03 | PROFUNDO E INTENSO
A academia na Prince Street no SoHo estava vazia, e Beck se apoiou no saco de pancadas depois de vários minutos o agitando. Seus punhos descansaram, sua respiração vinha em suspiros superficiais e pesados. Do outro lado da sala, Chace a observava cuidadosamente, limpando o rosto com o pano vermelho bordado com seu sobrenome, "Crawford", em grossas letras brancas.
— Você conhece essa garota há três meses — Chace repetiu, sua voz um pouco monótona, mas também quase incrédula.
Beck se afastou e socou o saco de pancadas novamente, o impacto ecoando na sala, mas fazendo muito pouco aos seus ossos. Ela se virou, enxugando o suor da testa antes de afundar no chão do espaço de treinamento. Beck esticou as pernas, com os olhos desfocados como se tivesse se perdido por um segundo. Chace se moveu para um banco próximo, ainda observando sua amiga, com a toalha pendurada no ombro.
— Eu sei, Chace — Beck murmurou, como se reconhecesse a dúvida pairando no ar — Mas ela é... diferente.
Chace se inclinou para frente, cotovelos nos joelhos, sobrancelha erguida.
— Diferente em que sentido?
Beck suspirou, jogando a cabeça para trás e olhando para o teto.
— Ela é inteligente, engraçada... e Deus, aqueles olhos... o corpo dela — sua voz sumiu, um pequeno sorriso puxando o canto de seus lábios — Ela é perfeita.
— E o que ela faz para viver? — Chace perguntou, porque ele estava imaginando que alguém como Beck nunca deveria se deixar levar pela mera atração física. Ela deveria considerar tudo, especialmente com a vida que tinha.
Beck acenou com a mão e suspirou.
— Algo com computadores. Ela trabalha em um grande servidor em Wall Street e está constantemente em movimento. Viaja muito, pelo que ela me disse.
— Oh — Chace enfim sorriu, recostando-se — Então você está me dizendo que ela é como a Mulher-Maravilha dos computadores?
— Acho que sim — Beck deu de ombros — Algo assim. Mas é ótimo. Sem complicações, sem perguntas sobre o motivo de eu estar fora por dias também. Simplesmente funciona.
— Bem — os olhos de Chace se estreitaram levemente, medindo a expressão de Beck — Parece conveniente. Mas e quanto, você sabe, às coisas reais?
— É mais do que isso, cara. Nós nos damos bem. Eu poderia listar todos os pontos positivos. O sexo é... nunca senti nada parecido — ela fez uma pausa — Mas não é só isso, claro. Há algo entre nós. Eu olho para ela e é como se eu a conhecesse, como se eu sempre a tivesse conhecido. Como se eu pudesse ver sua alma, toda ela. Até as partes confusas.
Chace ficou em silêncio por um momento, deixando as palavras de Beck se acomodarem no espaço entre eles. Ele não era facilmente influenciado por conversas sobre almas gêmeas ou conexões instantâneas, mas a maneira como Beck falava sobre essa mulher era diferente, para dizer o mínimo.
— Você não tem medo de que tudo esteja acontecendo rápido demais? — Chace perguntou, seu tom mais suave agora, quase cauteloso — Isso parece arriscado.
— Quando você sabe, você sabe.
Ela disse isso, e quis dizer isso, honestamente. De uma forma que, quando Beck estava diante de um juiz de paz algumas semanas depois em um escritório apertado cheio de luz artificial no fim de tarde de Manhattan, não pareceu uma grande surpresa. Não foi um grande casamento, mas de alguma forma pareceu certo. A cerimônia foi rápida, eficiente, como se o próprio tempo estivesse prendendo a respiração por ela e por Taylor. Enquanto assinavam os papéis que tornava a união oficial, Beck se inclinou, pressionando seus lábios nos de Taylor com uma urgência suave. Os lábios dela se moveram contra as dela.
