04 | ROSAS VERMELHAS
As mãos de Taylor tremiam levemente enquanto ela as limpava em um pano de prato, de costas para Beck, que agora estava descansando na sala de estar, tomando seu Martini. Taylor teria uma visão dela se ela se virasse, mas ela não queria. Ela podia sentir a tensão em sua mandíbula e um aperto atrás de seus olhos porque estava com raiva, mas não iria deixar isso transparecer. Não assim.
Ela abriu a geladeira e tirou uma cabeça de alface da gaveta de baixo, deixando-a cair no balcão com mais força do que o necessário. O som mal foi registrado em sua mente, no entanto. Ela estava muito focada na imagem do rosto de Beck momentos atrás, quando ela lhe contou sobre as cortinas quando a mais velha pisou em casa depois do trabalho. Era uma coisa pequena, cortinas, mas eram sempre as pequenas coisas para elas. As pequenas situações. A crescente sensação de que elas estavam apenas cumprindo os movimentos, encenando um roteiro no qual nenhuma delas acreditava mais.
Taylor pegou uma faca e começou a cortar a alface, seus movimentos definitivamente parecendo precisos demais para alguém que sempre bagunçava algo no preparo de comida. Se era intencional, ela nunca diria. Ela podia ouvir Beck atrás dela, o barulho baixo do gelo em seu copo enquanto ela o girava, e a televisão um pouco mais alta com um programa de notícias noturno na ABC New York. Costumava ser diferente. Taylor se lembrava de quando Beck chegava em casa e a primeira coisa que ela fazia era beijá-la, beijá-la de verdade, como se ela tivesse esperado o dia todo por aquele único momento. Mas não, depois de anos, tudo o que ela conseguia era um rápido beijo nos lábios, e então Beck ia embora, perdida em qualquer coisa que ela tivesse que fazer.
— Você quer uma bebida? — Beck chamou da sala de estar, enquanto ela se levantava para ir até o pequeno carrinho de bar no canto da sala, pronta para preparar uma segunda bebida.
— Não, estou bem — disse Taylor, tentando soar casual. Mas ela não estava bem, e ambas sabiam disso.
Ela continuou cortando o restante da alface, mas sua mente estava a quilômetros de distância, repetindo a última discussão delas no fim da tarde. Era sobre algo ridículo — a besteira sobre as cortinas novas — mas saiu do controle tão rápido que, no final, ela estava querendo gritar sobre tudo enquanto Beck não parecia nada inclinada a despejar alguma muita reação.
— Taylor — a voz de Beck interrompeu seus pensamentos, e Taylor piscou, percebendo que estava parada, sua faca apoiada na tábua de corte. Ela olhou por cima do ombro para ver Beck olhando para ela, Martini na mão. Ela deu a volta no balcão — O que está acontecendo?
— O que você quer dizer? — perguntou Taylor. Ela sabia que era a maneira de Beck arranhar a superfície do que a estava incomodando sem realmente abordar nada. A pergunta era vaga o suficiente para significar alguma coisa, e Taylor sabia que se respondesse honestamente, isso se transformaria em outra briga. Se não respondesse, seria apenas mais uma coisa adicionada à pilha de coisas sobre as quais as duas nunca mais falariam.
— O que está incomodando você?
Taylor se virou totalmente para encará-la, a faca ainda em sua mão, embora ela a segurasse frouxamente agora. Ela quase quis revirar os olhos, porque parecia que Beck tinha se esquecido completamente dos minutos anteriores. Mas, por outro lado, ela não deixaria isso passar por ela assim.
— Nada está me incomodando.
— Sério? — Beck levantou uma sobrancelha, tomando outro gole de sua bebida — Porque você está cortando essa mesma alface nos últimos dez minutos. Acho que não há realmente mais nada para cortar.
Taylor olhou para o balcão, para a bagunça na frente dela. Ela nem tinha notado. Sua garganta estava apertada, e ela estava muito alheia para realmente se concentrar nisso.
— Estou apenas cansada — ela disse, colocando a faca cuidadosamente no balcão.
— Cansada. Sim, tudo bem — Beck soltou uma risada sem humor — Isso é sobre as cortinas?
— Beck...
