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Capítulo 23


–O que é que aconteceu? –perguntava a diretora, vezes e vezes sem conta, mas Taci parecia estar incapaz de responder. Só apontava com mais força para Érica.

–Eu não sei, ‑respondeu ela, honestamente, ainda a descer as escadas uma a uma com os músculos incertos que só queriam voltar a ser etéreos. –Ela foi-se embora, e depois não voltou, e depois fomos procurá-la e... e...

–Afasta-te de mim! –gritou a reencarnada, mais alto ainda.

Érica deu mais um passo em frente, a medo.

–Ela está a mentir. Foi ela que me atacou!

O ar ficou elétrico; todo o burburinho parou. Além do choro de Anastácia, não havia ninguém ali que se atrevesse a dar um pio. Os colegas entreolhavam-se, chocados, surpreendidos, sem saber o que fazer. Alma focava-se em Taci, preocupada, já Eduardo procurava os olhos de Érica com uma das suas expressões ilegíveis. Márcio não escondia a forma como examinava as duas: não sabia bem em quem acreditar.

–Ela não está bem, –defendeu-se Érica. A voz tremia-lhe, húmida, e ela só esperava que isso não se notasse demasiado. –Ela precisa de ajuda.

–Ela está mas é louca, –acrescentou Eduardo. Olhava diretamente para Érica, como que para avaliar a expressão. –Não é a primeira vez que faz uma destas.

–Eu desta vez tenho provas! Disse que voltava com provas, não é? É por isso que isto aconteceu!

Aquilo não era culpa dela! Da única vez em que não tinha feito nada é que era julgada? Érica esperou que o momento de raiva tivesse passado despercebido, mas algo na expressão de Eduardo garantiu-lhe que não era esse o caso.

Harlan chegou, finalmente, saído de um dos corredores laterais. Assim que Anastácia o viu, voltou à sua sinfonia cacofónica de choros e gritos, apontando na direção dele, queixando-se, resistindo ao enfermeiro e à professora que a tentavam guiar para a enfermaria para pelo menos estancar as feridas. Cada vez que ela gesticulava, sangrava mais.

–Tu és ainda pior que ela! Não sei porque é que confiei em ti! –gritou. –Eu vi tudo! Eu sei tudo!

Anastácia estava a tentar correr para ele, sabe-se lá para lhe fazer o quê, e foi por sorte que o enfermeiro a conseguiu agarrar antes que isso acontecesse. E foi assim, à força, que ela foi arrastada dali para fora.

Harlan, pobrezinho, estava ainda preso no lugar, congelado, com os olhos presos em Érica. Eduardo sussurrava aos ouvidos de Márcio, olhando entre as gotas vermelhas no chão e entre os dois que ele agora sabia serem mortos.

Érica ganhou coragem para se mexer e, tentando ignorar os muitos olhos que a seguiam dos alunos interrompidos ao jantar para tentar ir ajudar o amigo. Ou pelo menos escondê-lo antes que ele deixasse de se conseguir segurar físico.

–O que é que aconteceu? –sussurrou ele, devagar.

–O jornal. Ela encontrou um feitiço que a deixa ver o passado... ela sabe tudo agora, Harlan.

–Oh.

Não havia qualquer emoção naquela palavra. De certeza que aquilo não lhe parecia real. Érica percebia-o perfeitamente.

–Vamos sair daqui, –sugeriu. –Pelo menos por um bocadinho. Desaparecer.

Ele demorou até conseguir processar aquilo o suficiente para lhe responder com um aceno de cabeça. –Vamos.

E foi de forma muito pouco discreta que eles entraram pelo corredor de onde Harlan tinha vindo, entraram numa sala vazia e se deixaram ficar etéreos.

Uma das poucas vantagens —e eram muito poucas— de estar presa assim, era poder desaparecer. O sangue que se colaria à sua versão física escorria dela com a mesma facilidade que de ar, e o resto desaparecia com ela, transformado em nada. Ninguém os veria ali, flutuando de pernas cruzadas no escuro, a não ser um ao outro.