A tinta nos documentos mal havia secado quando Beck se afastou, seu polegar traçando levemente a bochecha de Taylor. Chace estava lá, tirando fotos com sua Leica, um meio sorriso estampado em seu rosto. Ele tinha visto Beck em mil luzes diferentes — em serviço e fora dele, no seu melhor e no seu pior — mas algo parecia diferente. Mesmo que ele não conseguisse identificar, a mudança em Beck era palpável. Karlie se juntou a eles, envolvendo as recém-casadas com os braços, sua risada enchendo o pequeno cômodo.
— Ok, vamos oficializar isso — ela provocou, inclinando-se para a lente da câmera enquanto Chace tirava mais algumas fotos. Então as quatro juntas, em uma imagem de normalidade.
Taylor sentiu a ansiedade aumentando como uma mola bem enrolada. A família de Beck não estava lá, e a de Taylor também não, mas ela sabia que ambas estavam radiantes de orgulho. Eles se deram bem. Beck conheceu os pais de Taylor semanas atrás, Taylor conheceu a mãe de Beck dias antes, então havia expectativa. O que, honestamente, parecia ruim para Taylor, ainda que ela não fosse assumir. Mas ela presumiu que ter expectativas era praticamente se preparar para a decepção.
*
CONDADO DE WESTCHESTER. DIAS ATUAIS.
Taylor se espreguiçou quando abriu os olhos, seus músculos tensos de uma noite agitada fora. Ela rolou na cama, sentindo o vazio frio do espaço onde Beck deveria estar. Ela suspirou, sentando-se e começando a prender o cabelo em um rabo de cavalo desajeitado, e então se levantou com os dedos distraidamente puxando seus fios de cabelo enquanto se dirigia ao banheiro.
O barulho irritante da escova de dentes elétrica foi o único som que Taylor escutou quando entrou no banheiro, encontrando Beck já lá, escovando os dentes metodologicamente em frente ao espelho. Beck olhou para cima por um breve momento, seu olhar encontrando o da esposa no reflexo, antes de retornar à sua tarefa. Taylor pegou sua própria escova de dentes, espremendo um bocado de pasta de dente antes de se inclinar sobre a pia.
Elas escovaram os dentes em silêncio — ou um quase silêncio, já que a escova elétrica era definitivamente um barulho. Por um momento as duas ficaram ali, lado a lado.
— Então — Taylor finalmente falou, finalizando a escovação, quando Beck também já tinha finalizado e, enrolada em um roupão, estava passando alguma coisa no rosto. A voz de Taylor acabou saindo um pouco rouca, de desuso — O que você achou do Dr. Craig?
— Ele parece legal — Beck deu de ombros.
— Legal? — Taylor levantou uma sobrancelha. Ela limpou a boca com as costas da mão e então enxaguou a boca e retornou a escova para seu lugar — É isso?
Beck pegou uma pequena toalha de rosto no apoio na parede, secando o rosto com movimentos lentos.
— Sim. Ele é educado também.
— Educado — Taylor repetiu a palavra. Ela fez uma pausa, procurando por algo mais, mas não encontrou porque Beck já estava dobrando a toalha de rosto de volta no lugar — Devemos marcar outra consulta?
Ela não queria que a pergunta fosse tão resignada, mas sim. A primeira sessão com o terapeuta tinha sido produtiva, ou pelo menos tão produtiva quanto poderia ser quando duas pessoas lutavam para superar uma distância crescente. Taylor odiava admitir, mas elas provavelmente iriam fazer bom uso disso. Precisavam de ajuda. O amor ainda estava lá — ela sabia — mas a conexão e toda aquela besteira sobre a "faísca" que antes parecia tão inabalável tinha se atenuado para quase nada.
Beck se inclinou contra a pia, e então virou o rosto, para realmente encarar Taylor e não apenas o olhar pelo reflexo do espelho.
— Pode ser — foi o que ela disse.