— Não sei por que você se importa tanto com essas cortinas — ela finalmente disse — Estávamos bem com as antigas, e então você gastou setecentos dólares em cortinas novas que parecem ter sido tiradas do Palácio de Buckingham, e não isso não é um elogio. Agora precisamos de um novo carpete porque, segundo você, as cortinas novas não combinam com o que temos. É como se você estivesse obcecada em controlar cada pequena coisa nesta casa, e você não me perguntou nada. A cortina simplesmente apareceu aqui.
— Eu não estou tentando controlar nada — Taylor disse, quase numa tentativa de se defender. Ela sentiu as palavras como um tapa, mas se ela estava ainda mais irritada, ela não queria demonstrar — Eu só queria algo novo. Eu pensei que você gostaria.
— Eu gostava das cortinas antigas, Taylor.
Taylor abriu a boca para dizer algo, mas os olhos de Beck se reviraram, e por um momento, Taylor pensou que poderia insistir mais e fazer daquilo, transformar a coisa toda em uma briga maior. Mas ela não queria isso, então Beck apenas balançou a cabeça, e com isso, ela se virou e saiu da cozinha, deixando Taylor sozinha.
*
— A nova produção de Betrayal recebeu boas críticas — disse Beck. Foi uma tentativa sem muito entusiasmo de conversa, seus olhos ainda se demorando na tela do celular antes de colocá-lo de lado — Hmm, essa carne parece maravilhosa. Você colocou algo diferente nela?
— Eu adicionei ervilhas ao molho — Taylor murmurou.
— Sim, ervilhas — Beck repetiu, assentindo, seus dedos batendo levemente na mesa — É isso. Deve ser o verde que o torna diferente. Hmm, você pode me passar o sal, por favor?
Os olhos de Taylor correram até alcançarem Beck. O saleiro estava bem no meio da mesa, equidistante das duas. Era um pedido tão pequeno, mas tão estúpido, e foi isso que Taylor pensou.
— O sal está no meio da mesa, Beck — respondeu Taylor.
— Isso é o meio da mesa? — Beck olhou para cima.
— Sim, é entre você e eu. Você está de um lado, eu estou do outro.
— Perfeito — Beck empurrou a cadeira para trás com um arrastar lento, o som tão alto que irritou os nervos de Taylor. A mulher mais velha se levantou, seus movimentos fáceis enquanto caminhava até o meio da mesa e pegava o saleiro. Ela voltou para seu assento, sacudindo o sal pesadamente sobre sua comida com um desafio que não passou despercebido por Taylor. Ela derramou mais sal do que Taylor esperava e sorriu um pouco enquanto devolvia o saleiro à mesa, mais perto dela. Taylor engoliu em seco e não disse nada. O senso de direito de Beck, sua expectativa de que tudo deveria estar ao seu alcance, a irritava.
Beck voltou para sua refeição e ela não pareceu notar — ou se importar — que Taylor não tinha dado uma única mordida na carne em seu prato. Ela terminou de comer e empurrou seu prato para longe, tomou um gole de seu vinho, esvaziando sua taça e então encarou sua esposa do outro lado da mesa, não exatamente contente. Beck queria dizer algo e, quando ela estava prestes a abrir a boca e finalmente falar, um toque soou. A mais velha olhou para o celular na mesa.
— Deve ser alguém da empresa — ela disse e se levantou sob o olhar de Taylor. Beck pegou o celular e foi em direção ao seu próprio escritório, certificando-se de que estava fora da vista de Taylor antes de atender. Ela abriu a porta do escritório, entrou e fechou segundos depois, girando a chave e trancando-a — O que aconteceu?
Na sala de jantar, Taylor estava terminando de comer sozinha quando de repente ouviu seu próprio celular tocar, apenas um minuto depois de Beck ter desaparecido no escritório. Seus olhos procuraram por sua esposa, para ter certeza de que ela não estava realmente lá, e quando não a encontrou, ela pegou o celular na mesa e se levantou com um sorriso no canto dos lábios.
— Recebi uma ligação, querida. Se precisar de alguma coisa, estarei lá em cima — Taylor disse em um tom mais alto enquanto passava pela sala, muito perto da porta do escritório.
— Ok, amor — Beck disse suavemente, soando como se um momento atrás elas não estivessem tentando tirar o pior uma da outra com nada mais do que silêncio. Ela parou de ouvir os passos na escada e voltou sua atenção para a ligação em seu celular — Não posso sair agora. Minha esposa está em casa.
