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♪Sinfonia do Destino

"A música não precisa fazer as pessoas pensarem... Basta fazê-las escutar."

—Claude Debussy


♪♪♪


Minhas mãos tremiam quando as ergui, anunciando o fim da música e um suspiro de alívio quase escapou por meus lábios.

Eu tinha conseguido. Não foi a melhor performance possível, mas não foi desastrosa como achei que seria. Entretanto o deslize do começo da Marcha Fúnebre não seria esquecido. Conseguiria passar de ano, mas seria de raspão. 

Sai do palco e fui até o banheiro para tirar aquele vestido formal e substituí-lo por vesti roupas mais casuais. Depois disso, caminhei em direção à saída do Conservatório e fui surpreendida por uma tempestade de cabelos louros. Arabesque se jogou em cima de mim toda contente.

— Mas que apresentação foi aquela! — exclamou. — Meus pelos se arrepiaram quando você começou! Principalmente no momento da Marcha Fúnebre! Aquilo foi sensacional, Lyra!

— Não exagere — revirei os olhos. — Cometi alguns erros que não serão deixados de lado.

— Pare de se cobrar tanto. Foi bom, aceite isso e fique feliz! — ela bateu no meu braço, repreendendo-me e começou a andar a minha frente.

Ela saltitava feliz, suas passadas lembravam movimentos de uma dança primaveril e flores pareciam flutuar em cima de sua cabeça.

— O que acha de almoçarmos juntas? — sugeri. — Tem um restaurante muito bom aqui perto.

— Adorei a ideia! — exclamou ao rodopiar. — Vamos chamar o Klavier para ir conosco?

— Claro, mande uma mensagem para que ele nos encontre lá dentro, o que acha? 

  ♪♪♪  

O restaurante estava vazio como de costume. Ara escolheu a mesa próxima à janela e em seguida fizemos nossos pedidos.

— Você se torna previsível com o passar do tempo Lyra... — comentou a violinista.

— Por que diz isso? — não me dei o trabalho de esconder a confusão que aquela frase causara.

— Sempre a mesma rotina, a mesma roupa, o mesmo almoço, o mesmo café... Você não sai da sua zona de conforto.

Refleti por um tempo. Era fato que eu não saia muito para fazer coisas "novas", mas sempre gostei dessa rotina tranquila onde as maiores preocupações é o medo de me atrasar para a aula de Edgar.

Porém uma vida sossegada era sinônimo de uma vida sem problemas, isso não deveria ser uma coisa boa?

— Eu gosto dessa rotina — dei de ombros.

— Mas Lyra! — ela se exaltou por alguns instantes e se conteve logo em seguida. — A vida que você leva é tão, desculpe a palavra, sem graça. Você nunca teve vontade de sair sem rumo? De conhecer o mundo? De experimentar coisas novas? De apenas viver?

Observei as pessoas pela janela, esquivando-me da pergunta. A verdade era que minha cota de aventuras se esgotara há muito tempo e não compensava sofrer tanto para mudar algo que já estava bom.

Nossos pratos chegaram e Ara voltou a falar de assuntos banais, provavelmente notou meu desconforto com aquele assunto e decidiu não insistir.



O almoço correu tranquilo, e no caminho de volta encontramos Theodor que estava acompanhado por Jean.

— Boa tarde! — exclamou saltitando até eles. — O que estão fazendo aqui?

— Voltando para o Conservatório. Theo precisava de um pouco de ar fresco então fomos até um parque aqui perto — contou Jean.

— Quer dizer que o Senhor Confiança está com medo? — provoquei com um sorriso convencido nos lábios.

— Não diria medo senhorita Scherzo, e sim ansiedade — ele deu de ombros, mas parecia ter entrado na brincadeira. — Diferente de algumas pianistas que conheço, eu me preparei para a audição.

— Está me acusando de algo, senhor Seoltóir? — arqueei a sobrancelha. — Você não ousaria!

— Não citei nomes, senhorita Scherzo — ele deu uma pausa. — Mas devido a sua reação devo dizer que a carapuça serviu?

Ara e Jean começaram a rir, enquanto eu apenas revirava os olhos.

— Enfim, não acha que precisamos voltar logo? — mudei de assunto. — Antes que certo alguém chegue atrasado.

Caminhamos em direção ao Conservatório. Enquanto Ara e os garotos conversavam sobre assuntos banais, meus pensamentos eram levados de volta a algo que deveria ser ignorado.