Mas isso não os impedia de ouvir o burburinho lá de fora. E só era burburinho por estarem a umas paredes de distância; seria difícil imaginar o quanto os colegas estariam a gritar no refeitório para serem tão claramente ouvidos dali. Todos os alunos da escola sabiam o que tinha acontecido.

–Acham que ela está certa? –perguntou Alma, algures no corredor.

–Sim, –respondeu Eduardo. O som de uma porta a abrir e a fechar. –Não viste a cara que Érica fez quando a Taci disse que tinha provas? Tenho quase a certeza.

–Eu não acredito nisto. Eu não acredito em nada disto, –disse Márcio, baixinho. Se eles não estivessem tão perto, Érica não o teria ouvido.

–Pois, fizeram um ótimo trabalho de desaparecer, não fizeram? –queixou-se Eduardo. Abriu a porta da sala onde eles estavam. –Oh Érica, se estiveres por aí, diz! Nós só queremos falar!

–Será que queremos? –sussurrou Márcio. –Quer dizer...

–Claro que sim! –respondeu Alma. –Tens noção do quão fixe isto é? Estou ligeiramente chateada que nos tenha mentido, claro, mas eu quero mesmo saber o porquê!

Não, aquilo não era nada fixe, nada mesmo nada! Estava tudo a ir ralo abaixo. Tanta coisa planeada, tantas preparações imaculadas, e agora isto? Era suposto voltar tudo ao normal! Era suposto ficar tudo bem! Mas daí a nada os colegas acabariam os exames, e puff, iam-se embora. E isso era fixe?

Érica pegou numa caneta deixada na secretária do professor e atirou-a com toda a força que pôde à nuca de Alma.

O queixo da outra quase que lhe caiu da cara. –Vocês viram isto? –exclamou ela.

–Sim, –respondeu Márcio. Recuou até à ombreira da porta, os olhos a perscrutar a escuridão da sala. Hesitava.

Harlan dirigiu um olhar de aviso a Érica. Aquilo era uma terrível ideia? Claro. Mas francamente, ela não queria saber. Não queria saber! Não era como se fosse fazer diferença alguma!

–Que divertido, gente, –disse Eduardo, clicando no interruptor e inundando a sala com demasiada luz. –Não tem graça. Saiam detrás da secretária.

Harlan podia olhar para ela o quanto quisesse, isso não a ia impedir de agarrar numa borracha e a lançar diretamente contra a cara do loirinho. Não lhe acertou, mas estava tão irritada que nem quis saber; só pegou no apagador do quadro e tentou de novo.

–Para com isso! –queixou-se ele, desviando-se por muito pouco.

–Eu acho que eles não estão atrás da secretária, –disse Márcio, tremendo.

E Alma? Ela parecia estar entretida com aquilo. Olhava em volta com aquela curiosidade irritante que seria adorável num bebé, não nela!

–Será que a Anastácia tem razão? –perguntou a negra, saltitando no lugar. –Será que a Érica é um fantasma? Ai, que eu vou ter umas histórias tão boas para contar nas festas!

–É nisso que pensas? –exclamou Márcio, dando um passo atrás, como se estar no corredor o fosse proteger. Pelo menos ele estava a ter a reação certa: medo!

–Não achas que...

–Parabéns! –O grito que Márcio deu ao vê-la ficar física, aparecer do nada mesmo à frente deles, foi impagável. Érica tinha os olhos molhados, e não sabia dizer se era por raiva se por tristeza. –Chegaram lá! Só vos demorou o ano inteiro, sei lá. E agora, o que é que vão fazer?

Alma guinchou. Depois estendeu a mão para tocar Érica. A morta agarrou-lhe o pulso antes que ela o conseguisse fazer. Usou toda a ira que tinha em si no olhar que lhe dirigiu.

–Isso não se faz.