Taylor bateu a porta do quarto de cima sem tanta força e finalmente abriu a mensagem que havia recebido. Não era a primeira, mas essa tinha o que ela precisava.
"Teddy Bear precisa de companhia. The Peninsula. Cobertura."
"Estarei lá em 40 minutos. Quero presentes."
"Rosas vermelhas e vinho?"
"Algumas rosas. Muito vinho"
Taylor sorriu para as mensagens trocadas e, pelo tempo que passou, ela nem percebeu quando Beck entrou no quarto. O som da porta fechando a fez sentir seu coração disparar de susto. Ela se virou e viu sua esposa parada na frente da porta, com um sorriso culpado — ou o começo de um. Real? Não exatamente.
— Merda, querida. Você me assustou — disse Taylor, com mais medo de imaginar Beck vendo o que não deveria do que qualquer outra coisa.
— Desculpe — disse Beck — Tenho más notícias. Parece que vou ter que ir ao centro. Problemas no trabalho. Nada que consiga deixar para amanhã.
— Está tudo bem — Taylor deu de ombros e foi em direção ao armário, normal sobre toda a situação. Beck seguiu a esposa e a observou enquanto ela começava a tirar a blusa. Ela não estava usando nada por baixo, e o olhar de Beck se arrastou por Taylor sem realmente conseguir se conter — Uma das garotas fodeu com um servidor em um escritório de advocacia. Eu também tenho que ir.
Beck assentiu, mal ouvindo o que sua esposa estava dizendo. Ela não queria, mas precisou desviar o olhar de Taylor se pretendia sair de casa no tempo certo. Depois, pegou o casaco creme no cabide perto de um dos armários do closet, finalmente deixando o espaço sem dizer nada, enquanto Taylor terminava de tirar suas próprias roupas, pronta para se trocar e descer. Ela fez isso rápido o suficiente, e Beck ainda estava entrando em seu Porsche do lado de fora quando Taylor apareceu na garagem usando um casaco preto fechado que cobria as roupas que ela estava usando por baixo. A mais nova entrou no Cadillac.
Beck teve que tirar o carro da frente da garagem para que Taylor pudesse passar, mas ela esperou que sua esposa fizesse o mesmo caminho que o dela, e então a viu estacionar bem ao lado, abaixando a janela do carro para a ver.
— Dez horas — Taylor se apoiou no volante para dar uma olhada melhor em sua esposa do outro lado — Nós prometemos para os Jonas.
Beck assentiu com um sorriso leve no rosto, mesmo que por dentro ela estivesse querendo revirar os olhos só de lembrar da "festa" na casa dos vizinhos, que aconteceria em três horas. Não era nem que ela não gostasse deles, pelo contrário, Joe era uma pessoa legal e Sophie também, mas Beck odiava isso de socializar com os casais do bairro. Era prejudicial na visão dela, especialmente agora que praticamente todos tinham filhos e viviam olhando pra ela e a esposa como se falassem "vocês precisam de uma criança também". Como se o fato de já terem passado dos trinta anos fosse a tabela para essa decisão. Taylor observou aquilo, viu a esposa sorrindo de leve e lançou um sorriso parecido. Ambas se despediram e então tomaram caminhos opostos, seguindo pela noite calma do subúrbio em direção a Manhattan.
*
Beck examinou a sala através dos óculos escuros que usava, embora fosse noite. A névoa inebriante da fumaça do cigarro permitia que ela captasse olhares e movimentos sem chamar atenção para si mesma. Ela estava cercada por apostadores, do tipo que viviam nas sombras das noites de Nova York — ricos ou perigosos demais para se importar com os riscos. Se eles iriam perder um milhão em uma noite, não parecia realmente um grande problema.
Nelly, o homem de terno preto com um sobretudo pendurado sobre os ombros estreitos, recostou-se na cadeira. Ele também estava usando óculos escuros quando chegou, mas os deixou na mesa no meio do jogo. Beck pensou em fazer o mesmo, mas, apesar da iluminação fraca, ela conseguia enxergar bem o suficiente, e observar Nelly parecia mais fácil. Ele era a imagem da arrogância controlada, claramente o cara que estava lá para assumir o comando. Não o cara que ela estava procurando.