— É só que... nós mal conversamos mais — Taylor continuou — E quando conversamos, é como... estamos apenas cumprindo as obrigações.
— Veja... — os olhos de Beck piscaram em sua direção, a menor indicação de culpa brilhando antes de ser rapidamente escondida — Eu estou aqui, não estou? Estamos tentando.
— Mas estamos mesmo? — Taylor perguntou. Ela não queria que aquilo se transformasse em uma briga, por isso manteve o mesmo tom polido — Quer dizer, mal estamos em casa juntas. Mesmo quando estamos, não estamos realmente juntas. É como se fôssemos duas pessoas estranhas uma para outra em metade do tempo.
— Eu tenho estado ocupada — Beck disse, esfregando uma das mãos no rosto — Você tem estado ocupada. É só... a vida. As coisas atrapalham. Acontece.
— Acontece? — Taylor balançou a cabeça e riu sem muito humor.
— Não sei o que você quer que eu diga — Beck falou — Sei que as coisas têm sido diferentes. Mas não é como se eu não estivesse tentando. É que... tudo tem sido tão complicado ultimamente.
— Sinto falta de nós — Taylor disse suavemente.
— Eu também sinto falta — Beck admitiu e por um breve momento, Taylor pensou que talvez aquele fosse o ponto de virada. Talvez fosse onde elas começariam a reconstruir o que tinha ficado pelo caminho. Pelo menos, do seu lado, ela estava disposta a isso. Um segundo depois, e Beck parecia tão interessada quanto — Vou confirmar a segunda consulta — ela disse calmamente, caminhando em direção à porta.
Taylor concordou, e então viu a esposa deixar o banheiro. O espaço logo pareceu mais frio sem Beck ali, e enquanto Taylor olhava para seu reflexo no espelho, ela se perguntou por quanto tempo ela poderia continuar fingindo, e vivendo exatamente daquele jeito.
Eles estavam escorregando.
Bem, ela estava escorregando, e não sabia mesmo se iria conseguir encontrar o caminho de volta.
*
Beck deixou o metrô na 51St, seus pés batendo na plataforma com um cansaço que parecia óbvio. A estação estava movimentada, passageiros passando por ela, ansiosos para chegar em casa, para se livrar do dia de trabalho como se fosse uma pele velha. Beck se moveu pela multidão de pessoas, sua cabeça baixa e sua mente em outro lugar. O céu do fim do início da noite estava começando ainda a escurecer, com um brilho suave alaranjado lançando uma vista bonita pela cidade, mas Beck mal notou. Ela estava um pouco distante, porque ir para casa não parecia o mesmo de antes. Ela não estava animada para isso.
Ela amava Taylor — Deus, como ela a amava — mas algo estava diferente. Elas não eram as mesmas pessoas que tinham sido cinco, seis, sete ou oito anos atrás, quando tudo entre elas parecia fácil. Beck podia sentir à distância rastejando nos momentos de silêncio, se instalando entre elas como um convidado surpresa. Ela sentia falta do jeito que Taylor costumava estar totalmente presente, do jeito que ela se entregava completamente ao que elas tinham. Agora, parecia que elas estavam apenas cumprindo as obrigações. Elas eram confortáveis uma com a outra, complacentes e, embora ambas se importassem o suficiente para fingir que as coisas estavam bem para as outras pessoas, para projetar uma imagem de estabilidade para o mundo exterior, nenhuma delas estava disposta a investir mais fundo, para colocar na prática o trabalho duro de fazer o relacionamento realmente funcionar novamente. Mas Taylor cobrava Beck por coisas que ela mesma fazia. As duas eram tão iguais.
Beck suspirou enquanto saía da estação e se dirigia para o estacionamento pago ao lado. Alguns carros estavam espalhados pelo estacionamento, mas seu Porsche 911 Carrera preto se destacava, estacionado perfeitamente entre uma motocicleta e um sedã vermelho. O carro estava impecável, como sempre — uma das poucas coisas em sua vida sobre as quais ela ainda tinha controle. Beck o destrancou, deslizou para o banco do motorista e, antes de ligar o motor, ela realizou seu ritual habitual.
