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Capítulo 2

A poeira fina que subiu dos cascalhos quando Henry estacionou o Buick preto não escondeu o quão sombria foi a chegada do homem ao hotel, após o encontro inesperado com a detetive. Ele desceu do carro, batendo a porta e pisando duro até a entrada principal. Assim que entrou, a mão tateou a parede buscando o interruptor de luz, acendendo-o rapidamente. Caminhando até à bancada da recepção, ele esmurrou a superfície de madeira com toda força que conseguiu juntar em punho, fazendo os objetos que estavam ali voarem para os lados.

— Respira Henry... respira! — O homem apertou a beirada do balcão, fazendo as veias dos braços saltarem.

Neste momento, o telefone começou a tocar, o obrigando a controlar a raiva ao atender.

Motel Ander's.

— Bom dia meu menino, como você está? — A voz doce do outro lado da linha fez Henry fechar os olhos e soltar um suspiro.

— Bom dia Isabel...

— Não quero tomar muito o seu tempo. Já sabe se vai precisar de mim hoje?

— Acho que sim, pelo menos para preparar o almoço, quase todos os quartos estão ocupados. — Ele disse mais calmo enquanto se sentava.

— Então daqui a pouco apareço por aí.  — A voz baixa e falha de Isabel fez Henry abrir um leve sorriso.

— Te espero aqui... E Bel... não se preocupe com a limpeza, eu já cuidei disso.  — O homem devolveu o telefone ao gancho, jogando todo o peso do corpo no encosto da cadeira.

Isabel ajudou a cuidar do hotel desde quando pertencia aos pais de Henry. Ela viu o menino tímido, de cabelos loiros e olhar sereno, crescer, se casar e virar um grande homem. Pelo menos ele era, até o dia em que precisou voltar para AnderWood...

— Um café médio pra viagem, por favor.

— É pra já, senhorita... — Enquanto tirava um copo de isopor da embalagem, o senhor de cabelos brancos encarava com curiosidade a mulher. — Você é a detetive da televisão, não é mesmo?

— Sim, sou eu. — A jovem deu um meio sorriso em direção ao homem desviando rapidamente os olhos do celular.

— Tomara que a senhorita consiga achar o responsável por essas barbaridades o quanto antes... Essa cidade precisa voltar a dormir tranquila.

— Eu vou fazer de tudo pra que isso aconteça, senhor. — O velho estendeu as mãos trêmulas, entregando o copo de isopor para a detetive.

— Que isso menina, não precisa dessa formalidade. Eu sou o Charlie, mas aqui todo mundo me chama de Woody por causa da cafeteria.

Ainda tentando se adaptar com a informalidade do interior e a curiosidade da população por onde ela passava, Sarah tentava ser o mais cordial possível.

— Obrigada pelo café, Woody. Eu vou ficar na cidade até o fim das investigações, então, nos encontraremos mais vezes.

— Que maravilha! A senhorita já está hospedada na cidade?

— Na verdade, não... Ontem saímos tarde da delegacia, e eu acabei dormindo na casa de uma amiga, mas não quero incomodar muito tempo. Pretendo procurar um lugar hoje ainda.

— Aqui não temos muitas opções, menina, um dos melhores é o do Henry. Fica bem na entrada da cidade, no lado direito da rodovia. — Prestativo, ele pegou um guardanapo em cima da bancada e escreveu pacientemente. — Esse é o nome de lá, fala pra aquele brutamonte que foi o Woody que te mandou.

— Motel Ander's — Sarah leu a anotação em voz baixa. — Certo Woody, mais uma vez, obrigada.

A detetive acenou para o homem e saiu da cafeteria.

Sarah tocou a sineta no balcão do hotel repetidas vezes, enquanto esperava alguém aparecer para atendê-la.

O barulho de uma porta sendo aberta, na lateral da escada, fez a mulher se virar e encarar surpresa o homem que saia de lá, limpando as mãos em um pano que estava jogado nos ombros, enquanto caminhava a passos lentos em sua direção.

— Ora, ora... Olha quem está aqui. Seja bem-vinda ao Motel Ander's, detetive.

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