Beck sempre foi boa em interpretar papéis. Afinal, fazia parte do trabalho. Ela fazia isso em salas de reunião, em reuniões com clientes ou até mesmo em casa com Taylor. Mas naquela sala, nos fundos de um Strip Club no meio da agitação de Midtown, as apostas eram diferentes. Os homens ao redor da mesa riam enquanto ela fingia se atrapalhar com suas fichas, seus dedos tremendo como se ela não tivesse controle, talvez porque ela fosse a única mulher na mesa. Ela olhou para suas cartas brevemente, sabendo muito bem o que elas mostravam, mas continuou a atuar. Seu copo de uísque estava quase vazio, um acessório que ela usou para interpretar o papel de uma mulher com muito dinheiro e muito pouco controle, bêbada e sozinha, que parecia estar se escondendo na cidade grande.
Na verdade, ela não tinha tomado mais do que um gole a noite toda. Ela empurrou uma pilha de fichas para frente, fazendo sua aposta com um floreio desajeitado, e recostou-se na cadeira, como se mal conseguisse se controlar. Seus olhos se voltaram para Nelly, cuja atenção parecia estar em outro lugar, mas seus olhos se encontraram um segundo depois. Ele estava observando tudo. Um dos outros homens na mesa levantou as sobrancelhas, surpreso com a aparente imprudência dela.
— Você tem certeza disso? — ele perguntou.
O sorriso de Beck surgiu lento, preguiçoso, como se ela não entendesse completamente o que estava acontecendo. Ela deu de ombros.
— Por que não? É só dinheiro, certo?
O homem sorriu e arrastou suas próprias fichas na mesa. O jogo continuou, e a mente de Beck correu para a frente. Ela estava ali por um motivo. Lucky — quem quer que fosse. Ela tinha uma única imagem dele, e nada mais. Mas Beck não se importava com os detalhes, apenas com o resultado. Ela tinha um trabalho a fazer, e isso significava encontrar Lucky e conseguir o que queria.
Conforme as mãos se desenrolavam, a tensão foi aumentando. O jogo estava ficando maior, mais perigoso, e Beck podia sentir os olhos dos outros jogadores nela. Eles estavam lá pelas oportunidades, esperando que ela escorregasse, cometesse um erro. Ela não lhes daria essa satisfação. Nelly se inclinou para frente, seus lábios se curvando em um sorriso que não chegou a alcançar seus olhos.
— Você tem muita coragem, entrando aqui desse jeito — ele disse — Tem certeza de que sabe o que está fazendo?
O olhar de Beck vacilou, seu sorriso não tentando muito, apenas o suficiente para vender seu falso estado de embriaguez. Ela parou, inclinando-se para mais perto do centro da mesa.
— Eu gosto de... excitação — ela murmurou, sua respiração carregando o cheiro de uísque — Não é disso que se trata?
O sorriso de Nelly se alargou. Ele olhou para os outros na mesa e depois de volta para ela. Houve uma longa pausa, como se ele estivesse decidindo se deveria ou não chamar o blefe dela. Beck podia sentir seu pulso acelerar, mas ela manteve sua expressão atordoada e distante, como se não tivesse ideia do que estava acontecendo. E então, finalmente, Nelly endireitou sua postura e acenou com a mão desdenhosamente.
— Vamos ver quanta excitação você consegue aguentar.
O dealer distribuiu a próxima rodada de cartas, e o foco de Beck se aguçou. Ela podia ver a maneira como os outros estavam jogando, muito mais confiantes, agressivos. Eles estavam tentando intimidá-la, tentando forçá-la a cometer um erro. Mas Beck estava jogando um jogo diferente desde o início. Ela não estava ali para ganhar o jogo que eles estavam jogando. Ela estava ali para ganhar a noite.
Conforme sua mão progredia, ela empurrou mais fichas para o centro, igualando as apostas agressivas dos homens ao seu redor. Sua expressão permaneceu a mesma, mais desfocada e bêbada. No entanto, sua mente estava clara. Então, finalmente, o momento que ela estava esperando chegou. Um dos homens na mesa, o dealer — um cara corpulento com uma corrente de ouro em volta do pescoço — enfiou a mão no paletó e tirou o celular, verificando-o brevemente antes de guardá-lo novamente. Aquele era o sinal dela, de que Lucky não estava longe, porque o nome no topo da janela de mensagem era o dele.