Ela pegou o pano branco enfiado no apoio central e limpou as mãos, removendo meticulosamente quaisquer vestígios de sujeira da cidade — não que ainda tivesse algum. Então ela abriu o porta-luvas, tirando um pequeno frasco de seu perfume favorito. Ela borrifou no pulso, depois no pescoço e, finalmente, nas roupas, certificando-se de que o cheiro se destacou — como sempre acontecia. Beck colocou o perfume de volta ao seu lugar, e seus dedos se demoraram no metal frio da aliança de casamento que ela havia enfiado no bolso da calça mais cedo. Ela hesitou por um segundo antes de colocar a aliança de prata de volta no dedo, mas o fez de qualquer forma.
Só então ela ligou o carro, o motor zumbindo suavemente enquanto ela saía do estacionamento e pegava a estrada. A viagem para casa foi monótona. O trânsito estava intenso naquela hora do dia, e Beck cruzou pelas ruas lentamente, ouvindo o barulho de uma discussão idiota em um programa de rádio gravado na Times, sobre a obra que estava acontecendo perto da Sétima Avenida. A impaciência habitual que ela sentia ao volante toda vez que saía de casa estava ausente. Ela não tinha razão para estar com pressa.
Quando Beck finalmente entrou no bairro pequeno e aconchegante que ela e Taylor chamavam de lar nos últimos anos, pouco mais do que cinquenta minutos depois de deixar a estação, ela viu o tempo começando a mudar. Por ali, parecia realmente mais frio do que de volta na cidade. Mas o condado de Westchester era rodeado por verde, e tudo era muito diferente de Manhattan. Os postes de luz lançavam luzes suaves na rua tranquila, e tudo parecia tranquilo, quase idílico.
Beck parou na frente de casa, como sempre. A garagem tinha espaço para um carro, e era sempre o dela que ficava do lado de fora — não que ela estivesse se importando, depois de tanto tempo. Ao estacionar, ela teve um vislumbre de Taylor pela janela da sala de estar, parada perto da árvore de Natal que seria decorada naquele início de novembro.
Taylor ouviu o barulho do carro e sorriu quando viu Beck, e foi um sorriso lindo — como sempre. Mas não alcançou seus olhos, e o próprio sorriso de Beck, que tinha aparecido quase instintivamente, desapareceu no momento em que Taylor sumiu de vista. Ela desligou o motor e sentou-se no carro por um momento. Ela conhecia a rotina, sabia o que iria seguir.
O som dos passos dela, depois do barulho da porta do carro se fechando e então ela o trancando se estendeu. Mas alguns minutos depois, Beck estava entrando em casa. Taylor a cumprimentou com um abraço e um beijo, mas foi superficial. Beck sorriu de qualquer forma e foi se afastando para tirar seu casaco.
— Você chegou na hora certa — disse Taylor.
— Como sempre — Beck respondeu, pendurando o casaco no cabide perto da porta. Ela sempre chegava em casa naquela hora, e Taylor sempre tinha o jantar pronto. Não era algo que elas já tivessem planejado, mas tinha se tornado uma rotina mesmo assim. Um acordo que nenhuma delas se preocupava em questionar.
Naquela noite, Taylor tinha preparado algo especial. Elas deveriam colocar as decorações de Natal depois do jantar. Beck prometeu que ajudaria, mesmo que não estivesse realmente animada para isso. Mas era uma promessa, que ela tinha feito para Taylor. Sobre isso, dificilmente ela brincava.