Eduardo ainda parecia estar a processar o que tinha acontecido. Olhava através dela, e Érica teve que garantir que estava mesmo física, mas ele estava provavelmente focado em montar o puzzle mental com todas as peças a que tinha acesso. Márcio estava pálido demais, mas tinha conseguido evitar fugir. E, atrás dela, Harlan lançava-lhe expressões tão perfeitamente fulminantes que, mesmo de costas, ela as conseguia sentir a furar a nuca.

–Então... –começou o loirinho. –Ela estava a dizer a verdade? Tu és... tu és?

–Parece-te que me apetece falar sobre isso?

–Justo.

–Justo nada! –queixou-se Alma, puxando a mão de volta para si. Érica deixou-a ir. –Como assim? Este tempo tudo, tu...

–Sim, este tempo todo eu! –gritou ela. –Agora deixem-me em paz. Não querem nada comigo, e isso é justo, mas não é desculpa para me torturarem mais. Pelo menos esperem até amanhã...

–Tu és cá uma para falar, –sussurrou Márcio.

O coração dela, que já estava partido em milhares de pedaços espalhados pelo chão, estava agora a ser espezinhado por aquele meia-leca com meias de ginásio no lugar do cérebro, e o melhor é que ele tinha razão; ótimo!

–E o Harlan? –acrescentou Alma.

–Deixem-no fora desta confusão, que ele não tem nada a ver com ela. Somos amigos, é só isso.

–Ele sabia? Contaste-lhe?

Eduardo abanou a cabeça, soltando uma risada seca. –Ele sabia sim, mas não foi preciso ela contar-lhe. Não há nenhuma doença crónica que o faz faltar às aulas, pois não? Ele é o terceiro.

Os olhos de Márcio abriram-se em realização. Ele deu um passo para o lado, agora meio coberto pela parede e só mal espreitando para dentro da sala de aula.

–Vocês não têm nada a ver com isso, –gaguejou ela. Aparentemente toda a capacidade de mentir que tinha ganho ao longo dos anos estava a evaporar-se juntamente com o seu bom-senso e inteligência.

–Pois, –respondeu o loirinho. –Olha, tu obviamente não estás bem, as tuas tretas todas puseram a Anastácia na enfermaria e espero bem que te sintas pelo menos um bocadinho culpada, mas achas que podemos ter uma conversa decente sobre isto? Porque eu cá estou super curioso sobre... tudo, realmente.

Em vez de responder, ela virou-se de volta para a secretária, ignorando a forma como Harlan passiva-agressivamente atravessava a parede para se distanciar daquela confusão toda; pegou noutra caneta e atirou-a contra o cabelinho do louro irritante.

Ele pôs as mãos no ar em derrota, rindo, e disse –Tudo bem, percebemos a mensagem, estamos de saída.

–Estamos? –perguntou Alma.

–Estão! Deixem-me em paz!

Seguiu-os só o suficiente para lhes bater com a porta na cara antes de voltar a desligar as luzes.

–E tu poupa o sermão, Harlan, que eu já sei o que vais dizer. –Falava em voz alta, achando que ele não tinha ido longe para poder ouvir tudo até ao fim. –"Parabéns, Érica, fizeste tanta merda que já dá para um buraco negro" ou outra metáfora assim, não é? Pois, bem, tens razão. Que mais queres que eu te diga?

Ele não respondeu. Se calhar não sabia o que dizer; se calhar nem sequer a tinha ouvido. Érica não sabia qual das opções seria a pior.

Deixou-se ficar etérea por mais tempo, flutuando desaparecida no meio do ar, choramingando consigo só. Não havia mais nada para fazer. Não se mexeu mais do sítio, nem quando os professores vieram à procura dela, nem quando voltaram pela segunda vez só para ter a certeza, nem quando alguém veio trancar as salas todas ao cair da noite.

Seria estranho que aquela fosse a segunda vez que estava a ser procurada sob a suspeita de ter magoado uma colega? Porque ela não estava nem perto de se habituar àquilo.

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