*
O pulso de Taylor acelerou enquanto ela apertava mais a corda de algodão preta. O sabor do vinho brando que tinha tomado permanecia em sua língua, mas sua mente estava focada no que deveria fazer, apesar do sorriso sedutor que ela usava no canto dos lábios. Nasser Hamed, alheio ao perigo ao seu lado, manteve os olhos fixos nela como se ele fosse o único com a vantagem. Ele acreditava ter convidado uma companhia disposta para uma longa noite. Mas Taylor tinha seus próprios planos.
Quando Hamed se inclinou novamente, tentando preencher a lacuna entre eles, Taylor o deixou chegar perto o suficiente para sentir o calor de sua respiração em sua pele. Sua mão se estendeu, dedos roçando a borda da parte inferior de sua lingerie. Ela o deixou — apenas para que ele acreditasse que o encontro seria como ele esperava. Mas assim que sua mão apertou em volta de sua cintura, o comportamento de Taylor mudou.
Com um movimento rápido, ela se acomodou atrás dele, enrolando a corda preta em seu pulso e puxando-a com força antes que ele pudesse reagir.
— Uau, calma aí — Hamed riu nervosamente.
Taylor não respondeu. Em vez disso, ela puxou a corda com mais força, torcendo o braço dele atrás das costas em um movimento rápido. A dor repentina o fez grunhir, e seu roupão se abriu, expondo seu peito enquanto ele cambaleava para a cama. Taylor o virou, descuidadamente, e quando ela o empurrou para baixo na cama, ela se acomodou em seu colo.
Suas mãos correram sobre seu peito antes de deslizar para cima para segurar seu rosto, sentindo a aspereza de sua barba sob suas palmas. Ela não estava usando muita coisa. Hamed, inclinando-se para frente, deixou um sorriso se espalhar por seu rosto, apesar do desconforto de suas mãos amarradas. Taylor sentiu mais do que realmente gostaria embaixo de si. Ela se incomodou, mas a percepção de Hamed foi outra.
— Você foi tão mau — Taylor sussurrou.
— Eu sei — Hamed respondeu. Sua voz pingou arrogância, não com razão — Eu sou um menino mau.
— Sim — ela disse, seu tom misturado com falsa afeição — E a mamãe vai puni-lo por isso.
— Ela vai? — Hamed riu baixinho, sentindo o toque de Taylor ainda em seu rosto, segurando-o como se ele pudesse desviar o olhar a qualquer momento.
— Oh, ela vai — respondeu Taylor. Suas mãos se moveram para seu pescoço, dedos traçando seu pulso. Ela conseguia sentir seu batimento cardíaco, constante e um pouco distante — Porque a mamãe está realmente, realmente brava com você.
— Oh, ela está... Ela está.
— Sim, ela está — Taylor se inclinou mais perto, sua boca agora em seu ouvido, sua voz pouco mais que um sussurro. E então, com certa precisão, ela não se conteve quando acrescentou: E a CIA está realmente brava com você também, meu amor.
As palavras cortaram o ar completamente e, naquele instante, o sorriso brincalhão desapareceu do rosto de Hamed. Seu corpo enrijeceu, cada músculo se contraindo em resposta ao que ele tinha ouvido. As palavras ecoaram em sua mente e, por uma fração de segundo, ele lutou para compreender se o que tinha acabado de ouvir era mesmo exatamente aquilo. Era como se o mundo tivesse se inclinado e ele finalmente estivesse aceitando o fato de que não era o que deveria ser. Ele tentou se levantar, mas a posição em que Taylor o segurava tornou isso impossível. O pânico floresceu em seu peito como um incêndio repentino.
— O que... o que você disse? —Hamed gaguejou, sua voz falhando. A confiança, a arrogância, tinham desaparecido agora, substituídas por um medo honesto.
O sorriso de Taylor permaneceu, frio e insensível. Ela se inclinou para frente completamente, suas mãos agora mudando para um aperto mais deliberado, e o empurrou na cama — uma mão no topo de sua cabeça, a outra na base de seu pescoço.
— Oh, você me ouviu, bebê — ela disse suavemente, quase docemente, mas suas palavras soaram diferentes quando Hamed as ouviu. Ela não estava brincando. Isso era real, e ele sabia disso.