Ainda não conseguia crer que Edward era o Senhor Capriccioso. Isso me entristecia, irritava e principalmente me matava de curiosidade. Por quê? Essa era a pergunta que martelava em minha mente, por que ele? Por que alguém que aparenta tanta repulsa com os musicistas na verdade era um? E pior, como aquele ódio se transformava em melodias tão bonitas?

Os musicistas não são essa pureza toda que acredita.

Realmente não são, e você é a prova disso. 

  ♪♪♪  

Os assentos do teatro estavam, em sua grande maioria, preenchidos. As audições não tinham começado, e pelo que Theodor dissera, sua apresentação seria uma das primeiras.

O maestro Van Hans estava próximo do palco e dialogava com Erika Melisma, a fundadora do Conservatório, e com Edgar. Pela expressão do rosto de meu professor, a conversa não estava muito boa. Mas o trio parecia se conter para não dizer algo inadequado devido aos vários espectadores.

Depois de alguns minutos cada um deles foi para um canto, o maestro voltou para perto dos juízes e Edgar e Erika se sentaram no fundo do teatro.

Foi anunciado o primeiro estudante que se apresentaria, eu não o conhecia. Na verdade, não convivia muito com os alunos de regência, com exceção do Senhor Confiança.

O jovem ruivo que subiu ao palco me parecia uma bela junção de Edgar e Jean. Andava com uma autoridade e superioridade que lembrava o Senhor Perfeccionista, e sua expressão facial era parecida com a de Jean. Ele encarava o público sem medo antes de se virar para a orquestra e contar o tempo.

A atmosfera absurdamente sombria já dizia que a peça escolhida fora um concerto de Bartók. Cada instrumento parecia representar um animal noturno, e todos conversavam e brigavam entre si. O fundo marcado pela estranheza das dissonâncias, numa evocação do ambiente solitário da noite que recorre a diversos elementos. Em um momento da música segue-se uma forma-sonata robusta e de caráter inquieto, onde se destacam os solos das madeiras e dos metais.

O maestro girava e agitava as mãos, concentrado em tudo que fazia. Seu comportamento arrogante havia desaparecido quase completamente e deu espaço para um músico intenso começar a se expressar. Na pausa entre um movimento e outro ele olha para o público, mas não conseguia explicar que sentimento seus olhos caramelos mostravam.

O segundo andamento começa, e o compositor, de mãos dadas com o regente, voltam a explorar uma faceta humorística feita com um jogo entre vários pares de instrumentos. Entretanto, um amplo e solene coral de metais introduz um momento contrastante, e em seguida o divertimento volta a tomar posse da peça.

O terceiro movimento constitui o cerne emocional da obra. Trata-se de uma lúgubre canção de morte marcada pela intensidade das suas suplicações e por um ambiente de mistério que contribui significativamente o tratamento tímbrico das cordas e sopros. A harpa e as madeiras estabelecem a atmosfera etérea inicial.

O próximo era um scherzo pelo menos tão divertido como o segundo andamento. O oboé apresenta um caráter insolente, seguido por uma melodia mais calorosa e luxuriante das cordas. O ritmo de dança que se insinua gradualmente conduz uma interrupção, em que uma ideia melódica banal é exposta pelo clarinete, sendo depois escarnecida pela orquestra.

Por fim, o último movimento abre uma passagem ornada nas trompas em um redemoinho incessante de energia. As figurações rodopiantes executadas pelas cordas entrelaçam-se com as heroicas fanfarras dos metais e com ritmos de dança distintivos extraídos do folclore húngaro.

Uma passagem incrivelmente complexa conduz a obra a um final de grande brilhantismo, e a única coisa que sou capaz de fazer é ficar com os olhos arregalados e a boca aberta. Era uma pena que não podíamos aplaudir esse jovem, ele merecia.

Outros alunos regiram suas peças, mas nada foi muito surpreendente. Principalmente o último, que me deixou com uma vontade muito grande de jogar meu corpo de um prédio para acabar com esse sofrimento. O coitado regia tão mal que os músicos ficavam confusos e não sabiam o que fazer, suas instruções não eram claras.

