respiro fundo, me preparando para mais um dia como o centro das atenções, enquanto luto com meus próprios sentimentos e incertezas.
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