Sua respiração acelerou. Sua mente correu, tentando juntar as peças de uma maneira de escapar, tentando entender como ele tinha perdido tão facilmente — como ele não tinha previsto tudo.
— Não... Não, não, não, espere, nós podemos-
Taylor não o deixou terminar, especialmente porque sua voz tinha aumentado, talvez alta o suficiente para assustar os seguranças que guardavam a porta. Com um movimento rápido e já experiente, ela correu da lâmina que estava escondida sob sua cinta-liga o tempo todo, e o som não tão feliz de sangue deixando seu pescoço encheu o quarto com um barulho que era quase nauseante para qualquer um que não estivesse acostumado com aquilo. Taylor se afastou a tempo do respingo inicial encontrar seu caminho para sua roupa de couro, e então ela permaneceu lá, no final da cama observando a vida se esvair do corpo de Hamed, sua cabeça ligeiramente inclinada, como se assistir a cena ainda fosse fascinante. Os olhos de Hamed se arregalaram em um último momento de choque antes de ficarem vidrados, sua cabeça caindo para trás enquanto seu corpo cedeu completamente.
O silêncio que se seguiu foi pesado, pontuado apenas pelo som fraco da cidade lá fora. A cama, a suíte, o luxo — tudo parecia distante e irrelevante. Taylor ficou ali por um breve momento, mas então veio o barulho, abafado a princípio, e o som de passos apressados do lado de fora da porta. A equipe de segurança de Hamed. Eles definitivamente ouviram o som da voz mais alta do homem e estavam tentando forçar a entrada. Taylor olhou ao redor do quarto e sua mente traçou uma reta para o passo seguinte.
Ela se moveu sem tanta pressa. Pegou seu casaco longo do chão, e o passou pelos braços, pegando a bolsa preta média com o que havia chegado. Com mãos agiram rápidas, ela desmontou a estrutura da bolsa, puxando uma das alças de metal e prendendo-a a uma estátua de ferro que estava aparafusada na parede perto da porta da sacada. O mecanismo encaixou no lugar, seguro o bastante.
Os seguranças do lado de fora estavam ficando mais frenéticos agora, suas vozes mais altas enquanto tentavam arrombar a porta pesada. Taylor não tinha tempo a perder. Ela olhou ao redor uma última vez e respirando fundo, terminou se firmando enquanto segurava a outra alça. Aquela não era sua primeira fuga — longe disso. Em um movimento fluido, ela correu em direção à sacada, saltando sem hesitação. A corda se manteve firme, e ela desceu mais rápido do que com cuidado, o ar frio da noite passando por ela enquanto ela descia da lateral do prédio. Não poucos andares, mas tudo passou com pressa. O horizonte da cidade ainda assim se estendeu diante dela por um momento, com as luzes refletindo nas janelas enquanto ela encarava a calçada movimentada.
Em segundos, os pés de Taylor atingiram o chão, e ela não parou, sem espaço para que as pessoas sequer registrassem a cena de um segundo atrás. Ela manteve a cabeça baixa, e ajeitou o sobretudo, cobrindo por completo tudo o que estava embaixo dele. Ela rapidamente se movendo em direção à fila de táxis parados no meio-fio e deslizou para o banco de trás de um, dando ao motorista um endereço — uma rua modesta a alguns quilômetros de distância, onde ela havia deixado seu próprio carro, pronto e a esperando.
O motorista não fez perguntas, não olhou duas vezes para a mulher que de repente apareceu das sombras. O motor acordou para a vida, e o táxi se afastou do The Peninsula no momento em que o primeiro segurança irrompeu na sacada acima, olhando para a rua movimentada abaixo, tarde demais para entender por onde a mulher que antes estava no quarto tinha ido.
Taylor recostou-se no assento, suspirando com calma.
*
As mãos de Beck se moveram. Ela colocou as cartas viradas para baixo na mesa e seus dedos acabaram entrelaçados atrás da cabeça. Ela revirou os olhos em frustração fingida, balançando-os levemente para fingir que estava bêbada. O grupo de homens ao redor dela estava rindo, e sua energia barulhenta havia mascarado completamente a intensidade em seus olhos. Seus óculos já tinham encontrado o caminho para a mesa, e agora ela parecia um pouco mais exposta, mas não realmente.