Demorou um tempo mais longo do que o esperado, mas Theodor finalmente apareceu. Seu andar gracioso e ao mesmo tempo firme já anunciava que a Sinfonia do Destino de Beethoven seria tocada de um jeito totalmente inusitado, teria o charme e a leveza de seu regente. Seria uma caixinha de surpresas.

O Senhor Confiança contou o tempo e então as cordas surgiram com o famoso começo da Quinta Sinfonia.

O começo intenso anunciava uma das maiores obras primas do mundo erudito. Era possível ouvir a orquestra crescendo sem medo e em seguida a calmaria e leveza das cordas e metais que remetiam muito bem a personalidade de Theo, mas logo isso era substituído pelo intenso mais uma vez. A orquestra explodia em sons, mostrava a tensão do primeiro movimento, fazia com que todos imaginassem uma perseguição seguida de um momento de segurança que logo mudava para o medo mais uma vez, e um ainda maior do que antes. Esses contrastes seguiram até que o pequeno solo do oboé o quebrasse, mas logo o mesmo foi consumido pela força total da orquestra.

E então o segundo movimento veio com toda a sua graça, com as cordas dançando em uma bela melodia e em seguida os metais aparecem. Cada pequeno girar de mãos de Theo mostrava leveza, gentileza. Até que a orquestra cresce e em seguida diminui novamente. Era tudo muito calmo, tranquilo, parecia um belo bosque, aqueles que são o cenário de vários balés. Era uma melodia mágica.

E veio o terceiro, mais frenético que o anterior, anunciando urgência. Algo acontecia na história da música, e em seguida era resolvido. E foi assim sucessivamente, até explodir bela e grandiosamente. Os agudos seguidos de graves, o contraste. A música toda tinha seus contrastes e opostos. Mas este movimento era o mais alegre, tanto em ritmo quanto em sentimento.

E o quarto começa de um jeito majestoso, mostrando todo o poder de uma orquestra. A beleza, o toque, o estilo de Beethoven. Um verdadeiro gênio da música. Em momento nenhum o estilo grandioso desapareceu deste movimento. Ele acompanhou todos os minutos que se passaram e só se dispersou quando a peça chegou ao fim.

Era em audições como esta que descobríamos os maiores e melhores prodígios da música. Que percebíamos o quão valioso é ouvir uma música bem tocada.

O próximo a se apresentar me deixou com pena, confesso. Era a mesma peça que Theodor escolheu, a diferença é que a versão deste moço estava bem lamentável. Sei que não tinha o direito de julgá-lo, porém estava bem ruim, e ouvir aquilo era pior do que ouvir as piadas sem graça de James.

Sai do teatro antes que aquela música terminasse. Não conseguia mais aguentar aquela música, aquilo era uma desonra para Beethoven!

Sai do Conservatório e parei em uma barraquinha próxima para comprar uma garrafa d'água. O céu alaranjado anunciava o fim da tarde, e o vento gélido acariciava meu rosto e fazia meus cabelos dançarem.

Sentei-me em um dos bancos e fitei minha água, naquele momento não pensava em nada específico, minha cabeça parecia cansada de raciocinar e criar teorias mirabolantes. E então senti alguém se sentar ao meu lado, levantei o olhar e me deparei com Edgar.

— Boa tarde — o cumprimentei. — Como vai?

— Eu diria cansado de ouvir merdas — disse com todo o seu desgosto.

— Não deveria ser tão cruel, Edgar — esbocei um sorriso.

— Sou realista — deu de ombros. — E não sou obrigado a ouvir alunos estragando obras primas.

— Não me diga que está falando de mim...? — fiquei um pouco na defensiva, com medo de sua resposta.

Misericórdia não existe no vocabulário do Senhor Perfeccionista.

— O começo da Marcha Fúnebre foi horrível, confesso — ele fez uma pausa enquanto avaliava minha reação. — Mas você recuperou sua dignidade algumas notas depois. No geral, não foi uma apresentação ruim.

— Edgar você está doente? — perguntei espantada, não era possível que ele tenha feito um quase elogio a alguém!

— Sabe Lyra, eu sempre fui sincero, mas você confunde sinceridade com grosseria e crueldade. Nunca direi algo apenas para te reconfortar, farei você crescer, e é errando que se aprende — o encarei por um tempo. — Mas vou te elogiar quando você estiver boa,e você estava muito boa hoje. 

Após dizer tudo aquilo, Edgar se levantou e voltou para o Conservatório, deixando-me sozinha com meus pensamentos.  

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