Elas se sentaram à mesa de jantar, bebendo vinho e comendo o risoto que Taylor tinha feito. A comida estava deliciosa, como sempre, e Taylor se viu olhando para seu prato, com sua mente vagando para qualquer coisa, enquanto Beck encarava uma notícia qualquer em seu iPad — não que ela deveria estar o usando na mesa, mas ela estava. Quando elas terminaram de comer, foram para a sala de estar, onde as caixas de decoração estavam as esperando.
Taylor começou a ajeitar o que tinha pensando, e Beck ajudou, entregando seus enfeites, ajustando as luzes, fazendo o que era esperado. Depois de quase uma hora, a árvore estava quase pronta. Taylor fez uma pausa, olhando para Beck por um longo momento, seus olhos procurando por algo — qualquer coisa. Beck sentiu o peso do olhar de Taylor e olhou para cima, encontrando os olhos de sua esposa. Ela tentou sorrir, mas foi meio fraca, não solicitada, e Taylor apenas a imitou.
*
O Dr. Craig recostou-se na cadeira, cruzando uma perna sobre a outra enquanto observava Taylor. Ela estava sentada na beirada do sofá, com as mãos firmemente entrelaçadas no colo, os olhos piscando da janela para o chão, para qualquer lugar, menos para ele.
— Me diga, o que a trouxe aqui sozinha? — perguntou ele, mantendo o tom neutro, mas não indiferente. Era incomum, para dizer o mínimo, que Taylor tivesse aparecido sem Beck. Durante a primeira sessão, apenas duas semanas atrás, elas se esforçaram no que conseguiram. Um dia antes, os três tiveram uma segunda sessão, e então, por alguma razão, Taylor estava ali, de volta.
— Não é como se houvesse algo errado — ela disse, mas sua voz não tinha certeza, e Daniel reparou quando a viu se mexer e então tentar se sentar de maneira mais relaxada no sofá.
— Claro.
— Você tem que se lembrar que Beck e eu... temos uma conexão profunda e intensa — ela continuou, sua voz mais suave agora — Nós passamos por tantas coisas juntas. Não somos apenas um casal, somos... parceiras, em todos os sentidos da palavra.
— Tenho certeza que sim — ele disse gentilmente — Mas, veja, Taylor, não é incomum que casais, e especialmente aqueles com uma história tão longa, passem por momentos difíceis. O importante é ser honesta consigo mesma sobre onde você está agora. Não há problema em admitir quando as coisas não são perfeitas. Isso não tira a conexão que você tem com Beck.
— Perfeito — Taylor soltou uma risada curta, mas não havia humor nela — Perfeito — ela repetiu, sua voz cheia de ironia — Acho que esse é o problema, não é? Todo mundo acha que somos perfeitas. Caramba, até nós achamos que éramos perfeitas em um ponto. Mas ultimamente... — Taylor fez uma pausa — Ultimamente, parece que estamos apenas fingindo. Como se estivéssemos fazendo as coisas porque é isso que devemos fazer. Nós nos amamos. Nós sempre nos amamos. Mas é como se não fosse o suficiente.
— Você acha que Beck se sente exatamente assim?
— Não sei — ela admitiu — Acho que sim. Mas não falamos sobre isso.
— É compreensível querer evitar conversas desconfortáveis.
— Eu só não quero perder o que temos.
— Você não perdeu, Taylor. Ainda não. Mas para seguir em frente, vocês duas precisam considerar que as coisas não estão funcionando como antes. E tudo bem. Os relacionamentos mudam à medida que as pessoas mudam. O importante é que vocês duas estejam dispostas a fazer o trabalho certo para se reconectar.
— É só que... não acho que saibamos por onde começar.
— É por isso que você está aqui. Para saber por onde começar. Não se trata de encontrar todas as respostas imediatamente, mas de estar disposta a ter conversas, ser honesta.
— É — ela disse suavemente — Algo assim. Acho que esse é o primeiro passo, então.
— E o primeiro passo é sempre o mais difícil — o Dr. Craig disse — Mas também é o mais importante.
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