— Merda! Eu tinha isso — ela gemeu, exagerando o tom com um sorriso desleixado estampado em seu rosto.
Os homens ao redor dela — Nelly, Decker, Ruiz e Weger — já estavam falando alto, falando uns sobre os outros, dando tapinhas nos ombros uns dos outros e xingando como velhos amigos, o que eles definitivamente não eram. Risos encheram a sala, e tudo se misturou, o cheiro de cerveja barata, os cigarros velhos. Nenhum deles notou a mudança sutil na postura de Beck enquanto ela se mexia lentamente em sua cadeira.
E então o rangido da porta veio, chamando a atenção de todos. Os olhos de Beck se voltaram para ela. Lucky entrou imediatamente. O homem tinha uma aparência comum, na melhor das hipóteses, sua cabeça raspada brilhando de suor na luz amarela fraca, uma barba irregular grudada no queixo. Beck o reconheceu sem pensar duas vezes, pela foto dele parado ao lado do Oldsmobile Cutlass 69 que ele dirigia por toda a cidade. Ele examinou a sala, seus olhos demorando em Beck e nos outros com desconfiança.
— Que merda está acontecendo aqui? — Lucky quase gritou, sua voz irritada. Nelly não deveria estar ali, e o motivo de sua irritação era ele. Eles teriam uma noite agitada. Quanto aos outros, ele não se importou, por muito.
— Eu estava apenas apostando, Lucky — disse Nelly, virando-se para a porta. Ele estava um pouco embriagado pela cerveja sem nem perceber.
Beck sorriu para si mesma antes de olhar de volta para o homem parado na porta. Ela viu Lucky fechando a porta atrás dele e o viu entrando na sala. Beck queria tentar qualquer coisa, e sua voz saiu lenta, quase brincalhona.
— Você é o Lucky? — ela perguntou, seu tom cantado com falsa curiosidade — Que besteira. Eu estava realmente procurando por você...
— Sou eu — Lucky estreitou os olhos, franzindo a testa enquanto cruzava os braços sobre o peito — E o que você quer, hein? — ele resmungou, mas seu próximo movimento foi um pouco mais petulante — Você está procurando um emprego aqui?
O sorriso de Beck ficou realmente largo. Ela entendeu o que ele havia insinuado. Eles não estavam em qualquer lugar, mas no Sapphire. As garotas nuas dançando do lado de fora definitivamente estavam insinuando algo.
— Oh, não — ela disse, sua voz se firmando, perdendo sua falsa embriaguez enquanto ela finalmente se levantava em sua altura máxima. E Beck era alta, embora ela não parecesse assim se você a olhasse do jeito que ela estava antes, sentada ali parecendo tão perdida diante de tudo isso — Eu não preciso de um emprego — ela deixou seu sorriso desaparecer apenas o tempo suficiente para deixar claro o que estava pensando — Você é meu trabalho.
Lucky piscou, a confusão se registrando um segundo tarde demais. Sua boca se abriu, sua respiração prendeu quando ele começou uma pergunta, mas antes que a palavra pudesse sair completamente de sua boca, os tiros silenciados vieram mais rápido do que qualquer um poderia processar. No mesmo movimento que ela falou, Beck puxou duas Browning Buckmarks do coldre que cobria seu peito e costas e servia como uma bolsa dupla de carregador, cuidadosamente enfiada sob seu casaco. Ela disparou cinco tiros no peito de Lucky. O silenciador abafou os tiros, o ruído suave um pouco mais alto do que o bater de seu próprio pulso em seus ouvidos e a música alta lá fora. Lucky caiu no chão, sua boca entreaberta, seus olhos sem vida olhando para o teto. Por um momento, a sala parou. Os outros homens — Nelly, Decker, Ruiz e um Weger assustado — mal começaram a reagir quando Beck estava na frente deles. Sem parar, ela continuou com uma saraivada de mais quinze tiros. Cada um atingiu seu alvo com precisão, seus braços se movendo entre eles como se fosse o movimento mais fácil que ela pudesse fazer, derrubando-os antes que pudessem levantar suas armas.
Nelly caiu primeiro, seu corpo caindo contra a mesa de jogo. Decker e Ruiz não se saíram melhor; eles mal puderam entender o que tinha acontecido antes que o sangue manchasse o carpete sujo abaixo deles. Weger tentou correr, mas caiu no chão antes que conseguisse alcançar a porta dos fundos. A coisa toda levou menos de um minuto, mesmo tendo parecido muito mais que isso na mente de Beck. O ar ainda parecia pesado enquanto ela guardava suas armas. A mulher não perdeu tempo pisando sobre os corpos enquanto se dirigia para a forma sem vida de Nelly. Mas então seus olhos dispararam para o chão, onde Decker estava deitado, seu braço estendido em direção ao baralho de cartas com o qual eles estavam jogando, que havia caído no chão na comoção. Seu relógio de pulso chamativo, com seu grande mostrador dourado.
Beck sorriu.
— Oh, você não fez isso, D — ela se aproximou e desatou a peça do pulso de Decker, segurando-a contra a luz fraca — O que é isso, um prêmio para mim? Não, eu não posso aceitar — ela murmurou, prendendo a coisa enorme em seu próprio pulso. Ela deslizou frouxamente, muito grande, mas isso era metade do charme. Ela flexionou os dedos, admirando a forma como a coisa ridícula brilhava — Mas se você insiste.
Beck se virou, seus sapatos estalando a cada passo enquanto ela se dirigia para a porta, mas uma última peça acabou chamando sua atenção. O casaco de pele preto pendurado perto da porta, que poderia ser de qualquer um, mas Beck não estava se importando. Ela se virou para alcançar seus óculos escuros na mesa, e puxou o casaco perto da porta quando se virou.
Sem outro olhar para a bagunça atrás dela, Beck pegou o molho de chaves do carro do bolso de Nelly, exatamente no bolso da frente do casaco, e então saiu da sala. Enquanto ela caminhava pelo bar, passando por uma centena de pessoas que nem tinham notado o que tinha acontecido atrás da porta fechada, Beck transmitia uma calma honesta. Ela se moveu sabendo para onde estava indo, e por mais que estivesse usando um casaco de pele Hermes, que chamava atenção por si só, a saída foi tranquila.
Beck até notou com certa satisfação distante que o segurança — o cão de guarda habitual de Lucky, que ela conhecia por conta do que Chace tinha a passado — estava do outro lado do clube, parecendo contente em ver uma das garotas dançando, e talvez apenas um pouco alto demais. Se Beck sabia algo sobre isso, bem, ela definitivamente sabia. Mas claro, o segurança tinha sido dispensado pelo próprio Lucky, o resto foi só uma consequência. No geral, Lucky tinha feito muitas suposições erradas naquela noite.
O ar frio da noite atingiu o rosto de Beck quando ela saiu, mal se preocupando em olhar por cima do ombro para o bar atrás dela. Ela tirou as chaves do carro de Nelly do bolso, e escutou o clique suave quando se aproximou a enfiando na porta. O Oldsmobile 69 estava exatamente na frente, uma silhueta escura, e realmente bonita. Quando Beck se mexeu para entrar, um grupo de caras que estava por perto pareceu realmente focado no momento. Um deles, um garoto que mal tinha saído da adolescência, e que talvez nem devesse estar ali, naquele horário da noite, acenou para ela.
— Ei, carro legal — ele disse.
Beck sorriu e seus lábios se curvaram em um sorriso que tinha sido muito calculado, como tudo antes disso também.
— Sim, eu sei — ela respondeu antes de deslizar para o banco do motorista e ligar o carro.
Beck engatou a marcha, afastando-se do meio-fio sem muita pressa. Era outro carro para entregar a Chace, outro trabalho concluído. Ela não se deteve no meio de nada — não havia necessidade também, porque a chave estava logo ali. Ela sabia. Chace deveria esperar também. O plano já estava em andamento.
Enquanto o Oldsmobile atravessava as ruas da cidade, Beck sentia o peso do casaco de pele se acomodando confortavelmente em seus ombros, não quente demais, porque a janela estava aberta e naquela época do ano New York não era o lugar mais quente do mundo. Ela não queria pensar em muito além daquilo, não no próximo movimento e não no que teria que aguentar ainda naquela noite. Por um momento, Beck havia vencido.
Ela tinha uma festa chata para comparecer, e pessoas que não eram realmente seus amigos para ver. Mas, de novo, por um momento, ela havia vencido.
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